O presidente foi alvo de muitas críticas; partidos de oposição já se articulavam para derrubar medida no Congresso

 

“A importância do servidor, que sempre foi imensa, ficou muito mais evidente na atual pandemia. Foi graças à articulação decisiva dos servidores públicos que atuaram na linha de frente do combate À Covid-19 que grande parte da população – aquela que não tem direito a planos de saúde – pode ser acolhida e tratada. Muitas vidas foram salvas graças a atuação deles no Sistema Único de Saúde, o SUS”, aponta o coordenador do Grupo de Trabalho Coronavírus da UFRJ, o epidemiologista Roberto Medronho. 

“Esta é uma prova cabal da importância fundamental dos servidores públicos para a população, mas, infelizmente, estão sendo atacados por uma visão ultraliberal chamada Estado mínimo. Não há dúvida nenhuma que, num país como o Brasil, com escandalosas e indignas desigualdades sociais, não se pode prescindir de um Estado de proteção social, como a Seguridade Social, para se tentar reduzir esse fosso dramático que existe entre a elite econômica que mora de frente para o mar e de costas para o Brasil, e a imensa maioria do povo. Pessoas que sofrem pela falta de empregos formais e com dificuldades de acesso a serviços de saúde — milhões moram em cidades que não existem médicos”, acrescenta Medronho. 

Integrante do GT Coronavírus da UFRJ e coordenador do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação, Guilherme Travassos é um dos responsáveis por uma das principais ferramentas de monitoramento da pandemia no Rio de Janeiro, o Covidímetro. Para ele, a importância do servidor para a sociedade não é uma questão de opinião, mas um fato concreto: “As evidências que podem ser observadas nas diferentes frentes de luta contra a Covid-19 envolvem a presença de servidores públicos. Se não fossem eles,  dificilmente teríamos tido sucesso nas várias ações que empreendemos. Servidores públicos sempre prezam pelo bem comum”, afirma. 

“Por isso”, conclui, “a atuação dos verdadeiros servidores públicos deve ser garantida, promovida, respeitada e apoiada pela população. Os serviços evoluem e assim devemos evoluir para que possamos manter a sociedade bem atendida. Reformas devem levar isso em consideração. É uma pena assistir tanta intervenção, ingerência e interesse político influenciando o dia a dia dos servidores públicos. Isso não contribui para que possamos manter e aumentar os benefícios do nosso trabalho para a sociedade”.

Universidade é exemplo 

Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ é uma das maiores referências brasileiras na área. Além disso, ele é consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS), coordena o laboratório de campanha da universidade com capacidade para realizar 300 testes moleculares do tipo PCR e está à frente do desenvolvimento da nova plataforma de vacina para a Covid-19. 

Para este importante pesquisador, o setor público, principalmente a universidade pública, deu uma resposta muito importante e rápida à pandemia do novo coronavírus. “A UFRJ foi uma instituição exemplar, porque começamos a responder muito cedo(à pandemia) logo no início, atuando em muitas frentes”.

Segundo Tanuri, o setor público foi decisivo, principalmente para a população menos favorecida que depende do SUS. 

Compromisso 

Para o infectologista e diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Alberto Chebabo, no  momento em que se enfrenta uma campanha contra o funcionalismo público, com uma reforma administrativa apontando para a implantação do Estado mínimo, os servidores mostram que o serviço público é essencial à população no combate ao coronavírus.

“Grande parte das pessoas infectadas foi atendida nos hospitais do SUS, onde foi possível salvar um número enorme de vidas. Se não fosse o SUS, grande parte da população brasileira não teria condições de ser atendida adequadamente nesta epidemia. Mesmo com todo subfinanciamento, o SUS conseguiu, tanto nas grandes cidades como nas menores, dar conta desse atendimento. E mostrar a importância do funcionalismo e de se ter servidores de carreira comprometidos e atuando em todas as áreas, principalmente quando se fala de saúde”, reconhece o médico.

Aperfeiçoar e não destruir 

“Os servidores públicos, como o próprio nome diz, prestam serviços ao público, independente dos governos e partidos que estejam no poder. Infelizmente, os servidores foram muito desvalorizados e até mesmo ofendidos nos últimos anos. Mas estão tendo agora o reconhecimento da sociedade, que já não acredita na tese do Estado mínimo”, avalia o sanitarista Christovam Barcellos, vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, e coordenador do Monitora Covid-19.

“Precisamos de um SUS forte, de pesquisas em saúde e em outras áreas, como das ciências humanas, da assistência social, enfim, de todas como a pandemia da Covid-19 está mostrando ser necessário. Claro que precisamos aperfeiçoar esses sistemas, mas não destruí-los, como pretende o governo atual”, observa Barcellos.

