Explodiu nas redes sociais a denúncia de que os cortes no orçamento coloca em risco a existência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e outras universidades do país que fazem pesquisas para produzir vacina contra a Covid-19 e têm hospitais que atendem a população, entre outras atividades fundamentais para o ensino, a economia, a saúde e o desenvolvimento do país.
A revolta dos brasileiros foi ainda maior porque, se por um lado o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) corta os recursos para as universidades, por outro, despeja dinheiro na compra de parlamentares que apoiam seu governo e impedem investigações sobre ações e omissões no combate à pandemia do novo coronavírus, como no caso do Bolsolão, o orçamento secreto com de R$ 3 bilhões que Bolsonaro criou para beneficiar as emendas de parlamentares aliados.
O alerta sobre o risco de fechamento da UFRJ foi feito pela reitora, Denise Pires de Carvalho, e pelo vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha, em artigo publicado no Globo Na quinta-feira (6), intitulado Universidade Fica Inviável.
No artigo dos professores da UFRJ eles ressaltam que, com os cortes sucessivos, a UFRJ terá, em 2021, apenas metade do orçamento. Isso afeta até as pesquisas de duas vacinas nacionais contra a Covid-19 que estão sendo feitas em laboratórios da universidade e se encontram em testes pré-clínicos.
“A UFRJ fechará suas portas por incapacidade de pagamento de contas de segurança, limpeza, eletricidade e água. O governo optou pelos cortes, e não pela preservação dessas instituições. A Universidade nem sequer pode expandir a arrecadação de recursos próprios, pois não estará garantida a autorização para o gasto. A Universidade está sendo inviabilizada”, diz trecho do artigo que a UFRJ publicou no Twitter.
“O governo optou pelos cortes, e não pela preservação dessas instituições”, diz artigo publicado hoje no jornal O Globo. Assinado pela reitora e pelo vice-reitor da UFRJ, texto denuncia situação orçamentária dramática. https://bit.ly/3eXwCqP
"O governo optou pelos cortes, e não pela preservação dessas instituições", diz artigo publicado hoje no jornal O Globo. Assinado pela reitora e pelo vice-reitor da UFRJ, texto denuncia situação orçamentária dramática. https://t.co/3bSz1LvBVH#ufrj #corteorçamentário pic.twitter.com/WUGXa24wgm
— UFRJ (@ufrj) May 6, 2021
A dramática a situação financeira de todas as instituições federais de ensino superior e, em particular, da UFRJ, repercutiu nas redes sociais onde políticos, youtubers, estudantes, ativistas e da sociedade em geral criticaram o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que tira dinheiro da educação, mas gasta na compra de parlamentares. Este é o caso do Bolsolão.
O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) foi um dos que comparou o corte de gastos na universidade com o esquema de corrupção.
”Não tem dinheiro para a UFRJ, mas tem R$3 bilhões para tratores superfaturados. É a cara do governo Bolsonaro. Vamos lutar para defender a universidade pública e não deixar a UFRJ fechar!”
Não tem dinheiro para a UFRJ, mas tem R$3 bilhões para tratores superfaturados. É a cara do governo Bolsonaro. Vamos lutar para defender a universidade pública e não deixar a UFRJ fechar!
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) May 10, 2021
Já o jornalista Bob Fernandes, lembrou em seu post que a crise na UFRJ ameaça também o fechamento de 9 hospitais e unidades de saúde, 13 museus, 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas.
A UFRJ ameaçada de fechar as portas, de 9 hospitais e unidades de saúde, 13 museus, 1.450 laboratórios, 45 bibliotecas, relata @HederickAllan , e gangsters torrando R$ 3 bilhões num "orçamento secreto" para compra de votos. https://t.co/KJRYJzzShI
— Bob Fernandes (@Bob_Fernandes) May 11, 2021
Os recursos para as universidades investirem na manutenção este ano são equivalentes aos que foram repassados em 2004, durante o governo do ex-presidente Lula, um dos que mais investiu no ensino superior do país. De acordo com os professores, a situação está próxima do limite e, além da UFRJ, universidades como a Universidade Federal De São Paulo (Unifesp), também já falam em interromper atividades a partir de julho.
O Orçamento Federal reserva em 2021 R$ 2,5 bi para os chamados gastos discricionários das 69 universidades federais, que representam cerca de 1,3 milhão de estudantes. Com valores atualizados pelo IPCA, esse montante é praticamente igual ao destinado pelo Orçamento de 2004. No entanto, naquele ano o Brasil tinha 51 instituições, que ao todo abrigavam 574 mil alunos.
Os gastos discricionários incluem desde despesas básicas, como água, luz, limpeza, segurança, manutenção e reformas prediais. Além destes, também o pagamento de bolsas e compra de insumos para pesquisas. Há ainda os gastos obrigatórios, que consomem a maior parte do orçamento. São os salários e outras verbas cujas aplicações são determinadas por lei.
O baixo orçamento faz com que as universidades federais cortem bolsas de estudos, prejudicando diretamente os alunos mais pobres e suspendam pesquisas. Ele provoca também a suspensão de pesquisas. E agora, contas de água, de luz e de limpeza podem não ser pagas.
