A última sessão ordinária do Conselho Universitário antes da comemoração dos 100 anos da UFRJ (programada para dias 7 e 8 de setembro) nesta quinta-feira 27 ganhou tom histórico e de resistência ao prestigiar com seus títulos de maior honraria uma cientista e um artista popular.

As escolhas ganham força simbólica diante de uma conjuntura no qual o governo hostiliza a ciência e a cultura.

Por unanimidade e aclamação, o colegiado concedeu o título de Professora Honoris Causa à Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e de Doutor Honoris Causa ao instrumentista, cantor e compositor Noca da Portela.

Nísia, pesquisadora renomada nacional e internacionalmente, com atuação destacada na educação e pesquisas públicas e nas políticas de saúde públicas no país, é a primeira mulher a presidir a instituição fundada há 120 anos e referência de ciência e tecnologia em saúde na América Latina, conforme apresentou o parecer favorável à concessão apresentado pela conselheira Maria Cristina Miranda.

A atuação de Osvaldo Alves Pereira, o Noca da Portela, em ações de caráter cultural, artístico, social e político é notoriamente de grande relevância para a sociedade brasileira. “Entretanto, não há como falar em carnaval, festa maior da cidade, não há como falar em samba, arte popular, sem falar em Noca da Portela. Seu nome está na lista dos grandes baluartes do samba”, diz o parecer favorável relatado pela professora Cristina Tranjan, decana do Centro de Letras e Artes.

Mais diversa e inclusiva

O posicionamento político não parou por aí: os conselheiros aprovaram também por unanimidade a Carta Comemorativa pelo Centenário da UFRJ, em que a instituição deixa claro seu compromisso com a defesa do conhecimento, da vida e de princípios republicanos e democráticos: “A missão da UFRJ pelos próximos cem anos será construir uma universidade mais plural, mais integrada em suas diversas áreas do saber e mais conectada à sociedade, aprofundando sua relação com os desafios econômicos e com as questões sociais dramáticas que marcam nossa história e ganharam vulto com a pandemia”, diz o texto.

Nísia em defesa da ciência

“Sob a presidência de Nísia Trindade, a Fiocruz tem sido um bastião em defesa da ciência, com posições firmes contra tentativas de descrédito das verdades científicas e da reputação de pesquisadores. Diante das políticas negacionistas e também diante de ataques às instituições científicas, Nísia Trindade tem logrado construir forte unidade institucional, em todo país, consolidando a Fiocruz como instituição de referência e de reconhecida liderança científica, ética e política no Brasil e no mundo, construindo conexões virtuosas com as universidades e os demais institutos de pesquisa”, aponta o parecer destacando seu papel de liderança pública.

“Os corajosos e indispensáveis pronunciamentos públicos da Presidenta da Fiocruz, em momentos em que poucos ousaram enfrentar o irracionalismo, o negacionismo e o desapreço pela vida, criaram condições para fortalecer a defesa da autonomia da ciência diante de interesses políticos, religiosos, econômicos que objetivam destruir a democracia no país”, destaca o texto.que conclui: “Outorgar o título de Professora Honoris Causa a Nísia Trindade traduz o reconhecimento de seu trabalho acadêmico e o acolhimento de sua liderança científica. É também um ato político de respeito e amor à Ciência e ao trabalho de todos os cientistas”.

Noca: atuação política refletida em sua obra

Noca nasceu em 1932, em Minas Gerais. Aos 15 anos, já morando no Rio de Janeiro, compôs o samba-enredo “O Grito do Ipiranga” da Escola de Samba Unidos do Catete, vencedora do carnaval. Tem uma produção de mais de 400 músicas, a maior parte para a Portela, que integrou a partir de 1966. Contribuiu para o ressurgimento para o carnaval de rua na cidade, compondo para blocos, como o Simpatia é Quase Amor e o Bloco do Barbas, ambos durante a ditadura e em meio à campanha pelas Diretas

Atuou como secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro entre 2005 e 2006. Em 2019, foi criado em sua homenagem o Centro Cultural Noca da Portela, no Engenho de Dentro que reúne, entre outros registros, os mais de 500 troféus recebidos pelo sambista.

Sua atuação política reflete-se na sua obra. Integrante do Partido Comunista Brasileiro, compôs várias músicas com temas sociais e raciais. Sua canção “Virada”, em parceria com seu filho Noquinha, tornou-se um dos hinos da campanha das Diretas Já.

Na UFRJ, Noca mantém participação ativa, com diversos shows e apresentações. Tem como parceiro de composição para o samba de enredo de 2020 do bloco Minerva Assanhada, formado pelo corpo social da UFRJ, o professor da Faculdade de Medicina Roberto Medronho, “UFRJ, 100 Anos de Arte, Ciência e Balbúrdia”, em homenagem ao centenário da universidade.

