BOAS PRÁTICAS 

Recomendações de especialistas para encarar o verão diante da covid-19 

Praias, parques e reencontros são desejos naturais, depois de dois anos de pandemia. É possível desfrutar de forma segura? 

Por Redação RBA/Publicado 8/1/2022 – Tomaz Silva/EBC

Uma das recomendações centrais é prestar atenção na evolução dos casos em cada região e também a ocupação dos hospitais 

São Paulo – A covid-19 voltou com tudo após um período de queda no segundo semestre de 2020, e assim estará presente em mais um verão, o terceiro afetado pela pandemia. Embora a vacinação mantenha as taxas de mortalidade relativamente baixas, o risco segue alto. Soma-se a isso o relaxamento nas medidas de segurança, como isolamento social e o uso de máscaras. Durante os primeiros meses do ano, são comuns “fugas” no cotidiano para tentar aproveitar uma praia. Especialistas consideram que é possível aproveitar o verão e manter certo grau de vida social da forma segura, sem descuidar da prevenção à covid-19. 

No geral, as recomendações da RBA para as festas de fim de ano seguem válidas. Mas como o descaso durante o fim do ano já provoca resultados sensíveis e lotação de hospitais, vale reforçar e acrescentar indicações. “Temos a questão de novas variantes surgindo e a gente nunca sabe como vão funcionar completamente, mas já sabemos o que tem que ser feito. Não é preciso o mesmo nível de preocupação do começo, mas os cuidados são necessários para não deixarmos (os casos) explodirem de novo”, diz o coordenador do monitor InfoGripe e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo Gomes, para a Revista Poli, da Fiocruz. 

Evolução de casos 

Uma das recomendações centrais em meio às rotinas de verão é prestar atenção na evolução dos casos de covid-19 em cada região e também na ocupação dos hospitais em pleno verão. “Nesse caso, o importante é perceber se esse tipo de notificação está crescendo ou diminuindo. O número absoluto não é tão significativo”, explica a pesquisadora Bianca Borges, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). O mais confiável é verificar indicadores dos hospitais. “Esse dado é bem preenchido e funciona como um bom indicador sentinela, tanto que ele é monitorado assim desde o início da pandemia”. 

Bianca também argumenta que testes devem ser realizados sempre que algum sintoma de síndrome gripal surgir. O teste PCR, o mais detalhado e demorado, só é efetivo a partir do terceiro dia da apresentação de sintomas. No entanto, como sabemos, os assintomáticos têm um grande papel na disseminação da Covid-19. A sanitarista confirma a existência de testes rápidos confiáveis, em especial aqueles que medem antígenos, enquanto os sorológicos são pouco efetivos. Ela pondera que nenhum teste confere certeza de 100%, ainda que um bom teste rápido de antígeno consiga chegar a 95% de precisão. “Esta é uma boa medida para amparar a decisão das pessoas mais expostas em realizar alguns encontros”, diz. 

Máscaras sempre 

A partir disso, o uso de máscaras segue essencial. E, de preferência, uma máscara boa. Tendo em mente que não existe risco zero, quanto melhor a qualidade da sua máscara, maior o distanciamento e mais ventilado for o ambiente, menor o risco. As máscaras PFF2 ou equivalentes são as mais seguras. Considerando, no entanto, que elas podem ser mais incômodas no calor, o pesquisador do Observatório do Clima e Saúde da Fiocruz Diego Xavier diz que é possível pensar em máscaras mais leves (preferencialmente cirúrgicas de duas camadas) para espaços abertos e usar as de maior proteção (N95, PFF2 e KN95) em locais com mais pessoas e menos ventilação, como cinemas, shoppings e supermercados. “A situação de pior risco está nos locais sem circulação de ar, como em ambientes com ar-condicionado, com muita gente e sem uso de máscara”, afirma. 

Demais riscos 

As idas à praia foram apontadas pelos especialistas como as de menor risco, por contarem com brisa do mar e a presença do sol, que contribui para esterilização do ambiente. Mas por ser um ambiente em que o uso de máscara é pouco efetivo por conta do suor e umidade, é importante é garantir o distanciamento de dois metros entre os núcleos familiares que não estão no arranjo feito por você. 

