Documento aponta assédio sexual, moral e define prioridades para combater a discriminação

O estudo indica que a estrutura é feita para impedir o avanço profissional das mulheres – Paulo Carvalho – Agência Brasil

Casos de assédio moral e sexual, como a tentativa de um beijo por um juiz na antessala de uma audiência, tentativas de inviabilização do trabalho pelos chefes, exposição de familiares na imprensa e nas redes sociais para frear a atuação pública. Esses são algumas das situações presentes no parecer técnico “Violência Política e Institucional Contra Defensoras Públicas no Brasil”, que será lançado na próxima quarta (6), para discutir a violência de gênero praticada sistematicamente nos órgãos públicos do país.

documento obtido em primeira mão pelo Brasil de Fato é resultado de um estudo a partir de relatos coletados entre 2020 e 2021 de um grupo de trabalhadoras presentes na Coletiva Mulheres Defensoras, espaço com cerca de 200 representantes de todo Brasil.

A defensora pública geral do Pará, entre 2016 e 2020, Jeniffer Barros explica que o alegado combate à discriminação, por meio do concurso público, termina quando elas passam a almejar cargos de gestão. Os repetidos casos de violência política para impedir o acesso a cargos de poder por trabalhadoras é sinal dessa discriminação.

Ao se candidatar à posição que é escolhida pelo governador a partir de uma listra tríplice definida após um processo eleitoral interno, ela conheceu de perto essa realidade. Durante visita a uma comarca do interior como parte da campanha à defensoria geral, as perguntas não eram sobre projetos, mas para garantir que Barros conhecia conceitos primários, como o que era um orçamento, a diferença entre investimento, custeio e outros aspectos básicos ligados à gestão.

“Enquanto eu falava sobre estratégias que ia utilizar para buscar recursos, um colega disse que eu não iria conseguir, que era muito bonitinha, mas não seria possível. Antes de qualquer apresentação, eu precisava dedicar um tempo para justificar minha vida pessoal e demonstrar que tinha qualificação para esta ali”, lembra ela.

Outro exemplo de situação constrangedora e inapropriada foi relatado pela ex-presidenta da Associação dos Defensores e Defensoras Públicas do Paraná (Adepar) Thaísa Oliveira.

A visita ao gabinete de um parlamentar do Congresso Nacional, em 2017 rendeu marcas que carrega até hoje. Após ingressar na sala, foi orientada a se sentar, abrir as mãos e fechar os olhos.

“Eu agarrei a pessoa ao meu lado e fiquei sem reação até ele colocar um chocolate na minha mão. Deve ter sido um minuto que pareceram 10, mas você imagina ele fazendo o mesmo com um homem? Nessas horas pensamos que termos de ter jogo de cintura, porque não estamos ali apenas em nosso nome, mas no de 10 mil defensores e defensoras que representamos”, pontua Oliveira.

Abrir diálogo

O objetivo central do parecer é abrir canais de diálogo. Ao longo de 53 páginas, o material define o conceito de violência política, destaca porque ainda é pouco discutido no país, aborda normas e leis sobre igualdade de gênero desrespeitadas e traz depoimentos anônimos para preservar a identidade das defensoras. Mas capazes de ilustrar os desafios das mulheres em ocupar espaços públicos no país.

As trabalhadoras pretendem, dessa forma, promover ações concretas de enfrentamento à violência de uma maneira que possa ir além das discussões internas. Para isso, o parecer apresenta ainda sete medidas de defesa da igualdade como cotas para cargos na administração superior e a realização de fóruns, campanhas e seminários.

Advogada, pesquisadora e uma das responsáveis pelo documento, Roberta Eugênio acredita que, às vésperas das eleições, o debate sobre essa forma de violência é essencial para incluir o tema na agenda de candidatos e candidatas.

“Definir essa forma de agressão especificamente é fundamental para que tenhamos uma agenda pública para tratamento de um problema que não se combate apenas com a judicialização. Precisamos pensar em ações mais amplas e estruturadas no interior dos órgãos para mudar essa realidade”, afirma.

Com o lançamento do parecer também será criado um canal no Instagram para receber denúncias e acolher as defensoras vítimas de violência. Uma das preocupações das trabalhadoras é a formação de redes de amparo, ideia que pode naufragar se não considerar critérios como gênero e posição hierárquica.

A ideia é que não adianta você ter comitês se eles são formados por homens que ocupam cargos de poder e, portanto, inibem as denúncias, já que muitos deles são os próprios executores dos abusos

Desigualdade em números

Apesar de maioria no serviço público brasileiro, 59% das funcionárias, as mulheres recebem 25% a menos do que os homens, de acordo com a Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2018.

Enquanto os servidores recebem, em média, 5,2 salários mínimos por mês, uma mulher ganha 3.9 salários. Um fator que pode ser explicado pela presença das trabalhadoras em áreas onde são maioria, como educação (80%) e saúde (85%).