Noca tem lado, o do povo oprimido

“Vamos dar um basta na tristeza / Virar a mesa / com alegria e autonomia / Direito, medicina, engenharia / Formaram a primeira academia / Hoje democratizou, é multicor / Demorou pro trabalhador virar doutor”, os versos do samba compostos por Noca e Medronho (para o desfile do bloco Minerva Assanhada que ocorreria nas comemorações dos 100 anos da UFRJ, adiado em função da pandemia) foram aplaudidos, como conta Medronho, membro do Consuni, quando lidos durante a sessão que aprovou o título a Noca.

Representante dos professores titulares do Centro de Ciências da Saúde, Medronho leu o prefácio que fez para a biografia de Noca de autoria de Marcelo Braz (lançada em 2018): “Um artista de rara sensibilidade social. Sempre atento aos grandes momentos de nosso país e ao sofrimento humano. Um poeta na arte de falar de amor. Um líder na luta contra a desigualdade. Noca nunca se calou diante da injustiça social. Noca nunca ficou no muro. Sempre derrubou ou transpôs todos os muros à sua frente. Noca tem lado. O do povo oprimido”, diz o texto.

“Foi um momento de muita emoção e felicidade. Na última sessão do Consuni antes da data da criação da UFRJ, 7 de setembro, nós concedemos o título a uma pessoa que tem história de vida negra, que de camadas sociais desfavorecidas graças a sua tenacidade, criatividade e esforço com que conseguiu galgar o prestígio na área artística”, disse reiterando o sentimento comum de que a sessão foi emblemática pela concessão do título também à primeira mulher presidente da Fiocruz, instituição que comemora 120 anos e que tem ligações históricas com a UFRJ.

 

Assédio Moral é o tema da primeira oficina que será apresentada no Fórum dos Técnicos-Administrativos em Educação do Sintufrj, no dia 1º de setembro, às 14h, sob a responsabilidade de  Alzira Mitiz Guarany, professora adjunta da Escola de Serviço Social da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Estudos em Políticas Públicas, Trabalho e Sociabilidade.

Alzira, que é pesquisadora da área do trabalho e saúde do trabalhador, explica que a motivação para apresentar a oficina é porque o problema existe na universidade e deve ser combatido.

“O assédio moral é só um problema entre assediado e assediador?”, pergunta a professora. “É importante que o assédio moral seja conhecido e identificado como sendo um problema coletivo, cuja responsabilidade cabe é der toda sociedade e não somente do assediado. Só assim seu enfrentamento será efetivo”, observa.

A especialista falará sobre as implicações do assédio moral e  explicará o que é e como esse crime (Lei 4742/2001) é praticado nos ambientes de trabalho. Assédio moral desestabiliza, humilha e leva ao adoecimento do trabalhador. Ao socializar os seus conhecimentos sobre esse grave problema, Alzira pretende provocar uma reflexão sobre esse tipo de prática odiosa de chefes contra subordinados, como também apresentar formas de enfrentamento.

Oficina “Por que Universidade para os Trabalhadores?”: 5ª-feira, 3 de setembro, às 16h

Esta oficina é sobre o Projeto Universidade para os Trabalhadores do Sintufrj, criado há 34 anos, portanto, já passou por várias gestões sindicais e diferentes tendências políticas, e sustentado  integralmente pelos técnicos-administrativos em educação da UFRJ.

A oficina será conduzida por Daniele São Bento, coordenadora pedagógica do Projeto Universidade para os Trabalhadores do Sintufrj e técnica em assuntos educacionais da universidade, e  Camila Braz, assessora pedagógica da Coordenação de Graduação da Escola de Serviço Social da UFRJ.

Danielle e Camila farão um histórico sobre a Universidade para os Trabalhadores, passando pelas  reformulações para adaptação às novas realidades, o momento atual e perspectivas futuras. O objetivo é que a categoria (antigos e novos servidores da instituição) conheçam o projeto, que vai além do oferecimento de cursos de capacitação e preparação para mestrado e doutorado, e um dos primeiros do país a preparar trabalhadores para ingressar na universidade pública.

“O projeto é um esforço de contribuição para a redefinição da universidade pública, através de uma proposta ampla de participação democrática no seu interior, repensando a instituição em bases autônomas e democráticas, em que os técnicos-administrativos sejam reconhecidos como parte integrante desta comunidade e atores sociais relevantes nas políticas deliberativas da instituição”, sintetizam Danielle e Camila.