Aula pública esta quarta, no prédio antigo da reitoria, às 10h, debaterá crise orçamentária. Plano da empresa é de suspender o fornecimento de energia em 15 unidades. Sintufrj denuncia arbitrariedade
FOTOS E VÍDEOS: RENAN SILVA
Depois de suspender o fornecimento da iluminação no Museu Nacional, em São Cristóvão, na Editora da UFRJ (na Praia Vermelha), no antigo prédio da Reitoria (JMM), na Associação de Moradores da Vila Residencial e no estacionamento da Coppead, a Light partiu para desligar até a luz do Gabinete do Reitor Roberto Medronho no início da noite desta terça-feira (12). Pretendia também seguir para a sede da prefeitura universitáira mas, por ação da Procuradoria, a operação foi suspensa por ora. Amanhã pode prosseguir porque plano era cortar a luz de 15 unidades. O prefeito Marcos Maldonado, no entanto, adianta que não pode permitir o corte de luz na via pública, no Alojamento e no Restaurante Universitário para proteção da comunidade.
A Reitoria convocou aula pública nesta quarta–feira (13) às 10h, no prédio Jorge Machado Moreira, antiga reitoria. Roberto Medronho vai abordar crise orçamentária. Vai ser à base de um gerador porque o prédio que vai abrigar o ato continua sem luz. Sintufrj aponta importância da mobilização para evitar o desmonte, critica a arbitrariedade e denuncia os efeitos da privatização que visa o lucro em detrimento do funcionamento desta instituição essencial para a sociedade.
Caso repercutiu na mídia. Reitoria deve ir à Justiça.
Reitor discute com técnicos da Light sobre arbitrariedade da ação
Em nota sobre os cortes em várias unidades isoladas e do Fundão, a Reitoria afirma que em nenhum momento se negou a pagar a dívida (de mais de R$35 milhões), que vem solicitando suplementação orçamentária ao MEC, mas que a Light, depois de uma reunião sem consenso hoje iniciou corte em 15 edificações da UFRJ. “As atividades acadêmicas e de assistência à saúde realizadas na UFRJ são essenciais e a Reitoria já adotou medidas para reverter o mais rápido possível esse quadro”, diz o texto cuja íntegra está no final da matéria.
Um dia antes, em uma cerimônia de reconhecimento ao serviço prestado por quase 30 servidores com mais de 50 anos na UFRJ, o reitor Roberto Medronho alertava o público justamente sobre a asfixia que a UFRJ vem enfrentando há anos, injustificada diante da dimensão da maior universidade federal do país e da sua produção para a sociedade em ensino, pesquisa, extensão e assistência, apesar dos esforços nos ministérios por recursos suplementares.
Sintufrj defende importância da mobilização
“O sindicato sempre defendeu a importância de mobilizar toda a comunidade acadêmica contra a dramática situação dos cortes de gasto. Não à toa fomos linhas de frente na greve nacional unificada e convocada pelos técnicos ativos em educação que unificou os segmentos de várias universidades em todo o país. A situação de corte orçamentário é em nome de uma política de teto de gastos que alterou o nome e flexibilizou em pequeno percentual o investimento nos gastos primários com arcabouço fiscal. Essa é uma política de morte da universidade pública e dos direitos da população e esse acontecimento hoje só reforça isso”, declarou o coordenador geral do Sintufrj Esteban Crescente.
Ele argumenta que tudo isso mostra ainda o quanto a privatização é danosa para a garantia dos direitos da população. “Da população, que é a Light, de forma abusada, autoritária, atacou. Num espaço que é fundamental para o funcionamento da sociedade, onde se faz ensino, pesquisa, extensão. E para a vida de milhares de estudantes, de toda a comunidade acadêmica, seus trabalhadores, sem nenhuma preocupação com as consequências disso. O funcionamento dos hospitais tem que ser prioridade. O nosso repúdio a essa postura autoritária que só avisa o poder financeiro, o poder econômico atrelado aos proprietários dessa empresa que hoje é privatizada”, denunciou.
Esteban pondera ainda que o subfinanciamento produz outras consequências: diversos trabalhadores da limpeza e vigilância nesse exato momento encontram-se com salários atrasados: “O drama não se dá apenas na questão (do corte) da luz, mas com nossos irmãos trabalhadores e trabalhadores que estão sem salários”.
