Sintufrj chama a atenção para o Dia da Consciência Negra

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A escadaria do Centro de Ciências da Saúde (CCS) foi palco do debate “O Negro na Universidade”, na roda de conversa promovida pelo Sintufrj, na manhã de terça-feira, 19. A atividade fez parte do calendário de eventos pelo Dia da Consciência Negra, data celebrada a 20 de novembro.

A política de cotas raciais, a permanência do negro na universidade e os mecanismos de aferição da autodeclaração estiveram no centro da discussão, da qual participaram a secretária de Combate ao Racismo da CUT nacional, Rosana Fernandes, o sociólogo e doutorando do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, Wescrey Pereira, e o estudante de História da UFRJ e integrante do Coletivo Enegrecer, Ygor Martins.

Ygor apontou os desafios à permanência do negro no espaço universitário e criticou o processo de desmonte dos avanços sociais obtidos nos governos do Partido dos trabalhadores, e concluiu que “não é por acaso que os jovens negros têm 2,5 vezes mais chances de morrer que jovens brancos, que mulheres negras recebem menos que homens e mulheres brancas.” Segundo o estudante, é preciso defender o sistema de cotas e reivindicar a aferição dos autodeclarados negros e pardos para evitar fraudes, principalmente para o ingresso aos cursos de graduação considerados de elite, de modo a garantir que as vagas sejam de fato reservadas a quem de direito.

Wesley Pereira reconhece que hoje se consegue ver pessoas negras transitando nos campi e o aumento dos coletivos negros nos cursos de graduação, e pela primeira vez na história, os negros como maioria nas universidades públicas, o que é importante comemorar. Mas, esse avanço da presença da população negra estudantil não se reflete de forma homogênea em todas as graduações, frisou. “Há que se pensar em políticas de permanência do jovem negro e é preciso levar as políticas afirmativas também aos concursos docentes”, propôs.

Mercado de trabalho

“Quando a gente pensa na inserção da população negra no sistema educacional e nas universidades públicas, isso se reflete no mercado de trabalho”, pontuou Rosana Fernandes. Segundo a dirigente cutista, os trabalhadores com menos acesso aos cursos de graduação são os que conseguem os piores trabalhos e com mais baixa remuneração. “Estamos falando da maioria dos trabalhadores que são domésticos; tem um recorte racial do trabalho doméstico no país”, disse.

“A gente precisa ter de fato uma política que seja de Estado e não de governo para não acontecer o que está ocorrendo agora com o governo Bolsonaro, que adotou, como um de seus primeiros projetos, tirar recursos da Educação e da Saúde, e desconstruir políticas de permanência e de acesso ao ensino fundamental à universidade, e isso reflete diretamente no mercado de trabalho”, concluiu Rosana.

O debate foi mediado pela coordenadora de Esporte e Lazer e do Departamento de Raça e Gênero do Sintufrj, Noemi Andrade, que foi recém-eleita para a executiva da CUT-RJ. Segundo a dirigente, o Sindicato tem construído ações com o movimento negro que culminaram com a constituição de mecanismos de aferição das autodeclarações no processo de ingresso pelo sistema de cotas na UFRJ, e do qual fazem parte pessoas da entidade.  “Entendo que a política a ser tocada na universidade é a regulamentação da Lei de Cotas. Estamos avançando em relação ao aumento da população negra na universidade, mas essa é uma questão que não pode ser simplesmente uma política sem fiscalização”, ponderou Noemi.

Cultura e resistência

O evento contou com uma oficina de turbante orientada pelo  bailarino afro, modelo e turbanista Alexandre Fercar, morador do Complexo da Maré. Ele ensinou as diversas formas de amarração dos coloridos tecidos em torno da cabeça. Por terem conotação religiosa, uma das funções dos turbantes é proteger o Ori (cabeça em Iorubá) dos maus pensamentos e da negatividade. Mas na visão do artista, o turbante continua como símbolo de resistência mesmo com a apropriação cultural e a popularização entre brancos.

Debate na terça-feira, 26, Quinhentão

“As múltiplas violências no trabalho contemporâneo: racismo, machismo, lgbtfobia e assédio moral” é o tema do debate na terça-feira, 26, às 14h, no auditório do Quinhentão, no Centro de Ciências da Saúde (CCS). Debatedores: Renata Souza, deputada estadual do Psol; Guilherme Almeida e Ludmila Fontenele, da Escola de Serviço Social da UFRJ.

MOMENTO AFRO. o bailarino modelo e turbanista Alexandre Fercar, morador do Complexo da Maré, conduziu oficina de turbante

 

 

 

 

 

 

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