Em evento da ONU, mais de 200 mulheres pedem ação das gigantes da tecnologia contra assédio online

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2/7/2021/ Site Geledés / Fonte: Aina J. Khan, do New York Times, no O Globo

A partir da esquerda: Ashley Judd, atriz americana; Diana Abbott, primeira mulher negra eleita para o Parlamento Britânico; Emma Watson, atriz britânica Foto: Arte/O Globo

Mais de 200 mulheres de todo o mundo, incluindo atrizes, jornalistas, musicistas e lideranças políticas, escreveram uma carta aberta pedindo aos CEOs de Facebook, Twitter, TikTok e Google para “priorizar a seguranças das mulheres” em suas plataformas.

A carta foi publicada No dia 1º de julho pela Fundação World Wide Web Foundation e coincide com um compromisso das quatro gigantes da tecnologia de melhorar a segurança de suas plataformas online. A promessa das empresas e a carta, que pretende responsabilizá-las por seus compromissos, vieram no segundo dia do Fórum Geração Igualdade, realizado pela ONU em Paris, com foco na igualdade de gênero.

Assinam a carta, entre outras: Graça Machel, viúva de Nelson Mandela; Julia Gillard, ex primeira-ministra da Austrália; Billie Jean King, campeã de tênis; e as atrizes Thandie Newton, Ashley Judd e Emma Watson.

“A internet é a praça pública do século XXI. É onde o debate acontece, comunidades são criadas, produtos vendidos e reputações são feitas. Mas a escala de abuso on-line mostra que, para muitas mulheres, essa praça digital não é segura. Isso é uma ameaça ao progresso na igualdade de gênero”, diz o texto da carta.

Diane Abbott, que em 1987 se tornou a primeira mulher negra eleita para o Parlamento Britânico, é outra mulher que assina a carta. Em entrevista, ela afirma que tem sofrido assédio online há anos.

— Há sempre racismo e misoginia. Mas as mídias sociais tornaram tudo pior. A cada dia que você clica no Twitter ou no Facebook precisa se preparar para ver abusos racistas . É um sentimento horrível — disse.

Uma pesquisa feita pela Anistia Internacional em 2018 estudou o abuso cometido no Twitter e no Facebook contra mulheres políticas e jornalistas. O resultado mostrou que mulheres negras tem 84% mais chances de serem alvos de tuítes abusivos do que mulheres brancas.

— Acho que isso afasta as mulheres mais jovens da política porque elas sentem que não conseguem lidar com esse nível de abuso — diz Abbott.

O compromisso firmado pelas empresas de tecnologia na quinta — desenvolvido durante 14 meses de colaboração sob a lidernaça da Fundação World Wide Web — permite que usuárias gerenciem quem pode interagir com seus posts e fortalece os sistemas para relatar abusos. Mais de 120 especialistas dessas empresas, sociedade civil, Academia e governos em mais de 35 países trabalharam nas soluções para enfrentar o abuso online.

Azmina Dhrodia, gerente sênior de política na Fundação, deu boas vindas ao compromisso:

— É a primeira vez que há colaboração entre as indústrias em prol da segurança das mulheres — diz. 

Mas, Seyi Akiwowo, CEO da Glitch, uma organização britânica que faz campanha pelo fim do abuso online, particularmente aquele dirigido às mulheres e aos grupos marginalizados, afirma que o compromisso assumido pelas empresas precisa ir adiante.

— Não há menção à moderação de conteúdo, ao treinamento e apoio logístico necessário aos moderadores de conteúdo e o papel e as limitações da inteligência artificial nessa moderação — diz ela, acrescentando que a “importância da diversidade e da representatividade” nos postos de liderança dessas empresas também foi esquecido.

A carta aberta faz referência aos resultados de um estudo que ouviu mais de 4 mil mulheres,publicado em 2020 pela revista britânica “The Economist”, que mostram que 38% delas, em 51 países, experimentaram diretamente o assédio online.

Há dois meses, estrelas do futebol inglês participaram de um boicote de 24 horas para pressionar Facebook, Twitter e Instagram a agirem contra o assédio online e o racismo.

A carta também diz que as mulheres devem ter mais controle sobre as suas experiências online e que as empresas de tecnologia devem permitir que as mulheres sinalizem facilmente o abuso e acompanhem o progresso das denúncias.

A fundação afirmou que monitoraria o progresso das empresas de tecnologia em direção a esses objetivos anualmente. Mas Abbott diz que “está para ver” se alguma ação tangível sairá desses compromissos.

— Eles deveriam deixar offline as pessoas que cometem os piores abusos.

 

 

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