Médica pediatra da Emergência do IPPMG há 32 anos, Aldinélia Pinheiro destacou a diligência e o empenho de todos os profissionais que atuam na saúde nestes tempos de pandemia, desde aqueles dedicados aos serviços gerais até a direção. Ela aponta que as circunstâncias mostraram, mais uma vez, a importância dos serviços públicos e frisa que, não fosse o nosso Sistema Único de Saúde, a situação no país poderia estar bem pior em consequência da  pandemia. 

Mas, ela afirma que não se surpreende com aos ataques aos servidores com a reforma administrativa em curso no Congresso,  porque o governo atual nunca escondeu seu projeto político. O que a surpreende é ainda haver servidores garantindo apoio a esse projeto.

 

 

 

Uma live reunindo a reitora Denise Pires de Carvalho, duas técnicas-administrativas em educação eméritas (Regina Célia Loureiro [Regininha] – a primeira da categoria a ter seu trabalho e dedicação à UFRJ reconhecidos pela comunidade universitária – e a médica do IPPMG Hemengarda Patrícia Santoro – a segunda homenageada com o título), a professora emérita da ECO, Raquel Paiva, e as dirigentes sindicais Noemi Andrade, do Sintufrj, e Eleonora Ziler, da Adufrj, encerrou a celebração pelo Dia do Servidor Público na UFRJ, nesta quarta-feira, 28 de outubro.

“Amo de paixão essa universidade. São mais de 40 anos de trabalho com amor e dedicação e sem nunca esperar por reconhecimento. Esse título de emerência foi uma surpresa, e muitos outros servidores merecem recebê-lo. Com a pandemia, acredito que a sociedade passou a valorizar mais as instituições federais, a universidade pública. Só lamento que o governo não reconheça a nossa importância. Desejo mais 100 anos de sucesso para a nossa UFRJ e que tenhamos força para resistir e lutar e vencer todas as dificuldades”, disse, emocionada, Regininha. 

“A UFRJ mais uma vez demonstrou, com a participação de todos nós, como é protagonista. Eles (os governos) vão passar, como passaram todos os outros, mas nós, servidores, continuaremos, porque temos consciência do nosso papel numa sociedade tão desigual”, afirmou Raquel Paiva.

“Desde criança, assisti essa data sendo muito comemorada, porque meus pais eram funcionários públicos dedicados e orgulhosos do seu trabalho. E nestes 100 anos da UFRJ, 45 deles passei dentro da instituição. Aprendi a amá-la, dignificá-la e retribuir, dando o meu melhor. Hospital-escola, como o HU, se aprende, se ensina e se alcança quem vem procurar ajuda. Um centenário olhando para o futuro, tendo como lastro um belíssimo passado. Por isso, todos vencemos uma doença que ninguém conhecia. Esta será sempre a nossa casa. A universidade tem seu caminho aberto por amor a todos e pelo bem de todos, porque é pública”, prometeu Hemengarda Patrícia.

“Parabéns a todos os servidores federais, estaduais e municipais deste país, e engana-se quem acha que não temos nada a comemorar. A pandemia mostrou que o serviço público é essencial e necessário, e a UFRJ, com seus trabalhadores, tem dado um show em assistência, em informação segura e com as suas pesquisas. Mostramos para a sociedade que estamos aqui para servir pelo bem-estar social, mesmo com um governo que não considera o serviço público como necessário à população. Nestes 100 anos da universidade produzindo para o público e formando cidadãos, sempre unimos as nossas forças, e agora não será diferente para defender a instituição e o servidor da reforma administrativa, que nos impõe momentos sombrios de ataques aos nossos direitos”, lembrou a coordenadora sindical Noemi Andrade. 

“Já enfrentamos outros momentos de muitas dificuldades, mas o serviço público vem se firmando como um escudo do cidadão. Do ponto de vista ético e político, o país está se desmantelando, mas nós estamos aqui, com ética e muito trabalho, impondo derrotas a esse governo. Temos como tarefa pressionar os congressistas a não votarem na mais draconiana piloa e nos preparar para enfrentar a reforma administrativa.” E encerra a dirigente da Adufrj citando o poeta Mário Quintana: “Eles passarão… Eu passarinho!”

Denise Pires de Carvalho abriu e fechou a live, e homenageou também os terceirizados: “O que seria de nós sem os trabalhadores terceirizados cuidando dos espaços onde as ações presenciais são necessárias durante a pandemia? São eles que fazem a segurança patrimonial, dos servidores, dos pacientes, garantem a limpeza dos locais”. 

 

Segundo a reitora, a defesa do público tem que partir da própria sociedade. “Os servidores atuam em organizações do Estado, e isso é o que garante uma sociedade mais justa e menos desigual. Sem as instituições públicas e os servidores, seríamos muito piores como nação. O que teria sido do Brasil sem o SUS, as instituições públicas, as universidades neste momento de pandemia?”, questionou. 

Captura de momento da live, no canal da Extensão UFRJ.