Michel Temer prometeu que, ao tirar centenas de direitos dos trabalhadores, o país geraria mais de 6 milhões de empregos. O que gerou foi trabalho precário, desemprego e informalidade

Matéria retirada do site da CUT

A reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017) do ilegítimo Michel Temer (MDB), que acabou com 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho CLT), completa três anos nesta quarta-feira (11) sem gerar os 6 milhões de empregos prometidos e com um exército cada vez maior de trabalhadores e trabalhadoras informais e sem direitos.

Em novembro de 2017, quando a reforma entrou em vigor, o Brasil tinha 12,6 milhões de desempregados, em agosto deste ano, o número subiu para 13,8 milhões, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Os totais de subsutilizados (33,3 milhões de pessoas) e de informais (31 milhões) também vêm batendo recordes consecutivos desde o golpe de 2016.

“Se teve uma economia com a reforma Trabalhista, quem embolsou foram os empregadores que precarizaram o trabalho”, afirma a técnica da subseção do Dieese da CUT, Adriana Marcolino.

“Não teve impacto na geração de empregos, que se manteve em patamares bastante elevados, nem na redução da informalidade, como o governo dizia na época que ia acontecer. A maior parte das ocupações geradas desde que a reforma entrou em vigor foi informal, por conta própria e sem carteira assinada”, complementa.

Adriana diz que espera que a retomada da economia em 2021, se vier, seja acompanhada pela geração de empregos formais, protegidos com contratos por prazo indeterminado, o contrato padrão. “Porque se a retomada da economia vier baseada nesses contratos precários, muito possivelmente a gente vai arrastar a crise econômica e social por um tempo bastante longo”.

Em editorial intitulado “Nunca foi reforma, sempre foi ataque aos trabalhadores”, publicado no site do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), a direção do sindicato diz que a reforma representa “O maior desmanche de uma legislação conquistada e defendida por gerações de trabalhadores e lideranças sindicais. O desmonte de princípios fundamentais de proteção ao emprego e ao trabalho, inscritos na CLT desde a década de 1940”.

Em artigo publicado no mesmo site, os advogados do departamento Jurídico dizem que a reforma “foi apenas um pretexto do governo Temer e dos empresários para impor uma forte redução dos direitos dos trabalhadores”.

Confira a lista dos quatro exemplos mais extremos das graves consequências da reforma, feitos pelo Jurídico do SMABC:

1) Criou o contrato de trabalho intermitente, pelo qual o trabalhador é admitido pela empresa, mas não tem nenhuma garantia de que terá trabalho e salário.

2) Ampliação da jornada de trabalho de 12×36 para todas as categorias. Aumenta o risco de acidentes de trabalho. Os empresários acham que o trabalhador é uma máquina, que não necessita de descanso e de alimentação.

3) O empresário poderá transformar o salário fixo do trabalhador em algo variável, basta atribuir o nome de abono ou prêmio. Nestes casos, os ganhos poderão ser reduzidos a qualquer momento, bastando a vontade do empregador.

4) A terceirização ampla, geral e irrestrita, inclusive das atividades fins da empresa tomadora, garantida apenas a responsabilidade subsidiária da empresa principal.

 

 

 

Rodízio energético não é cumprido e provoca onda de indignação na população que vai às ruas protestar. Sindicato dos eletricitários move ação contra empresa responsável pelo apagão

Matéria retirada do site da CUT.

As noites no Amapá têm sido de revoltas e protestos da população que vem sofrendo as consequências do apagão energético que completa nove dias nesta quarta-feira (11). Os relatos de falta de água, combustíveis, perda de alimentos e aumento nos preços têm sido constantes.

Um das principais queixas é o não cumprimento dos horários de rodízio. As autoridades do estado prometeram que o racionamento de energia seria igualitário, a cada seis horas, mas o que se vê são bairros inteiros ainda sem luz e a energia sendo restabelecida por apenas duas horas. Outras localidades mais distantes da capital, Macapá, o racionamento nem chegou e elas continuam às escuras.

Cansada de esperar pela solução e revoltada, a população tem saído às ruas para protestar provocando incêndios em vias e rodovias da capital Macapá e cidades próximas.

