Fim do PQI paralisa pesquisas de relevância de técnicos-administrativos no mestrado e doutorado

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O Instituto de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina foi uma das unidades que aderiu ao Programa de Qualificação Institucional (PQI), e os resultados não podiam ser melhores. Mas a continuidade das pesquisas depende de apoio financeiro.

A biomédica Caroline Barros foi uma das aprovadas na seleção para doutorado oferecido pelo programa no final de 2019, porém soube no início deste ano que a UFRJ iria suspender o PQI. Ela disse que a notícia não a surpreendeu, porque já sabia, por colegas, que as bolsas não estavam sendo pagas. 

CAROLINE Batista: pesquisa sobre como ajudar pessoas com glioblastoma

Como representante dos técnicos-administrativos no colegiado do Instituto de Ciências Biomédicas, ela considera que seria justo que os valores do ano anterior fossem repassados para que os programas possam comprar os subsídios que os alunos necessitam para as pesquisas em andamento. 

Salvar vidas 1

A servidora, com 13 anos de casa, desenvolve estudos sobre o glioblastoma, tumor agressivo, raro e esporádico, mas o mais comum entre os cânceres cerebrais, cujo tratamento envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia. 

“Meu projeto é buscar uma maneira de ajudar o quimioterápico a atingir o tumor de glioblastoma. Esses medicamentos têm dificuldade em atingir algumas regiões do tumor, um dos motivos pelos quais são tão agressivos”, explicou Caroline.  

Segundo a pesquisadora, colegas de outros laboratórios têm dado apoio, contudo seu trabalho chegou a num ponto que necessita de materiais muito específicos. “Uma enorme parte do meu projeto não será desenvolvida. Não tenho condições de comprar os reagentes, que são caros. Eu contava com a verba do programa”, lamentou a técnica-administrativa. Para não parar totalmente o projeto, ela decidiu usar os recursos da bolsa de auxílio técnico para adquirir parte dos reagentes. 

Relevância internacional

A bióloga do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Janine Simas Cardoso Rurr, pesquisa um processo eficaz e barato para uso da radiação solar e de um corante não tóxico (o azul de metileno) para obtenção de água potável. 

De acordo com a pesquisadora, a falta de água potável é um grande obstáculo para a saúde pública em países pobres como o Brasil, onde cerca de 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada. E a água contaminada é a principal causa de diarreia, que leva à morte diariamente sete crianças, cujas moradias não contam com  saneamento básico. 

JANINE Rurr: na apresentação da sua pesquisa na Jornada da Pós-Graduação

Janine é uma das selecionadas pelo Programa de Qualificação Institucional de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina, que aderiu ao PQI. A tese em andamento no seu doutorado é sobre “O processo de desinfecção solar com fotocatálise pelo azul de metileno”, que já foi apresentada no Seminário de Integração dos Técnicos-Administrativos da UFRJ (Sintae) e concorre ao Prêmio ANA (Agência Nacional de Águas) 2020.  

A desinfecção solar (exposição de água não potável em garrafas PET ao sol por um ou dois dias, dependendo da nebulosidade) tem se mostrado eficiente. Mas pode ser acelerada pelo azul de metileno (AM), que permite o uso do método em áreas menos ensolaradas. A pesquisadora investiga agora a segurança para o consumo, como a toxicidade hepática e renal.

Janine ingressou no doutorado no primeiro semestre de 2019, e contava com a bolsa para realizar suas pesquisas. “Eu nunca precisei desse dinheiro porque já estava adiantada nas minhas experiências, mas agora preciso comprar anticorpos, lâmina, mas pelo que estou vendo não tem como”, lamentou a técnica-administrativa, que ingressou na universidade em 1989.

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Claudia de Alencar Santos Lage, orientadora de Janine, disse que a servidora foi selecionada para o programa pela qualidade do projeto e em posição elevada, em março de 2019, e o laboratório se encontrava equipado com todos os recursos necessários para o trabalho. Mas agora as pesquisas entraram em uma fase que exige reagentes mais dispendiosos, anticorpos e outros marcadores. “O que é preciso é financiamento para compra destes reagentes para a finalização do projeto dela”, disse a professora, acrescentando que a coordenadora do programa também está empenhada na busca de recursos.

A orientadora contou que Janine se inspirou na avó – que usava produtos como azul de metileno e violeta agenciada – para criar o projeto. O sucesso angariado, segundo ela, também tem a ver com o catalisador para acelerar o tempo de exposição ao sol (de 48 horas para seis horas) da água contaminada. Um processo que poderia beneficiar, só no Hemisfério Norte – devido à baixa incidência da luz do sol –, cerca de um bilhão e meio de pessoas atualmente sem acesso fácil à água potável. 

Com este projeto, Janine foi convidada, em 2018, para participar do Fórum Mundial da Água, em Toronto, no Canadá – um evento realizado a cada dois anos. Mas ela não pôde ir, porque, acredita a orientadora, a universidade não tinha recursos. “Temos na UFRJ um grande projeto, e tudo indica que é seguro – ainda é preciso apurar, por exemplo, se as células manifestam algum tipo de alteração potencialmente carcinogênica –, mas agora o avanço do processo requer suporte para uma análise mais refinada”, pontuou Claudia de Alencar.

 

 

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