Pandemia segue letal no Brasil, enquanto autoridades fecham os olhos. “Ainda não estamos fora de perigo”, reforça a OMS

Matéria retirada do site da Rede Brasil Atual

O Brasil registrou 863 mortos por covid-19 nas últimas 24 horas. Com o acréscimo, as vítimas da doença provocada pelo novo coronavírus no Brasil já são 142.921 desde o início do surto, em março. Os números foram divulgados hoje (29) pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

Já o número de novos casos contabilizado foi 32.058. Acumulados, são 4.777.522 casos de covid-19 no Brasil desde fevereiro. Isso, sem contar com a ampla subnotificação, que persiste em diferentes países. Entretanto, o Brasil é um dos membros da comunidade internacional que menos testa; menos de 9% de sua população já passou por algum tipo de procedimento.

Com problemas em sua página, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou os números de hoje em seu perfil o Twitter.

Embora a falta de testes seja um problema generalizado no país, existem bons exemplos, mas como exceção. A cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, conseguiu êxito com sua política sanitária, reconhecida por órgãos internacionais. O município testa o dobro da média nacional por meio de ações conjuntas com universidades e tem 1% de letalidade, menos de 30% do registrado na média pelo restante do país.

1 milhão e contando

Ontem (28) o mundo bateu a marca de mais de 1 milhão de mortos pela covid-19, enquanto os casos se aproximam de 34 milhões. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta de que a pandemia segue letal, e que afrouxar as medidas de segurança, como isolamento social, pode levar a um maior avanço nas mortes.

O alerta da OMS fala em 2 milhões de mortos pelo novo coronavírus até que uma vacina seja amplamente distribuída. “A menos que façamos uma ação conjunta, qualquer número que você diga não é apenas imaginável, mas infelizmente muito provável”, disse o chefe do Programa de Emergências da OMS, Mike Ryan.

Ryan lembrou do avanço da covid-19 na Europa, que vive um impacto ainda inicial de uma grande segunda onda de contaminações, além de países que sequer deixaram o topo de suas curvas epidemiológicas. “Ainda não estamos fora de perigo em lugar nenhum, não estamos fora de perigo na África”, disse.

Sem precedentes

A pandemia de covid-19 é a maior crise sanitária da história da humanidade em mais de 100 anos. Em pouco mais de seis meses de declaração oficial de pandemia, o rastro de mortes e de colapso econômico se mostra sem precedentes na história. “Um milhão de vidas foram perdidas e muitas mais sofrem em razão da pandemia”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, em artigo publicado no periódico inglês The Independent.

Adhanom voltou a insistir que a comunidade internacional precisa de coordenação e precisa ouvir a ciência. Muitas mortes poderiam ser evitadas caso governos não agissem em desacordo com a comunidade médica. Um exemplo é o Brasil. O presidente, Jair Bolsonaro, desde o início do surto, atacou as melhores práticas para conter o vírus, como o isolamento social.

“Enquanto esperamos por pandemias futuras, vemos que um vírus pode ser contido efetivamente com a aplicação massiva de testes e medidas de saúde pública”, disse Tedros Adhanom.

Bons exemplos

Sem citar os piores exemplos, Tedros prossegue em seu texto ao constatar que “as Américas foram, de longe, os países mais atingidos”. Entretanto, não faltam atitudes responsáveis que levaram ao controle do vírus. “O Uruguai tem o menor número de mortes no continente e isso não é por acidente. Eles possuem um sistema de saúde robusto e sustentável baseado em financiamentos públicos e no consenso da população sobre a importância dos investimentos na área.”

O Uruguai teve pouco mais de 2 mil casos e 47 mortes. O sucesso foi a aposta do país em seguir as melhores práticas, como testar em massa sua população e rastrear casos (algo nunca feito no Brasil). “Há outros exemplos bons, como Tailândia, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Senegal, Vietnam e outros. Muitos aprenderam observando pandemias anteriores (…) prevenção é a chave”, disse Adhanom.

 

 

É hora de ir às ruas novamente em defesa do serviço público. O Sintufrj convoca a categoria a participar da grande mobilização que, na cidade do Rio, vai acontecer nesta quarta-feira, 30, às 16h, na Candelária. Máscaras e álcool em gel serão distribuídos a todos pela organização do ato. O Sintufrj pede para quem estiver no grupo de risco da Covid-19, não comparecer ao ato nas ruas. Em todo Brasil haverá manifestações contra o governo Bolsonaro em defesa do serviço público e contra privatizações.

