A comunidade viveu, nesta quinta-feira, dia 28, mais uma séria consequência do efeito dominó da asfixia financeira. Depois dos cortes do fornecimento de energia e água na semana anterior, com a suspensão de aulas, e a mira das empresas privadas LIght e Águas do Rio sobre os mais vulneráveis, como os moradores do alojamento e usuários do Restaurante Universitário, e prédios de aula, houve a séria possibilidade de paralisação de um enorme grupo de vigilantes da UFRJ diante da falta de salários.

A situação foi contornada – com o pagamento de uma mais uma parcela – a de setembro – por parte da UFRJ às empresas de segurança e a empresa (no caso, a Front) garantiu que pagaria os trabalhadores.  Segundo o pró-reitor de Patrimônio e Finanças, de fato no mesmo dia 28 a ordem bancária foi emitida com certeza para pelo menos as três maiores empresas: Front, Angels e Fênix. E hoje já deveria ter na conta das empresas para pagar os empregados. O que, de fato, aconteceu, como verificou a coordenação geral do Sintufrj.

Mas a situação foi contornada apenas por enquanto, porque pode ser que, de novo, no início de mês, conforme o atraso no pagamento se repita, as empresas aleguem que não tem como pagar, muita embora dentro do tal prazo contratual em que deveriam garantir o funcionamento..

O pró-reitor de Planejamento Orçamento e Finanças Helios Malebranche mostrou aos representantes dos vigilantes que estiveram em seu gabinete no dia 28, a gravidade da situação, apontando linha a linha de uma enorme planilha numa tela de computador.

Fotos: Renan Silva

O quadro se refere ao balanço de 13 de novembro e, para o fim do mês, a situação pouco mudou.

“Em amarelo estão algumas de nossas grandes contas e na parte verde do quadro estão em amarelo o início das pendências de empenho. Por exemplo, no caso da empresa Águas do Rio o último empenho se referiu ao mês de maio, tendo ocorrido em abril o último pagamento. Para as despesas deste ano precisamos de 166M (R$166 milhões), que somados a despesas de exercícios anteriores totalizam 186M (R$186 milhões). Na linha “ACUMULADO” verifica-se que desde março não temos condições de honrar com nossas despesas”, diz o informe da PR-3..

Veja os detalhes no gráfico a seguir:

Déficit de R$ 186 milhões e sem perspectiva de aumento do orçamento para 2025

O pró-reitor explicou que explicou que o projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2024, publicado nos sites governamentais, prevê basicamente o mesmo orçamento do ano passado, apenas corrigido. “Nós estamos preparando o detalhamento de como os nossos custos serão distribuídos no PLOA, para aprovação no Conselho Universitário agora em dezembro”, disse ele, esperando terminar até o final da semana uma proposta para encaminhar ao reitor na semana que vem. Sua ideia é apresentar a proposta na penúltima ou última sessão do Consuni do ano.

Como disse ao grupo de vigilantes e aos sindicatos que acompanharam a reunião, o problema da situação orçamentária da UFRJ não está na UFRJ: “Nós não somos donos do nosso orçamento”, disse, explicando que, apesar de tudo, as contas com a segurança, em termos de pagamento, são as que estão em melhor situação que todos os outros contratos, exceto o da alimentação estudantil, o único que está um mês a frente do contrato das vigilâncias. “Sobre toda essa situação caótica, nós somos sensíveis, mas está sendo gerada nesse momento pelas empresas. Nós estamos cumprindo as nossas obrigações contratuais. E solicitei o avanço de um mês para todas as empresas de segurança. Mas as empresas, assim como outras, não têm condições de suportar esse período previsto contratualmente. Se a gente para de pagar um mês, no mês seguinte, independentemente de qualquer contrato, ela não tem condição de funcionar”.

O reitor Roberto Medronho, constrangido pelo apelo dos vigilantes sem salários, não pretendeu, no Consuni, tirar a parcela de responsabilidade da UFRJ, mas reconheceu que parte é do governo federal, do Ministério da Educação que não atendeu a um pedido sequer de suplementação orçamentária. A não ser para a dívida com a Light, de R$ 35 milhões (e, diga-se, com uma parcela em breve a vencer da ordem de R$ 5 milhões): o relasse foi de R$ 1, 5 milhões. “É inaceitável esse tipo de dano à classe trabalhadora”, disse, retirando-se da presidência do Consuni para convocar a presença das empresas e tentar uma solução.

