As delegadas e delegados da Plenária Nacional da FASUBRA, reunidas/os em Brasília – DF nos dias 9 e 10 de Dezembro de 2023, ratificam a necessidade da categoria técnica administrativa em educação protagonizar a luta pela superação da restrita democracia existente nas Universidades Públicas Brasileiras.

Em virtude de uma lógica de gestão ainda estruturada durante a Ditadura Empresarial Militar, a Reitoria da UFRJ em uma explícita manifestação de desespero, resolveu convocar uma reunião virtual do Conselho Universitário para aprovar a assinatura do contrato entre a UFRJ e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).

Dessa forma, a Reitoria opta voltar atrás em seu compromisso estabelecido com as entidades representativas das categorias e não fazer a consulta pública junto à comunidade universitária sobre o tema. Após uma sessão do Conselho Universitário interrompida por um potente protesto protagonizado por estudantes e técnicos e técnicas, a Reitoria, em seu desespero, escolhe fazer uma reunião virtual do Conselho Universitário com o objetivo de neutralizar a insatisfação de docentes, estudantes e técnicas e técnicos administrativos em educação contra a assinatura de um verdadeiro cheque em branco nas mãos da Ebserh.

Saudamos ao protagonismo do Sintufrj e DCE Mario Prata na organização da resistência empreendida nas ações contra a entrega da gestão dos hospitais à Ebserh.

A Reitoria da UFRJ atualmente conduzida pela gestão Roberto Medronho/Cassia Turci em uma postura antidemocrática e sem transparência não disponibilizou ao Conselho Universitário os anexos do contrato, dessa forma não se sabe quanto de patrimônio dos hospitais será cedido, qual o investimento financeiro será aportado ou qual a reposição de vagas de pessoal a Ebserh se comprometeria a realizar.

O que vem acontecendo na UFRJ é semelhante ao processo de adesão à Ebserh em diversas outras universidades do país, com as Reitorias se utilizando de manobras, aproveitando períodos esvaziados próximos ao recesso, sem qualquer compromisso com uma gestão democrática. É um lamentável exemplo que reforça a luta histórica de nossa categoria pela paridade entre docentes, técnicos e estudantes nos órgãos colegiados.

A FASUBRA seguirá combatendo a gestão mercadológica da EBSERH que promove a destruição dos hospitais universitários. A EBSERH precariza o serviço público, como pesquisa, extensão, educação, formação e impedindo a abertura de concurso público pelo Regime Jurídico Único.

Seguiremos firmes em nossa luta em defesa do caráter público e de hospital escola dos Hospitais Universitários.

Na plenária nacional da Fasubra, que começou dia 8 e segue até este domingo, 10, em Brasília, a coordenadora-geral do Sintufrj Marta Batista denunciou a ameaça da entrega dos hospitais da UFRJ à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Ela destacou que a UFRJ ainda é um foco de resistência contra a Ebserh. Contou que protesto organizado de estudantes e técnicos-administrativos, por debate democrático e a publicização do contrato, conseguiu a suspensão de sessão do Conselho Universitário, dia 7. Mas que a reitoria, de maneira antidemocrática, marcou um novo Consuni no dia 11, porém, totalmente virtual, com a perspectiva de aprovar, de maneira vergonhosa, a adesão.

Lembrando da composição antidemocrática do colegiado (que não é paritário, com 70% de docentes), ela alertou que querem dar um cheque em branco à empresa. E explicou que até hoje não chegou à comunidade informações sobre o contrato: por exemplo sobre o quanto do pessoal seria resposto, de quanto seria o investimento e quanto do patrimônio da universidade seria cedido.

Ela fez um chamado à Federação por apoio para denunciar nacionalmente o que está acontecendo e pediu a solidariedade de todos para que não se permita tamanho retrocesso na UFRJ.

Assista o vídeo:

 

“Não posso chegar nas últimas décadas de minha vida vendo todo o patrimônio do Complexo Hospitalar da UFRJ, construído ao longo de todo o século XX, ser entregue a uma Empresa de Direito Privado criada pelo Banco Mundial visando restringir a atuação do Sistema Único de Saúde”, declara o professor emérito da UFRJ Nelson Souza e Silva, comentando que esse Sistema Universal, integral, hierarquizado, “construído ao longo de décadas com o esforço de gerações de profissionais de saúde, segundo o Banco Mundial, deve deixar de ser universal para atuar apenas “focalizado” na atenção básica de saúde, deixando a atenção de alta complexidade nas mãos de empresas de direito privado ou de organizações sociais”.

“O que é a Ebserh que não uma empresa pública de direito privado para gerenciar todos os Hospitais universitários e de alta complexidade do País?”, questiona o cardiologista, que dedicou 63 anos, dos seus 81 anos de vida, à UFRJ e contribuiu, junto com inúmeros professores, técnicos-administrativos e alunos, para a criação do Hospital Universitário, do Instituto do Coração Edson Saad, do Instituto de Saúde Coletiva, do Complexo Hospitalar da UFRJ, entre outras importantes iniciativas.

