O Ato Unificado da Educação no Rio de Janeiro encerrado em frente ao Palácio Guanabara (depois de concentração no Largo do Machado) na tarde desta quinta-feira (9) reuniu estudantes e trabalhadores que nas últimas semanas atuam numa jornada em defesa de recomposição orçamentária e salarial, Carreira e contra o desmonte da assistência estudantil.

O movimento – convocado por duas dezenas de entidades sindicais, do movimento social e de estudantes – tentou protocolar um ofício ao governador Cláudio Castro, mas isso não aconteceu. O governador, aliás, um dos focos principais das críticas repetidas em bordões pelos manifestantes: “Oh Cláudio Castro., seu caloteiro, a educação precisam de dinheiro”, era uma delas.

Os técnicos-administrativos da UFRJ, em greve desde 11 de março, foram presença marcante – como tem acontecido nos eventos que tem marcado a trajetória da greve.

Fotos: Elisângela Leite

 

 

A crise financeira da UFRJ bate às portas do Consuni sob diversas formas. Além de sucessivas falas de conselheiros, já no expediente da sessão desta quinta-feira, 9, expondo uma série de problemas em várias unidades e pedindo posicionamento público da Reitoria, dezenas de estudantes ocuparam o auditório do Parque Tecnológico para apresentar gravidade do que enfrentam com a interdição da Educação Física (depois do desabamento de mais uma parte da marquise da unidade).

“Estamos novamente sem ter onde estudar e precisamos que medidas sejam tomadas”, disse Melani Zmorzynski, coordenadora do CA do Curso de Dança, apontando negligência e falta de atenção com os cursos e que a situação precisa mudar urgentemente.

Ela criticou a adoção de medidas sem que o corpo estudantil seja consultado, diante da possibilidade anunciada na mídia de irem para um centro militar na Penha. “Não há possibilidade de estarmos fora do campus. Somos de curso noturno. Há alunos que residem em pontos distantes”, disse.

Ela anunciou que caso as suas exigências não sejam atendidas os estudantes farão greve: “A total falta de condições de permanência não pode redundar e prejuízo o corpo discente que recebe auxílio e as bolsas. Nós estudantes somos vítimas do desmonte da educação pública e nossa eventual paralisação deve ser entendida como uma necessidade de resposta”.

Medronho suspende, alunos continuam

Mas, alegando o fim do expediente, e com pouco tato diante da gravidade da situação, o reitor Roberto Medronho não permitiu a conclusão das falas concedidas aos estudantes. Mesmo assim, a garotada decidiu continuar mandando seu recado, com ou sem microfone. Medronho suspendeu a sessão. O protesto se intensificou e o reitor acabou cercado pelos estudantes, que, indignados, se postaram diante da porta, cobrando respostas.

Frente à frente

Durante uns bons minutos, o reitor os ouviu frente a frente: “A gente está sem aula. Vocês estão aqui no Parque Tecnológico, parece outra dimensão. Tem ar-condicionado. Eu estava andando (na escola) com o barulho (dos destroços) caindo. Que absurdo. Como vocês conseguem colocar a cabeça no travesseiro sem saber que tem gente que está sem previsão de futuro?  Já fizeram a graduação de vocês. Têm o emprego de vocês. Têm que lutar mais. Têm que reclamar mais”, pediam.

Gabriela Souza, representante dos estudantes de Educação Física pediu que os gestores participem das reuniões de deliberação da escola em busca de uma solução.

Medronho disse que tentaria de todas as formas chegar ao ministro da Educação e ao presidente da República. “A situação da UFRJ é muito grave. Por isso que eu apoio as reivindicações que o movimento dos técnicos-administrativos, entre elas a recomposição orçamentária, a reestruturação do plano de Carreira e mais verbas para a Educação”. O reitor considerou o pedido dos estudantes de ida a Brasília, sugerindo que se organizassem e o procurassem para a possibilidade de disponibilizar ônibus.

Garantiu que nenhuma mudança seria feita sem a concordância dos estudantes. Que estaria presente, se houvesse pedido da direção, no Conselho Departamental da EEFD (dia 14, às 13h, no Auditório do Quinhentão, CCS). Concordou com a formação de uma comissão com a participação da diretoria da escola, do decano do CCS, Reitoria e estudantes que se reunirá no dia 16, às 15h, na Reitoria. Nesta reunião, articularão uma assembleia comunitária da EEFD na semana seguinte.

Conquistas da greve: dos TAE para todos

Destacando que eram conquistas do movimento paredista dos técnicos-administrativos, o superintendente da Pro-Reitoria de Pessoal (PR-4) Rafael Pereira informou que o aumento do auxílio alimentação (que passou de R$ 658 para R$1000), já seria aplicado em junho, e que seria paga também a diferença do mês anterior (o aumento vale a partir de 1º de maio). Segundo ele, já foram publicadas portarias referentes ao aumento do auxílio creche e saúde também vão entrar na folha.

O coordenador-geral do Sintufrj Esteban Crescente, reiterou a importância do movimento, que conquistou o aumento no valor dos benefícios para todos.

