Milton Ribeiro assumiu a pasta em julho de 2020 e abre espaço para o quinto ministro da Educação em quatro anos de governo Bolsonaro

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Créditos: Reprodução/Twitter Milton Ribeiro

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu exoneração nesta segunda-feira (28) diante das denúncias de um suposto esquema de corrupção montado no MEC em que um “gabinete paralelo” de pastores teria passado a controlar a distribuição de recursos da pastaO ministro havia colocado o cargo à disposição para evitar danos maiores à campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. A demissão já foi publicada em edição extra do Diário Oficial.

Em áudio vazado divulgado pela Folha de S. Paulo, Milton Ribeiro aparece assumindo que o presidente Jair Bolsonaro pediu que o MEC priorizasse os pedidos de destinação de verba feitos pelo pastor Gilmar Silva dos Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Isso gerou irritação até mesmo na bancada evangélica.

Nesta segunda-feira foi revelada a confecção e distribuição pelo MEC de bíblias com fotos de Milton Ribeiro e dos pastores envolvidos no esquema que ficou conhecido como “Bolsolão do MEC”.

Revelações feitas por prefeitos à imprensa apontam que Gilmar e seu assessor, o pastor Arilton Moura, cobravam propina de prefeitos para conseguir a liberação de verbas do MEC. Houve proposta de propina até mesmo na compra de bíblias. Um outro prefeito revelou também que Ariltou chegou a pedir 1kg de ouro – equivalente a R$ 300 mil – em troca da liberação de recursos.

Ribeiro negou envolvimento no esquema e disse que acionou a Controladoria-Geral da União quando prefeitos denunciaram a situação. Isso, no entanto, só veio à tona através de reportagem publicada no Estado de S. Paulo.

Na última quinta-feira, Bolsonaro fez um defesa enfática do ministro durante sua live semanal. O presidente disse que colocaria sua “cara no fogo” pelo pastor. “O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia contra ele”, disse.

Segundo juristas, o suposto esquema em que o ministro é acusado de fazer parte pode incorrer em corrupção passiva, corrupção privilegiada, improbidade administrativa, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. No mesmo dia, a ministra Cármen Lúcia, do STF, determinou a abertura de um inquérito contra o ministro, atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

 

 

 

 

50% dos brasileiros esperam piora na economia, 75% culpam Bolsonaro pela inflação alta que corrói o poder de compra e 50% apostam no crescimento do desemprego, diz Datafolha

Publicado: 28 Março, 2022 – Escrito por: Redação CUT

SINPRO-DF

Mais inflação, desemprego e piora da economia é o que esperam os brasileiros, que culpam o presidente Jair Bolsonaro (PL) pela carestia, esperam para os próximos meses, segundo pesquisa Datafolha, realizada na terça (22) e na quarta-feira (23) com 2.556 eleitores em 181 cidades de todo o país.

Entre dezembro do ano passado e março, aumentou de 20% para 40% o número de brasileiros que espera piora na economia.  

Preços altos, culpa de Bolsonaro

Para 75% dos brasileiros, Bolsonaro é o culpado pela disparada da inflação, diz o Datafolha.

Nem os eleitores de Bolsonaro acreditam no discurso do governo de que a culpa é da guerra da Rússia contra a Ucrânia, pandemia ou crise mundial. O presidente é o culpado pela carestia por 72% dos evangélicos, 75% dos moradores do Centro-Oeste e 79% dos moradores da região Sul, que votaram em peso para  elegê-lo.

Entre dezembro e março, aumentou de 46% para 74% o número de brasileiros que esperam inflação ainda mais alta nos próximos meses.

Desemprego

O Datafolha também ouviu os brasileiros sobre suas expectativas de geração de emprego e descobriu que, entre dezembro e março, aumentou de 35% para 50% o número dos que acreditam que o desemprego vai aumentar.

Em dezembro, o contingente (35%) que previa alta na desocupação chegou a empatar com a parcela que projetava melhora na oferta de empregos. Agora, 20% ainda acreditam que pode haver melhora.

 

 

A pandemia agravou a situação, mas a queda da renda é efeito da desregulamentação da legislação, do baixo crescimento e da falta de políticas públicas para  gerar empregos de qualidade, diz técnica do Dieese

 Publicado: 28 Março, 2022 – Escrito por: Marize Muniz

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Lucros e juros ganharam espaço no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos últimos dois anos, período em que a crise econômica derrubou os salários dos dos 95 milhões de trabalhadores do país.

Segundo o jornal O Globo, a fatia de rendimentos do trabalho correspondia a 35,4% do PIB em fevereiro de 2020, antes da pandemia. No auge do registro de casos de Covid-19, em abril de 2021, o percentual caiu para 30,2%.

O motivo central do arrocho, diz  o jornal, seria a pandemia, mas não é bem isso, afirma a técnica da subseção do Dieese da CUT Nacional, Adriana Marcolino, que reconhece: “A pandemia, de fato, provocou um grande impacto negativo no mercado de trabalho, mas no período de reabertura da economia a regra para novas contratações tem sido aprofundar a precarização e informalidade e reduzir salários, facilitadas pela falta de uma ação governamental que procurasse resolver esses problemas”.

