Mulheres negras em pauta no GT Antirracista

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Feminismo negro? Mulherismo? Esses foram os temas em pauta do GT Antirracista desta quarta-feira, 17 de setembro, realizado de forma híbrida no Espaço Cultural do Sintufrj.
O GT Antirracista, assim como o GT Mulher, tem procurado realizar um trabalho de formação trazendo especialistas para ampliar o conhecimento dos temas ligados ao racismo e ao universo da mulher, provocando reflexões.
As convidadas foram a pedagoga da Uerj e historiadora, Jéssica Raul, que falou sobre o feminismo negro e a teóloga Aline Frutuoso, autora do livro “Teologia Feminista Negra”, que explicou sobre o mulherismo.
A coordenadora de Políticas Sociais, Norma Santiago, apresentou o evento falando do protagonismo das mulheres negras brasileiras ao se referir ao I Encontro Nacional de Mulheres Negras em São Paulo.
“O feminismo não atendia a demanda das mulheres negras que precisavam ser autoras de suas vivências e de suas histórias e assim promoveram o I Encontro Nacional de Mulheres Negras. Foi o primeiro encontro nacional de feminismo negro que iniciou o processo de construção do movimento das mulheres negras e do movimento negro para atender as necessidades, as demandas, as questões de gênero e as questões raciais do povo negro. Porque o feminismo tradicional, das sufragistas, não atendia a essa categoria”, disse Norma.

Feminismo negro
A pedagoga Jéssica Raul destacou a importância de conhecer a história das mulheres, especialmente as negras, e suas contribuições intelectuais para combater o racismo e o sexismo.
Ela fez uma apresentação pontuando o pensamento de mulheres negras como Thereza Santos, Lélia González, Sueli Carneiro, Bruna Jaquetto e ativistas da educação como Azoilda Loretto, Nilma Gomes e Petronilha Gonçalves.
“O pensamento social brasileiro não seria o mesmo se não fossem as intelectuais negras”, ressaltou.
Jéssica argumentou que o conhecimento da história e das teorias produzidas por mulheres negras é essencial para a luta por direitos e para quebrar estereótipos, mostrando a relevância de suas perspectivas e a importância de se ver representada.
“Não tem como a gente fazer uma luta política, principalmente dentro de um sindicato, ou em qualquer espaço que seja, sem a gente conhecer a nossa história. Eu acho que trazer essas teóricas, as teóricas brasileiras para refletir a partir do lugar da mulher negra é superimportante. Porque se saber como a gente se situa como pessoa e como a gente produz teoria historicamente, quebra o estereótipo, por exemplo, de que as mulheres não são intelectuais. Trazer intelectuais negras confronta esse pensamento. Então, isso empodera, traz conhecimento. Acaba dialogando, pois mulheres negras falando sobre a realidade, traz a nossa realidade para a gente, para o nosso cotidiano, a gente se coloca no lugar, porque a gente está vendo elas teorizarem sobre a nossa vida”, declarou.

Mulherismo
A teóloga Aline Frutuoso elogiou a proposta do GT Antirracista de trazer para o centro do debate algo tão importante para o centro do debate como o feminismo e como o mulherismo africana.
“O feminismo não dá conta de falar da interseccionalidade de raça, gênero, classe. Então o mulherismo vem com essa construção. Ele conhece a interseccionalidade, que é algo que é muito peculiar”, observou.
Aline fez sua apresentação explicando o que é o mulherismo africana – organização social das mulheres da África antes da colonização baseado na cultura africana e no afrocentrismo, concentrando-se nas experiências, lutas, necessidades e desejos das mulheres da diáspora africana – e discorreu sobre suas implicações. O termo mulherismo africana foi cunhado por Clenora Hudson-Weems, uma acadêmica afro-americana, no final da década de 1980.
Segundo a teóloga, o mulherismo africana segue uma filosofia que busca resgatar a vivência matriarcal e a identidade das mulheres africanas, especialmente aquelas impactadas pela colonização e seus efeitos. Baseado em epistemologias africanas pré-coloniais, o mulherismo propõe uma visão de interconexão e igualdade, onde todos os membros da comunidade têm um papel importante e a espiritualidade e a ética são valorizadas.
O mulherismo africana presta mais atenção e dá mais enfoque às realidades e injustiças da sociedade em relação à raça. E ele difere do feminismo ocidental ao valorizar a ancestralidade, as sociedades matrilineares e a realidade da tripla opressão (racial, sexista e de classe) das mulheres negras, propondo um retorno aos princípios e práticas africanas para a sua emancipação.

A coordenadora Norma Santiago fala sobre o feminismo negro

Aline Frutuoso explica o mulherismo africana
Jéssica Raul apresenta o pensamento de mulheres negras

Ao final do evento participantes presentes e on line celebram o debate

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