Gestão do governo também é reprovada por 54% dos entrevistados, segundo pesquisa do Ipesp

Publicado: 04 Novembro, 2021 – 10h04 | Última modificação: 04 Novembro, 2021 – 18h02

ANA LUIZA VACCARIN/MGIORA

 

 

 

 

 

 

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De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, cerca de 12,2 milhões de famílias estão endividadas

Publicado: 4 Novembro, 2021/ Escrito por: Marize Muniz

 

ROBERTO PARIZOTTI (SAPÃO)

Com inflação e taxa básica de juros (Selic) em alta e emprego e renda em baixa, endividamento no Brasil bate mais um recorde atingiu. Em outubro, cerca de 12,2 milhões de famílias brasileiras tinham dívidas a vencer. O percentural, de 74,6%, é o maior registrado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que realiza há 11 anos a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

A alta do endividamento em outubro deste ano foi de 0,6 ponto percentual contra os 8,1 pontos registrados em outubro do ano passado.

De acordo com o levantamento, divulgado nesta quinta-feira (4) pela CNC, o número de brasileiros endividados aumentou pelo 11º mês seguido.

84,9% das famílias têm dívidas com cartão de crédito

São dívidas no cheque pré-datado, cartão de crédito, crédito consignado, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal ou prestação de carro e de casa própria.

O vilão continua sendo o crédito rotativo do cartão de crédito. O percentual de famílias endividadas no cartão de crédito atingiu 84,9% do total de dívidas contratadas. A modalidade registrou 6,4 pontos percentuais, o maior incremento anual da série histórica do indicador.

Os carnês de lojas e o financiamento automotivo também seguem ganhando destaque no endividamento, diz a CNC.

Dívidas em atraso atingem 25,6% das famílias

A pesquisa mostra que a percentagem de famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 25,6%, ficando 0,1 ponto acima do registrado no mês anterior, e 0,5 ponto abaixo do apurado em outubro de 2020.

Dívidas em atraso por mais de um ano

A proporção de famílias endividadas por mais de um ano é crescente desde o fim do primeiro trimestre, atingindo a máxima histórica de 35,8%.

“É um indício de que os consumidores estão buscando alongar os prazos de pagamentos de suas dívidas para que a parcela caiba nos orçamentos e, assim, evitem a inadimplência”, explica a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira.

Já o percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas em atraso e que vão continuar inadimplentes diminuiu para 10,1%, contra 10,3% em setembro. Em outubro do ano passado, estava maior, em 11,9%.

Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o relativo controle da taxa de inadimplência diante do cenário econômico é impressionante.

“A inflação corrente elevada e disseminada tem deteriorado os orçamentos domésticos e diminuído o poder de compra das famílias, em especial as na faixa de menor renda. Os números demonstram os esforços em manter os compromissos financeiros em dia, com renegociação e melhor controle dos gastos”, avalia.

Com informações da CNC

 

 

Dos três maiores bancos em atividade no país, apenas o Bradesco não divulgou seus balanços; lucro do Itaú cresceu 35%

Daniel Giovanaz/Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 4 de Novembro de 2021 

Ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, durante conferência anual do Santander em 2019 – Rovena Rosa/Agência Brasil

 

Dois dos três maiores bancos privados em atividade no país, Santander e Itaú Unibanco, divulgaram na última semana seus balanços do 3º trimestre. Enquanto a fome e a miséria crescem, eles permanecem imunes à crise e ampliam seus lucros em plena pandemia de covid-19.

Conforme dados apresentados na última terça-feira (3), o Itaú teve alta de 34,8% no lucro do 3º trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro líquido recorrente, que exclui itens extraordinários, foi de R$ 6,779 bilhões.

As despesas operacionais do banco subiram apenas 1% em relação ao ano anterior, apesar da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25% no acumulado de 12 meses até setembro.

Na semana passada, o espanhol Santander havia divulgado lucro de R$ 4,27 bilhões no trimestre, uma alta de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em comparação com o 2º trimestre, o crescimento foi de 4,1%.

Protesto em frente a agência do Santander contra demissões de trabalhadores na pandemia / Contraf-CUT

A rentabilidade sobre o patrimônio líquido alcançou 22,4%, a maior da história do banco, que aprovou a distribuição de R$ 3 bilhões aos acionistas.