Dito isso, sempre dê preferência para lugares abertos. “Bares e restaurantes ao ar livre também podem ser uma boa opção de diversão. Uma vez que não será possível usar máscaras para comer e beber, a recomendação é que esses encontros se deem dentro da combinação dos núcleos familiares ou com pessoas que você saiba que estão tomando o máximo possível de medidas de proteção”, afirma a Fiocruz. A recomendação também é para buscar distância de pelo menos dois metros entre os grupos. Se não for possível, Xavier é certeiro: “Não vá”. 

Se a ideia for encarar um cinema durante as férias escolares, o cenário é mais conturbado. Locais com pouca ventilação e ar condicionado não oferecem a segurança necessária. Então, a Fiocruz indica que só se vá para esses espaços caso haja limitação na venda de ingressos. Além disso, é importante utilizar máscaras PFF2 bem ajustadas ao rosto. Também só vá a salas que cobrem passaporte vacinal. “Por mais que o principal objetivo da vacina seja evitar casos graves, ela também tem um impacto, embora menor, na diminuição do risco de transmissão”, afirma Xavier, sobre a importância da vacinação. 

RECADO PARA O MUNDO 

Pandemia expõe fracasso do projeto neoliberal e da ‘era do indivíduo’, diz sanitarista 

Desigualdade na vacinação e negacionismo são reflexos do individualismo decorrente da onda neoliberal, que pode inviabilizar a humanidade 

Por Redação RBA/Publicado 10/01/2022  

Imagem: TÂNIA RÊGO/EBC 

Vacinação drive thru na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), zona norte do Rio. A cidade do Rio de Janeiro retoma hoje (25) sua campanha de aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19 em idosos da população em geral. Hoje serão vacinados os idosos com 82 anos.


Lucia Souto: “A saída da pandemia é coletiva. A verdadeira liberdade é feita a partir dos interesses da comunidade, do coletivo”
 

São Paulo – A única saída para o mundo atravessar a atual crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19 é através do senso coletivo. Diante da desigualdade da vacinação entre países e o negacionismo de parte da população, a humanidade mostra o fracasso do projeto neoliberal que fomenta o individualismo. A afirmação é da médica sanitarista Lucia Souto, pesquisadora da Fiocruz e presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). 

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Lucia cita tese da ex-premiê britânica Margareth Tatcher, segundo a qual o individualismo – combustível do neoliberalismo – conduziria o mundo. Como resposta, ela dá razão à recente coluna do ex-presidente uruguaio José Mujica, no jornal Deutsche Welle, ao dizer que o ano de 2021 foi o “ano do fracasso”, pois os países ricos não entenderam que a pandemia é global, e é necessário que a população mais pobre, por exemplo na África, também seja vacinada. 

“É o fracasso do projeto neoliberal que só considera o dinheiro. Me lembra a Margareth Tatcher, que disse há 40 anos que chegamos ao fim das sociedades e na era dos indivíduos. Uma coisa absurda. Nesse contexto da pandemia, o fundamento da era dos indivíduos está em xeque. Agora, assim como disse Mujica, ou teremos saídas coletivas, ou fracassaremos como humanidade”, afirmou a médica em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, nesta segunda-feira (10). 

Vacinação e ‘liberdades’ 

No Brasil, diversas cidades começaram a aderir ao passaporte da vacina, que exige o comprovante da imunização para a entrada em estabelecimentos e eventos. Entretanto, figuras como Jair Bolsonaro criticam a medida, afirmando que a ação fere a “liberdade” de quem não quer se vacinar. A sanitarista reafirma que a saída da pandemia é coletiva e não há espaço para “falsa liberdade” dos negacionistas. 

“A saída da pandemia é coletiva. A não comprovação da vacina não é liberdade. A verdadeira liberdade é feita a partir dos interesses da comunidade, do coletivo. Dentro da mais grave pandemia que vivemos, por que não introduzir o passaporte da vacina? É o mínimo da organização da sociedade”, defendeu ela. 

Na última sexta-feira (7), à CNN, a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, afirmou que entidade tem capacidade produtiva para importar e doar doses de vacina de covid-19 para países que ainda apresentam baixa taxa de imunização. Lúcia ressalta que esse olhar é importante, pois é preciso impor a equidade de vacinação no mundo. “No Brasil, temos um índice de vacinação grande e importante, porém não há solução de países individualmente. A solução vem a partir da equidade da vacina. Por isso a medida da Fiocruz é de extrema importância. A desigualdade da vacinação é o retrato de um modelo que não considera a saúde como bem comum”, finalizou. 