Indignada com o descaso das autoridades, a secretária de Comunicação da CUT/AP, Maria Neuziana, relata seu desespero com a falta de energia. Com a filha com Covid-19, é ela que está cuidando dos netos pequenos de três e cinco anos. Segundo ela, as crianças e idosos são os que mais sofrem com o apagão.

“O rodízio não está funcionando. É pura enrolação e enganação. Tem bairro em que a energia durou apenas duas horas. Onde moro, ontem [10] era para ter voltado às seis da tarde, mas só chegou às nove da noite”, diz.

Ao relatar seu sofrimento e o da população amapaense, Neuziana chora e diz que o estado está abandonado pelas autoridades do país, especialmente pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).

“Apelo que busquem fazer algo por nós porque estamos abandonados pelo governo federal, pelo governador e pelo prefeito que só fazem campanha enquanto o povo sofre. Eu não durmo desde a terça-feira passada, pareço um zumbi, preocupada com meus netos, minha filha, minha família e os meus amigos. Estamos passando por uma segunda onda de Covid e não temos para onde correr. Estou com um grito de desespero preso na garganta”, relata a dirigente indignada.

O presidente do Sindicato dos Eletricitários do Amapá (STIU-AP), Jedilson Santa Bárbara de Oliveira, entende que o rodízio anunciado pelas autoridades locais não tem sido justo e há moradores de bairros sofrendo ainda mais do que outros e, que diante desta situação, o STIU-AP fez um apelo à direção da Isolux para que reveja o modelo de racionamento.

“Os bairros mais próximos aos hospitais, maternidades e pronto-socorro têm ficado mais tempo com energia até porque a saúde é a prioridade da usina de Coroacy Nunes, responsável por cerca de 30% da energia. Mas bairros, como o da Universidade Federal, continuam às escuras e a população vem protestando”.

STIU-AP entra com ação contra Isolux  

A assessoria jurídica do STIU-AP está movendo uma ação civil contra a Isolux por danos à população, até porque é a equipe técnica da Eletronorte que está fazendo o trabalho de restabelecer a energia, conta o presidente do sindicato, Jedilson Santa Bárbara de Oliveira.

“Não temos observado nenhum posicionamento pedido pelo ministério das Minas e Energia  e da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] junto à Isolux. Isto mostra o reflexo do que acontecerá se o governo Bolsonaro privatizar a Eletrobras’, complementa.

O que acontece com o Amapá, amanhã pode acontecer no resto do país

– Jedilson Santa Bárbara de Oliveira

Para o dirigente é importante que o Congresso Nacional  se coloque em defesa das estatais porque na hora que as empresas privadas têm erros operacionais, por falta de manutenção, são as empresas públicas que socorrem a população.

Segundo ele, quem se apressa para devolver à normalidade a vida no Amapá são os trabalhadores e trabalhadoras da Eletronorte e Eletrobras tanto do estado como od de Roraima, Pará e Maranhão, que ajudam nos reparos da subestação que pegou fogo na noite de terça-feira (3).

“A empresa responsável pelo abastecimento do estado, a espanhola Isolux,  não tem competência técnica e pessoal capacitado para resolver o problema, por isso a ajuda dos trabalhadores das estatais são imprescindíveis”.

O dirigente diz ainda que existe a possibilidade de ser contratada energia térmica para entrar no sistema. Com isso será possível dar um pouco mais de carga de energia na capital. Macapá precisa em média de 280 megawatts para atender a população local.

“Já começou a ser desmontado em Laranjal do Jari, sul do estado, um gerador que deve chegar nos próximos dias. Enquanto isso nós também aguardamos uma equipe restabelecer as  turbinas a gás que contribuiriam com 54 megawatts e com mais 75 megawatts das hidrelétricas, vai dar um alívio para a população”, acredita Jedilson.

Apesar do apagão, eleições municipais estão confirmadas

Com a proximidade das eleições municipais que ocorrem neste domingo (15), a preocupação é que as zonas eleitorais tenham condições de receber a votação. Os candidatos à prefeitura de Macapá, professor Marcos Roberto (PT) e Antônio Furlan (Cidadania ) foram os únicos a pedir ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá, que adiasse as eleições, mas o pedido foi negado.

Diante do caos, o presidente da CUT/Amapá, Errolflyn Paixão diz , em artigo, que só resta a população comparecer às urnas e votar em quem defende o serviço público, e seja contrário ao desmonte da Eletronorte e da Eletrobras, cujos trabalhadores estão fazendo os reparos necessários para que a energia volte em todo o estado.

