Fasubra já contabiliza a adesão de 54 universidades e três institutos federais. Comando Nacional do movimento será instalado nesta segunda-feira, 18 de março

A greve nacional dos trabalhadores técnico-administrativos em educação se fortalece em todo o país. Até o momento já são 3 Institutos Federais e 54 Universidades que aderiram à greve iniciada dia 11 de março.

No dia 18 de março será instalado o Comando Nacional de Greve, sendo que da UFRJ serão enviados 7 delegados. No Rio de Janeiro as quatro universidades federais – UFRJ, UFF, Rural e Unirio – aderiram ao movimento grevista.

Na UFRJ, um calendário de atividades foi montado e as comissões do Comando Local de Greve para organizar a mobilização e resolver problemas nos setores vem se reunindo para dar conta das demandas apresentadas pela categoria. Panfletos, cartazes, faixas estão sendo produzidos, distribuídos e colocados nos campi.

Nesta quinta-feira,14, a Comissão de Ética esteve reunida para avaliar demandas já encaminhadas e deliberou por dar orientações para algumas questões em comum. A comissão reitera que qualquer demanda dos locais de trabalho podem ser enviadas ao e-mail da Comissão de Ética: comissaodeetica@sintufrj.org.br

 

Universidades do Rio

Estão também intensas as atividades de greve na Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Nelas, ficou garantido o não corte de ponto e ou qualquer retaliação à greve. Veja como está a greve nessas universidades.

 Rural

Além da pauta nacional geral de reivindicações da categoria foi construída a pauta interna na assembleia de organização da greve, realizada em 11 de março. O Comando de Greve da Rural irá discutir com o reitor Roberto Rodrigues o combate ao assédio, o fim do ponto eletrônico, melhorias nas condições de trabalho, entre outras demandas da base.

Quanto aos serviços essenciais e aos serviços imprescindíveis, o Comando de Greve irá procurar os trabalhadores em seus setores para depois definir o funcionamento desses setores. O comando garante que não haverá nenhum corte de ponto, sendo esse compromisso reafirmado pelo reitor.

UFF

O Comando Local de Greve (CLG) do Sintuff esteve reunido em audiência nesta quinta-feira, 14, com o vice-reitor Fabio Passos, acompanhado de pró-reitores e outros representantes da gestão para tratar de assuntos relativos à greve, seus impactos para a universidade e à vida funcional dos servidores que aderiram.

O CLG apresentou sua avaliação acerca dos serviços que a reitoria listou considerar essenciais na reunião anterior realizada dia 11. Na maioria dos pontos, houve consenso entre a reitoria e a posição do Sintuff. Houve divergência acerca do fechamento do Restaurante Universitário, considerado essencial na avaliação da reitoria, e foi constatado desencontro de informações acerca do tema das novas nomeações, tendo em vista que a reitoria emitiu previamente que seriam suspensas em decorrência da greve.

De antemão, o CLG – com anuência da categoria no setor responsável – adiantou que será garantida a preparação de refeições do Restaurante Universitário aos estudantes da Moradia Estudantil. Não houve recusa do CLG e dos servidores do setor em dialogar com outras necessidades, desde que preservado o direito aos servidores do Restaurante Universitário em exercer o direito de greve.

Além da alimentação aos moradores da Moradia, o CLG também reconheceu como essenciais vários outros itens como pagamento de bolsas, auxílios e apoio à assistência estudantil a discentes de graduação em vulnerabilidade socioeconômica; garantia do atendimento médico a tratamentos em andamento, mediante debate com servidores do setor; pagamento de auxílio, compensações bancárias, na área de gestão de pessoal, como auxílio funeral, pensão alimentícia, entre outros; atendimentos a demandas judiciais pelos setores envolvidos, garantir a vida e proteção a animais e microrganismos na rede de biotérios e garantia de TI para manutenção dos serviços considerados essenciais. Os serviços, segundo deliberação do CLG, serão mantidos em sistema de escala e revezamento.

À luz da moção aprovada pelo Conselho Universitário (CUV), a reitoria refirmou os princípios do texto aprovado pela instância máxima da universidade, que dentre vários aspectos endossa uma futura reposição dos dias de greve através de compensação de trabalho represado, prática de acordo recorrente em todas as últimas greves. Esses termos, que na prática já abrangem quem aderiu ao Programa de Gestão (PGD), também se estendem aos demais servidores. A reitoria expressou que não formalizará qualquer retaliação à greve junto aos órgãos e sistemas do governo, em sintonia com as posições defendidas pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Em relação ao Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), os representantes da reitoria manifestaram que terão o mesmo tratamento dos demais servidores, tendo direito ao exercício de greve, sendo garantidos os serviços essenciais.

