Para neutralizar protestos, Roberto Medronho recorre a argumentos burocráticos limitando tempo do expediente
“O reitor burocratiza o Consuni como represália a falas críticas e protestos”. Este é a avaliação do coordenador-geral do Sintufrj Esteban Crescente, diante do que vem se sucedendo no Conselho Universitário da UFRJ, para onde confluem os profundos problemas oriundos da crise orçamentária, represados, no entanto, pela limitação do tempo no expediente diante de uma visão arcaica do regimento.
O Conselho Universitário, colegiado máximo da instituição e palco de grandes e acalorados debates políticos sobre temas cruciais para a vida institucional, enfrenta o desafio de superar limitações de regramento pouco oportunas quando adotadas de forma acrítica num momento de tamanha crise na UFRJ.
É no expediente, etapa anterior a ordem do dia, que ocorrem informes, propostas, e, claro, posicionamentos por vezes críticos por parte de conselheiros e das entidades representativas dos segmentos, cuja participação é tradicionalmente aprovada no colegiado há décadas. Esta etapa da sessão já se estendeu, anteriormente, muito além do tempo regimental, pela dimensão de determinado tema.
No entanto, nesta quinta-feira,16, depois de uma sequência de falas sobre a gravidades dos problemas, o reitor Roberto Medronho, alegando fim do tempo regimental, suspendeu o expediente e, com isso, o Sintufrj (representado pelo coordenador-geral Esteban Crescente), não pôde se manifestar.
Medronho procedera da mesma forma em sessão dia 9, por exemplo, em que foi suspensa a fala dos estudantes a Educação Física (e a do CLG Sintufrj na sequência) – em meio a ruidoso protesto, devido a situação precária da Escola que sofreu queda de mais um trecho da marquise com a suspensão de aulas.
No entanto, na sessão desta quinta, o reitor propôs que, em sessões extraordinárias destinadas a agilizar a pauta represada, por exemplo, de processos de revalidação de diploma, não haja expediente. Só que isso também acarretaria numa alteração do regimento. Lógico que, de pronto, conselheiros apontaram a contradição e solicitaram discussão sobre o limite, embora concordassem com agilizar a pauta. Medronho retirou a proposta.
Críticas
“O Reitor usou a limitação do tempo regimental para dizer que não abriria fala ao sindicato hoje. Mas, depois, esgotou o tempo do expediente (com informes da Reitoria) e propôs uma mudança que não estava no regimento”, ponderou Esteban, lembrando que esta e outras reitorias já estenderam o tempo por sensibilidade aos temas tratados. Ele vê, nesta atitude, uma possível reação à pressão, em especial com o protesto dos estudantes semana passada.
Fernando Pimental, representante técnico-administrativo, lembrou que, em outras sessões, o expediente foi prorrogado, e propôs à Comissão de Legislação e Normas que aprecia o pedido para que se possa colocar em votação a extensão. Ele lembrou que, além da incerteza quanto ao futuro próximo, os estudantes da Educação Física, na sessão passada tiveram que lidar com a insensibilidade do colegiado, “justificando-se na burocracia de um regimento caduco, apenas alimentou a tristeza e a insatisfação dos estudantes, fragilizados pela situação. A solução final, ou seja, a formação de uma comissão para tratar do tema, poderia ter sido alcançada na ordem democrática da própria sessão, com continuidade das falas aprovadas por este conselho”.
Giovana Almeira, representante dos estudantes, também lembrou a sessão anterior, “que reflete o cenário que a gente está vivendo em vários institutos e locais da universidade”, disse ela, lembrando que é uma preocupação grande dos estudantes e luta importante dos técnicos-administrativos em greve. Ela informou que o IFCS, naquele dia, por exemplo, estava sem água. E criticou a postura dos que relativizam a situação.
Ame e lute pelos milhares de estudantes afetados
“Acho que hoje estamos num momento de nos unirmos. Acho que ninguém aqui odeia a UFRJ. Mas o que está acontecendo é que se a nossa universidade não parar para lutar, vai continuar parando: hoje não tem aula em Caxias (uma infiltração atingiu salas de aula), a Dança está sem aula, a Educação Física está sem aula, o IFCS está sem aula, já parou para boa parte dos estudantes e dos docentes. Se a gente não enxergar isso e colocar a nossa universidade numa luta unitária por mais orçamento, por mais verba, assim como mais de 65 universidades estão fazendo no nosso país, a gente vai abrir mão da UFRJ para uma parte da população, esses estudantes que estão aqui dentro. Devemos nos posicionar. Unificar a comunidade para essa luta por orçamento”, disse ela, também apresentando a proposta de uma assembleia dos três segmentos, feita pela DCE, puxada pela Reitoria. “para a gente poder chegar junto nessa discussão e manter a nossa universidade viva e funcionando”.
O professor Vantuil Pereira expressou solidariedade aos estudantes da Educação Física, Caxias, IFCS e outros cursos: “Hoje são mais ou menos 5 mil estudantes afetados pelo que vem acontecendo na nossa instituição. Sem falar dos técnicos e dos professores. Também quero expressar minha solidariedade ao choro, na sessão passada, de vários estudantes da Educação Física. É preciso a gente romper com todas as formas de conformismo. Nesse sentido, uma greve dos administrativos, um possível debate sobre a greve dos professores, é bem-vindo, se somando à defesa da instituição e à defesa da recomposição orçamentária. Temos aqui, diante da gente, duas formas de enxergar a questão: ou pela resiliência, ou por uma visão crítica da situação. Olhar a universidade pela visão da resiliência é afirmar o ufanismo do ame-a ou deixe-a. E esse não é o caminho. O caminho é a defesa da universidade a partir de uma luta. O ame e lute!”
O coordenador-geral do Sintufrj reitera a necessidade de unidade: “A postura que buscamos é da abertura de fala aos atores políticos para que se sintam à vontade para lutar junto com o reitor na busca de solução para os problemas e não para que ele se sinta rejeitado. A gente defende que ele cumpra esse papel. E uma das propostas foi apresentada em sessão anterior pelo Comando Local de Greve do Sintufrj, representado pelo coordenador da Fasubra Francisco de Assis, de realização de uma assembleia comunitária”, disse Estebam, informando que a proposta seria reiterada por ele na sessão, se pudesse se manifestar, em nome do CLG. FOTOS: ELISÂNGELA LEITE