Machismo, violência e o Brasil na contramão

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Crimes contra a mulher são uma triste rotina no nosso país. O Mapa da Violência – elaborado pela ONU em 2015 – revela o tamanho do escândalo: o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking da violência contra a mulher. A fartura de dados chocantes contrasta com o retrocesso na abordagem da questão. Na terra do presidente que chama mulheres de “vagabundas” e que afirma que a sua filha caçula foi fruto de uma “fraquejada”, parece não importar que a cada dez minutos uma mulher seja vítima de estupro.

Recentemente, o caso da paisagista que foi espancada por quatro horas provocou um debate público assustador. As redes sociais tornaram-se palco de inúmeros questionamentos à conduta da vítima. Mesmo diante de um caso de violência aterrorizante e das imagens da vítima com o rosto completamente desfigurado, um sem-número de pessoas permaneceu a atacar seu comportamento sexual, a questionar o fato de o agressor ser mais jovem, entre outras brutalidades. A mulher foi duplamente violentada, como se algo de “inadequado” na sua postura justificasse o bárbaro crime que a vitimou.

Às vésperas do carnaval, quando o índice de violência sexual contra a mulher aumenta cerca de 20%, reforçar a luta contra o machismo torna-se um imperativo. A proximidade do 8 de Março, dia internacional das mulheres, que este ano cai imediatamente após a folia momesca, serve de farol para o debate. Ignorar o tema é conivência criminosa com a barbárie, semeando o terreno para a banalização da opressão.

A série “O Conto da Aia”, cujo sucesso estrondoso fez explodir as vendas do livro que a inspirou, publicado em 1985, retrata uma sociedade distópica onde, após um golpe, o congresso e o presidente são assassinados e uma ditadura é instaurada, cassando os direitos das mulheres – proibidas até de ler e escrever! – e submetendo-as a violências de todos os tipos. Seu enredo deve permanecer na categoria ficção e não ganhar os contornos de um sinistro manual de instruções para a turba de fanáticos, misóginos e reacionários que, na contramão dos avanços conquistados pela luta das mulheres, pretendem reconstruir os “dias de glória” do patriarcado.

Reforcemos, portanto, o 8 de Março como um símbolo de luta. Em memória das operárias que lutaram por melhores condições de trabalho, das sufragistas que conquistaram o voto feminino, das feministas que reivindicaram a autonomia da mulher sobre os seus corpos, das vítimas de violência sexista que nos lembram que não podemos descansar nem por um segundo e nos empurram para a luta cotidiana, estaremos nas ruas reivindicando direitos, democracia, combatendo a reforma da Previdência e afirmando a nossa existência.

 

 

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