Na reunião, foi mais uma ves enfático: “Não é possível que continuemos sobrevivendo numa situação que os senhores não têm ideia do que é. Além de pensar a graduação, além de pensar a pós-graduação, além de pensar os avanços que nós temos, além de pensar um monte de coisas boas que estamos fazendo. Felizmente, chegamos a bom termo, mas não acabou. Nós ainda temos essa dívida”, comentou ao fim da reunião.

O coordenador do Sintufrj Esteban Crescente, no Consuni, alertou que o caminho dever ser o mesmo tomado quando dos ataques das empresas privadas Light e Águas do Rio, “Nessa ocasião, houve um chamado da Universidade e do reitor Roberto Medronho, para a resistência, contra esse ataque que nós vivemos. Chamou-se uma aula pública, nossos sindicatos e demais entidades que estão aqui na comunidade acadêmica atenderam ao chamado, e juntos resistimos, e eu queria saudar o reitor por essa iniciativa de resistência. Mas novamente, professor Medronho, a Universidade tem risco de não funcionar. Os trabalhadores que estão aqui hoje, estão há um mês sem salário, sem benefícios, Tem gente que está sendo despejada hoje. Porque não é só atraso desse mês, é a sequência de atrasos. Necessitamos de mais um chamado em defesa da universidade”, disse ele.

O coordenador da Fasubra Francisco de Assis apontou a necessidade de unificar a comunidade para enfrentar o problema, cuja raiz é mais profunda. “Muita gente não está se dando conta da gravidade. Temos que reunir forças e partir para o Congresso Nacional para enfrentar a questão do orçamento (o de 2025 ainda não foi aprovado) e os reflexos do arcabouço fiscal. Se a gente não ficar atento, vai errar na avaliação da conjuntura e nas ações a serem adotadas. Não se pode a todo momento ficar enxugando gelo. Este (o salário de outubro dos vigilantes) será mais um que a Reitoria vai enxugar. Daqui a alguns dias esse problema vai estar aí de novo”.

Médicos lideram a lista dos profissionais extraquadros demitidos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) a partir deste sábado, 30 de novembro. Ao todo, foram 178 trabalhadores desligados e que exerciam diversas funções. Desse total, 45 são médicos.
As demissões no HU que passou ao comando da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) há alguns meses foi informada de forma lacônica: Prezados, por decisão da Reitoria, os funcionários EQ das duas listas acima deverão ser desligados até 30/11. A partir de 01/12 não fazem mais parte do quadro da UFRJ e não receberão mais pelos dias trabalhados além desta data”.
Como o texto informa, a comunicação veio acompanhada de duas listagens com o nome e a função dos profissionais.
Num desabafo, um assistente social expõe a situação: “Os caras criam o caos administrativo, dispensam vários extraquadros sem fazer concurso suficiente pra repor as saídas”, disse.
“Faltam gaze, luva, remédio para quimioterapia… E temos que fazer vídeo fingindo felicidade. Registro aqui o absurdo a que chegamos”, afirmou.
Os extraquadros são profissionais que exerciam funções sem vínculo empregatício regular e que tinham a expectativa de serem aproveitados pela Ebserh.

O LISTÃO
• 45 Médicos
• 21 assistentes de administração
• 13 técnicos de laboratório
• 10 farmacêuticos
• 9 assistentes sociais
• 8 técnicos de enfermagem
• 8 auxiliares de administração
• 7 nutricionistas
• 6 técnicos de radiologia
• 6 fisioterapeutas
• 6 enfermeiros
• 6 auxiliares de enfermagem
• 5 fonoaudiólogos

• 4 psicólogos
• 4 secretários 4
• 3 biólogos
• 3 sanitaristas
• 3 técnicos em radiologia
• 2 biomédicos
• 2 técnicos em farmácia
• 1 técnico de radioterapia
• 1 Auxiliar de laboratório
• 1 técnico em eletrocardiografia
• 1 técnico em medicina nuclear
• 1 técnico em necropsia
• 1 técnico em patologia clínica
• 1 técnico em perfusão

Placa da Ebserh no HU.
Rio, 03-09-24
Foto Elisângela Leite

 

 

“Engajados na vida universitária, nós, Professores Eméritos abaixo-assinados, não poderíamos nos calar diante dos recentes cortes de fornecimento de energia e água pelas empresas concessionárias, que tornaram visível a grave crise em que foi lançada a Universidade Federal do Rio de Janeiro, submetida a uma crescente asfixia financeira”, diz trecho do documento assinado por 70 professores eméritos da UFRJ sobre os cortes orçamentários que as universidades federais vêm sofrendo nos últimos anos, conforme informou o representante do segmento no Conselho Universitário Ricardo Medronho.

