Ocorrências durante esse período de pandemia estão praticamente zeradas no campus do Fundão

A equipe efetiva da Divisão de Segurança (Diseg) da UFRJ que reúne 80 servidores, mesmo tendo 70% incluídos no grupo de risco, montou um esquema de plantão diário para cuidar da segurança daqueles que estão em trabalho presencial na UFRJ e proteger o patrimônio da universidade. O patrulhamento do campus está sendo feito pelos policiais do projeto Rio + Seguro, de acordo com o convênio feito entre a UFRJ e a Prefeitura do Rio.

“Organizamos bem o trabalho, mesmo tendo a maioria do quadro de servidores com idade acima de 60 anos, diabéticos, outros que sofreram infarte e/ou tiveram câncer. São cinco vigilantes por dia. Três para cuidar das ocorrências, um de plantão na sede, e dois para socorrer casos de emergência. O pessoal da velha guarda, apesar da idade, segura bem o rojão”, informa o coordenador de Segurança da Diseg, Jorge Trupiano.

Em relação as ocorrências, Trupiano relata que o índice está praticamente zerado nesse período de pandemia. “A universidade está vazia. Nem cracudo aparece. O índice é quase zero. E quando ocorre algo é pontual. Um roubo de carro na Ponte do Saber, por exemplo”. E quando acontece (um roubo de carro, por exemplo) pode sugerir que a universidade está abandonada, “o que não é o caso”, diz o coordenador da Diseg.

Depredação

Em relação a questão de abandono, Trupiano lamenta a situação do Campo de Rugby. Construído para as Olimpíadas na Cidade Universitária,  a praça de esportes está abandonada e sendo depredada gradualmente.

“Na madrugada vem gente com carro, para na parte do campo próximo ao Mangue e leva as grades que o circundam. Roubaram 10 grades e holofotes. Isso vinha ocorrendo devagar, mas com a pandemia se acentuou. Já pedimos a pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6) a criação de um posto de observação ali, mas até agora nada. Com a pandemia tudo ficou mais difícil para resolvermos problemas como esse”, conta Trupiano.

“É muito triste ver um local tão bonito e que poderia ser usado pela universidade, comunidade e a sociedade, sendo vandalizado. Depredado. O monitoramento das câmeras não está funcionando, pouquíssimas  funcionam”, relata a coordenadora do Sintufrj, Noemi Andrade, que é vigilante da UFRJ.

O problema do Campo de Rugby é similar ao da Ponte do Saber. Um jogo de empurra das autoridades responsáveis. A universidade não tem verba para manter o campo e a Associação de Rugby não quer se comprometer. Quer usar o campo, mas resiste a assumir sua manutenção. A pendenga já foi motivo de reuniões entre a Administração Central da Universidade e a Associação de Rugy sem se chegar a uma solução.

Sobre a situação de infraestrutura e condições de trabalho, uma outra batalha enfrentada pela Diseg, Trupiano afirma que o Prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado, tem dado todo o apoio. “Toda semana nos manda álcool em gel, máscaras e luvas. Além disso, recuperou cinco carros para trabalharmos e melhorou as condições de habitabilidade da sede”.

 

 

 

 

 

Entrevista

O serviço de fisioterapia do hospital conta no quadro permanente com nove profissionais concursados e 23 no regime de extraquadro. Para atender este período excepcional de pandemia foram contratados mais 66 fisioterapeutas

A pandemia do coronavírus pôs em evidência o trabalho de um profissional que se tornou essencial para a recuperação dos pacientes da Covid-19. São os fisioterapeutas intensivistas e/ou respiratórios, que sempre atuaram nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e atualmente fazem parte da equipe de combate à doença viral.

Sara Lucia Silveira e Menezes chefia o Serviço de Fisioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho desde 2017, ela é docente do Curso de Fisioterapia da UFRJ há 22 anos e atualmente atua como professora associada III.

“Minha prática assistencial e supervisão de estágio sempre foi realizada no Serviço de Fisioterapia do HUCFF. Fui convidada para assumir a chefia do serviço pelo ex-diretor Leôncio Feitosa e “fiquei muito feliz por ser convidada a continuar após a eleição do professor  Marcos Freire.”

Quantos profissionais fisioterapeutas atuam no HUCFF?

Sara: O Serviço de Fisioterapia do HUCFF possui apenas nove  profissionais concursados (RJU) e 23 fisioterapeutas no regime extraquadro com um déficit de aproximadamente 80 profissionais para atender o quantitativo de leitos existentes atualmente.

Como está sendo feita a divisão de trabalho durante a pandemia do coronavírus?

Sara: Nesta pandemia, foi necessário a contratação de mais 66 profissionais, totalizando 98 fisioterapeutas, que foram divididos no atendimento de Enfermaria Covid e Enfermaria não Covid,  CTIs Covid e CTI não Covid por 24 horas e durante todos os dias da semana.

Em que momento os internos com a Covid-19 passam a ser atendidos pelos fisioterapeutas?