“Com o que temos disponível para gastos discricionários hoje, a UFRJ para de funcionar em julho. As aulas só continuam porque estão remotas. Mas todos os serviços da universidade, como os hospitais e as pesquisas, incluindo o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19, serão interrompidos — afirmou a reitora da universidade, Denise Pires Carvalho, ao jornal O Globo.
Em nota, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também disse que, se não houver liberação dos recursos, não conseguirá “arcar com o funcionamento básico a partir de julho..o risco de paralisação total é real”.
“Para se ter ideia, a principal ação orçamentária, onde se encontram alocados os recursos para funcionamento da universidade, incluindo as despesas básicas como energia elétrica, água, limpeza, manutenção, vigilância, insumos para laboratórios de graduação, entre outros, que em 2020 foi de R$ 66 milhões, hoje, na prática, é de R$ 21,1 milhões, suficientes para manutenção das atividades até o mês de julho. Isso porque estamos no modelo de ensino à distância na maior parte de nossos cursos. Se houver a obrigatoriedade do retorno presencial, não será suficiente sequer para as adaptações mínimas necessárias”, prossegue a nota da reitoria da Unifesp.
Além dos R$ 2,5 bilhões livres, o orçamento das federais também prevê R$ 1,8 bi que podem ou não ser desbloqueados ao longo do ano. Caso isso aconteça, os gastos discricionários chegarão apenas ao patamar de 2006, quando o país tinha então 54 universidades federais
Também a O Globo o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Edward Madureira, afirmou que o orçamento total do setor para 2021 deveria chegar a R$ 10,4 bilhões. Ele relata que a Universidade Federal de Goiás (UFG), da qual é reitor, já fechou o ano de 2020 no vermelho por conta da falta de verbas. “Foram cortados quase R$ 180 milhões para assistência estudantil. Como o perfil socioeconômico de muitos alunos é de baixa renda, cortar alimentação e moradia significa manda-los embora da universidade.”
Ainda naquele jornal, Edward lembra que também está em risco o funcionamento dos 50 hospitais universitários do país que possuem leitos destinados à covid-19. Além de serviços oferecidos pelas universidades, como testagem e apoio à imunização. Ele informou ainda que se reunirá com o secretário-executivo do MEC, Victor Godoy Veiga, para pedir a liberação da verba contingenciada.
Segundo Paulo Speller, ex-secretário de Ensino Superior do MEC (2008 a 2010), o Brasil vai na contramão mundial ao retirar investimento da educação e pesquisa justamente no momento de crise. “Esse governo acha que o processo de formação se dá a preços de mercado muito mais baixos. Essa é uma visão limitada.”
Com apoio da RBA.
“Tudo se mistura: eu trabalho, paro e faço o almoço, volto para o trabalho; paro, dou atenção à minha filha e volto para o trabalho. Assim a gente vai lidando com as demandas de casa e do trabalho. A jornada, que era dupla, virou uma jornada contínua, que não acaba nunca”, constata Mônica Teixeira Vairo, da secretaria acadêmica do Instituto de Psicologia.
“O curso de Psicologia é integral, tem cerca de mil alunos, e tenho que administrar grades de horários nesse universo tão amplo e com particularidades. O início de semestre é sempre bem complicado para quem trabalha em secretaria acadêmica”, explicou a servidora técnica-administrativa.
“Considero também que tem sido muito injusta a forma de trabalho remoto adotada pela universidade, porque não recebemos nenhuma ajuda de custo pelo uso da nossa luz, nosso papel. E ainda tivemos que comprar equipamento para realizar o trabalho com qualidade”, pontua.
Mônica teve que comprar uma impressora com scanner para realizar o seu trabalho em casa com eficiência. Ela também se queixou do aumento da demanda do seu fazer em consequência da escassez de servidores, a maioria afastados por licença médica.
Mônica se ressente pela falta de perspectiva do servidor técnico-administrativo de ascender na carreira.
E conclui seu depoimento afirmando com desalento: “Acho que o técnico-administrativo não tem visibilidade na universidade. Servimos para apagar incêndios. Há uma desvalorização total do nosso plano de carreira e também ao reconhecimento do trabalho que realizamos por parte da comunidade acadêmica”.
Publicado: 10 Maio, 2021 Ecrito por: Gabriel Valery, da RBA
O Brasil registrou 889 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas (10/05). Os números às segundas-feiras não correspondem à realidade estatística, já que existe uma maior subnotificação. Isso, porque existe um menor número de profissionais de saúde em trabalho aos domingos. Também não foram computados dados do Ceará por atraso no repasse das informações. Com as vitimas registradas na segunda-feira, (10), o país chega a 423.229 desde o início da pandemia, em março de 2020. Em relação ao número de novos casos de covid, foram 25.200 neste período, totalizando 15.209.990. Estes valores também sofrem de subnotificação, já que o país não possui diretrizes nacionais para controle e combate do vírus.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir de estimativas do sistema InfoGripe, o número de mortes pode ter superado as 530 mil.
