Chefe da Urologia quer levar exame às comunidades

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Apesar dos avanços terapêuticos, pelo menos 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Cerca de 20% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, embora haja um declínio importante nas últimas décadas em decorrência, principalmente, de políticas para o diagnóstico precoce e maior conscientização da população masculina.

Por isso a importância da campanha Novembro Azul, aponta Luiz Carlos Miranda, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFRJ, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e membro da SBU. Ele alerta que o câncer de próstata tem uma prevalência muito alta em relação a outros tumores: fora o de pele, que é muito frequente, o tumor da próstata é o mais comum. Mais do que o de pulmão ou de intestino, explica. “Então, tem uma importância epidemiológica muito grande, principalmente porque, quando se consegue um diagnóstico precoce, há uma chance maior de cura”, garante.

Segundo a SBU, homens a partir de 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, devem procurar um profissional especializado para avaliação, tendo como objetivo o diagnóstico precoce da doença. Aqueles que integram o grupo de risco (raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata) devem fazer diagnóstico mais cedo: a partir dos 45 anos.

Recomendações

O médico insiste: “O Novembro Azul alerta para a necessidade de o homem perder o preconceito e procurar um atendimento”. E acrescenta dizendo que o médico não precisa ser necessariamente um urologista: “[A pessoa] Pode procurar um atendimento clínico para fazer alguns exames. Há um exame de sangue chamado PSA (antígenos específicos da próstata que detectam precocemente casos de câncer e outras alterações), há o exame de ultrassonografia, que também ajuda, e o exame clínico, que é muito importante, chamado de exame digital retal da próstata, o famoso toque retal”. Segundo o especialista, é um exame barato que identifica o tumor na fase inicial. “O que a Sociedade recomenda é que homens acima de 50 anos devem iniciar algum tipo de observação da próstata uma vez por ano, com a seguinte ordem de prioridade: exame digital retal da próstata e PSA”, informa.

“O câncer quando dá sintoma já está muito avançado. Se tiver câncer, deve descobrir a doença na prevenção. [O paciente] Não deve achar que vai ter algum sintoma para então investigar”, alerta o médico. 

As pessoas, segundo Miranda, não devem se descuidar da prevenção nem mesmo na pandemia. No Serviço de Urologia do HUCFF, a presença dos pacientes diminuiu muito. Mas o setor fez busca ativa dos matriculados, e todos foram sendo remarcados. 

É preciso vencer o medo da pandemia e o preconceito. O médico reconhece que o toque retal sofre estigma, mas explica que é um exame simples, realizado em segundos, indolor. Com esse exame é possível rapidamente avaliar se há algo suspeito ou não. E isso pode salvar uma vida.

Treinamento 

Há alguns anos, Miranda treinou quatro médicas que atendiam em um posto de saúde que a UFRJ mantinha na Vila do João, no Complexo da Maré, para que realizassem o exame digital retal na população local, e a iniciativa teve bom resultado. Segundo ele, muitos homens venceram o preconceito, e, quando um caso era identificado, a pessoa era encaminhada a um hospital. O urologista tem esperança de que esse treinamento possa ser repetido. 

Embora os alunos que passam pelo Serviço de Urologia do HUCFF – cerca de 80 por semestre – aprendam a executar o exame, há dez anos Miranda tem esperança de poder voltar a treinar profissionais que atuam na atenção básica, para dar continuidade à prevenção contra o câncer de próstata na Maré. A falta de recursos financeiros do Hospital Universitário é o principal empecilho para a montagem de um centro de formação, com uma sala-anfiteatro para transmitir imagens do centro cirúrgico e manequins para treinamento do exame digital retal. “Se isso ocorresse, o ganho social seria enorme”, afirma.  

 

 

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