Ao fim da reunião, o vice-reitor gravou um vídeo junto ao CLG, manifestando apoio às pautas da categoria, defesa do orçamento das universidades e garantia do livre direito democrático de greve.

Unirio

Na Unirio a categoria dos técnico-administrativos deliberou em assembleia por greve de ocupação. Assim como as demais universidades do Rio o Comando de Greve organizou um calendário de atividades internas e externas.

O objetivo é conquistar apoio de estudantes, professores, ampliar a adesão da categoria e dialogar com a população. Nas atividades internas são realizadas reuniões nos setores. As reuniões desta semana foram para passar um panorama da negociação nacional, definir a pauta por local de trabalho, os serviços essenciais e organizar comitês locais de greve. Os integrantes do comando estão explicando aos servidores o motivo das reivindicações junto ao governo Lula e buscam ampliar o número de companheiros nos comandos de greve. Nesta quinta-feira, 14, houve reunião com a vice-reitora Bruna Nascimento pela manhã.

Nas atividades de rua a categoria em greve vai buscar apoio da população ao explicar os motivos da paralisação. Panfleto próprio está sendo distribuído.

A pauta interna que está sendo defendida pelo movimento grevista é a seguinte: assegurar a regulamentação da jornada de 30h; criar uma política de enfrentamento ao assédio moral e todas as formas de perseguições; elaborar uma política de saúde dos trabalhadores que seja ampla irrestrita e com a participação dos trabalhadores de variados vínculos; garantir imediatamente o acesso às informações para uma comissão de acompanhamento e avaliação autônoma do contrato da Ebserh; Criação do Conselho Gestor de Unidade no Hospital Universitário Gaffrée Guinle (HUGG) e paridade nos colegiados.

NESTA QUINTA-FEIRA, PELA MANHÃ, o Comando de Greve na Unirio se reuniu com a vice-reitora Bruna Nascimento.

 

Casa cheia na reunião do Conselho Universitário desta quinta-feira, 14 de março, no auditório do Parque Tecnológico, no Fundão. Com cartazes em punho, dezenas de técnicos-administrativos participaram do ato, deliberado pela assembleia da categoria, convocado pelo Comando Local de Greve para solicitar ao colegiado apoio ao movimento que é nacional.

Os servidores em greve reivindicam, além da reestruturação da Carreira e de recomposição salarial, recursos para que a UFRJ possa sustentar suas atividades de ensino, pesquisa e extensão de reconhecida excelência e garanta condições dignas nas suas instalações de trabalho e estudo. O movimento também reivindicou demandas do Colégio da Aplicação (CAP).

Em vídeo ao final do ato, coordenadores do Sintufrj e representante da Cap falam à comunidade

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Apoio ao CAP

Por isso, estavam lá também dezenas de técnico-administrativo, docentes e familiares de estudantes numa manifestação contra a falta de professores e de infraestrutura adequada para centenas de estudantes da educação básica e da graduação.

A professora Graça Reis leu carta ao colegiado com as demandas do CAP. As aulas iniciaram há um mês faltando 28 professores de disciplinas regulares e 15 da educação especial. O colégio enfrenta redução do horário de aulas.

A Educação Infantil, desalojada do Fundão, se ressente da falta de sede adequada. O prédio da Lagoa sofre com problemas estruturais. Além de professores, são necessários servidores para atuar no apoio à educação especial, além da efetivação da contratação de substitutos iniciada em dezembro.

CLG se posiciona

“Estamos em greve. Não conseguimos avançar nas negociações com o governo. É por reajuste salarial, mas também por reestruturação da nossa carreira e por recomposição orçamentária da universidade, pauta que unifica o conjunto da educação federal”, disse Gabriel de Melo, técnico-administrativo da PR-3, integrante do Comando Local de Greve.

Ele explicou que a negociação com o governo estagnou. Que estão entre as pautas, a reestruturação da Carreira, a recomposição dos salários e a recomposição orçamentária das universidades federais que estão literalmente caindo aos pedaços.

