Há 43 anos, completados neste 1º de março, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho é uma referência em saúde pública de qualidade e no tratamento de patologias de alta complexidade para a população do Rio Janeiro e de outros estados. É a maior unidade hospitalar em volume de consultas e, desde o início da pandemia da Covid-19 no país, seus profissionais fazem a diferença na luta por salvar vidas.
Além da assistência à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o HU é responsável pela formação de novos profissionais: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, dentistas, entre outras áreas da saúde, pela realização de pesquisas e também por promover atividades de extensão que atendam às necessidades da sociedade, principalmente dos mais carentes.
Atualmente, o Hospital Universitário da UFRJ dispõe de 321 leitos ativos, 44 dos quais reservados contaminados pelo coronavírus (28 leitos de CTI e 16 de enfermarias). Por dia, a unidade recebe cerca de 30 pacientes para internações, realiza 25 cirurgias e 800 consultas.
“Um pedaço da minha história”
“Eu vi com muita tristeza, da janela do meu quarto (na Vila do Pinheiro), a implosão (da ala sul do prédio apelidada de “Perna-Seca”, em dezembro de 2010). Era um pedaço da minha história e da história de cada um que lá trabalha que se ia embora. Era um sonho o hospital em U de universidade, com quase dois mil leitos para atender a milhares de pessoas. Mas, infelizmente, com todo sucateamento da educação e da saúde, o HU chegou ao ponto de ter a metade de seu prédio implodida”, lembra a coordenadora-geral do Sintufrj e técnica de enfermagem, Gerly Miceli.
Contudo isso, Gerly afirma que o HU mantém seu gigantismo na produção de saberes nas ciências da saúde e como lugar de formação de excelentes profissionais, alunos das faculdades de Medicina, Odontologia, entre outras.
“Agora a gente acompanha a tentativa de reabertura de leitos, embora a unidade passe por um grave problema de falta de recursos humanos, fruto da política de desmonte do serviço público do governo Jair Bolsonaro, que quer acabar com os concursos públicos e se desobrigar da sua responsabilidade com o ensino, a pesquisa e a extensão. Mesmo com tudo isso, o HU adotou as orientações do Grupo de Trabalho do Coronavírus da UFRJ e tornou-se referência nesta pandemia, conseguindo salvar muita gente”, destaca a dirigente emocionada.
“Com unhas e dentes”
“Admiro muito esta casa onde estou há 38 anos. Já vi muita coisa acontecer. Tratamentos e curas em casos que não se imagina. A minha irmã tinha câncer, operou foi tratada e hoje está muito bem. Isso faz 10 anos. O HU é uma casa de saber, com pessoas comprometidas com o ensino, a pesquisa e a assistência, uma casa que me dá orgulho pela perseverança que vejo nos profissionais em salvar vidas. Todos eles, em equipe, porque ninguém faz nada sozinho. Nos tornamos uma grande família. Defendemos este hospital com unhas e dentes (haja vista a nossa luta contra a Ebserh). Cuidamos da nossa casa, que é a casa de todos”, diz Eleonora Baptista, técnica em enfermagem do centro cirúrgico.
Eleonora fez questão de encerrar o seu depoimento registrando “que há muitos enfermeiros na unidade que também produzem ciência, pesquisando para melhorar fórmulas de medicamento ou curativos para aplicar aos pacientes. Todos os profissionais, sejam eles de serviços gerais ao mais renomado pesquisador, são comprometidos”. Com dificuldade de conter a emoção, conclui: , “Só posso falar bem desta casa, como profissional e usuária”,
Bons resultados
De acordo com o diretor-geral do HU, Marcos Freire, a mobilização em torno do hospital para dar respostas à pandemia, possibilitou que o hospital tivesse a oportunidade de celebrar seus 43 anos de existência ostentando bons números de atendimentos e avanços estruturais.
O site da unidade informa com destaque que, a 10 dias de completar um ano do primeiro paciente suspeito de Covid-19 ser atendido ali (1.527 casos foram notificados ou considerados suspeitos até aqui), o HU é um dos hospitais com a maior taxa de sobrevida neste atual cenário. E, ainda na comemoração dos 43 anos, o HU pretende entregar 128 novos consultórios aos ambulatórios recém-reformados.
Números – O HU conta com 3.906 profissionais nos diversos vínculos, entre eles, 2.086 servidores. Os demais são extraquadro e terceirizados. No entanto, a maioria dos contratos terceirizados termina em julho.
A contratação de terceirizados (via Fio-te com recursos do Ministério da Saúde) e a manutenção dos contratados pela Rio Saúde, através da Secretaria Municipal de Saúde, tem possibilitado a manutenção dos atuais 300 leitos ativos.
Importância do HU
Segundo Marcos Freire, além de um destacado hospital de ensino, o HU é um dos mais importantes da cidade e do país, com capacidade de atender a casos de alta complexidade, com procedimentos que poucos locais podem fazer no Rio de Janeiro através do SUS, sendo a única instituição pública, fora o Inca (Instituto Nacional do Câncer) que tem Pet Scan.
Sobre as dificuldades em enfrentadas devido aos problemas estruturais do prédio, que é muito antigo, o diretor informa que aos poucos está sendo possível reformar o prédio. Recursos provenientes de emendas parlamentares de 2020 serão aplicadas na modernização da unidade, o que inclui a parte hidráulica e obras no subsolo (em setores como radiologia e anatomia patológica).
O diretor da Divisão Médica, o infectologista Alberto Chebabo, citou como exemplo da importância do HU, os procedimentos que só são realizados no hospital, como a colangiografia endoscópica pelo Serviço de Gastro e o transplante de medula óssea, realizado pela Hematologia. Ele lembrou ainda que o HU faz cirurgias cardíacas oncológicas e neurocirurgias, com um nível de complexidade grande que poucas unidades de saúde no estado tem como realizar.
Missão de reerguê-lo
“O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho é o resultado de um sonho de uma geração de médicos e seu amor pela UFRJ e pela saúde pública. O HUCFF é necessário para o sucesso da nossa universidade permitindo o ensino, a pesquisa e a extensão em um grande conjunto de cursos, incluindo Enfermagem, Medicina, Nutrição, Fisioterapia, Fonoaudiologia, entre tantos outros. A unidade tem passado por dificuldades e, nos últimos 15 anos, sofreu com a redução de seus leitos. É nossa missão reerguê-lo. Contamos, para isso, com o trabalho de todos. A UFRJ necessita de um hospital universitário forte”, afirma o vice-reitor da UFRJ Carlos Frederico Leão Rocha.