 Estarão todos juntos, servidores públicos municipais estaduais e federais, trabalhadores de empresas estatais ameaçadas de privatização pelo governo Bolsonaro como Petrobras, Eletrobras e Correios, sindicalistas e movimentos sociais.

É urgente a mobilização de toda a sociedade contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 32/2020, a da reforma administrativa, que quer acabar com o serviço público brasileiro e prejudicar toda a população.

Campanhas

Neste dia 30, a CUT e centrais sindicais dão a largada para a Campanha Nacional em Defesa das Estatais e do Serviço Público, A campanha, que será permanente, visa denunciar à sociedade os prejuízos causados pelo processo de destruição do setor público brasileiro pelo governo de Jair Bolsonaro, que pretende privatizar estatais estratégicas para o Brasil, ao mesmo tempo em que ataca servidores e sucateia o serviço público prestado à população.

“O Fórum das centrais sindicais, que reúne 11 centrais organizou ampla campanha contra as privatizações e em defesa dos serviços públicos. Temos de furar a bolha e descontruir as narrativas e mentiras que o governo joga para a sociedade”, declarou o diretor executivo da CUT Nacional, Pedro Armengol, durante reunião do Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Federais (Fonasefe).

Neste dia nacional de lutas, o Fonasefe massifica a campanha nacional contra a reforma administrativa. Um dos objetivos é contrapor as mentiras do governo em relação ao serviço público e aos servidores com vistas a ganhar o apoio da população. Ela está sendo reverberada pelas centrais sindicais, entidades nacionais de trabalhadores e seus sindicatos.

Por isso, esta campanha tenta explicar que a principal consequência de uma possível aprovação da reforma no Congresso será o fim dos serviços públicos gratuitos e universais, com graves implicações sobretudo nas áreas de saúde, educação, previdência e assistência social. E os principais prejudicados serão os mais vulneráveis, os pobres e a população preta do país.

Saúde em pauta

Seguindo a jornada pelo serviço público, a Fasubra Sindical, realiza na quinta-feira, 1º  de outubro, a Live “Saúde dos trabalhadores e trabalhadoras no Setor Público: Constitucionalidade e novas formas de trabalho, durante e após a pandemia”, que será transmitida às 16h, horário de Brasília, pelo Facebook e YouTube da Fasubra Sindical. Com José Marçal, João Luiz Arzeno e Jupiara Castro.

Dia 3 é a vez do ato pela soberania nacional

Já no dia 3 de outubro, sábado, data em que é celebrado o aniversário da Petrobras, será realizado ato em defesa da soberania nacional, das empresas, do funcionalismo público, da saúde e da educação pública e contra a reforma administrativa.

No Rio de Janeiro, às 10h será realizado o “Abraço na Petrobras”, na Avenida Chile.

Às 15h, acontecerá ato político virtual com participações de Lula, Dilma Rousseff, Roberto Requião, Marcelo Freixo e Jandira Feghali. Transmissão pelo Facebook e YouTube

Encontro Internacional

A defesa do serviço público extrapola o Brasil. No dia 7 de outubro, na quarta-feira que vem, acontecerá o encontro internacional para defender empresas e serviços públicos. “O público em mãos públicas – em defesa dos empregos, empresas e serviços públicos de qualidade”, é a live com representantes e entidades sindicais de vários países, às 11h. Acompanhe em www.comiteempresaspublicas.com.br ou no Facebook/comitê empresaspublicas

Reforma destrói estrutura pública 

A PEC nº 32/2020, a da Reforma Administrativa, acaba com o Regime Jurídico Único dos servidores públicos federais, estaduais e municipais, e com a estabilidade.

Ela abre caminho para a demissão de servidores por “insuficiência de desempenho”, embora o texto da PEC não especifique como seria feita esta avaliação dos servidores e a que critérios estaria sujeita.

Esta reforma administrativa impõe ainda um arrocho salarial maior do que o atual. O texto estabelece a proibição de reajustes retroativos, implicando assim o fim da data-base para todo o funcionalismo. E acaba ainda com a progressão automática dos servidores nas carreiras.

Com uma canetada o presidente poderá extinguir universidades públicas, eliminar fundações e autarquias sem necessidade de autorização do Congresso como as que cuidam de assuntos sociais e de proteção ao meio ambiente como o Incra, o Ibama e o ICMBio.

A reforma administrativa de Bolsonaro possibilita a privatização dos serviços básicos de saúde e educação, limitando o acesso a só quem poderá pagar.

