CARTA DE UMA SERVIDORA AO MINISTRO PAULO GUEDES

Compartilhar:

Sr. ministro,

 

O sr. não me conhece. Meu nome é Ana Flavia, sou técnica de enfermagem no HUCFF, na UFRJ. Tomei a liberdade de escrever para o sr. porque ficamos muito indignados aqui no trabalho desde que vimos na internet que o senhor nos chamou de parasitas.

 

Sr. Guedes, o senhor já veio aqui no HU? Tem noção de quantas pessoas atendemos por semana? Já entrou num centro cirúrgico pra ver o estresse que é? Agora imagina encarar essa pauleira em todo plantão? É inacreditável ouvir uma ofensa tão rasteira de uma autoridade, quando dedicamos um pedaço tão grande de nossas vidas para servir ao público com dignidade.

 

A irritação aumentou quando vi a proposta de cortar até 25% do nosso salário pra fazer economia. O sr. já viu quanto ganhamos? Eu vi que o sr. ganha mais de 30 mil por mês só de salário, e ainda ganha mais 8 mil de tíquete (acho que no seu caso tem outro nome, né? “Auxílio”. Tíquete é pra trabalhador). Olha, ministro, se o sr. cortar só o que te pagam em tíquete, economiza mais do que cortando 25% do salário de 10 servidoras que nem eu.

 

O povo do sindicato fez até um meme comparando o meu salário com a dívida daquele empresário da Havan que sempre faz propaganda do Bolsonaro. Fiquei pasma! Quase 170 milhões que ele deve ao INSS e à Receita! Se cobrar só a dívida dele, economiza mais do que tirando 25% do salário da UFRJ inteira por um bom tempo!

 

Eu ia me despedir, mas lembrei de outro absurdo: sua declaração sobre as empregadas. Eu não sei se me indignei mais pela mentira ou pelo sr. achar que empregada não tem direito de viajar. Tá parecendo o ministro da Educação: toda vez que abre a boca, sai um disparate. Até nos acusar de plantar maconha ele já fez. Parece que nunca pisou numa universidade na vida (acabei de me lembrar que nossos colegas da federal da Bahia inventaram um novo exame que dá diagnóstico de coronavírus em 3 horas. O sr. sabia que o exame anterior demorava 2 dias? Isso parece trabalho de parasita ou de traficante?).

 

Me despeço por aqui. Não sei se o sr. vai ler minha carta, mas eu não podia ficar calada. Tava um nó na garganta que me deixou até sem sono. Aqui tem gente séria, trabalhadora e que tem compromisso com as pessoas. Ninguém é parasita não. Aliás, sua mãe não era servidora? Porque essa raiva que o sr. tem de nós parece trauma. Talvez por um mau exemplo dentro de casa.

 

Até já, seu ministro (porque o sr. ainda vai ouvir muito da gente, que ninguém vai levar outra tunga no bolso e ficar quieto, sem brigar com os senhores).

 

COMENTÁRIOS