Noves fora os anos da ditadura, há poucos momentos na história recente do país em que a unidade na defesa da UFRJ se faz tão urgente e necessária. A importância desta instituição exige gestos de grandeza das forças que influenciam nas decisões relacionadas ao seu futuro.
A UFRJ está sob risco no rastro das ameaças que põe a democracia em xeque no Brasil. A UFRJ está acossada por uma conjuntura absolutamente hostil, criada pela ascensão de um bloco dominante voraz e inimigo da universidade pública. Que ninguém se engane: o inimigo é forte e poderoso o suficiente para projetar o ímpeto autoritário na universidade e impor seus arreganhos ditatoriais numa área, a da produção do saber, que considera inimiga.
A experiência histórica de anos anteriores nesta universidade concede exemplos nos quais a compreensão política resultou na construção de abrangente arco de alianças.
É inescapável, aqui, resgatar a experiência da primeira escolha democrática de reitor na UFRJ. O ano era 1985 e, embora coincidisse com o fim da ditadura, a herança de preconceitos e medos de duas décadas de terrorismo de Estado prevalecia fortemente. Horácio Macedo se tornou reitor como expressão da vontade da comunidade universitária, a bordo de ampla base de apoio formada por forças com entendimentos diversos da realidade.
O país encontra-se mergulhado na era da incerteza. O momento adverso vivido por todos nós, com ataques à liberdade de cátedra, à pluralidade de pensamento, ao financiamento da ciência e tecnologia, às carreiras do funcionalismo e ao próprio caráter público da universidade torna imperativa a construção de um amplo movimento em defesa da UFRJ.
Desde o final do ano passado, uma frente se articula para debater os rumos da universidade e a sucessão da reitoria. Desta bem-vinda iniciativa já resultaram um manifesto com princípios e diretrizes, um conjunto de proposta de amplo espectro em salutar construção coletiva.
É preciso, no entanto, um passo além: a plataforma programática construída a várias mãos deve transformar-se em uma chapa que expresse a virtude de uma ampla coalizão plural e radicalmente comprometida com a educação e a democracia. A busca deste entendimento deve nortear os diálogos entre os diversos setores da comunidade acadêmica, sem anular diferentes concepções, mas atando-as na defesa de direitos e garantias fundamentais.
Está em jogo a defesa da universidade pública, a autonomia universitária, o direito soberano da comunidade da UFRJ de decidir sobre a escolha de seus dirigentes.
Qualquer alternativa fora da unidade dos defensores da democracia e da universidade pública, gratuita e de qualidade pode abrir perigosas brechas para a ação autoritária de um conluio entre privatistas e porta-vozes do obscurantismo, cuja capacidade de causar danos irremediáveis não só à UFRJ, como ao Brasil inteiro, é difícil de estimar.