Desde a primeira semana de abril, o Brasil registra uma queda no número semanal de mortes. São quatro semanas de recuo, relacionadas às medidas de distanciamento social impostas por estados e municípios durante o mês de março. Entretanto, com a suspensão das medidas protetivas, o número de casos começa a seguir pelo caminho inverso. A RBA utiliza informações fornecidas pelas secretarias estaduais, por meio do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Eventualmente, elas podem divergir do informado pelo consórcio da imprensa comercial. Isso em função do horário em que os dados são repassados pelos estados aos veículos. As divergências, para mais ou para menos, são sempre ajustadas após a atualização dos dados.
Na metade de abril, duas semanas antes do início da queda nas mortes, os casos começaram a regredir. A relação entre novos casos e mortes tem um atraso, justamente, de cerca de duas semanas. É o tempo em que a covid-19 demora, em média, para se manifestar de forma mais agressiva. Então, indicadores crescentes de novos casos estão diretamente relacionados com o aumento de mortes em duas semanas. Esse ponto preocupa, pois já são três semanas de ascensão nos novos infectados por semana. Esta elevação acontece justamente a partir da suspensão das medidas de isolamento social.
A curva epidemiológica média de casos evidencia este movimento da pandemia no Brasil. Após atingir um pico no dia 25 de março, com média diária, calculada em sete dias, de 100.736 novos doentes por dia, houve uma tendência de queda sustentável até o dia 26 de abril; dia em que o valor ficou em 56.553 casos diários. Hoje, já fica evidente o recrudescimento, e esta média está em 61.494 infectados por dia. Já o número médio de vítimas está em 2.087 diárias.
A covid-19 segue descontrolada no Brasil. O país não possui orientação tecnica ou coordenação nacional para o enfrentamento da doença, então, existe defasagem mesmo no estudo para a progressão e disseminação do vírus. Autoridades sanitárias norte-americanas, por exemplo, possuem uma tabela de risco em estados e cidades para aferir o nível de propagação da covid-19. É considerada baixa transmissão de zero a um novo caso por 100 mil em sete dias; moderada, de 1 a 4,9 casos; substancial, de 5 a 9,9 casos; e alta transmissão acima de 10 casos semanais na semana.
No Brasil, atualmente, esses dados correlatos encontram-se em níveis muito superiores. De acordo com dados da Fiocruz, as principais capitais do país estão com níveis acima do maior alerta considerado pelos Estados Unidos. Florianópolis está próximo de 10 casos semanais; Porto Alegre em 15, com tendência de subida; Curitiba com 10; Belo Horizonte acima de 20; Rio de Janeiro em 13, assim como São Paulo. Os piores casos atualmente estão concentrados no Nordeste, com Fortaleza e Teresina acima de 20 casos semanais por 100 mil habitantes.
“Ou seja, nível baixo seria incidência semanal de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) < 0,7-1 por 100 mil habitantes. SRAG na casa dos 10 por 100 mil já seria o nível mais alto, segundo o CDC (sigla em inglês para Centro de Controle e Prevenção de Doenças)”, afirma o pesquisador em saúde pública da Fiocruz Marcelo Gomes. Os dados levam em conta a SRAG, provocada por covid-19 e também outras doenças respiratórias virais. Entretanto, existe ampla prevalência de covid-19, como explica o pesquisador. “‘Ah, mas nem toda SRAG é covid, né loco?’ Hoje em dia, segue sendo mais fácil acertar na loteria, viu? Com exceção para crianças pequenas, que aí a chance de ser outro vírus aumenta bem. Do contrário… E lembre que tempo até teste, qualidade da coleta e transporte afetam”, afirma. De acordo com dados da Fiocruz, a incidência de covid-19 nos casos de SRAG no Brasil é superior a 97%.
Países como o Brasil e a Índia puxam o descontrole da covid-19 no mundo para o alto. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a pandemia segue em um “platô inaceitavelmente alto” de casos e mortes semanais. A última semana foi marcada por quase 90 mil mortes, sendo 15 mil no Brasil. Entretanto, o posto de epicentro do vírus no planeta hoje pertence à Índia. O país vem registrando mais de 4 mil mortes diárias nos últimos dias. Assim como no Brasil, existe ampla subnotificação no país asiático.
“Estamos em um platô inaceitavelmente alto. Tivemos mais de 5,4 milhões de casos relatados de covid-19 e quase 90 mil mortes na semana passada”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. A entidade alerta para a situação da Índia que, no sábado, registrou 4 mil mortos e mais de 400 mil novos casos. A preocupação com o país tem relação com uma variante que circula no país. Assim como a cepa de Manaus preocupou o mundo em março, agora uma mutação denominada B.1.617, que circula na Índia, é o foco da atenção global.
“Nós classificamos como uma variante preocupante em nível global”, disse a técnica da OMS Maria Van Kerkhove. Ela atenta que “existe alguma informação disponível que indica uma transmissibilidade acentuada”. Detectada pela primeira vez em outubro, esta nova cepa se mostrou mais infecciosa e, possivelmente, mais letal. Também existe o receio de que ela possa ser mais resistente a algumas vacinas que estão sendo aplicadas no planeta.