O enfrentamento ao racismo na UFRJ

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Com todos os presentes entoando um dos o hits de Dona Ivone Lara – ‘Foram me chamar\Eu estou aqui, o que é que há?\Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho\Alguém me avisou\Pra pisar nesse chão devagarinho’ –, “para se energizar”, e sob a luz de Oxóssi – “para que abra nossos mentes e corações” – a vice coordenadora da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ, Cecília Maria Izidoro Pinto, professora associada da Escola de Enfermagem Anna Ney, abriu a primeira aula presencial da 6ª edição do Curso de Capacitação para Formação e Atuação nas Comissões de Heteroidentificação da universidade.

A atividade ocorreu nesta quinta-feira, 9, no auditório do bloco N do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na Cidade Universitária, e terá continuidade nesta sexta-feira, 10. Com 139 alunos inscritos (entre técnicos-administrativos, docentes e estudantes da UFRJ), as aulas foram iniciadas no dia 28 de fevereiro, on-line, pela sala Google. Segundo Cecília, o curso tem a importância de engajar a comunidade universitária na luta contra o racismo na UFRJ. A mesa do evento reuniu representantes dos coletivos negros atuantes na instituição.

Representatividade

“A Comissão de Heteroidentificação tem a função que vai além do controle da política de cotas, mas com essa política de inclusão social democratizamos os espaços na universidade”, afirmou o técnico-administrativo Vitor Mattos, integrantes da comissão. Para a professora Raquel Aguiar, diretora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro e Indígenas (Neabi-UFRJ), este é o momento de aprofundar conhecimentos e de atuar para reverter o quadro de racismo na universidade.

“A UFRJ reflete a sociedade; temos que mudar o racismo estrutural que acontece desde sempre”, afirmou Joaquim Martins, do NPDH. Segundo ele, na Escola de Comunicação (ECO), onde leciona, dos 83 professores somente cinco são negros. Wallace Wallace, do Coletivo de Docentes da UFRJ: “A instituição é racista e esse curso é necessário, porque o filho do trabalhador, dos negros que construíram esse país não podem estudar nesse espaço”. Ele defendeu, a exemplo do que já existe no CCS e IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais), a criação de quilombos em todos os institutos e centros, por docentes e técnicos-administrativos. “Para nós auto-organizarmos e, com respeito e ajuda mútua mudarmos essa realidade”.

Taina Teixeira, da direção do DCE Mário Prata, ao ser aprovada para o curso de Belas Artes na UFRJ passou pelo crivo da banca. Foi aluna do primeiro curso de heteroidentificação e faz parte da comissão de aferição das cotas raciais. Militante antirracista na universidade, a dirigente estudantil não tem dúvidas: “É nosso dever agir na contramão dessa realidade, de nos iluminar, porque é o povo preto que vai fazer a transformação nesse país”.

Objetivos do curso

Dividido em dois módulos, o primeiro tratou sobre a origem do racismo, conceitos de etnia, raça, racialização, branquitude, necropolítica, identidade, diversidade e a diáspora africana. Já o segundo módulo foi dedicado aos procedimentos a serem seguidos nas comissões de heteroidentificação para aferição de cotas nos concursos públicos da UFRJ (de ingresso de servidores e de alunos na graduação e pós-graduação).

Entre os objetivos gerais, as aulas ministradas por professores, técnicos-administrativos e alunos, já formados pelo curso, é estimular a discussão sobre políticas afirmativas no ambiente de trabalho na UFRJ, subsidiando as práticas de aferição e a compreensão da igualdade racial, e fomentar debates multidisciplinares sobre as relações raciais para disseminar condutas e políticas antirracistas no âmbito universitário.

Reabertura dos cursos heteroidentificação
A 6ª Edição dos cursos de formação de heteroidentificadores será aberto às 9h de quinta-feira (9) no auditório Almir Valladares – bloco N do CCS. Na mesa estarão presentes representantes da Câmara de Polícias Raciais da UFRJ (Denise Góes), do Coletivo de Docentes Negros, do Coletivo Universitário Negro, do Neabi e do Sintufrj
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