Fisioterapeutas do HUCFF recuperam pacientes da Covid-19

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Entrevista

O serviço de fisioterapia do hospital conta no quadro permanente com nove profissionais concursados e 23 no regime de extraquadro. Para atender este período excepcional de pandemia foram contratados mais 66 fisioterapeutas

A pandemia do coronavírus pôs em evidência o trabalho de um profissional que se tornou essencial para a recuperação dos pacientes da Covid-19. São os fisioterapeutas intensivistas e/ou respiratórios, que sempre atuaram nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e atualmente fazem parte da equipe de combate à doença viral.

Sara Lucia Silveira e Menezes chefia o Serviço de Fisioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2017, ela é docente do Curso de Fisioterapia da UFRJ há 22 anos e atualmente atua como professora associada III.

“Minha prática assistencial e supervisão de estágio sempre foi realizada no Serviço de Fisioterapia do HUCFF. Fui convidada para assumir a chefia do serviço pelo ex-diretor Leôncio Feitosa e “fiquei muito feliz por ser convidada a continuar após a eleição do professor  Marcos Freire.”

Quantos profissionais fisioterapeutas atuam no HUCFF?

Sara: O Serviço de Fisioterapia do HUCFF possui apenas nove  profissionais concursados (RJU) e 23 fisioterapeutas no regime extraquadro com um déficit de aproximadamente 80 profissionais para atender o quantitativo de leitos existentes atualmente.

Como está sendo feita a divisão de trabalho durante a pandemia do coronavírus?

Sara: Nesta pandemia, foi necessário a contratação de mais 66 profissionais, totalizando 98 fisioterapeutas, que foram divididos no atendimento de Enfermaria Covid e Enfermaria não Covid,  CTIs Covid e CTI não Covid por 24 horas e durante todos os dias da semana.

Em que momento os internos com a Covid-19 passam a ser atendidos pelos fisioterapeutas?

Sara: O fisioterapeuta inicia sua atuação já no momento de chegada do paciente na emergência, quando é necessário ajustar o fluxo de oxigênio para atingir uma saturação entre 92-100%. O profissional então faz a opção entre cateter nasal ou máscara sem reinalação com bolsa reservatório e, dependendo da condição respiratória do paciente, já inicia um posicionamento denominado “pronação ativa”, ou seja, colocar o paciente em decúbito ventral com o objetivo de melhorar a função respiratória.

Caso não ocorra resposta e a insuficiência respiratória se instale, o paciente é entubado pelo médico. Neste momento, o fisioterapeuta ajusta o “respirador”com padrões específicos para cada paciente, como fluxo, pressão e volume, e irá seguir um processo específico para cada paciente para que de forma gradual ele reassuma sua respiração, quando então ocorrerá o desmame e a extubação (retirada do aparelho e do tubo) pelo fisioterapeuta.

Os pacientes com a Covid-19 permanecem internados na UTI de 15 a 30 dias, o que provoca perda significativa de massa muscular, apesar de realizar diariamente a fisioterapia voltada para o sistema neuromuscular. A fraqueza muscular é tão grande que alguns não conseguem sequer permanecer sentado no leito.

O que a fisioterapia faz pelo paciente da Covid-19 após a saída do CTI?

Sara: Após resolvido a insuficiência respiratória, com o paciente sendo capaz de respirar sozinho e clinicamente estável, ele tem alta do CTI e deseja ir embora do hospital o mais rápido possível. Porém, o fato de estarem extremamente fracos, sem condições de andar, uma das opções seria o uso de cadeira de rodas, o que criaria um grave problema social. Porque a maioria não têm em suas residências espaços adequados para a movimentação da cadeira de rodas, além de necessitar de cuidadores, tornando-se uma pessoa dependente para todas as suas atividades de vida diária.

Por isso o Serviço de Fisioterapia do HUCFF elaborou um protocolo de exercícios específicos para esta condição do paciente, que são orientados individualmente, respeitando a fase de déficit de atividade física de cada indivíduo. Este protocolo é coordenado pela fisioterapeuta Ana Paula da Costa Andrade, sendo realizado diariamente em uma enfermaria específica para pacientes pós Covid. Apesar da enorme vontade de ir embora assim que saem do CTI, os pacientes reconhecem que estão fracos  e participam ativamente dos exercícios, que visam recuperar a força muscular e os movimentos.

Os pacientes são avaliados por testes e questionários organizados pelo chefe da Internação da Fisioterapia, professor  Fernando Guimarães, no momento da internação na enfermaria e no momento da alta para que possamos comprovar cientificamente a melhora deles. São realizadas diversas técnicas fisioterapêuticas visando o controle do tronco, fortalecimento dos braços, a permanência em pé, equilíbrio, deambular com apoio e finalmente se ele pode deambular sozinho.

PACIENTE sendo atendido por fisioterapeuta no Hospital do Fundão fazendo exercícios de recuperação

Se esse paciente não fosse tratado pelo fisioterapeuta, como se daria a recuperação dele?

Sara: A recuperação dele seria muito lenta e ele conviveria com as sequelas pós-internação (fraqueza muscular e respiratória, fadiga, alterações de sensibilidade). O desuso da musculatura trazem graves consequências impedindo o paciente de realizar as atividades básicas, como comer e andar, tornando-os dependentes de seus familiares. O imobilismo leva a atrofia muscular, úlcera de pressão, trombose venosa profunda, atelectasias, retenção de secreção que pode propiciar o aparecimento de pneumonias que cria um círculo vicioso, exigindo nova internação destes pacientes.

Quais são as condições de trabalho dos fisioterapeutas neste momento no HUCFF? Eles contam com equipamentos especiais, espaço para repouso, com troca de uniforme, etc?

Sara: Todos os 98 fisioterapeutas que estão atuando dentro do HUCFF neste momento, possuem adequadas condições de trabalho, com espaço de repouso e equipamentos de proteção individual sem restrições. Todos tiveram treinamento básico (paramentação e desparamentação) e específico de sua atividade, e o resultado destas condições e cuidados é que nenhum fisioterapeuta foi contagiado pelo Covid-19 dentro do HUCFF. Não termos nenhuma baixa em nosso grupo e isso  é motivo de orgulho.

Fora a pandemia, qual a importância da fisioterapia para a maioria dos pacientes do HUCFF?

Sara: O fisioterapeuta atua de forma efetiva individual ou em equipes multidisciplinares, com o foco na recuperação funcional dos pacientes. No atendimento intra-hospitalar ele atua na recuperação de pacientes acometidos por diferentes doenças (neurológicas, ortopédicas, respiratórias, cardíacas entre outras) em todos os níveis de gravidade e setores como enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva.

PACIENTE volta para casa recuperada depois de 24 dias de internação no hospital. Ela é festejada por profissionais de saúde numa celebração da vida emocionante

 

 

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