Diante disso, o Índice brasileiro de Paridade Política no Poder Judiciário é de 21,7 em um possível pontuação máxima de 100, o que demonstra a baixíssima presença de mulheres nos cargos de maior poder e decisão.

Uma desigualdade expressa desde a raiz, conforme identifica o relatório Atenea produzido pela ONU Mulheres e PNUD Brasil, em 2020, no qual as mulheres são quase metade das advogadas do país (49,2%), mas entre os magistrados, apenas 35,9% são do gênero feminino.

Apenas em agosto de 2021, o Brasil teve promulgada a primeira legislação que dispõe sobre normas para enfrentar e prevenir a violência contra as mulheres na política, a Lei 14.192, considerada pouco abrangente e que não incluí mulheres transexuais, por exemplo.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

 

Da Redação em 04 de Abril de 2022 – Bafafá
Rede Afro-Carioca de Turismo — Rio: a Pequena África Brasileira reunirá circuitos turísticos relacionados à cultura negra na cidade e oferecerá atividades profissionalizantes a guias comunitários.
Os roteiros deverão ter base comunitária e incluirão terreiros, pontos de gastronomia negra, quilombos, rodas de samba, grupos e centros de capoeira, funk, maracatu e outras danças afro-brasileiras. Também poderão fazer parte blocos carnavalescos, escolas de samba, rodas de rima e projetos ligados às artes visuais, cinema, teatro, literatura e favelas.
O projeto é da Secretaria de Governo e Integridade Pública, por meio da Coordenadoria Executiva de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com a Secretaria Municipal de Turismo e a Riotur.
– O Rio é uma cidade que vive, pulsa e exala sua negritude. A cultura negra é um dos principais elementos formadores da identidade carioca, e diversas instituições da sociedade civil a têm resguardado por meio de projetos de turismo comunitário. A Rede Afro-Carioca vem assegurar o amparo do poder público a estas iniciativas. Queremos mostrar que a Cidade Maravilhosa vai muito além do eixo Centro-Zona Sul: nossos subúrbios, nossas vielas também são turísticos – destaca o coordenador executivo de Promoção da Igualdade Racial, Jorge Freire.
Além de identificar, mapear e divulgar os circuitos turísticos, a Prefeitura também oferecerá atividades de profissionalização para os guias comunitários que atuam nas instituições membros da Rede, por meio da Secretaria Municipal de Turismo. O objetivo da ação é estimular a geração de renda e instrumentalizar a população que atua com o turismo comunitário.
– A Rede Afro-Carioca de Turismo permite valorizar e divulgar ao carioca e ao visitante todos os nossos pontos conectados à herança africana. Isso descentraliza nosso turismo e gera emprego e renda no subúrbio. Além disso, os locais irão se fortalecer mutuamente e nossa secretaria irá apoiar com capacitação aqueles que recebem os turistas em cada espaço. Esse projeto está sendo desenvolvido desde o ano passado e continuará como tarefa da Setur em parceria com a Segovi – ressalta o secretário municipal de Turismo Antônio Mariano.
O programa se inicia já com 48 instituições cadastradas. A partir deste mês, a Prefeitura realizará um cadastro contínuo de outras iniciativas interessadas em fazer parte da Rede. Tanto este processo como os critérios para a participação serão regulamentados por uma resolução que será publicada em até 30 dias.
– Reconhecer o lugar da cultura negra na formação, tanto geográfica como identitária, de nossa cidade é o primeiro passo para fomentar as potencialidades que estão presentes nos mais diversos cantos do Rio, mas que, muitas vezes, escapam aos holofotes. O turismo comunitário pode ser um grande motor do nosso município, desde que receba os incentivos necessários. É isto que a Prefeitura busca com a criação desta rede, que tem tudo para ser uma grande fortalecedora da economia criativa e da pujança cultural de nossas ruas –  afirma o secretário municipal de Governo e Integridade Pública, Tony Chalita.
Fonte: Prefeitura do Rio

Valor do piso nacional do magistério, definido pelo novo Fundeb – uma luta da categoria – e aprovado pelo Congresso Nacional, ainda não está sendo pago por governadores e prefeitos

Em 1.185 dias como presidente, Bolsonaro deu 5.145 declarações falsas ou distorcidas, segundo levantamento do site Aos Fatos

 Publicado: 01 Abril, 2022 – 15h23 | Última modificação: 01 Abril, 2022 – 15h46 |

REPRODUÇÃO

Desde que assumiu a presidência da República, em 1º de janeiro de 2019, até esta quinta-feira (31), portanto com 1.185 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL), mentiu – ou deu declarações distorcidas – 5.145 vezes, o que dá uma média de mais de 4,35 lorotas presidenciais por dia.