Leia a íntegra do artigo do presidente da CUT/AP, Errolflyn Paixão.

Há menos de duas semanas antes das eleições municipais, o Estado do Amapá é atingido por um apagão energético jamais mais visto em sua história. Ainda assim, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) insiste em manter a votação no próximo dia 15, não acatando o pedido de dois candidatos, do PT e do Cidadania, à prefeitura da capital  Macapá, de adiamento do pleito.

O desrespeito com o povo amapaense vem acontecendo há muito tempo pelas mesmas autoridades que comandam o Estado e a nossa capital. Os  candidatos que lideram as “pesquisas” são os de sempre, apoiados pelo senador e presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o governador do estado, Antônio Waldez Góes da Silva (PDT), e especialmente pelos aliados de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que ainda  jogam a responsabilidade do apagão para um e outro.

A responsabilidade da empresa privada e o socorro que veio dos técnicos da Eletronorte e Eletrobras mostram que as privatizações das estatais atendem apenas aos interesses de alguns maus políticos e empresários.

Todo processo de privatização passa pelo Congresso Nacional, por isso o  senador Davi conhece esses problemas. Ele sabe que a subestação que pegou fogo, tem um dono chamado Isolux, empresa espanhola, enquanto a Companhia Energética do Amapá (CEA), a Eletronorte e a Eletrobras vêm sofrendo um processo de desmonte e ataques privatistas de todas as formas.

E ao contrário das fake news, as notícias falsas, as estatais não têm nenhuma responsabilidade por esse apagão. Toda responsabilidade é da Isolux, proprietária da subestação e das linhas de transmissão.

Para piorar a situação, o sistema de geração do paredão e da Usina Termogás está conectado no barramento da subestação da Isolux. Ou seja, a energia gerada por esse sistema é privada. Mas, os detentores do poder do estado não falam nada para a população, numa atitude irresponsável com o povo amapaense.

O sistema elétrico é previsível, pois a engenharia elétrica consegue prever num empreendimento com antecedência o  tempo de vida de cada componente, de isoladores, chaves, para-raios, como se faz um aterramento, o uso adequado do óleo elétrico. Então, não cabe o discurso de que o apagão foi um acidente. Na verdade, foi a falta de manutenção do sistema que provocou essa tragédia na vida da população. Agora jogam a responsabilidade sobre o sistema público para que resolver o problema.

Diante deste caos e do descaso das autoridades que estão há anos no poder, responsáveis pela administração do estado, é preciso que o povo reflita antes de depositar seu voto nessas eleições.

Vamos defender as empresas públicas. Vamos defender a Eletronorte e a Eletrobras. Não à privatização!.

 

 

Apesar dos avanços terapêuticos, pelo menos 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Cerca de 20% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, embora haja um declínio importante nas últimas décadas em decorrência, principalmente, de políticas para o diagnóstico precoce e maior conscientização da população masculina.

Por isso a importância da campanha Novembro Azul, aponta Luiz Carlos Miranda, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFRJ, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e membro da SBU. Ele alerta que o câncer de próstata tem uma prevalência muito alta em relação a outros tumores: fora o de pele, que é muito frequente, o tumor da próstata é o mais comum. Mais do que o de pulmão ou de intestino, explica. “Então, tem uma importância epidemiológica muito grande, principalmente porque, quando se consegue um diagnóstico precoce, há uma chance maior de cura”, garante.

Segundo a SBU, homens a partir de 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, devem procurar um profissional especializado para avaliação, tendo como objetivo o diagnóstico precoce da doença. Aqueles que integram o grupo de risco (raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata) devem fazer diagnóstico mais cedo: a partir dos 45 anos.

Recomendações

O médico insiste: “O Novembro Azul alerta para a necessidade de o homem perder o preconceito e procurar um atendimento”. E acrescenta dizendo que o médico não precisa ser necessariamente um urologista: “[A pessoa] Pode procurar um atendimento clínico para fazer alguns exames. Há um exame de sangue chamado PSA (antígenos específicos da próstata que detectam precocemente casos de câncer e outras alterações), há o exame de ultrassonografia, que também ajuda, e o exame clínico, que é muito importante, chamado de exame digital retal da próstata, o famoso toque retal”. Segundo o especialista, é um exame barato que identifica o tumor na fase inicial. “O que a Sociedade recomenda é que homens acima de 50 anos devem iniciar algum tipo de observação da próstata uma vez por ano, com a seguinte ordem de prioridade: exame digital retal da próstata e PSA”, informa.