Movimento e conselheiros pedem assembleia comunitária

Além dos conselheiros, os assentos também estavam todos ocupados com militantes do Comando Local de Greve (CLG Sintufrj) também em protesto pela recomposição orçamentária, por ações mais contundente por parte da Reitoria em defesa da UFRJ.

De fato, a situação da universidade tomou a maior parte das falas, reiterando a importância do papel da Reitoria de liderar o processo de luta política para além do que está sendo feito.

Alguns conselheiros apontaram a necessidade de a Reitoria buscar uma reunião com o presidente Lula. Apontando que a universidade vive uma morte lenta, o professor Vantuil Pereira, decano do CFCH, apontou que este quadro precisa ser revertido com urgência e reiterou proposta apresentada em sessão anterior pelo representante da Fasubra Francisco de Assis de realização de uma assembleia comunitária, com a presença da mídia, para denunciar a situação à sociedade e cobrar solução. Recebeu muitas palmas.

No horizonte da Reitoria

“É uma proposta que a gente vai avaliar, e não existe no Estatuto, mas politicamente a gente está pensando em fazer uma convocação ampla ao corpo social, com a imprensa e com uma apresentação para toda a sociedade. Isso está no nosso horizonte. Estamos fazendo as coisas aos poucos. Se conseguirmos as audiências, melhor”, anunciou Medronho.

Deterioração grave

O reitor lembrou que segundo relatório do Escritório Técnico, 52% das edificações da UFRJ foram analisadas e têm, algum grau de deterioração. Alguns muito crítica e comparou que uma doença, sem intervenção, pode evoluir para uma forma grave.

A UFRJ preparou relatório enviado ao MEC relatando essa situação de gravidade e reivindicando a verba (R$ 268 milhões para o custeio, não para os prédios). Para o reparo das edificações são necessário R$ 790 milhões e, para os casos mais graves, R$570 milhões e são emergenciais. “Eu tenho ido à Brasília, eu tenho procurado falar com o presidente Lula, tento falar pedindo apoio de deputados muito próximos a ele, para que eu mostre, no papel, toda a gravidade que nós estamos passando nesse momento, com risco à segurança do nosso corpo social em alguma dessas edificações”.

FRENTE À FRENTE. Estudantes na sessão do Conselho Universitário fazem cobrança ao reitor
COM ENERGIA E IRREVERÊNCIA, a força dos alunos da Educação Física traduzida em protestos

 

 

 

 

 

Estudantes da UFF e da Unirio em greve amplia força da paralisação de técnicos e docentes

A greve unificada dos três segmentos da comunidade universitária das universidades e institutos federais vem tomando corpo. O movimento nacional foi deflagrado pela categoria técnico-administrativa em março sendo seguido pelos docentes em abril.

Os estudantes, por sua vez, em suas assembleias, declararam apoio ao movimento paredista, e em algumas universidades juntam-se à greve numa mobilização unificada pela recomposição orçamentária das instituições de ensino.

No Rio de Janeiro é o caso da UFF e da Unirio. Os comandos locais de greve das categorias estão também reivindicando a suspensão do calendário acadêmico.

Unirio

Na Unirio, a greve estudantil foi aprovada em assembleia realizada em 30 de abril com mais de 600 alunos com o objetivo principal de reforçar a luta pela recomposição do orçamento das universidades. O movimento foi deflagrado dia 2 de abril. Desde a adesão dos estudantes os comandos locais de greve dos três segmentos têm realizado atividades unificadas.

Na terça-feira, 7 de maio, os comandos entregaram oficio solicitando convocação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) extraordinário com pauta única para debater a suspensão do calendário acadêmico. Essa é uma reivindicação que vem sendo construída pelos três segmentos em suas assembleias e comandos de greve. O reitor, por sua vez, marcou o Consepe para 14 de maio.

UFF

Na UFF os estudantes deflagraram greve em 11 de abril em assembleia realizada em Niterói. A recomposição orçamentária é um dos principais pontos da pauta de reivindicações que é composta de 15 pleitos. Os comandos de greve dos três segmentos da UFF também reivindicam a suspensão do calendário acadêmico em virtude da greve de técnico-administrativos, professores e estudantes.

Na reunião do Conselho Universitário da UFF desta quarta-feira, 8, que foi acompanhada conjuntamente pelos três segmentos na sede da Aduff, os conselheiros reiteraram a preocupação com o orçamento da universidade, mas a suspensão do calendário como indicação ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEX) foi rejeitada numa votação acirrada.

A iniciativa não é inédita na universidade. Na greve docente de 2012, o então Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP) aprovou a suspensão do calendário letivo da UFF, seguindo o que fora indicado pelo Conselho Universitário em relação ao calendário e a greve.

Nesta quinta-feira, 9, técnico-administrativos, professores e estudantes farão pela manhã ato unificado em frente a Reitoria da UFF pela recomposição orçamentária e suspensão do calendário acadêmico, e a tarde seguem para o Ato Unificado da Educação do Rio de Janeiro. Eles já se organizam para estarem na próxima reunião do Cepex dia 15 de maio.