O Bradesco deve apresentar seus números ao final do pregão da Bolsa de Valores, na tarde desta quinta-feira (4). A expectativa também é positiva em relação ao trimestre anterior.

Como eles lucram na crise?

Menos de uma semana após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia de covid-19, o governo brasileiro liberou R$ 3,2 trilhões para os bancos renegociarem prazos para os créditos já concedidos.

Mais de um ano depois do início da pandemia, os bancos só haviam usado 23,7% desse valor. A missão de atender à população e às pequenas empresas durante a crise sanitária ficou praticamente restrita aos bancos públicos, segundo dados do Banco Central. 

“Não é justo socialmente, enquanto concessões públicas, eles estarem cada vez mais demitindo, fechando postos de trabalho, especialmente em um momento delicado como esse”, analisou Vivian Machado, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT). em entrevista ao Brasil de Fato.

“Os bancos alegam que estão digitalizando tudo porque é interesse do cliente, mas, se não houvesse essa procura, as lotéricas e a Caixa Econômica não estariam sempre cheias. Eles economizaram R$ 750 milhões em três ou quatro itens das despesas administrativas do ano passado só por conta do home office. Enquanto isso, os trabalhadores têm mais despesa com energia, com alimentação”, completou.

O crescimento da lucratividade também se deve aos provisionamentos feitos em 2020, ou seja, reservas que os bancos criaram para cobrir perdas futuras estimadas.

“No ano passado, houve queda nos balanços, mas não necessariamente por problemas na atividade financeira. O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia decretada, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência”, explicou Machado.

O cenário para as instituições financeiras foi menos desastroso do que se imaginava, justamente devido aos planos emergenciais de crédito lançados pelo Banco Central.

Os bancos perceberam essa tendência, no último ano, e o provisionamento excedente vem sendo revertido.

O aumento dos lucros também se deve à redução das despesas com pessoal. Em plena migração para o formato digital, os bancos privados fecharam 1.343 agências durante a pandemia.

Os bancos firmaram um compromisso com os sindicatos de não demitir durante a pandemia, mas quebraram esse acordo a partir de junho de 2020.

Bradesco e Santander fecharam 10.933 postos de trabalho entre julho de 2020 e março de 2021. O Itaú foi o único dos grandes bancos privados que aumentou o número de funcionários, com 1,8 mil postos de trabalho a mais – resultado da incorporação de uma empresa de tecnologia.

Em agosto de 2021, o juiz Jeronimo Azambuja Franco Neto, da 60ª Vara do Trabalho de São Paulo, condenou o Santander em R$ 50 milhões por danos morais, em ação aberta pelo Sindicato dos Empregados Estabelecimentos Bancários São Paulo, por descumprir a promessa de não demitir.

Além da demissão de 3.220 trabalhadores na pandemia, considerou-se que o Santander perseguiu dirigentes sindicais.

O banco espanhol recorreu, e a indenização está suspensa até o julgamento do recurso. Se a condenação for confirmada, os R$ 50 milhões irão para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, destinado a reparar danos à sociedade como um todo.

Apesar do acordo coletivo que garantiu aos bancários no Brasil um aumento de 10,97% em setembro, a elevação da taxa de juros pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) deve produzir efeitos positivos nos balanços do 4º trimestre, com perspectivas ainda melhores para as instituições financeiras privadas.

O Brasil de Fato questionou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sobre as demissões em plena pandemia. Confira a nota enviada à reportagem:

“A Federação Nacional dos Bancos não negociou ou assinou nenhum acordo setorial sindical para a não realização de desligamentos durante a pandemia. A rotatividade de trabalhadores do setor bancário é tradicionalmente cerca de 3 vezes menor do que a média nacional. Os bancos se valem dos desligamentos voluntários, como pedidos de demissão, PDVs e aposentadorias, para adequar sua estrutura à nova realidade do mercado.

E o crescimento das operações digitais não tem como consequência a redução do número de pessoas que atuam no setor, pelo contrário. O avanço dos serviços digitais tem levado as instituições financeiras a contratar um grande volume de profissionais, especialmente em áreas como TI e segurança contra fraudes digitais, por exemplo.”

Edição: Vivian Virissimo