FOTOS: RENAN SILVA
Às escuras e sem água. Esta é a triste realidade da maior universidade federal do país e a terceira mais importante da América Latina. Por falta de pagamento, a Light e a Águas do Rio cortaram o fornecimento de luz e água para parte da UFRJ, levando caos para a comunidade universitária por onde circulam, diariamente, entre servidores técnicos-administrativos e docentes, estudantes, terceirizados e prestadores de serviços, pelo menos cem mil pessoas.
A Light iniciou os cortes na terça-feira, 12, pelo prédio histórico da Reitoria, onde funcionam a Procuradoria, a Escola de Belas Artes e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; no Palácio do Museu Nacional, e no Horto Botânico, instalados na área da Quinta da Boa Vista, e no estacionamento da Coppead. Na manhã desta quarta-feira, 13, outra surpresa desagradável: a Águas do Rio interrompeu o fornecimento para todos os andares da Reitoria.
Segundo o reitor Roberto Medronho, a UFRJ precisaria de R$ 192 milhões para zerar todas as dívidas acumuladas ao longo dos últimos anos. O débito com as concessionárias de anos atrás soma R$ 65 milhões. Por ano, o gasto total de energia elétrica da universidade é de R$ 70 milhões, por conta dos equipamentos de ponta – “responsáveis pelas pesquisas que rendem bilhões de reais ao governo”.
Socorro do MEC – Medronho antecipou que para mostrar que não há má-fé por parte da UFRJ, estava sendo providenciado o pagamento urgente de uma das parcelas devidas à Light, de cerca de R$ 4 milhões. “Pegamos um pouquinho de cada lugar para juntar essa quantia”, disse. Mas, a expectativa era receber ainda nesta quarta-feira, um socorro do MEC de R$ 1,5.
“Ato arbitrário e ilegal”
Com a ajuda de um gerador portátil de pouca potência, o reitor reuniu servidores, estudantes e a imprensa no hall de entrada do prédio da Reitoria para “apresentar a situação orçamentária que é dramática. A água da Reitoria acabou de ser cortada”, iniciou Roberto Medronho.
“Esse prédio, por onde passaram Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Clarice Linspector, Ana Maria Machado, aria da Concenição Tavares, Carlos Lessa, entre outras figuras de destaque, e são feitas altas pesquisas não pode ficar na escuridão. Foi um ato arbitrário e ilegal. Já entramos com agravo regimental. A antecipação de tutela caiu e eles cortaram, explicou Medronho. “A situação vai de encontro a ciência e tecnologia e exige que todo o corpo social da UFRJ esteja unido na indignação”, afirmou o reitor.
Corte interrompido
Roberto Medronho informou que a energia elétrica do Palácio do Museu Nacional foi restabelecida. “Tiveram juízo e religaram”. Entre os vários acervos preciosos, o museu guarda o Manto Tupinambá, que tem que ser mantido sob condições especiais de preservação – “pertenceu a um ancestral de quase 400 anos”. No Horto Botânico localizado no pavimento subterrâneo ao lado do museu, está guardada uma coleção inédita de invertebrados.
“Onde cem mil pessoas circulam diariamente não pode ficar desprovida. Que chamem a força policial para nos prender, mas aqui não vão fechar”, garantiu o reitor, que conta para resistir e lutar pela sobrevivência da universidade com o apoio das entidades sindicais e estudantis, e toda a comunidade universitária.
Sintufrj e Fasubra
na defesa da UFRJ
O coordenador-geral do Sintufrj, Esteban Crescente, afirmou na coletiva: “Se o Teto de Gastos permanecer, se não houver uma recomposição orçamentária robusta para a UFRJ, com luta e com garra vamos levar esse movimento de defesa da universidade para as ruas”. O dirigente lembrou que na negociação da campanha salarial com o governo foi incluída na pauta recursos extras para a instituição, e essa ajuda, embora pouca, foi conquistada pelos trabalhadores técnicos-administrativos em educação.
Francisco de Assis, coordenador da Fasubra, complementou: “Essa universidade é maior que as nossas diferenças políticas com a Reitoria e entre nós. Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados) é o grande orquestrador dos cortes. A luta é unificar todos os trabalhadores, incluindo terceirizados e estudantes, e a sociedade para um grande ato em defesa da UFRJ e contra esses cortes do arcabouço fiscal”.
O dirigente do DCE Mário Prata, Enderson Ramon, propôs a realização imediata de uma plenária estudantil para saber o que fazer daqui para frente. “Precisamos de respostas: quando vai chegar a luz no prédio e quando vai chegar a verba”.
“A UFRJ precisa ser referência para o mundo em ciência e tecnologia. A reconstrução orçamentária das Ifes tem que estar no centro da luta. A recomposição orçamentária tem que ser urgente. A UFRJ é muito grande e importante para a soberania nacional”, destacou Paula Coutinho, diretora da UNE,