Ele apresentou a proposta de uma reunião comunitária sobre a crise de orçamento da instituição com a participação de técnicos-administrativos, professores e estudantes e partir para atos públicos: “Se a gente está se sentindo sufocado, tem que externar este sufoco. Não adianta estarmos convencidos de que a universidade não tem como caminhar com este orçamento e guardar a opinião pra gente”, disse ele, apontando o apoio aos trabalhadores do CAP e à greve.

“Nenhum de nós gosta de fazer greve e, como em toda luta, sem saber de vamos ganhar ou perder. Mas entre a luta e o silêncio escolhemos a luta e contamos com o apoio de vocês”, conluiu.

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Consequências graves

O representante técnico-administrativo no colegiado André Salviano pediu a fala para o Comando Local de Greve e fez uma denúncia: trabalhadores da limpeza =na Faculdade de Letras e vigilantes da Praia Vermelha seguem com salários atrasados. “Os terceirizados são parte integrante no nosso fazer”, lembrou.

A representante do DCE Camile Gonçalves alertou: “Precisa estar na ordem do dia, não só desse colegiado, mas de todos os demais, a questão da recomposição orçamentária da nossa universidade. Os desdobramentos estão fazendo com que fique completamente inviável a manutenção da nossa universidade. Nós, estudantes que não conseguimos estudar e não conseguimos nos manter na universidade, porque a gente está sem bolsa, os terceirizados mesmo servindo à comunidade acadêmica, não tem comida dentro de casa. E nada se faz sobre isso. Precisamos pressionar, para que a gente tome uma posição dura e pública. Os alunos de dança da Educação Física só vão conseguir usar o prédio um mês depois das aulas começarem, porque o escoramento não terminou. Tem matéria obrigatória da Faculdade de Letras que não está sendo ofertada, porque não tem professor. Os técnicos administrativos estão em greve. Nós, do DCE, vamos fazer assembleia com estudantes, assim que as aulas voltarem. Está insustentável e essa precisa ser a posição da Reitoria, dos conselhos. Não tem como a gente continuar dessa maneira insustentável”.

Juliany Rodrigues, diretora do campus Duque de Caxias, vários campi vivem em condições precaríssimas “A minha expectativa como professora do campus do Programa de Reestruturação da Universidade (Reuni), da UFRJ, é que viria um Reuni 2 com recursos para a consolidação dos campi avançados no interior pelo país, criação de novos cursos, desenvolver o que já foi construído. Foi celebrado nas redes sociais do MEC uma recomposição de R$ 250 milhões para as universidades federais. Pra gente aqui seria de R$ 5 milhões, que não dá nem sequer para pagar um décimo do que os nossos terceirizados precisam receber pra executar funções básicas para o funcionamento, que é a limpeza, a segurança. Sem limpeza e segurança, a gente devia fechar a universidade. A UFRJ precisa se posicionar frente ao MEC, ao governo. Quais são os planos do governo Federal para a Universidade Federal do Rio de Janeiro? O que a gente ouviu nas últimas semanas do nosso pró-reitor de Finanças é que a gente vai terminar com uma dívida em 2004 muito maior do que a gente recebe, sem nenhuma perspectiva de aumento do nosso orçamento. Não podemos viver mais de glória do passado”, disse ela, falando a oportunidade da greve dos técnicos administrativos, que os docentes deveriam aderir.  “A gente tem que mostrar para o governo que nós somos essenciais”, concluiu.

Letícia Carvalho, docente do Colégio de Aplicação, explicou “Nós estamos atuando com uma precariedade enorme, porque temos crianças com necessidades especiais na nossa escola e que estão sem acompanhamento. A situação do CAP é crítica, a gente não pode esperar, esse edital está na rua, já foi lançado desde dezembro, nós estamos já em meados de março e não temos esses docentes, esses funcionários em nossa escola. A gente está há mais de um mês atuando sob pressão, desgastando o corpo docente e sem a possibilidade de oferecer uma educação de qualidade. É por isso que a gente veio aqui, é por isso que a gente está lutando”, concluiu.

A coordenadora-geral do Sintufrj Marta Batista alertou: “As universidades estão caindo aos pedaços e essa realidade não vai mudar se a gente não lutar para que o governo coloque dinheiro nos nossos cofres, para que a gente consiga funcionar e atender a população com qualidade. Nós também viemos aqui prestar a nossa solidariedade. Aos trabalhadores e trabalhadoras do CAP, os trabalhadores da Educação Infantil da UFRJ, que estão vivendo uma situação muito difícil na nossa universidade e não é de hoje”.