O coordenador da Fasubra Francisco de Assis, morador da Vila Residencial, prestou solidariedade à Associação de Moradores, organização que conta com vários projetos sociais, de extensão e importantes que a universidade desenvolve na Vila, promovendo a troca, através da atividade de Extensão, entre a comunidade local e a universidade. “Esse corte do fornecimento da energia por parte da Light vai trazer prejuízos tanto para a academia como para a comunidade “, criticou.
Veja o momento em que a luz é cortada na Reitoria
A crônica do corte anunciado, devido à vertiginosa queda no financiamento dos custeio da maior universidade federal do Brasil, se concretizou na tarde desta terça-feira, dia 12, com a ação da Light de suspender, no meio da tarde, o fornecimento de energia no Museu Nacional (unidades 1 e 2 ) e na Editora da UFRJ, Depois a Light partiu para o Fundão. Cortou o fornecimento do estacionamento da Coppead, da Associação de Moradores da Vila Residencial, do prédio JMM, antiga reitoria, que abriga a Escola de Belas Artes e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e seguiria para o gabinete da Reitoria e para a Prefeitura, Alojamento e Restaurante Universitário e vias públicas. Foi suspenso por ação da Procuradoria e resistência da Prefeitura.
O prefeito da Cidade Universitária, Marcos Maldonado disse que, embora se soubesse da gravidade do problema, isso estava em negociação e a efetivação da medida absurda da Light contra a UFRJ pegou a todos de surpresa. “A Procuradoria tinha liminar determinados que determinados pontos não poderiam ser cortados”, disse ele, argumentando que não poderia permitir o corte até por conta da determinação do juiz, nas vias públicas, no restaurante universitário, no alojamento e na Prefeitura, onde está o centro de operações de iluminação, segurança etc.
Os cortes feitos, permanecem. E as consequências irão ainda mais longe que isso, se o corte permanecer.
A Pró-Reitoria de Planejamento , Orçamento e Finanças emitiu um compromisso de pagamento, para tentar evitar o corte e a Prefeitura informou os lugares em que o corte se tornaria perigoso para a comunidade. “Como os alunos vão circular na escuridão, como vão se alimentar ou ficar no alojamento?”, questionou ainda durante a tarde.
Diante da situação absurda, Maldonado lembrou das palavras do reitor Carlos Lessa que, quando assumiu atravessou uma situação parecida na Reitoria e disse que esta instituição de ensino é lugar de luz, não de escuridão. Contou que esta é também a posição do reitor Medronho, mencionando até mesmo a repercussão internacional que a crise pode ter, lembrando que no museu há acervo que deve permanecer em ambiente de temperatura controlada, como o Manto Tupinambá, valioso artefato indígena trazido da Dinamarca onde estava desde o século 17,
Veja a nota da Reitoria
Sobre o corte de energia elétrica em diversas edificações da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Reitoria esclarece que:
- Por restrições orçamentárias, a Universidade tem uma dívida total com a empresa de energia que soma R$ 31,8 milhões referentes a faturas vencidas entre março e novembro de 2024, além de R$ 3,9 milhões em parcelas não quitadas de um acordo firmado em 2020;
- Em julho de 2024, a Universidade recebeu uma notificação de corte no fornecimento de energia elétrica;
- Em nenhum momento, a UFRJ se negou a pagar a dívida, tendo solicitado suplementação orçamentária ao Ministério da Educação (MEC);
- Nesse período, a Procuradoria Federal, junto à UFRJ, conseguiu a antecipação de tutela para evitar o corte no fornecimento;
- A empresa de energia recorreu ao Judiciário e derrubou a antecipação de tutela;
- Depois de extensa reunião hoje (12/11), que terminou sem consenso, a empresa de energia iniciou um processo de corte de fornecimento em 15 edificações da UFRJ;
- As atividades acadêmicas e de assistência à saúde realizadas na UFRJ são essenciais e a Reitoria já adotou medidas para reverter o mais rápido possível esse quadro.
Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2024
Na Associação de Moradores, corte interrompe diversos projetos sociais