ENTREVISTA/FRANCISCO CARLOS TEIXEIRA
Professor Titular de História Moderna e Contemporânea/UFRJ
A tentativa de golpe de Estado articulada por bolsonaristas completou dois anos em 8 de Janeiro. O professor titular da UFRJ, historiador e cientista político Francisco Carlos Teixeira, em entrevista ao site do Sintufrj, põe em questão a força das instituições para neutralizar os movimentos golpistas e faz outro alerta: o movimento pela anistia (de golpistas) vai se tornar mais forte com a condenação dos principais articuladores do golpe. Teixeira não descarta a possibilidade de a extrema direita (que saiu dividida nas eleições municipais de 2024) voltar a se unificar em torno de um programa radical para a disputa das eleições em 2026.
A democracia brasileira está em risco?
Francisco Carlos Teixeira – Há uma questão constante de que as instituições estão funcionando no Brasil, malgrado as conspirações, tentativas de golpe, insurreição, desobediência ou indisciplina dos militares. Isso é complicado de se afirmar. Numa democracia que está funcionando nós temos oposição e situação, temos debates as vezes rigorosos e mesmo violentos do ponto de vista retórico importantes, mas não se tem de maneira alguma uma destruição de sedes dos poderes constitucionais, não se tem de maneira alguma dezenas de pessoas sendo julgadas por crime político que é golpe de estado e conspiração. Temos a dúvida se os militares estavam de fato contra o golpe ou se estavam numa posição de espera para saber se havia um melhor momento ou uma outra situação, ou seja, não se fala em golpe de Estado numa democracia que está em pleno funcionamento. Isso realmente é uma característica de instituições fragilizadas.
Há mobilização suficiente para impedir a anistia de Bolsonaro e de golpistas?
Nesse momento acho que não existe uma mobilização, a não ser em parte da opinião pública de esquerda e de centro esquerda que tem clareza do que pode representar a anistia. Se pensarmos no Poder Judiciário, nos governadores e principalmente no Congresso Nacional há uma onda pela anistia.
Veja a posição do governador Caiado (Ronaldo Caiado, governador de Goiás) que não foi alguém que participou do golpe ou defendeu em si o golpe e que está defendendo muito a anistia, inclusive cometendo um equívoco dizendo que o Juscelino deu anistia e isso levou a uma convivência pacífica no Brasil.
Ele esquece que menos de quatro anos depois que Juscelino deu a anistia o próprio Juscelino foi cassado – houve um golpe de Estado e o próprio Juscelino foi cassado -, ou seja, a anistia por si só não termina com a polarização política radicalizada que tínhamos em 1964 e que temos novamente agora no país.
Conforme políticos importantes, generais de alta patente e talvez o próprio Bolsonaro venham a ser condenados o longo desse ano de 2025 o movimento pela anistia vai se tornar muito mais forte. Se a anistia já está forte com os bagrinhos da Praça dos Três Poderes sendo condenados, imagina quando os tubarões começarem a ser condenados.
Qual a força da extrema direita no cenário do país e qual a possibilidade de seu retorno ao centro de poder?
Sobre a força da extrema direita no país, precisamos ter clareza que Bolsonaro teve um mérito muito importante que se manifestou claramente até as eleições municipais de 2024. Até o deslanchar das eleições municipais Bolsonaro tinha conseguido fazer uma coisa inédita na história republicana do Brasil que foi unificar as direitas. As direitas que sempre apareceram divididas e por isso acabavam sendo derrotadas foram unificadas pela bandeira mais extrema que foi o Bolsonarismo.
Nas eleições municipais o que nós vimos é que novamente essa direita se dividiu, como no notório caso entre o candidato Pablo Marçal e o candidato Nunes em São Paulo. Houve de fato uma divisão. É possível que agora se opere novamente uma reunião de toda a direita e uma característica lamentável dessa união das direitas no Brasil é que ela se faz com um programa mais radical. Quem consegue hegemonizar a liderança da direita no país não é o centro ou o centro direita, mas a extrema direita com o Bolsonarismo. Isso é lamentável e mostra que a polarização continua. (Foto: Internet)