“O câncer quando dá sintoma já está muito avançado. Se tiver câncer, deve descobrir a doença na prevenção. [O paciente] Não deve achar que vai ter algum sintoma para então investigar”, alerta o médico. 

As pessoas, segundo Miranda, não devem se descuidar da prevenção nem mesmo na pandemia. No Serviço de Urologia do HUCFF, a presença dos pacientes diminuiu muito. Mas o setor fez busca ativa dos matriculados, e todos foram sendo remarcados. 

É preciso vencer o medo da pandemia e o preconceito. O médico reconhece que o toque retal sofre estigma, mas explica que é um exame simples, realizado em segundos, indolor. Com esse exame é possível rapidamente avaliar se há algo suspeito ou não. E isso pode salvar uma vida.

Treinamento 

Há alguns anos, Miranda treinou quatro médicas que atendiam em um posto de saúde que a UFRJ mantinha na Vila do João, no Complexo da Maré, para que realizassem o exame digital retal na população local, e a iniciativa teve bom resultado. Segundo ele, muitos homens venceram o preconceito, e, quando um caso era identificado, a pessoa era encaminhada a um hospital. O urologista tem esperança de que esse treinamento possa ser repetido. 

Embora os alunos que passam pelo Serviço de Urologia do HUCFF – cerca de 80 por semestre – aprendam a executar o exame, há dez anos Miranda tem esperança de poder voltar a treinar profissionais que atuam na atenção básica, para dar continuidade à prevenção contra o câncer de próstata na Maré. A falta de recursos financeiros do Hospital Universitário é o principal empecilho para a montagem de um centro de formação, com uma sala-anfiteatro para transmitir imagens do centro cirúrgico e manequins para treinamento do exame digital retal. “Se isso ocorresse, o ganho social seria enorme”, afirma.  

 

 

Nesta quinta-feira, 12 de novembro, a vã do Sintufrj faz plantão no Centro de Tecnologia (CT), das 10h às 16h. O Sintufrj vai até você é mais uma prestação de serviço aos técnicos-administrativos em educação oferecido pela direção sindical. 

Aproveite, companheira e companheiro para dialogar sobre assuntos do seu interesse com os coordenadores da entidade que estarão à sua disposição; obter informações sobre processos com os advogados de plantão; esclarecer dúvidas sobre convênios e tratar a respeito de outras demandas. 

 

Visita ao quilombo liderado por Zumbi e Dandara permite experiência única e conexão com a resistência e luta

“Se Palmares não vive mais faremos Palmares de novo”, é uma frase do poeta José Carlos Limeira que virou grito do movimento negro “Vamos fazer Palmares de novo”, como um chamado para se aquilombar, resistir. Foi isso que um grupo de 15 pessoas fez em novembro de 2019 ao subir a Serra da Barriga e acessar as terras lideradas por Zumbi e Dandara, que foi o primeiro quilombo das Américas e simbolizou uma das maiores resistências ao período de escravização do Brasil colonial.

O Parque Nacional Quilombo dos Palmares fica a cerca de 80 quilômetros de Maceió. É possível ir de van a partir da capital alagoana em um bate-e-volta. Vale a pena contratar um guia e não há muito o que fazer em dois dias que justifique dormir por lá. A Serra da Barriga abrigou quilombos por cerca de 100 anos, onde mais de 30 mil pessoas viveram livres no século XVII. A imensidão que se vê a partir do Parque Memorial, onde ficava o quartel general dá a noção da grandeza do que foi. Afinal, a Serra da Barriga possui cerca de 28 mil quilômetros quadrados, que eram ocupados por vários quilombos.

Estar em Palmares é mais do que foto bonita no Instagram, é sentir-se parte da história de luta. O lugar fala de vários jeitos, incluindo a energia que emana, bastante forte, mas não pesada. A história narrada no parque lembra de elementos que marcaram o quilombo, como a capoeira, o candomblé e também os indígenas que por ali viviam 1,2 mil anos antes do lugar abrigar um centro de resistência negra. As urnas funerárias e histórias dos indígenas também são contadas, assim como as técnicas de guerra reproduzidas pelos palmarianos e os saberes ancestrais e de ligações religiosas que foram repassadas pela xamã Acotirene (afroindigena), que foi líder espiritual na época de Zumbi.

