Os trabalhadores da área de saúde da UFRJ estão preocupados com agravamento da pandemia da Covid-19, no Rio de Janeiro, devido à redução do número de profissionais nas unidades hospitalares da universidade com o fim dos contratos temporários emergenciais até a primeira semana de dezembro.
O pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, Eduardo Raupp, disse que as contratações para os hospitais foram condicionadas a recursos emergenciais de caráter temporário. “Temos buscado novos recursos, mas até aqui não há sinalização do governo de que vá disponibilizar (mais recursos extras)”, informou, acrescentando que a UFRJ continuará reivindicando.
Leôncio Feitosa, diretor do Complexo Hospitalar da UFRJ, também informou que solicitou ao governo recursos para enfrentar a nova onda da Covid-19, mas não houve respostas e o último contrato de profissionais temporários se encerra em dezembro, “quando os leitos terão mesmo que ser fechados”, admitiu.
A Câmara dos Deputados, segundo Feitosa, aprovou um repasse de R$ 6 bilhões e 800 milhões em recursos para a Covid-19 que não foram distribuídos. “É um dinheiro que está estocado para isso, já foi aprovado, está lá e a gente sofrendo”, afirmou.
O diretor lamentou que o governo tenha proibido a realização de concurso para suprir a carência das unidades hospitalares da UFRJ na pandemia, apenas liberando recursos para contratações temporárias por um determinado período. “Claro que a gente continua pressionando, mas não há sensibilidade para isso Opor parte do governo)”, lamentou.
Toda emergência para a Covid-19
Apesar de estar com sua taxa de ocupação alta, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) mantém sua rotina de cirurgias eletivas e de atendimentos ambulatoriais, mas por falta de leitos as internações clínicas eletivas foram suspensas.
Porém, a situação na unidade se agrava com o aumento de pacientes com a Covid-19 e a falta de pessoal. Em novembro, o Hospital Universitário fechou 60 leitos – a oferta era de 320 e caiu para 260 leitos –, por conta da redução de profissionais. .
Segundo o diretor geral, Marcos Freire, os casos de Covid-19 aumentaram a tal ponto que a emergência do hospital está lotada e desde o dia 27 de novembro só atende a vítimas do coronavírus referenciados pela unidade. A direção está definindo um espaço para acomodar a emergência-não covid.
“A emergência está superlotada, porque foram fechados leitos por falta de pessoal. Perdemos profissionais agora, daqui a uma semana vamos perder mais 50 da enfermagem e até o dia 31 de dezembro terão sido mais de 300, todos contratos da Rio Saúde. Por outro lado está aumentando o número de casos de Covid-19 e a gente não consegue dar vazão”, disse Marcos Freire em tom de desabafo.
Segundo Freire, já há casos na emergência de famílias inteiras, como pais e filho juntos, com a Covid-19 e na avaliação dele o aumento da disseminação do vírus começou a ser mais evidente nas duas últimas semanas. Ele acredita que seja resultado do afrouxamento do distanciamento e dos cuidados básicos, como o uso de máscaras e as regras de higiene. “A maioria dos que chegam ao hospital não tem alta logo, precisam às vezes de oxigênio e/ou são entubados na emergência”, relatou o diretor.
Ele aguarda que ocorrerão novas contratações emergenciais de profissionais da saúde, conforme o Ministério da Saúde divulgou após o crescimento do número de contaminados em todo o país pelo novo cornavírus. Com isso, a expectativa é que o Hospital Universitário reabra 40 leitos de CTI e 22 de enfermagem para pacientes da Covid-19. Agora, segundo o diretor, é esperar o pessoal que deve ser contratado pela Fiotec (Fundação do Instituto Oswaldo Cruz).
Marcos Freire lembra que recursos humanos no HUCFF não são necessários apenas para atender aos pacientes da Covid-19, mas a todos os que procuram a unidade.
Rotina dramática
O técnico de enfermagem do Hospital Universitário, Marcos Padilha, disse que a falta de profissionais de saúde obriga que haja muito remanejamento de pessoal de local de trabalho e alguns setores chegaram a fechar por conta disso. Outra situação que segundo ele assusta é a distribuição de pacientes pelas enfermarias por motivo do aumento de casos de Covid-19 e a redução de leitos.
“Antes eram dois CTs, agora, por falta de pessoal, temos somente um funcionando. Num plantão, uma baixa de mais de cem profissionais de enfermagem é um desfalque muito grande. O hospital também precisa de médicos e outros trabalhadores da área de saúde”, contabilizou Marcos.
Segundo o servidor, além da dispensa dos contratados emergencialmente, muita gente está de licença médica. Ao todo, incluindo extraquadros, ele calcula que chegam a 200 técnicos de enfermagem. Cada plantão de 12 x 60 (escala especial para evitar muito tempo de exposição dos servidores ao vírus, em conduções, por exemplo) demanda seis equipes de enfermagem (técnicos e um enfermeiro ou enfermeira). A maioria desses trabalhadores estão fazendo horas extras (PHs)..
IPPMG se prepara para fechar leitos
No Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), o diretor Bruno Leite informou que com a saída dos temporários terá que fechar oito leitos de pediatria clínica e dois de CTI. O cenário na unidade, explicou, continua misto, entre casos de Covid-19 e outras doenças .
“A perda de pessoal é muito complicada. Estamos fazendo um plano de contingência. Vamos ter que mudar vários setores. A partir do dia 2 de dezembro, quando se dá o fim dos contratos, vamos sofrer bastante”, disse Bruno.
Ele espera que esse problema seja amplamente divulgado e mostrado aos órgãos do governo que os hospitais estão com alta atividade e cumprindo um importante papel no atendimento à população durante a pandemia. Segundo o diretor, é preciso lutar por recursos humanos junto as instâncias internas e externas à universidade e defender as unidades de saúde que estão enfrentando a Covid-19 com a mesma garra.
Opinião do Sintufrj
Pressionar o governo para a liberação de recursos tendo a sociedade como aliada é o que defende a direção do Sintufrj para enfrentar a carência de verbas e de recursos humanos nas unidades hospitalares.
O problema dos hospitais da UFRJ não é de gestão, portanto não precisamos de soluções externas que comprometam a autonomia universitária e a preservação da saúde pública e gratuita.