Racismo e direita crescem se apropriando da internet

Compartilhar:

 

“O racismo digital, que envolve o racismo algorítmico, e que causa discriminação em código e microagressões está crescendo. (Ele) é diariamente disseminado como via de segregação e discriminação em todas as suas formas. Os dados de pessoas negras estão sendo utilizados para esse fim.” A denúncia foi feita por Ana Carolina Lima, que integra a Comissão de Proteção de Dados e Privacidade da OAB-RJ, durante debate do Festival do Conhecimento da UFRJ, na sexta-feira, 24 – último dia do evento.

“Democracia, redes sociais e proteção de dados”foi o tema da mesa, da qual também participou a influenciadora digital e professora do Cefet-RJ Elika Takimoto, com mediação do professor da Faculdade Nacional de Direito, Daniel Capecchi. Segundo ela, é preciso ter muito cuidado com a internet para fazer valer as leis. E citou como exemplo a campanha de Jair Bolsonaro, que foi baseada nas fake news.

“Espero que tudo seja apurado e inclusive a chapa caçada pelo bombardeio e o compartilhamento em massa de mensagens falsas, as famosas fake news. Utilizaram termos como mamadeira de piroca e kit gay, passando essas mensagens e dizendo, inclusive, que Fernando Haddad era pedófilo. Tudo para assustar a população”, disse Takimoto, que falou sobre o papel das redes sociais na esfera política.

Racismo digital

Segundo Ana Carolina, não há controle dos dados. “Estamos soltos no cyber espaço. Largamos por aí um conjunto de informações pessoais e preferenciais cotidianamente. Deixamos rastros em forma de dados virtuais para trás e que nos identificam de várias formas”.

“A todo momento os nossos passos estão sendo monitorados. Os nossos dados constituem a nossa identidade e o nosso direito à cidadania, como somos vistos e julgados. Seus dados são você e se você não controla suas informações pessoais está perdido. Porque eles serão controlados por alguém”, alertou.

“Proteção e privacidade de dados para quem? Desde que me tornei membro da Comissão de Dados e Privacidade da OAB me faço essa pergunta. Não tenho uma noção completa de quantos cadastros com meus dados estão espalhados pela cidade? E também não tenho noção de quantos já violados os meus dados de direitos humanos”, acrescenta.
Segundo Ana Carolina, proteção de dados significa estabelecer as regras em relação o que pode ser feito ou não com as nossas informações. É como se fosse um manual de instruções, não só para proteger a pessoa por trás dos dados, mais também gerar confiança entre os cidadãos, as organizações públicas e privadas.

Direita domina

A influenciadora digital chamou a atenção para o discurso de Bolsonaro, que segundo ela é muito fácil de ser absorvido pelas pessoas. “Porque mexe num preconceito que estava enraizado na sociedade e que a esquerda vinha levando muito tempo para desconstruir. Bolsonaro polariza a sociedade e dificulta o diálogo, se fortalecendo e aumentando a sua bolha. Quando fala que tem o remédio para a Covid, ele fala o que as pessoas quem ouvir, não importa se é verdade ou mentira. Às vezes esse mundo em que eles estão (os seguidores de Bolsonaro) é mais cômodo de se viver do que o mundo em que a gente está. No nosso mundo a gente precisa se preocupar com mais de 80 mil mortos e com a contaminação.”

Elika Takimoto disse que é preciso incluir os excluídos digitais também, os quais a direita doutrina através do fundamentalismo religioso. “Temos que incluir mais. Muitas revoluções estão acontecendo na internet e uma camada da sociedade está sendo excluída. Está sendo excluída digitalmente, mas não está sendo esquecida pela direita. É onde entra o fundamentalismo religioso, vide bancada evangélica no Congresso, que se associa a esse movimento de direita, conservador e fascista”, concluiu.

COMENTÁRIOS