Alerta ao Consuni

Ele produziu extenso documento para subsidiar a análise do Conselho Universitário na decisão de assinar ou não o contrato com a Ebserh. Nele, explica que o gerenciamento de instituições públicas por empresas de direito privado foi denominado pelo Banco Mundial de “publicização” das instituições públicas que não podem ser privatizadas, como as universidades públicas e demonstra, com base na Constituição, que a autonomia universitária está gravemente ameaçada, assim como os sistemas de Educação, de Saúde e de Ciência e Tecnologia públicos: “A universidade não pode perder a gerência de seu Complexo Hospitalar. O que devemos exigir do governo, como uma Autarquia Especial autônoma que somos é que o Programa REHUF, este sim, corretamente criado para que os Hospitais universitários tenham recursos orçamentários suficientes, provindos dos Ministérios da Saúde e da Educação e gerenciados pelas próprias universidades e que atualmente está entregue à EBSERH, retorne para ser gerenciado pelas Universidades através de suas unidades Orçamentárias”, diz ele.

Patrimônios são inalienáveis

O médico argumenta que a UFRJ não necessita de uma empresa intermediária, mas sim, da formação de um complexo ou rede de hospitais universitários do país, públicos, gratuitos e de qualidade, com orçamento global e que seja suficiente para suas reais necessidades de ensino-pesquisa e extensão, expressas em seus planos anuais, elaborados autonomamente, e gerenciado pelas suas unidades orçamentárias próprias.

“Os recursos orçamentários atuais, provenientes tanto do Rehuf como da prestação de serviços hospitalares (Fundo Nacional de Saúde) são das universidades. As universidades estão perdendo a gerência de seu pessoal e de seu patrimônio da área de saúde os quais são inalienáveis”, alerta o professor emérito.

 

 

Trechos do documento

“Considerações sobre Autonomia Universitária e a EBSERH”

“A Universidade não pode e não deve alienar seu patrimônio para ser gerenciado por empresas de qualquer natureza. Gerir seu patrimônio e seu pessoal é sua função Constitucional como Autarquia Especial”, diz o professor emérito. Veja alguns outros destaques do texto:

Avanço na reforma do Estado

Aceitar um contrato com a EBSERH é uma clara tentativa de acabar com a autonomia universitária, avançar na reforma do Estado e do Sistema Único e Universal de Saúde pela via neoliberal de construção de um Estado mínimo com a entrega do setor púbico a empresas de capital público, mas de direito privado, ou mesmo para empresas de capital privado como está na proposta de reforma administrativa em discussão no Congresso.

Universidade aliena seus bens

Podemos inferir que os termos do contrato que está em negociação pela Reitoria, mas que até o presente, não foi apresentado à comunidade da UFRJ para a devida discussão, são os mesmos, talvez com pequenas alterações, que os contratos já aprovados pelas universidades contratadas.

Em todos esses, as universidades, “ALIENAM” seus bens, cedem, transferem seu patrimônio, para ser gerenciado por essa empresa pública de direito privado. Justifica-se essa entrega como sendo necessária para melhorar a “eficiência da gestão” dos Hospitais Universitários e, portanto, de nosso complexo hospitalar, como se a Universidade fosse, por definição, ineficiente para administrar seus bens e serviços.

Hospitais estratégicos

Os Hospitais de ensino não são hospitais apenas assistenciais e, portanto, não podem ser alienados para “empresas de serviços” de direito privado. Suas funções são essenciais para os Sistemas de Saúde, de Educação e de Ciência e Tecnologia de nossa Universidade e para o País e devem ser considerados estratégicos para o desenvolvimento nacional. Não é possível aceitar que sejam afrontadas a autonomia universitária e a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, princípios constitucionais que asseguram os direitos e garantias fundamentais cristalizados sob a forma da livre manifestação do pensamento e livre expressão das atividades: científica, intelectual, artística e de comunicação-informação.

Traição

A proposta da EBSERH, como uma empresa de serviços de direito privado, é inconstitucional, ilegal e antiética; uma traição às lutas que se processaram desde o início do século XX e anteriores à criação de nossa universidade.

Orçamento global

A universidade tem direito a um orçamento global, como forma de garantir a consecução de seus fins e objetivos dentro das limitações impostas pela própria constituição. Para tal, é imperiosa a garantia da autonomia administrativa universitária no poder de autodeterminação e auto normatização relativas à organização e funcionamento de seus serviços e patrimônio próprios, inclusive no que diz respeito ao pessoal que deva prestá-los e à prática de todos os atos de natureza administrativa inerentes a tais atribuições e necessários à sua própria vida e desenvolvimento.

UFRJ não pode entregar

A universidade não pode entregar seu patrimônio e nem seu pessoal para serem gerenciados por uma empresa, ainda que pública, mas de direito privado à qual não cabe a qualificação de autarquia especial. Esta tarefa cabe única e exclusivamente à própria universidade autônoma. Assim a Constituição o determina. Não há nada que essa “empresa de serviços” possa fazer para administrar os HUs, que a Universidade autônoma e autárquica especial não possa fazer com competência maior e exclusiva.

Não pode a universidade alienar seus hospitais universitários e seu pessoal para serem geridos por esse ente estranho à universidade. Cedidos para essa empresa, o patrimônio e o pessoal dos hospitais universitários deixam de ser gerenciados pela Autarquia Especial criando um enorme conflito administrativo e legal.

A Ebserh é constitucional?

O STF, através da relatoria da Ministra Carmen Lucia, se pronunciou a respeito dizendo que a Criação da Ebserh não fere a Constituição. Realmente, o poder Executivo pode criar uma empresa pública de direito privado, mas não para prestar um serviço público que já é prestado pelo Estado através do Sistema Único de Saúde (SUS). Este é apenas um dos questionamentos. Existem outros. Esta empresa não pode construir seu patrimônio através da cessão do patrimônio das universidades autárquicas especiais, nem que seja por contrato.