Pérolas do Capitalismo: Bilionários surfam sobre a pobreza

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A Oxfam, organização internacional que trabalha por mais justiça e pela redução das desigualdades no mundo, lançou o relatório “Takers Not Makers”. Segundo o relatório, a riqueza dos bilionários aumentou em US$ 2 trilhões no ano de 2024, três vezes mais rápido que no ano anterior, enquanto o número de pessoas vivendo na pobreza mal mudou desde 1990
Em 2024, o número de bilionários subiu para 2.769, contra 2.565 em 2023. Suas riquezas combinadas aumentaram de US$ 13 trilhões para US$ 15 trilhões em apenas 12 meses. Este é o segundo maior aumento anual na riqueza dos bilionários desde o início dos registros. A riqueza dos dez homens mais ricos do mundo cresceu em média quase US$ 100 milhões por dia.
Previsão
Em 2024, a Oxfam previu o surgimento do primeiro trilionário dentro de uma década. No entanto, com o aumento acelerado da riqueza dos bilionários, essa projeção se expandiu dramaticamente — a taxas atuais, o mundo agora está a caminho de ter pelo menos cinco trilionários dentro desse período.
“A captura da nossa economia global por um seleto grupo privilegiado atingiu níveis antes inimagináveis. A falha em deter os bilionários agora está gerando futuros trilionários. Não apenas a taxa de acumulação de riqueza dos bilionários acelerou — por três vezes — mas também seu poder”, disse Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.
“O auge dessa oligarquia é um presidente bilionário, apoiado e comprado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, governando a maior economia do planeta. Apresentamos este relatório como um alerta severo de que as pessoas comuns em todo o mundo estão sendo esmagadas pela enorme riqueza de um número ínfimo de pessoas”, disse Behar.
Herança injusta
Ao contrário da percepção popular, a riqueza dos bilionários é em grande parte não merecida — 60% da riqueza dos bilionários de hoje vem de herança, monopólio ou conexões com poderosos. A riqueza imerecida e o colonialismo — entendidos não apenas como uma história de extração brutal de riqueza, mas também como uma força poderosa por trás dos níveis extremos de desigualdade atuais — são dois dos principais impulsionadores da acumulação de riqueza dos bilionários.
A Oxfam calcula que 36% da riqueza dos bilionários agora é fruto de herança. Pesquisa da Forbes descobriu que todos os bilionários com menos de 30 anos herdaram sua riqueza, enquanto o UBS estima que mais de 1.000 dos bilionários atuais passarão mais de US$ 5,2 trilhões para seus herdeiros nas próximas duas a três décadas.
Exploração desumana
Muitos dos super ricos, particularmente na Europa, devem parte de sua riqueza ao colonialismo histórico e à exploração de países mais pobres. Países de baixa e média renda gastam em média quase metade de seus orçamentos nacionais com pagamentos de dívidas, muitas vezes para credores ricos em Nova York e Londres. Isso supera em muito o investimento combinado em educação e saúde. Entre 1970 e 2023, os governos do Sul Global pagaram US$ 3,3 trilhões em juros para credores do Norte.
Segundo a Oxfam, a história do império, do racismo e da exploração deixou um legado duradouro de desigualdade. A expectativa de vida média dos africanos ainda é mais de 15 anos mais curta do que a dos europeus. Pesquisas mostram que os salários no Sul Global são de 87 a 95% mais baixos do que os salários no Norte Global para trabalho de habilidade equivalente. Apesar de contribuir com 90% da mão de obra que impulsiona a economia global, os trabalhadores em países de baixa e média renda recebem apenas 21% da renda global.
Bilionários não têm ética
“Os super ricos gostam de nos dizer que ficar rico exige habilidade, determinação e trabalho árduo. Mas a verdade é que a maioria da riqueza é tomada, não criada. Muitos dos chamados ‘autodidatas’ na verdade são herdeiros de vastas fortunas, passadas por gerações de privilégio imerecido. Bilhões de dólares não tributados em heranças são uma afronta à justiça, perpetuando uma nova aristocracia onde a riqueza e o poder permanecem nas mãos de poucos”, disse Behar.
“Enquanto isso, o dinheiro desesperadamente necessário em todos os países para investir em professores, comprar remédios e criar bons empregos está sendo desviado para as contas bancárias dos super ricos. Isso não é apenas ruim para a economia — é ruim para a humanidade”, atesta o diretor-executivo da Oxfam.
(*) Oxfam Brasil

FOTO: DIVULGAÇÃO

 

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