Veja a íntegra a seguir:

 

NOTA_PÚBLICA_Eméritos_UFRJ_28nov24

 

NOTA PÚBLICA DOS PROFESSORES EMÉRITOS DA UFRJ  À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA E À SOCIEDADE
Engajados na vida universitária, nós, Professores Eméritos abaixo-assinados,
não poderíamos nos calar diante dos recentes cortes de fornecimento de energia e água
pelas empresas concessionárias, que tornaram visível a grave crise em que foi lançada a
Universidade Federal do Rio de Janeiro, submetida a uma crescente asfixia financeira.
Na verdade, esta crise se arrasta há muito anos, desde os governos Temer e
Bolsonaro.

A UFRJ, assim como toda comunidade universitária e científica brasileira,
tinha a expectativa e, até mesmo, a certeza de que o governo eleito em 2022, pelos
compromissos por ele assumidos, disponibilizaria de maneira decidida e urgente os
recursos indispensáveis tanto para saldar dívidas pendentes como para sanar carências
acumuladas por esta universidade no que diz respeito à manutenção de prédios e
laboratórios, à assistência estudantil e tantas outras.

As expectativas se frustraram, e a crise se aguçou. Em 28 de setembro de 2023,
o Conselho Universitário aprovou uma moção, em que apelava para uma suplementação
orçamentária, uma vez que “mantido o atual orçamento proposto na PLOA, a UFRJ
fechará no ano que vem”. (https://consuni.ufrj.br/images/atas/CONSUNI_230928.pdf)
A situação, portanto, já era crítica e de conhecimento não apenas da comunidade
universitária, mas também das autoridades governamentais. Passado um ano, porém,
assistimos consternados ao agravamento de uma crise que esperávamos ver
definitivamente superada. A asfixia orçamentária nos levou a uma dívida com a empresa
concessionária de energia elétrica de R$ 31,8 milhões, decorrente de faturas não pagas
em 2024, além de R$ 3,9 milhões em parcelas não quitadas de um acordo firmado em
2020.

A isso somam-se as dívidas com a concessionária do serviço de abastecimento de
água e com várias empresas contratadas para prestação de diferentes serviços. A
degradação de nossas instalações é visível, a exemplo da Escola de Educação Física e
Desportos, cujas aulas tiveram que ser deslocadas após o desabamento de um muro,
sinalizando gravemente vários outros riscos ainda não sanados.
Diante da emergência decorrente do corte de fornecimento de energia, o
Ministério da Educação veio a público, demonstrando, no entanto, sua insensibilidade ou
sua total incompreensão em relação ao que efetivamente se passa.

Após culpar os governos anteriores, omitindo que o orçamento de 2024, diferentemente do de 2023, foi
elaborado pelo governo atual, insinua que as dificuldades não seriam decorrentes da falta
de recursos, mas, sim, de problemas de gestão interna: “A gestão orçamentária e
financeira das universidades federais é pautada pela autonomia garantida pelo artigo
207 da Constituição Federal. Assim, as instituições têm total liberdade para definir suas
prioridades internas, incluindo a alocação de recursos, a gestão de contratos
terceirizados e a execução de projetos, conforme suas necessidades e diretrizes
institucionais.”
(https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/11/12/ufrj-tem
corte-de-energia-eletrica-por-inadimplencia-diz-light.ghtml).

Lamentavelmente, repete-se a mesma tentativa do governo anterior de imputar à
“má gestão interna” os problemas que enfrentamos. Caberia perguntar: com os parcos
recursos disponíveis, quais seriam as prioridades? Pagar o fornecimento de eletricidade
ou as bolsas dos estudantes pobres? Pagar o fornecimento de água ou a alimentação
estudantil? Assegurar serviços de segurança ou de limpeza?

