UFRJ reafirma posição contra tratamento precoce da covid

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Em meio a mais grave crise sanitária, econômica e política, cujo saldo são milhares de vítimas atingidas pela Covid-19 e/ou pela miséria que se agrava no país, não se pode deixar passar o negacionismo trasvestido de ciência. A campanha do Sintufrj “Vacina no braço, comida no prato: Fora Bolsonaro!”, denuncia essa situação de desespero que se abateu sobre a população brasileira e exige providências do governo federal neofacista.

No dia 12 de abril, o governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, criou um comitê de apoio científico para políticas públicas de enfrentamento à Covid-19, e nomeou o infectologista e professor da UFRJ Edimilson Migowski para presidi-lo. Entre os 10 médicos e cientistas participantes, ao menos seis já se posicionaram publicamente favoráveis a tratamentos precoces contra a doença, como o uso de remédios sem eficácia comprovada, e contra restrições, como o lockdown para conter o avanço do cortonavírus.  

Edimilson Migowski, por exemplo, tem utilizado suas mídias sociais para defender o uso do vermífugo nitazoxanida como  tratamento precoce de sintomas da Covid-19. A guerra contra a ciência e o bom senso mundial o especialista trava desde a chegada da pandemia no Brasil. Em outubro de 2020, ele realizou  a live “A ditadura da medicina baseada em evidências”, com a participação do médico Guili Pech (também integrante do comitê do governador) e, em março deste ano, em seu perfil no Instagram divulgou outra live, cujo título era “Lockdown é para gestores incompetentes”.

UFRJ nada tem a ver com isso 

Interpelada pela imprensa, a Reitoria reafirmou que Edimilson Migowski se posiciona por ele próprio, que a UFRJ não compactua com suas crenças, que não houve indicação da UFRJ para o governo do Estado do Rio, que o docente não é médico na UFRJ e que a instituição não tem protocolos com medicação precoce em seus hospitais.

“Não preconizamos o uso de medicamentos que ainda estão em testes, sejam estes pré-clínicos ou clínicos, em quaisquer fases da Covid-19. Todos os estudos clínicos coordenados por pesquisadores da UFRJ devem, antes, ser aprovados pelos Comitês de Ética em Pesquisa e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa”, diz o texto de uma nota divulgada pela UFRJ no dia 18 de março, antes da nomeação de Migowisk para o comitê do governador. 

Comitê reproduz Bolsonaro

O comitê de apoio científico instituído pelo governador do Rio  defende e dissemina as ações inconseqüentes do presidente da República Bolsonaro no trato da pandemia, condenadas pela ciência e que já custaram vidas. Enquanto isso, o Estado do Rio acumula 40 mil óbitos por Covid-19, uma das mais altas taxas de mortalidade em consequência do coronavírus no país. 

Bolsonaro é contra o isolamento social e favorável ao kit criminoso de tratamento preventivo à Covid. Em março, a OMS publicou diretriz em que pede fortemente que a hidroxicloroquina  não seja usada como tratamento da doença. 

Mesmo assim, a imprensa brasileira tem noticiado o uso da substância acompanhado de desfechos trágicos. Como foi o caso da paciente de 33 anos que morreu com a Covid após nebulização de hidroxicloroquina, em Manaus (27 dias após o parto). Segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas, o procedimento foi de iniciativa de uma ginecologista paulistana que atuou por cinco dias na maternidade em que a paciente estava internada. Uma sindicância foi aberta pela secretaria para apurar o caso e a médica foi afastada. 

Simulação no IPPMG indignou comunidade

Em 22 de março de 2012, o Conselho Universitário da UFRJ aprovou uma moção de repúdio a qualquer tentativa de associar seu corpo técnico-administrativo a práticas escusas. 

A iniciativa da bancada técnico-administrativa foi motivada pela  repercussão da reportagem no Fantástico da TV Globo, no dia 18 de março. Um repórter se passou por gestor de compras do IPPMG, que na época era dirigido por Eduardo Migowski, para desmascarar empresas envolvidas em licitações fraudulentas. 

“É um absurdo a irresponsabilidade de quem tomou a atitude de usar o hospital como cenário porque não expôs só o IPPMG e seus funcionários, mas a UFRJ e seus trabalhadores” – afirmou a direção do Sintufrj no editorial do jornal da entidade, na ocasião. 

Segundo a moção, o caráter de simulação apresentado na reportagem induzia a conclusões generalizadas, levando a acreditar que aquelas são práticas correntes do IPPMG ou da UFRJ, colocando sob suspeição todo o corpo de servidores.

Os técnico-administrativos do IPPMG exigiram que Edimilson Migowisk se explicasse publicamente porque franqueou o hospital para a simulação, colocando a população contra o serviço público e seus servidores. A Decania do Centro de Ciências da Saúde e a Reitoria não foram informadas por ele sobre a reportagem.

 

 

 

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