Por lá, um Iroco, o orixá do tempo, é representado por uma árvore plantada ao lado de um lago, onde foram encontradas várias cabeças decapitadas na época da invasão do quilombo. É nesse lugar que o grupo de visitantes se reúne em roda para falar das sensações, chorar e dançar em círculo cantando: “Eu sou de lá, de África. Se eu não sou de lá, meus pais são de lá, de África. Eu sou de lá, de África, se eu não sou de lá, meus avós são de lá, de África. Eu sou de lá, de África… Se eu não de lá meus ancestrais são de lá, de África”. A árvore que representa o orixá do tempo está oca há anos, mas continua firme e forte. Esse é um dos lugares para sentir a conexão com o passado, ouvir os silêncios, os barulhos da natureza e dos voduns.

Experiência

A viagem para Palmares não é apenas um turismo de lazer, mas de reconhecimento, de história e de sentimentos. “É muito importante fazer esse caminho, refazê-lo. Há uma vibração e uma emoção em subir a Serra da Barriga. É uma das nossas referências. Lembrar das condições que o nosso povo lutou, para estarmos aqui hoje, falar para os nossos terem orgulho do processo de resistência do povo negro, que nos custou muito, mas retrata a nossa grandeza”, afirma a socióloga e ativista Vilma Reis.

Uma das participantes do grupo que subiu a Serra da Barriga foi a jornalista e militante da Marcha das Mulheres Negras Juliana Gonçalves, que conta ter ficado bastante empolgada já no trajeto. “Fui prestando atenção na paisagem, nas histórias que tinha ouvido. Era uma busca pela liberdade que levava as pessoas àquele lugar. Um tudo ou nada. Havia um comando, pautado pelo bem coletivo, por isso funcionou por tanto tempo”, lembra.

Ao chegar no parque, os visitantes são convidados a tirar o sapato, para pisar no local que é considerado um solo sagrado. “Foi uma experiência única, que me fez renovar os votos com a luta pela liberdade e deu sensação do pássaro africano sankofa: de olhar para o passado, com os pés voltados para o futuro. A base organizativa do quilombo era ter o que o que comer e saber se defender. Precisamos rever nossas estratégias de luta hoje e ver o que é prioridade a partir disso. Renovou meus votos como militante, com um olhar mais fresco para a conjuntura atual”, define Juliana Gonçalves.

A ligação com a ancestralidade, segundo ela, é inevitável. “Senti uma conexão direta com Dandara, que deu o sangue por um processo de liberdade. Ela teria se jogado para não se entregar. Me senti conectada em um processo de luta e sobrevivência que persiste até hoje. Lembro da minha avó e de tantas outras mulheres negras que mesmo não sendo militantes tiveram que adotar táticas de sobrevivência. É assim que vamos existindo”, diz a integrante da Marcha das Mulheres Negras.

As famosas palmeiras que deram nome ao lugar ainda estão pelo terreno. As cinzas do jornalista e militante do movimento negro Abdias do Nascimento foram espalhadas no entorno de uma árvore baobá que ainda ganha forma. Há algumas casas dentro do parque. São pessoas que passaram a ocupar a região e que disputam para estar na área considerada protegida pela União e sagrada para muitos movimentos. No dia 20 de novembro, as religiões de matriz africana organizam um grande cortejo e realizam cerimônias no local. O dia 6 de fevereiro, quando o quilombo foi invadido, e o 21 de março, Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, também são datas especiais, marcadas por atividades.

É o tipo de viagem que não acaba, quando você vai embora. A energia que o quilombo emana continua morando de alguma forma em cada um que o visita. Palmares é um lugar que dá a importância de resistir para existir. Em que se reforça a certeza de que valeu e vale a pena lutar e de que cada pessoa negra carrega essa herança, essa ancestralidade e tem a missão de mantê-la viva. Por isso, a importância de sermos sabedores de nossa história e podermos revisitá-la sempre: vamos fazer palmares de novo?!

* Guilherme Soares Doas- 28/1/2020/ CartaCapital O repórter viajou a convite da Black Bird Viagem, Brafrika e Diaspora.Black.