No momento em que o cumprimento do teto de gastos, imposto pelo
eufemisticamente chamado “arcabouço fiscal”, é exigido pela grande imprensa
corporativa e são anunciados novos cortes nas despesas e investimentos nas áreas de
saúde, educação e direitos trabalhistas, a crise da UFRJ apenas denuncia a
irresponsabilidade daqueles que pretendem impor à nação a continuidade de políticas que
corroem nosso Estado e nossas instituições públicas, as universidades entre elas.
Sabemos que não faltam recursos ao Tesouro para atender às necessidades
básicas, à educação, à saúde, à cultura, à manutenção de um meio ambiente equilibrado,
à assistência social e a outros direitos sociais garantidos pela constituição e pela legislação
vigente.

Afinal, cerca de R$ 600 bilhões são dedicados anualmente a pagar uma dívida
pública constituída, em grande parte, de juros acumulados. Isso para não falar dos
orçamentos secretos ou dos R$ 647 bilhões (5,96% do PIB) distribuídos com
generosidade, em 2023, sob a forma de subsídios (https://www.gov.br/planejamento/pt
br/assuntos/noticias/2024/julho/apos-dois-anos-de-significativa-expansao-subsidios
concedidos-pela-uniao-apresentam-estabilidade-em-2023).

Por essas razões, nós, Professores Eméritos da UFRJ, juntamo-nos às vozes e
lutas de nossa comunidade universitária e de todos aqueles que sabem que as
universidades públicas, gratuitas, de qualidade e comprometidas com as necessidades do
povo brasileiro constituem fundamento essencial de qualquer projeto nacional digno deste
nome. Reivindicamos, com firmeza, que o governo cumpra os compromissos assumidos
com a educação, a ciência, a cultura e com a produção e a reprodução do conhecimento,
convocando associações científicas, colegas de outras universidades, assim como toda a
sociedade, para defender a integridade da universidade pública, como garantia do
presente e do futuro do Brasil.

Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2024

 

Adalberto Ramon Vieyra
Adelaide Maria de Souza Antunes
Ana Ivenicki
Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro
Antonio Carlos Campos de Carvalho
Antonio Carlos Secchin
Antonio Giannella-Neto
Beatriz Becker
Carlos Aguiar de Medeiros
Carlos Bernardo Vainer
Carmen Lucia Tindó Secco
Celina Maria Moreira de Mello
Consuelo da Luz Lins
Dinah Maria Isensee Callou
Djalma Mosqueira Falcão
Edson dos Santos Marchiori
Eduardo de Faria Coutinho
Elba Pinto da Silva
Erasmo Madureira Ferreira
Fernando Garcia de Mello
Francisco Radler de Aquino Neto
Gilberto Barbosa Domont
Hatsaburo Masuda
Helio dos Santos Migon
Henrique Murad
Hilton Augusto Koch
Jorge Almeida Guimarães
Jorge Fernandes da Silveira
José Egídio Paulo de Oliveira
José Luis da Costa Fiori
José Mauro Peralta
José Paulo Netto
José Roberto Lapa e Silva
José Sergio Leite Lopes
Liu Hsu
Luiz Antônio Constant Rodrigues da Cunha
Luiz Bevilacqua
Luiz Felipe Alvahydo de Ulhoa Canto
Manuel Domingos da Cruz Gonçalves
Marcello André Barcinski
Márcio Tavares d’Amaral
Marcos Roberto da Silva Borges
Maria Angela Dias
Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Maria Aparecida Lino Pauliukonis
Marieta de Moraes Ferreira
Marlene Soares dos Santos
Muniz Sodré de Araújo Cabral
Nei Pereira Junior
Nelson Francisco Favilla Ebecken
Nelson Maculan Filho
Nelson Velho de Castro Faria
Nubia Verçosa Figueiredo
Olaf Malm
Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho
Paulo Alcantara Gomes
Paulo Mascarello Bisch
Raquel Paiva de Araújo Soares
Ricardo de Andrade Medronho
Rudolph Trouw
Sandoval Carneiro Jr.
Segen Farid Estefen
Sonia Gomes Pereira
Takeshi Kodama
Talita Romero Franco
Teresa Cristina Cerdeira da Silva
Vera Lúcia Rabello de Castro Halfoun
Volney de Magalhães Câmara
Willy Alvarenga Lacerda
Yvone Maggie de Leers Costa Ribeiro