Reforma de Temer prometeu gerar 6 milhões de empregos. Gerou desemprego em massa, trabalho sem direitos e mal remunerado. Mesmo assim, editoriais e colunistas contestam possível revogação das medidas 

 Publicado: 10 Janeiro, 2022/Escrito por: Redação RBA 


Imagem:
JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL 

Desde que o ex-presidente Lula elogiou a revogação da reforma trabalhista implementada pela Espanha em 2012, a mídia tradicional e figuras do meio político reagem contra uma possível reversão de parte das medidas que alteraram a legislação trabalhista em 2017, quando foi aprovada a reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), que prometia gerar 6 milhões de empregos e acabou gerando desemprego recorde e precarização do trabalho – empregos sem direitos e com salários baixos.  

“É importante que os brasileiros acompanhem de perto o que está acontecendo na reforma trabalhista da Espanha, onde o presidente Pedro Sánchez está trabalhando para recuperar direitos dos trabalhadores”, tuitou Lula, que recebeu os cumprimentos do presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, em postagem na qual afirmou que as novas mudanças são “um exemplo de que, com diálogo e acordos, podemos construir um país mais justo e solidário”. 

Na quinta-feira (6), presidentes de seis centrais sindicais também se manifestaram de forma favorável à discussão sobre a revogação de medidas que não trouxeram benefícios nem aos trabalhadores, nem à economia, sem atingir os objetivos propalados à época pelo governo de Michel Temer. “Nesse período o desemprego aumentou, a precarização e a insegurança laboral se generalizaram, arrocho salarial, pobreza e desigualdade se expandiram, trazendo crescimento econômico rastejante e aumento das mazelas sociais”, disseram em nota. 

No sentido contrário, parte da mídia tradicional vem intensificando a defesa das supostas virtudes da reforma. Em editorial publicado na edição deste domingo, o jornal O Estado de S. Paulo ataca o PT e Lula, algo corriqueiro para o periódico, e defende as mudanças de 2017. “A reforma trabalhista do governo de Michel Temer é um marco jurídico sofisticado, de raro equilíbrio social e econômico”, diz o editorial. 

Já o jornal Folha de S. Paulo abriu espaço para o próprio Temer, em artigo, defender sua reforma que, segundo ele é “injustamente atacada”. “Ressalto que o combate ao desemprego depende de emprego, e este só se verifica se houver empregador. Não podemos alimentar a disputa permanente entre esses setores fundamentais para a economia nacional. Daí porque falta racionalidade à afirmação de que a modernização trabalhista trouxe prejuízos ao trabalhador e à economia”, escreveu. Em editorial, o jornal também já afirmou que não se pode atribuir à reforma as taxas de desocupação e precarização elevadas. 

 Veículos de mídia não ‘aprenderam nada com a desgraça que ajudaram a produzir’ 

A movimentação midiática não passou despercebida. Pelo Twitter, o economista Uallace Moreira pontuou que “o mundo está revendo as reformas neoliberais, inclusive a trabalhista. A reforma trabalhista no Brasil é um desastre: Precariza o mercado de trabalho e reduz a renda dos trabalhadores”. 

“Michel Temer correu na Folha pra defender sua ‘reforma trabalhista’. Só não explica onde é que estão os milhões de empregos prometidos e a redução de renda do povo brasileiro! Só se deu bem empresário que sobrevive da exploração da mão de obra!”, disse o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) em seu perfil. 

O juiz e professor universitário Rubens Casara também abordou o comportamento de veículos de comunicação. “A defesa da reforma trabalhista, que não atendeu a qualquer dos objetivos declarados à população (sucesso no que toca aos objetivos ocultos), confirma que a verdade não é um valor inegociável para a mídia hegemônica. Não aprenderam nada com a desgraça que ajudaram a produzir”, afirmou. 

“A reforma trabalhista não trouxe benefícios, nem reduziu o desemprego, os números mostram isso. Apenas intensificou a precarização e teve como objetivo beneficiar empresários e prejudicar trabalhadores. Bem distante da referida regulação ‘justa’ das relações socioeconômicas”, postou a professora de Direito Penal e Criminologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciana Boiteux. 