Sara: O fisioterapeuta inicia sua atuação já no momento de chegada do paciente na emergência, quando é necessário ajustar o fluxo de oxigênio para atingir uma saturação entre 92-100%. O profissional então faz a opção entre cateter nasal ou máscara sem reinalação com bolsa reservatório e, dependendo da condição respiratória do paciente, já inicia um posicionamento denominado “pronação ativa”, ou seja, colocar o paciente em decúbito ventral com o objetivo de melhorar a função respiratória.

Caso não ocorra resposta e a insuficiência respiratória se instale, o paciente é entubado pelo médico. Neste momento, o fisioterapeuta ajusta o “respirador”com padrões específicos para cada paciente, como fluxo, pressão e volume, e irá seguir um processo específico para cada paciente para que de forma gradual ele reassuma sua respiração, quando então ocorrerá o desmame e a extubação (retirada do aparelho e do tubo) pelo fisioterapeuta.

Os pacientes com a Covid-19 permanecem internados na UTI de 15 a 30 dias, o que provoca perda significativa de massa muscular, apesar de realizar diariamente a fisioterapia voltada para o sistema neuromuscular. A fraqueza muscular é tão grande que alguns não conseguem sequer permanecer sentado no leito.

O que a fisioterapia faz pelo paciente da Covid-19 após a saída do CTI?

Sara: Após resolvido a insuficiência respiratória, com o paciente sendo capaz de respirar sozinho e clinicamente estável, ele tem alta do CTI e deseja ir embora do hospital o mais rápido possível. Porém, o fato de estarem extremamente fracos, sem condições de andar, uma das opções seria o uso de cadeira de rodas, o que criaria um grave problema social. Porque a maioria não têm em suas residências espaços adequados para a movimentação da cadeira de rodas, além de necessitar de cuidadores, tornando-se uma pessoa dependente para todas as suas atividades de vida diária.

Por isso o Serviço de Fisioterapia do HUCFF elaborou um protocolo de exercícios específicos para esta condição do paciente, que são orientados individualmente, respeitando a fase de déficit de atividade física de cada indivíduo. Este protocolo é coordenado pela fisioterapeuta Ana Paula da Costa Andrade, sendo realizado diariamente em uma enfermaria específica para pacientes pós Covid. Apesar da enorme vontade de ir embora assim que saem do CTI, os pacientes reconhecem que estão fracos  e participam ativamente dos exercícios, que visam recuperar a força muscular e os movimentos.

Os pacientes são avaliados por testes e questionários organizados pelo chefe da Internação da Fisioterapia, professor  Fernando Guimarães, no momento da internação na enfermaria e no momento da alta para que possamos comprovar cientificamente a melhora deles. São realizadas diversas técnicas fisioterapêuticas visando o controle do tronco, fortalecimento dos braços, a permanência em pé, equilíbrio, deambular com apoio e finalmente se ele pode deambular sozinho.

PACIENTE sendo atendido por fisioterapeuta no Hospital do Fundão fazendo exercícios de recuperação

Se esse paciente não fosse tratado pelo fisioterapeuta, como se daria a recuperação dele?

Sara: A recuperação dele seria muito lenta e ele conviveria com as sequelas pós-internação (fraqueza muscular e respiratória, fadiga, alterações de sensibilidade). O desuso da musculatura trazem graves consequências impedindo o paciente de realizar as atividades básicas, como comer e andar, tornando-os dependentes de seus familiares. O imobilismo leva a atrofia muscular, úlcera de pressão, trombose venosa profunda, atelectasias, retenção de secreção que pode propiciar o aparecimento de pneumonias que cria um círculo vicioso, exigindo nova internação destes pacientes.

Quais são as condições de trabalho dos fisioterapeutas neste momento no HUCFF? Eles contam com equipamentos especiais, espaço para repouso, com troca de uniforme, etc?

Sara: Todos os 98 fisioterapeutas que estão atuando dentro do HUCFF neste momento, possuem adequadas condições de trabalho, com espaço de repouso e equipamentos de proteção individual sem restrições. Todos tiveram treinamento básico (paramentação e desparamentação) e específico de sua atividade, e o resultado destas condições e cuidados é que nenhum fisioterapeuta foi contagiado pelo Covid-19 dentro do HUCFF. Não termos nenhuma baixa em nosso grupo e isso  é motivo de orgulho.

Fora a pandemia, qual a importância da fisioterapia para a maioria dos pacientes do HUCFF?

Sara: O fisioterapeuta atua de forma efetiva individual ou em equipes multidisciplinares, com o foco na recuperação funcional dos pacientes. No atendimento intra-hospitalar ele atua na recuperação de pacientes acometidos por diferentes doenças (neurológicas, ortopédicas, respiratórias, cardíacas entre outras) em todos os níveis de gravidade e setores como enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva.

PACIENTE volta para casa recuperada depois de 24 dias de internação no hospital. Ela é festejada por profissionais de saúde numa celebração da vida emocionante

 

 

Economistas defendem redução do imposto sobre consumo e taxação maior sobre rendimentos mais elevados, heranças, dividendos e grandes fortunas. Proposta nesse sentido tramita na Câmara

Matéria retirada do site da CUT.

