O racismo recrudesce

Sua expansão vem com o aumento de violência contra negros, como atesta o Atlas da violência de 2018, que aponta a incidência maior de mortes entre jovens negros

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Há uma curva ascendente dos casos de racismo no país, de acordo com o professor da UFRJ Jadir Brito, que pesquisa o tema. Crescem, também, a intolerância religiosa por motivos raciais e a desigualdade racial na proporção do avanço do neoliberalismo no Brasil, ele diz.

 

Jadir Brito é professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ.  Ele afirma que, mesmo com as políticas compensatórias dos últimos 20 anos e com a maior organização do movimento negro, vários estudos mostram que a desigualdade no Brasil e o racismo continuam se expandindo.

 

A constatação do pesquisador caracteriza retrocesso em relação à história recente, quando políticas públicas de inclusão e de ações afirmativas para o combate ao racismo levaram a importantes avanços no país. Isso resultou em considerável aumento, embora insuficiente, da presença de negros nas universidades.

 

Mas o governo do golpe trouxe dias sombrios. E hoje, na esteira do recrudescimento do racismo, um candidato à Presidência da República é, reconhecidamente, racista – não virou réu em um processo por benevolência do STF.

 

Mas o racismo não prospera isolado. Sua expansão vem com o aumento de violência contra negros. O Atlas da violência de 2018, do Ipea, atesta uma  incidência maior de mortes entre jovens negros e pobres em meio à crise econômica e a ataques, o que põe em xeque a democracia num Estado cada vez mais de exceção.

 

Saíram do armário

“Existe um processo de genocídio mesmo. Parece que retrocedemos mil anos e que os reacionários saíram do armário. O racismo hoje atinge pessoas públicas, como artistas e esportistas. Vivemos um momento que exige cautela, com um candidato à Presidência que incita o ódio”, adverte Denise Góes.

 

Ela  integra a Câmara de Políticas Raciais da UFRJ. É coordenadora da Comissão de Heteroidentificação, também da UFRJ, e militante do Movimento Negro Unificado (MNU).

 

“Nestes tempos bicudos, precisamos jogar peso nas entidades existentes para superar esse momento, nos aglutinarmos numa organização que faça valer nossas conquistas. A votação na Assembleia Legislativa do Rio, que prorroga o sistema de cotas em universidades públicas do estado por mais dez anos, não é um fato isolado. Ninguém aprovou porque era bonzinho, mas porque há luta!”, afirmou Denise.

 

Advogada negra algemada

Dois casos recentes de racismo explícito chamaram a atenção nos últimos dias. A advogada Valéria Lúcia foi algemada e arrastada por policiais a mando da juíza Ethel Tavares no fórum de Caxias. O professor de língua portuguesa Thiago dos Santos Conceição, de 31 anos, foi humilhado e agredido por alunos.

 

Valéria e a juíza discutiram porque a advogada exigia ter acesso à peça da defesa. A juíza negou o pedido e chamou os policiais. O caso repercutiu. A cena da advogada sentada e algemada causou total indignação. O Movimento Negro Unificado caracterizou o caso como “racismo e assédio moral na relação de trabalho” e o Conselho Nacional de Direitos Humanos condenou o episódio.

 

O presidente da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil, Luciano Bandeira, acionou o juiz titular do juizado, Luiz Alfredo de Carvalho, e obteve a anulação dos trabalhos

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Humilhado

O professor de língua portuguesa Thiago dos Santos Conceição foi ofendido, humilhado e agredido por alunos durante uma prova no Ciep Mestre Marçal, em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o professor sendo hostilizado na sala de aula.

 

Thiago começou a trabalhar no Ciep em fevereiro, no começo do ano letivo. Desde o início, a rotina era de agressões verbais e de insultos. Muitos deles de ofensas racistas. O professor chegou a procurar a direção da instituição e revelou o problema, mas, segundo ele, nenhuma providência foi tomada.

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