Impactos negativos da reforma trabalhista 

Os números oficiais mostram a ineficácia da reforma e diversos estudos também apontam seus resultados negativos. Em agosto de 2021, foram lançados dois volumes da obra O trabalho pós reforma trabalhista (2017), resultado de uma parceria do centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (Remir). À época, José Dari Krein, do Instituto de Economia da Unicamp falou à RBA sobre o impacto das mudanças de 2017. 

“Você afetou negativamente a renda do trabalho, o sistema de crédito. O que cresceu foram as ocupações informais e por conta própria. A desigualdade se acentuou. Também piorou o índice de Gini, ou seja, uma distribuição mais desigual do resultado do trabalho”, ressaltou. 

Krein ressaltou ainda o histórico de desconstrução dos direitos trabalhistas no Brasil iniciado no anos 1990, prosseguindo com mais intensidade na reforma de Temer, que mudou formas de contratação e remuneração. As medidas ajudariam, segundo seus defensores, a formalizar contratos, dinamizar a economia, criar empregos e aumentar a produtividade. “Todas essas promessas não foram efetuadas”, lembrou. 

O epidemiologista da UFRJ e coordenador do GT Covid-19, Roberto Medronho, acha que a decisão da universidade de determinar atividades remotas vai se estender para além do dia 31 de janeiro. Ele disse que a reavaliação da situação por parte do GT e da Reitoria será frequente, “mas é muito pouco provável que a gente saia desta resolução no dia 31. Ao longo do mês ainda teremos muitos e muitos casos”, acredita.

Segundo o cientista, “a situação é bastante preocupante”. Ele disse que nunca viu um vírus se espalhar tão rapidamente quanto essa variante ômicron. “E a expectativa é que sobrecarregue bastante os serviços de saúde”.

Medronho observa que, embora menos letal, a ômicron tem capacidade de impactar o sistema de saúde, porque tem infectado muitos profissionais de saúde e o estado já enfrenta dificuldade de reposição de pessoal. “E ainda nem chegou no pico”, alerta.

O GT Covid da UFRJ recomendou inclusive a suspensão da cerimônia de formatura da turma de Faculdade de Medicina que estava programada para o dia 12, no Riocentro, reunindo centenas de pessoas. A festa de formatura, segundo Medronho, homenagearia ele, a reitora Denise Pires e a professora Terezinha Marta, pela atuação na linha de frente na pandemia.

“Foi uma pena a suspensão da cerimônia, diante de uma turma com metade dos alunos cotistas, e que certamente seria um momento de glória para as famílias”. Mas, disse, a ciência falou mais alto. “O momento não permite aglomeração, seja em locais públicos ou fechados”.

Carnaval

Para o epidemiologista da UFRJ, como o pior ainda não chegou é uma temeridade manter os desfiles na Sapucaí. Portanto, não basta suspender blocos: é preciso suspender todos os festejos, defendeu. Essa posição ele levaria à reunião do comitê científico do estado do Rio.

Da mesma forma que no município do Rio, o número de casos explodiu no Centro de Triagem Diagnóstica da UFRJ (de zero para 43% na primeira semana de janeiro, segundo ele). “E nós estamos com a expectativa de que na próxima semana a situação só piore”. Por isso, explicou, a decisão de suspensão das atividades presenciais foi acertada e teve o apoio do GT Coronavírus. Para ele, a Reitoria, subsidiada pelo GT, foi pioneira e corajosa na deliberação, até porque foi de encontro da determinação judicial de retorno presencial. “Já demos dados para a Reitoria para que possa se posicionar perante o juiz sobre o motivo para esta atitude”, disse ele, esperando que a Justiça perceba que seria absurdo forçar o retorno.

A reitora Denise Pires também citou dados indicadores de agravamento do quadro. Mas disse que a UFRJ está atuando de forma muito consciente, utilizando o princípio da precaução. Ela explica que ainda não é um alarme sanitário: “é apenas uma preocupação para a gente diminuir a circulação do vírus”.

MOVIMENTO NO Centro de Triagem Diagnóstica da
UFRJ em momento agudo da pandemia em 2020. Nos
últimos dias, a procura voltou a
se intensificar

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