Francisco de Assis, da Fasubra apontou que a greve está dando resultado, com mais de 50 instituições, com um eixo que diálogo com toda comunidade na medida em que reivindica também a recomposição orçamentária das instituições, propondo um “tsunami” da educação.

Consuni na UFRJ.
Rio, 24/03/24.
Foto de Elisângela Leite
Consuni na UFRJ.
Rio, 24/03/24.
Foto de Elisângela Leite
Consuni na UFRJ.
Rio, 24/03/24.
Foto de Elisângela Leite
Consuni na UFRJ.
Rio, 24/03/24.
Foto de Elisângela Leite

 

 

 

A investigação do crime que ganhou repercussão internacional ainda está em andamento; especialistas comentam

Jéssica Rodrigues
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ)

Há exatos seis anos o mundo espera a resposta para a pergunta “quem mandou matar Marielle?”. A vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados em 2018, em uma emboscada no centro do Rio quando voltavam de uma agenda do mandato. O caso tomou repercussão internacional, mas até hoje não foi totalmente solucionado.

Em julho de 2023, o ex-policial militar Élcio Queiroz, acusado pelo crime, deu detalhes da execução. Na virada do ano, Ronie Lessa, também ex-PM, apontado como autor dos disparos, delatou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, como mandante. Muitas reviravoltas aconteceram ao longo desses anos e, mesmo sendo um caso emblemático, não se sabe ainda quem encomendou o crime.

Quem é Domingos Brazão? É um político muito tradicional do Rio de Janeiro que tem uma atuação com a milícia, mas ele parece alguém que não tem muita popularidade, não é alguém que está no centro de um projeto político importante que a direita tem nesse momento. Mas também ele tem foro privilegiado, então é alguém que tem menos chance de ser prejudicado por essa delação uma vez que está num cargo importante no TCE. Então, acho que a gente está num momento de impasse”, analisa a cientista política Mayra Goulart.

Para ela, o inquérito do caso é atravessado pelo racismo e por outras formas de preconceito que ficaram ainda mais evidentes durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“As pessoas se apropriam desse ícone Marielle Franco para se posicionar a favor ou contra o patriarcado, simbolizado aqui na figura de Jair Bolsonaro. Então esse duelo entre Jair Bolsonaro, ícone da reação patriarcal, e Marielle Franco, ícone do empoderamento das classes oprimidas pelo patriarcado, classes econômicas, classes de raça e gênero, tem servido para dificultar o andamento deste inquérito”, afirma a cientista política.

Além de Brazão, também aparecem como suspeitos Cristiano Girão, ex-vereador do Rio ligado à milícia, e o bicheiro, Rogério Andrade.

Luta por justiça

O coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), Daniel Hirata, explica que a execução de Marielle e Anderson trouxe à tona o submundo das relações entre o poder público e organizações criminosas.

“Nós estamos falando aqui de organizações muito estruturadas, de pessoas envolvidas com milícias, jogo do bicho, grupos de matadores e suas relações com o poder político. Então, há uma frustração muito grande do ponto de vista que a gente precisa dar consequência a esse caso para que a população sinta que esse tipo de personagem também pode ser responsabilizado pelo seus atos”, ressalta o pesquisador.

Leia mais: No Rio, ato político marca os 6 anos do assassinato de Marielle e Anderson

Hirata aponta também que a justiça já falha quando investigações de casos como este muitas vezes só vão para frente porque os familiares das vítimas lutam para isso.

“É uma coisa muito complicada essa demora toda para resolução desse caso porque a família não consegue completar seu luto, não consegue se sentir parte de uma sociedade que tenha um sistema de justiça e, portanto, não encerra um ciclo tão longo como esse que nós estamos envolvidos para chegar até aqui”, finaliza o coordenador do Geni.

Na última terça-feira (12), o Ministério Público do Rio (MP-RJ) pediu que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, também suspeito de envolvimento no caso, vá a júri popular. Ele teria monitorado a rotina de Marielle e ajudado no desmanche do carro usado no crime. A motivação do assassinato contra a vereadora ainda não foi esclarecida.

Fonte: BdF Rio de Janeiro