Sem perder a ternura
A passagem dos 65 anos da Revolução cubana vem sendo marcada por reflexões e publicações sobre o que representou esse momento do ponto de vista histórico e político, suas implicações nos dias de hoje e seus personagens icônicos, como símbolo de luta e resistência. Como no livro “O ministro Che Guevara, testemunhos de um colaborador”, livro de Tirso W. Saenz, cuja segunda edição, pelas Edições Manoel Lisboa, em parceria com a UJR (União da Juventude Rebelião), terá lançamento na UFRJ (às 18h, no IFCS-IH), no dia 20, e na UERJ (auditório 71), no dia 29. Em ambas, com a presença do autor.
No dia 1º de janeiro, o movimento que instaurou o socialismo na ilha caribenha e desafiou o poder dos Estados Unidos completou 65 anos. O Portal Vermelho (www.vermelho.org.br, em matéria de 2 de janeiro) registrou a realização de vários atos na celebração da data na ilha, mas foi na cidade de Santiago de Cuba o palco principal.
Lá, diante da antiga sede da Câmara Municipal, de onde Fidel Castro anunciou ao povo a vitória do movimento rebelde em 1959, o presidente Miguel Díaz-Canel afirmou que a revolução conquistou as liberdades democráticas para todos os trabalhadores, colocando os meios de produção nas suas mãos.
“Esta é a revolução genuína e profunda da reforma agrária e da reforma urbana que empoderou o povo ao nacionalizar os serviços, os interesses populares, a terra, as indústrias, os bancos, as comunicações, as grandes construções e investimentos, os transportes, o comércio interno e externo”, disse ele, destacando as contribuições de Cuba com centenas de brigadas médicas que prestaram seus serviços em vários países, durante catástrofes, crises sanitárias e pandemias, e em campanhas massivas de alfabetização ao redor do mundo, e denunciando o bloqueio dos EUA.
O testemunho de um colaborador
Alguns ícones da revolução ganharam projeção mundial. Junto com Fidel Castro (que liderou os cubanos que lutaram contra a ditadura de Fulgêncio Batista e que governou a República de Cuba como primeiro-ministro de 1959 a 1976 e depois como presidente de 1976 a 2008), Ernesto “Che” Guevara, médico, escritor e guerrilheiro argentino, foi também um dos principais líderes da Revolução.
Em 1956, Guevara participou da invasão de Cuba pelo Movimento 26 de Julho, começando a guerra contra o regime. Após a vitória, em 1959, tornou-se membro do governo cubano. Foi embaixador, presidente do Banco Nacional e Ministro da Indústria. Em 1961, visitou o Brasil e foi condecorado com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Foi executado por soldados bolivianos depois de ser capturado, em 1967, aos 39 anos.
A biografia do guerrilheiro pode ser encontrada em muitas publicações. Mas provavelmente não como no livro “O Ministro Che Guevara, escrito por Tirso W. Sáenz, que narra as experiências de Che à frente do Ministério de Indústrias de Cuba (entre 1961 e 1965), figura central na realização de mudanças estruturais que transformaram Cuba de um subdesenvolvimento colonial à independência.
O livro vai além de registrar como o povo cubano enfrentou desafios políticos, sociais e técnicos. A narrativa sobre a convivência no cotidiano do trabalho do engenheiro químico cubano designado em 1962 vice-ministro com Che, dá pistas da personalidade intensa e humana do grande revolucionário.
“Um dirigente tem que estar com os pés na terra, mas com o olhar no céu”, disse ele a Tirso, certa vez. “Apesar de ser muito exigente no cumprimento das tarefas, Che, ao mesmo tempo, tinha grande sensibilidade humana. (…) Uma faceta da personalidade de Che era sua sensibilidade no trato com as pessoas (…) Ele sentia um grande respeito pelos operários das minas subterrâneas e se preocupava em tomar medidas práticas de proteção para preservar e melhorar a qualidade de vida desses operários”, contou o autor, que foi vice-presidente da Academia de Ciências, presidente da Comissão Nacional para Uso Pacífico da Energia Atômica e da Comissão Nacional para Proteção do Meio Ambiente, além de professor titular do Instituto Politécnico Superior.
“Para o Che, o ser humano é o principal na construção do socialismo”
É o que afirma Tirso Saenz em entrevista publicada na edição nº 279 do Jornal A Verdade (de outubro de 2023). “A primeira medida da Revolução foi fazer a reforma agrária e, em seguida, nacionalizar as indústrias. Essas medidas provocaram o bloqueio econômico dos Estados Unidos. Isso provocou a falta de matérias-primas e outros produtos. Cerca de 50% dos médicos e 75% dos engenheiros abandonaram Cuba nesse período. Faltavam muitas pessoas com formação qualificada para o trabalho”.
Ele conta ainda: “Che era o primeiro no trabalho voluntário que acontecia toda semana. O trabalho voluntário era para todos, inclusive para os dirigentes do Ministério, que tinham que trabalhar na indústria têxtil, cortar cana… Che cortava cana como um profissional! Me marcou aquele homem que não usava recursos para nada, que era uma pessoa dedicada 100% à revolução, não só como ministro, mas também como membro da direção política, como membro do Conselho de Ministros, como chefe militar. E, ademais, um pensador e criador, um homem de ideias sobre como desenvolver o socialismo, particularmente em um país subdesenvolvido como Cuba”.