 

RETRATO. Em 15 de maio de 2019 a Candelária foi centro de gravidade da maior manifestação de rua contra o governo Bolsonaro. Nesta quarta-feira, 30 de setembro, ela será de novo referência para a concentração de manifestantes – só, que agora, sob as restrições da crise sanitária.

 

 

 

A aparente sensação de que a pandemia está passando não se sustenta na realidade. Apesar das praias e bares cheios e muita gente deixando de lado a máscara, as estatísticas mostram que o vírus da Covid-19 continua se espalhando. Atualmente, o planeta contabiliza mais de 33 milhões de casos de contaminação, com  mais arca de 1 milhão de mortos.

Quatro nações concentram mais de 50% desse macro número: Estados Unidos, Brasil, Índia e México. Mais de 50% dos 33 milhões de contaminados estão em quatro países: Estados Unidos, Índia, Brasil e Rússia. O Rio de Janeiro sob o risco de um colapso, continua sua marcha da flexibilização com os governos literalmente se lixando para os percentuais ascendentes de ocupação de leitos de UTI.

Irresponsabilidade

Para o epidemiologista Roberto Medronho,  coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ, “não tivemos nem a possibilidade de ter uma segunda onda porque a primeira não acabou”.

Segundo o especialista, o que levou a essa situação, no Brasil, foi o fato de não ter havido uma política séria de enfrentamento da Covid-19 e liderada pelo Ministério da Saúde. “Não tivemos uma política única pactuada entre os entes federativos, com cada estado e cada município adaptando-a às especificidades locais. Assistimos, sim, o contrário: trocas de ministros em plena pandemia até a efetivação de um que não conhece a área”, chama a atenção Medronho.

Ele fez questão de destacar, na entrevista ao Sintufrj, que só não tivemos um número de óbitos ainda maior graças ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Se tivéssemos um sistema igual ao norte-americano, que é péssimo, possivelmente seríamos recordistas. O SUS foi absolutamente fundamental para salvar milhares e milhares de vidas”, disse.

Desrespeito à vida

De acordo com Medronho, o Brasil viveu  sem políticas que mitigassem as consequências sociais logo no inicio da pandemia, obrigando milhares de pessoas a não se isolar, a se proteger porque necessitavam garantir o sustento de suas famílias.

“Isso fez com que, no Brasil, igualmente como nos Estados Unidos, o número (de contaminados) atingisse um platô sem descida consistente. Infelizmente, tudo indica que a onda vai continuar, porque estamos entrando na primavera com calor intenso, e isso indica que periga termos um rebote, ou seja, um grande número de casos. Estamos vendo, em plena segunda-feira, praias lotadas e todo mundo sem máscara”, projeta Medronho.

Ele chama atenção ainda para o fato de que há trabalhadores que não têm opção a não ser utilizar transporte público para ir ao trabalho, enfrentando vários problemas, como falta de ônibus,l porque os empresários reduziram suas frotas de coletivos nas ruas. “Num ambiente como esse”, afirmou, “com apenas alguns centímetros entre as pessoas, a efetividade da mascara cai. Mas é  óbvio que a proteção tem que ser mantida, apesar de que pessoas grudada umas nas outras haver riscos de contaminação”.

Segundo o epidemiologista, pessoas nas ruas sem a devida proteção é uma combinação explosiva. “O efeito disso é ocupação das UTIs muito próxima hoje de 88%. Isso vai significar que teremos pessoas que precisam ser internadas em uma unidade de tratamento intensivo que podem não conseguir uma vaga e seu estado evoluir para óbito”, alertou.

Caminhos

“Quem puder permaneça em casa e quem tiver que sair, adote medidas que preconizamos, isto é, evitar aglomeração, usar  máscaras e higienizar as mãos”, recomenda Medronho. Ele explicou que lazer em áreas abertas, como praças, mantendo-se distanciamento social de dois metros no mínimo, usando máscaras e higienização frequente das mãos, assim como caminhar ou pedalar, pode não oferecer risco desde que mantidas as medidas recomendadas.

“Agora, como dizer não aglomera para quem pega BRT, metrô, ônibus ou qualquer outro transporte público?”, pergunta Medronho. Ele sugere que seja negociado com os empresários de transportes públicos a disponibilização de conduções em número  suficiente para que as pessoas não viagem aglomeradas. “Isso é fundamental”, reforçou.

A segunda sugestão é que seja ampliada a fiscalização e feitas  campanhas amplas educativas para evitar as aglomerações. Por fim, propõe o aumento de oferta de leitos nos hospitais para pacientes da Covid-19, especialmente UTIs.

 

Orla da praia de Copacabana no domingo 26/07. (Photo by Andre Coelho/Getty Images)