“A queda dos rendimentos do trabalho é anterior à pandemia, começou com a retirada de direitos dos trabalhadores em 2017”, diz a técnica se referindo a reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), que acabou com mais de 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

“Essa queda vem do aumento da desregulamentação da legislação trabalhista, do baixo crescimento, da falta de fiscalização do trabalho, da falta de políticas públicas para  gerar empregos de qualidade, do abandono da política de valorização do salário mínimo, é uma lista grande de problemas que o governo brasileiro não está atuando devidamente”, pontua Adriana Marcolino.

Os números divulgados pelo Globo nesta segunda-feira, obtidos por meio de cruzamentos de informações das pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito pela Corretora Tullet Prebom Brasil, usam dados do período da pandemia, mas ignoram as outra causas do arrocho citadas pela técnica do Dieese.

Segundo a pesquisa, mesmo com a queda da taxa de desemprego – de 14,8% em abril de 2021 para 11,2% – a participação dos salários subiu apenas para 30,9% em janeiro deste ano.

Ao mesmo tempo em que a inflação dispara, a massa de salários mensal cai – R$ 18 bilhões nesses dois anos -, de R$ 250,5 bilhões em fevereiro de 2020 para R$ 232,6 bilhões em janeiro deste ano, derrubando ainda mais o poder de compra de trabalhadores e trabalhadoras.

As empresas aproveitam as altas taxas de desemprego e informalidade para garantir os lucros pagando menos aos  novos contratados e arrochando os salários dos que já estão trabalhando, como mostra pesquisa do Dieese.

Dos 119 reajustes com data-base em fevereiro analisados pelo Dieese, 60,5% ficaram abaixo da variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, o INPC do IBGE. Esse dado, somado à alta rotatividade, tem achatado os salários, explica Adriana Marcolino.

E com o fim da Política de Valorização do Salário Mínimo, criada pelo ex-presidente Lula e extinga pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), há três anos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também não tem aumento real, que era garantido para os beneficiários que ganham até um salário mínimo. O que contribui para reduzir ainda mais a massa de rendimentos da população, que contribui para o aquecimento do mercado interno.

35,3% ganham até 1 mínimo

Segundo a pesquisa do Globo, de março de 2020, até dezembro do ano passado, mais 6,5 milhões de trabalhadores engrossaram o grupo que ganha até um salário mínimo. “O que reforça que o problema não começou com a pandemia, foi aprofundado por ela”, afirma Adriana Marcolino.

O maior patamar de toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, que começou em 2012. De acordo com o cruzamento feito pela LCA Consultores, atualmente, são 33,8 milhões com esses baixos salários, 35,3% dos ocupados. Em março de 2020, eram 29,2%.

Como é calculado o PIB

O PIB é calculado a partir da soma soma de tudo que é gasto no país, seja o consumo das família, os investimentos e gastos do governo, além do saldo de exportações e importações.

 

 

Em 2/3/2022. Site Geledés

 

Quebranto, cobreiro, aguamento, ventre-virado são males vinculados à ação de cura das benzedeiras e dos benzedores. Suas orações ingressam em um universo simbólico de práticas curativas que fazem parte das crenças populares e penetram a memória coletiva.
Uma tradição cuja origem se perde no tempo, a benzedura se mantém em uma trilha que ecoa através das gerações. A tradição oral apresentada nos benzimentos tem como base difusora as redes familiares e de convivência. A partir delas os conhecimentos são transmitidos de forma direta ou indireta para a geração seguinte, o que garante de certa forma uma herança simbólica. De acordo com Myriam Lins de Barros, a transmissão de valores e bens simbólicos para os descendentes confere à família o lugar de passagem e evidencia a noção de tempo cíclico. Sendo a família o lugar em que os processos cíclicos identitários são elaborados, a oralidade tem um papel essencial na transmissão desses valores e conhecimentos, pois corresponde ao caminho pelo qual os benzedores ingressam por esse ofício de cura.

Vó Ana e tia-avó Geralda: irmãs e benzedeiras. Coronel Xavier Chaves. 2015. (Foto: Acervo pessoal)

 

A tradição oral empregada na prática de benzedura representa um vínculo afetivo com a pessoa que ensinou aos benzedores o ofício da cura. Representa o vínculo com o passado, com os costumes, mas também com sua identidade. A forma de transmitir a prática da benzedura reflete na relação que os benzedores têm com o passado, com seus instrutores e com sua forma de ser e vivenciar a prática da benzedura. 

 Além das orações repassadas, os benzedores carregam consigo devoções e religiosidades que se manifestam a partir das vivências e visões de mundo desses sujeitos. Joël Candau mostra que “transmitir uma memória e fazer viver, assim, uma identidade não consiste, portanto, em apenas legar algo, e sim uma maneira de estar no mundo”. A forma como cada benzedeira ou benzedor manifesta seu exercício de fé e cura no presente representa o modo como se conecta com seu passado.