Ideias ainda atuais
“Che morreu há mais de sessenta anos e segue sendo uma figura de caráter internacional. Eu creio que o mais importante seja a ideia que coloca o ser humano como o elemento central e decisivo em um processo de construção do socialismo. Ou seja, o futuro do socialismo está não só no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, mas também no das pessoas. É um processo de formação de um ser humano que não seja egoísta, que tenha uma visão social, que tenha consciência de que é membro de uma sociedade”, avalia o autor. (A íntegra está em https://averdade.org.br/2023/10/tirso-w-saenz-para-o-che-o-ser-humano-e-o-principal-na-construcao-do-socialismo/).
Uma pesquisa rápida na internet revela uma infinidade matérias, livros, filmes, documentários. Alguns deles:
Revolução Cubana: 65 anos
https://pcb.org.br/portal2/31210
65 anos de Revolução Cubana: as mulheres na vanguarda
https://mst.org.br/2024/01/01/65-anos-de-revolucao-cubana-as-mulheres-na-vanguarda/
Documentário do Brasil de Fato: Os 65 anos da Revolução Cubana
https://www.youtube.com/watch?v=ObMGC3OWQgc
Cuba celebra hoje o 65º aniversário do triunfo da Revolução
“Toda humanidade deveria ir um dia a Cuba. Natureza linda e exuberante. Povo singular e rebelde. Cinco séculos de insurgência contra as opressões de toda ordem. Infelizmente, poucos terão este privilégio presencialmente”, diz o prefácio de Antonio Luiz Caldas Junior, professor da Unesp, do livro Cuba Insurgente: Identidade e Educação (Editora CRV; 1ª edição, de março de 2023), em que a pedagoga Maria Leite apresenta a educação como pedra angular da nacionalidade cubana. O livro permite justamente que todos visitem a Ilha em sua plenitude: “Vá para Cuba, viajando pelos tropicais sabores e cores desta magnífica obra acadêmica e literária”, diz ele.
Obras Escolhidas de Ernesto Che Guevara
Publicada por iniciativa da União da Juventude Rebelião (UJR), em parceria com as Edições Manoel Lisboa, reúne importantes artigos, discursos e cartas de 1959 até 1967.
Sem perder a ternura
Sem Perder A Ternura. Pequeno Livro De Pensamentos De Che Guevara, Editora Record (segunda edição, 1999) – Organizado pelo sociólogo Emir Sader, reúne as frases mais significativas de Che, a partir de discursos, cartas e diários sobre temas como humanismo, solidariedade e revolução.
Diários de Motocicleta
Em forma narrativa, graças às anotações detalhadas, é o relato da viagem feita por Che e o amigo Alberto Granado, desde a Argentina até a Venezuela, em 1952. Che nasceu em uma família argentina de classe média. Ainda jovem, decidiu viajar de motocicleta para conhecer todos os cantos da América Latina. O livro deu origem ao filme.
Romance Gráfico
Che, uma vida revolucionária (Romance Gráfico) – com base no livro do premiado Jon Lee Anderson, autor de uma das mais completas biografias de Che, com ilustrações de José Hernández, um dos mais talentosos quadrinistas do México. “Aos poucos, vamos às entranhas da Revolução Cubana e assistimos ao nascimento do comandante Che Guevara, que, após a vitória em Cuba, decidirá levar sua luta a outras terras até a morte na Bolívia, encerrando assim uma trajetória de sacrifícios e sonho que se confunde com a própria história do continente”, resume a apresentação.
Música Universal
Buena Vista Social Club (Capa do disco)
O Álbum lançado em 1997 levou à fama internacional músicos veteranos. O produtor musical Ry Cooder e o músico Juan de Marcos González reuniram a produção dos músicos cubanos vanguardistas que tocavam no clube Buena Vista Social Club, em Havana, fechado na década de 1950. Produzido na gravadora estatal de Havana, não teve incentivos comerciais nem publicidade. Em 1998 o álbum conquistou o Grammy, um dos mais importantes prêmios da indústria musical. No mesmo ano, Wim Wenders filmou a história dos músicos e suas primeiras apresentações internacionais. Em 2006 foi lançado o segundo álbum, o Rhythms del Mundo, com a participação de Coldplay, Artic Monkeys e Sting.
Guantanamera, música universal
Compay Segundo interpreta Guantanamera
Uma das mais célebres canções cubanas. A guajira Guantanamera é uma manifestação folclórica do povo campesino. Estudiosos dizem que Joseíto Fernández, trovador havaneiro que disseminou La Guantanamera, foi o primeiro a cantar e gravar a Poesía I dos Versos Sencillos, publicados em 1891 por José Martí (herói nacional devido a sua atuação como mártir da independência de Cuba do domínio espanhol, em 1898), com a melodia de La Guantanamera. Outros dizem que a incorporação dos Versos deve-se a uma versão do compositor espanhol Julián Orbón (1925-91).
Sua origem é a cidade de Guantánamo, no sudeste da ilha, onde está a base naval dos Estados Unidos. Segundo algumas análises, a canção é utilizada como um hino de liberdade e protesto contra a presença dos EUA em solo cubano.