Cineasta se destacou por retratar trajetórias de Jango, JK e Josué de Castro
Por Brasil de Fato
Morreu nesta sexta-feira (5), aos 75 anos, o cineasta Silvio Tendler. Ele estava internado em um hospital em Copacabana, no Rio de Janeiro, e faleceu por causa de uma infecção generalizada.
Com cinco décadas de carreira, Tendler era conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos”. Foi responsável por documentar, no cinema, a trajetória de presidentes, como João Goulart, o Jango, Juscelino Kubitsckek e intelectuais, como Josué de Castro, Oswaldo Cruz e Milton Santos. O filme sobre Jango está entre as maiores bilheterias da história do cinema nacional, considerado o sexto documentário mais assistido do país.
Temas cruciais para a soberania nacional também estiveram no repertório do cineasta. Em 2011, ele lançou O Veneno está na mesa, o primeiro filme da Trilogia da Terra. A obra trata sobre o uso de agrotóxicos pelo agronegócio brasileiro e como esses produtos contaminam a alimentação, além de apontar a importância da agricultura familiar camponesa para o país.
Em nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) lamentou o morte do cineasta e relembrou da contribuição dele para a luta pela reforma agrária.
“Silvio foi um dos maiores cineastas brasileiros, militante sempre aliado às lutas da classe trabalhadora. Registrou em tela a história de grandes lutadores do povo brasileiro. Como amigo do MST, uns de seus maiores legados são os dois filmes O Veneno Está na Mesa (2011 e 2014). Nestas obras, Silvio realiza uma das mais importantes denúncias do uso de agrotóxicos em nossa alimentação. As duas produções cumpriram um papel fundamental na denúncia do uso de agrotóxicos”, pontuou o movimento.
O trabalho de Silvio Tendler preservou a memória de importantes pensadores da realidade brasileira, como Josué de Castro, Carlos Marighela e Milton Santos. Ele também filmou temas como o golpe militar de 1964 e o papel das estatais no desenvolvimento nacional. Registrou episódios da luta do povo negro no Brasil e fatos sobre o Sistema Único de Saúde (SUS).
Um cineasta apaixonado pela história
Silvio Tendler nasceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de março de 1950. O início da relação com o cinema foi por meio dos cineclubes. Em 1968, ele tomou posso como presidente da Federação dos Cineclubes do Rio de Janeiro.
Na década 1960, realizou o seu primeiro filme, a respeito da Revolta da Chibata, movimento realizado, em 1910, por marinheiros contra os castigos aplicados pela Marinha do Brasil.
Com o golpe militar de 1964, o cineasta se exila no Chile e, de lá, segue para Paris, na França. No exterior, se dedicou aos estudos cinematográficos. Na década de 1970, se forma em história pela Université de Paris VII e participa da primeira turma do curso de Cinema e História organizada por Marc Ferro.
Nos anos 1980, Silvio Tendler fundou a Caliban, produtora de cinema que daria continuidade à estética e à abordagem iniciadas por ele nos anos 1960, com foco em biografias de lutadores povo, intelectuais e lideranças políticas.