UFRJ revoga título concedido à articulador da ditadura militar

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Importantes fatos na história da universidade marcaram a sessão extraordinária na terça-feira, dia 20, do seu colegiado máximo, o Conselho Universitário (Consuni). Um dos mais importantes foi a revogação do título de Doutor Honoris Causa concedido, em 1973, ao ex-ministro da Educação Jarbas Passarinho. Ele foi um dos articuladores do golpe de 1964 e de atos de subtração de direitos civis e de repressão aos movimentos sociais. 

Manifesto conjunto 

A revogação da concessão do título a Jarbas Passarinho já estava em discussão no colegiado há duas sessões. Ele participou do regime responsável pela morte e pelo desaparecimento de centenas de pessoas, incluindo 27 estudantes da UFRJ, entre os quais, Mário Prata, que na época presidia o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Foi também um dos subscritores do Ato institucional nº 5, que suspendeu garantias constitucionais, intensificou a censura e legitimou a repressão e a perseguição política, como lembrou o parecer apresentado pela representante discente no Consuni, Julia Vilhena. 

O representante discente Igor Alves leu o manifesto ao Consuni assinado em conjunto pelo Sintufrj, DCE Mário Prata e a Associação dos Pós-Graduandos (APG) que reivindicava a revogação do título “do ditador Passarinho” concedido pela UFRJ —  “um dos articuladores do golpe que submeteu toda uma nação a um período de obscurantismo político, social e econômico por mais de duas décadas”.

“É inaceitável que a UFRJ siga titulando aquele que é também responsável pela perda irreparável de vidas e da democracia brasileira. Mais do que nunca é necessária coragem para responder à altura àqueles que insistem em defender o indefensável, garantindo a reparação moral aos estudantes e professores da UFRJ torturados, mortos e desaparecidos e como resgate da dignidade acadêmica do Conselho Universitário”, conclui o texto do manifesto das entidades.

Contra o negacionismo histórico

A revogação do título a Passarinho aprovada por 34 votos favoráveis, dois contrários e oito abstenções, foi precedida de uma profunda discussão sobre o papel da universidade na luta contra o negacionismo, não apenas na biologia e na saúde, como também na história.

Como lembrou a representante discente Dahra Vasconcelos, “a UFRJ tem sido ponta de lança na defesa da ciência, da vacina, do uso de máscara, contra o negacionismo que diz que se pode usar cloroquina (contra a Covi-19)”. E acrescentou: “Não se trata de afronta ou provocação, mas lutar contra o negacionismo que diz que a ditadura não existiu é também defender a ciência. A gente precisa se posicionar e mais uma vez ser ponta de lança do negacionismo”.

Repercussão

Para a conselheira técnico-administrativa e coordenadora do Sintufrj, Joana de Angelis, o Consuni tem a obrigação de se posicionar sobre fatos da ditadura quando um governo “vive tentando nos colocar de novo nas mesmas condições que tanto repudiamos”.  

“Nesta sessão foi fundamental que a UFRJ – uma instituição centenária — se posicionasse a favor da democracia. Num momento como o atual de ataques e negacionismos, a universidade não poderia deixar de fazer essa reparação histórica e necessária, que a coloca no rol das instituições em defesa da vida e da democracia, e contra qualquer forma de negacionismo da história, conforme destacou em sua manifestação a  conselheira Dahra”, disse Joana.  

 

 

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