Na contramão mundial, o Brasil tributa em excesso o consumo e menos do que deveria a renda, preservando aqueles que ganham mais e prejudicando quem recebe menos. Assim, há relação direta entre políticas de Estado e desigualdade social e econômica, apontam os pesquisadores Grazielle David e Eduardo Fagnani, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles participaram ontem (7) à noite de conferência promovida pela Escola Dieese de Ciências do Trabalho.

Os dois lembram que, além das propostas de emenda à Constituição (PEC) 45 e 110, em tramitação na Câmara e no Senado, respectivamente, há um projeto de viés progressista no parlamento. Mas observam que a mídia tradicional dedica pouco espaço ao tema.

“Hoje, tributamos muito consumo e pouco patrimônio e renda. Você tem de inverter. É a questão central”, afirma Fagnani. O professor e pesquisador também organizou o estudo intitulado “Reforma Tributária Necessária: diagnóstico e premissas”, que resultou em dois livros. Com outros 40 especialistas, ele também ajudou a construir, durante anos, a emenda substitutiva à PEC 45, que ganhou o número 178 e cujo teor pode ser conferido aqui

Renda x consumo

“De tudo que é arrecadado no Brasil, metade vem do consumo. Nos Estados Unidos, são 17%, na Alemanha, 27%. A média da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 32%, e nós 50%”, lembra Fagnani. “Por outro lado, tributamos muito pouco a renda. Nos Estados Unidos, 49% do que é arrecadado vem da tributação da renda”, acrescenta.

Esse percentual chega a 63% na Dinamarca, diz ainda o pesquisador. Nos países da OCDE, a média é de 34%. No Brasil, cai para 18%. O exemplo que ele cita é simples: ao comprar uma geladeira, por exemplo, quem ganha menos paga proporcionalmente muito mais imposto. “Isso está em desacordo com o princípio da isonomia. É inconstitucional.”

O economista afirma que a maior parte das medidas propostas na emenda atinge 0,4% da população. “Tecnicamente, é possível ampliar a tributação da renda e do patrimônio em R$ 350 bilhões. Com isso, nosso sistema chegaria mais próximo da meta da OCDE. No caso do financiamento da seguridade social, nós extinguimos contribuições que incidem sobre o consumo, mas criamos contribuições que incidem sobre a renda e o patrimônio.”

Isenção maior

Na questão do Imposto de Renda da Pessoa Física, por exemplo, a proposta seria aumentar o número de faixas de quatro para sete. A alíquota mais alta seria de 45%. Haveria isenção para quem recebe até três salários mínimos – em valores atuais, seria o equivalente a R$ 3.135. Hoje, quem ganha R$ 1.903,99 já paga Imposto de Renda.

Grazielle lembra que a tabela não é corrigida desde 2015. E Fagnani acrescenta que isentar até a faixa de três mínimos significa, basicamente, restabelecer essa correção. A medida faz parte do que ele chama de “tributação solidária, para reconstrução do país”.

A função distributiva da tributação aparece pouco no debate, observa Grazielle, que é também assessora da Red de Justicia Fiscal de America Latina e Caribe, além de produtora do podcast É da sua conta. Isso significa que as políticas fiscal e tributária devem ajudar a reduzir desigualdades. Isso se faz reduzindo a tributação sobre o consumo. Além disso, o gasto público é também, por si, um redutor de desigualdade, aponta a pesquisadora. “O que reduz desigualdade no Brasil são gastos sociais, são as transferências sociais”, reforça Fagnani.

Imposto sobre fortunas

Outro ponto é tributação sobre grandes fortunas. O professor lembra que, no Brasil, 60 mil pessoas têm patrimônio acima dos R$ 10 milhões. Outros 700 mil ganham mais de R$ 40 mil por mês. Em países como França e Reino Unido, a taxação sobre herança chega a 50%, com média mundial em torno de 30% a 35%. “No Brasil, a maior parte dos estados cobra 4%, alguns cobram 8%”, compara, defendendo a necessidade de equilibrar a balança, ainda mais em um período como o atual.

“Chegou a hora do 0,3%, 0,4%, 0,5% da população contribuir, porque estamos vivendo uma situação de catástrofe. Você tem mais gente inativa do que na força de trabalho. E essa recuperação não vai ser simples. As pessoas não vão ter emprego, trabalho, renda. E como é que você vai financiar isso?”

Grazielle afirma que a sociedade precisa participar mais da discussão. E cobra também da mídia comercial. “Tem que abrir espaço, ela precisa assumir a responsabilidade, (e não) só ouvir uma vertente econômica, só um grupo de pesquisadores, ela tem de ser democrática.” Fagnani reforça: “A democracia requer o contraditório. A imprensa hoje está fazendo campanha pela democracia, então, tem que praticar”.

Ele lembra que são os benefícios sociais que, em grande medida, estão “segurando a onda” das famílias que perderam renda. E cita a Constituição de 1988. “Teve um pacto em que a sociedade aceitou ter uma proteção social maior, só que não fizeram a reforma tributária”. E é preciso mudar, acrescenta – para que haja, assim como em países desenvolvidos, uma “relação virtuosa entre tributação progressiva e Estado de bem-estar social”.