A partir das trajetórias dos benzedores, no qual incluo também a trajetória de minha avó, Ana de Jesus Rodrigues, proponho uma investigação sobre as práticas religiosas e o processo de formação de suas identidades através de suas memórias. O estudo é realizado na cidade de São João del-Rei, em Minas Gerais. Através da História Oral estabelecemos um vínculo de construção de memórias por meio da relação do passado e do presente. Ao lidar com memórias individuais, constituímos um terreno rico para trabalhar a subjetividade, as vivências e emoções desses sujeitos.

As enfermidades vinculadas à prática da benzedura adquirem um sentido próprio que estabelece uma ligação entre o benzedor e o consulente, que busca uma resolução dos males que o afligem. Para Alberto Manuel Quintana, a ligação da doença com o social se verifica pela busca de uma explicação para a doença que consiga dar conta dos componentes biológicos e, principalmente, dos elementos socioculturais. 

A doença não pode ser vista como um processo isolado do seu contexto social. Há sempre uma necessidade de conhecer a causa do mal, e fundamentalmente, as circunstâncias que possibilitaram sua existência. O corpo não é percebido apenas na sua dimensão biológica; ele possui uma dimensão simbólica, pois o corpo é uma construção social. Dessa forma, as doenças que afligem o corpo, assim como as práticas de cura destinadas a combatê-las, também apresentam caráter social. 

As enfermidades vinculadas à prática de benzedura adquirem um sentido próprio entre os benzedores e os consulentes. Se não há esse compartilhamento de crenças, de sentido, de fé, não há como promover a cura.

Aviso informando sobre a suspensão por tempo indeterminado dos benzimentos de dona Teresa por conta da pandemia do coronavírus. São João del-Rei, 29/08/2020. (Foto: Soraia Geralda Santos)

De acordo com Alberto Manuel Quintana, o processo ritual da prática de benzedura é formado basicamente em três momentos. O primeiro seria o diálogo; o processo inicia com a chegada do consulente que solicita a intervenção do benzedor. O segundo, seria a bênção; é a benzedura propriamente dita. Esse momento costuma ser acompanhado com orações católicas como Pai-Nosso, Ave-Maria, Credo e Salve Rainha. E, o último momento, a prescrição, que são condutas de como os consulentes devem agir depois da benzedura para  que o tratamento surta efeito. Alguns benzedores, por exemplo, recomendam que o benzimento seja realizado durante três dias consecutivos, ou indicam tomar um banho de alguma erva medicinal para reforçar o processo de cura. 

Durante a benzeção, alguns recursos e instrumentos são utilizados para auxiliar no processo de cura. A voz, por exemplo, exerce um papel fundamental nos benzimentos, pois aciona os comandos nas orações para que o mal saia do corpo do consulente. O terço é um objeto muito utilizado nas benzeções, assim como o talo da mamona nos benzimentos para cobreiro. Ervas como alecrim e arruda costumam ser usadas nas benzeções de quebranto e mau-olhado. A agulha, linha e um pedaço de pano são utilizados nas orações de jeito e de coser. 

Alguns desses objetos servem como metáfora do corpo intermediário, como sugerem Edimilson Pereira e Núbia Gomes. Para a extinção do mal e o restabelecimento do equilíbrio, as benzeções necessitam de um corpo intermediário, para o qual a doença e o sofrimento possam ser transferidos e anulados. 

A figura dos benzedores está vinculada ao imaginário popular, suas orações e rituais permeiam um universo representativo criado por diversas influências culturais. A imagem formada de um benzedor fomenta uma identidade que os representa diante de sua comunidade. Através da prática, o benzedor representa uma figura intermediária que recebe o poder divino para aplicá-lo nas pessoas que o procuram a fim de se curar. 

Benzedeira Dona Teresa Augusta dos Reis. São João del-Rei, 29/8/2020. (Foto: Soraia Geralda Santos)

No repertório de rezas dos benzedores são recorrentes as orações de quebranto, cobreiro, ventre-virado, entre outras. Esse compartilhamento de orações é comum a esse grupo. A apropriação dessas rezas resulta na ressignificação das práticas de benzedura, ou seja, os benzedores, mesmo com o repertório de orações semelhantes, estabelecem novas leituras por meio de devoções particulares e religiosidades em sua prática de cura. Dessa forma, acreditamos que a prática da benzedura apresenta-se através da relação particular, da leitura que cada benzedor tem com o catolicismo, com outras religiões e crenças.

O ofício da benzedura desenvolvido por esses benzedores e benzedeiras carrega uma força ancestral que se perde no fio do tempo. Suas vozes ecoam saberes, expulsam o mal, promovem a cura, harmonizam o espírito. Fazer o bem é o que move suas trajetórias de vida. 

Tayane Aparecida Rodrigues Oliveira

Historiadora, Mestranda pela Universidade Federal de São João Del-Rei (PGHIS-UFSJ); integrante do Grupo Emancipações e Pós-Abolição em Minas Gerais; e-mail:tayanearo@gmail.com