O levantamento, atualizado periodicamente, foi feito pelo Aos Fatos, site jornalístico independente de verificação de fatos, criado em julho de 2015 com o objetivo de verificar o que é falso e o que é real em discursos políticos.

Neste 1º de abril, conhecido como dia da mentira, os internautas estão lotando as redes sociais com comentarios sobre o tema associado a hashtag #BolsonaroDay. No Twitter, o assunto ficou entre os mais comentados na manhã desta sexta-feira.

Confira aqui algumas publicações selecionadas pela equipe da RBA.

Qual a maior mentira de todas?

A mentira sobre o fim da corrupção no governo é a primeira no ranking das inverdades ditas pelo presidente desde janeiro de 2019, quando tomou posse, segundo o site Aos Fatos.

Esta semana, depois da explosão do escândalo de cobrança de propina e até ouro em troca de verbas para o ensino no Ministério da Educação (MEC), Bolsonaro repetiu pela 191ª vez a mentira de que no seu governo não tem corrupção.

Ele chegou a dizer que colocaria não apenas a mão, mas a cara no fogo pelo ministro-pastor Milton Ribeiro, que acabou pedindo demissão do cargo. E após a exoneração do amigo, continuou mentindo.

“Tenho certeza que cada vez mais estaremos levando o Brasil para aquilo que é certo. Acabou o tempo da demagogia, da mentira e da corrupção”, disse nesta quarta-feira.

O site lembra alguns casos de corrupção de Bolsonaro, govenro e familia, confira:

. o caso de sua funcionária fantasma Wal do Açaí, que levou o O Ministério Público Federal a entrar com uma ação na Justiça contra o presidente por improbidade administrativa

. denúncias foermais contra todos os familiares do presidente, inclusive de formação de quadrilha.

. Denúncias de corrupção contra ministros e aliados.

Analistas afirmam que Bolsonaro trabalha para interferir na autonomia das instituições, como a Polícia Federal (PF), e enfraquecer os órgãos de controle como a Controladoria Geral da União (CGU), criada pelo ex-presidente Lula.

O Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), por exemplo, registrou no ano passado, o menor porcentual de demandas feitas pelos órgãos de controle para o tema corrupção ante outros ilícitos na comparação com dados desde 2014, quando teve início a série histórica, segundo o jornal O Estado de S Paulo.

E no ano passado, diz a Folha de S. Paulo, Bolsonaro cortou verba que seria destinada pelo Coaf à modernização do seu principal instrumento de identificação de crimes como corrupção lavagem de dinheiro.

 

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

Pastores são suspeitos de intermediar a distribuição de verbas da pasta para prefeituras em troca de propina

Caroline Oliveira | Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em seu depoimento à PF, Ribeiro disse que Bolsonaro “realmente pediu para que o pastor Gilmar [um dos pastores] fosse recebido” – Reprodução/Twitter
ex-ministro da Educação Milton Ribeiro confirmou em depoimento à Polícia Federal que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu pastores lobistas suspeitos de intermediarem a distribuição de verbas do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) para prefeituras em troca de propina.

Ribeiro disse à PF nesta quinta-feira (31), entretanto, que não houve qualquer tipo de beneficiamento para os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. O depoimento faz parte das diligências do inquérito aberto por ordem da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

:: “Cara no fogo”: fala de Bolsonaro sobre Milton Ribeiro viraliza; veja repercussão da demissão ::

Em um áudio vazado pela imprensa em 21 de março, Ribeiro afirma que priorizava destinar recursos para as prefeituras cujas solicitações foram negociadas pelos pastores, a pedido do presidente Bolsonaro. Ambos não têm cargo no Ministério da Educação e atuam em um esquema informal de obtenção de verbas.

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar. (…) Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, diz o ministro em áudio.

Bolsonaro troca ministro da Educação pela quarta vez após denúncias de corrupção contra Ribeiro; na foto, o ex-ministro durante posse no Palácio do Planalto / Clauber Cleber Caetano/PR

Em seu depoimento à PF, Ribeiro disse que Bolsonaro “realmente pediu para que o pastor Gilmar fosse recebido, porém isso não quer dizer que o mesmo gozasse de tratamento diferenciado ou privilegiado na gestão do FNDE ou MEC”. Ele negou que houvesse “qualquer ingerência no FNDE”.

Ele também afirmou que o conteúdo publicado do áudio gravado foi tirado de contexto. “Aquela afirmação, a da gravação, foi feita como forma de prestigiar o pastor Gilmar, na condição de líder religioso nacional, não tendo qualquer conotação de enfatizar os amigos do pastor Gilmar teriam privilégio junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação-FNDE ou Ministério da Educação”, disse.

O ex-ministro disse, inclusive, que “não tinha conhecimento que o pastor Gilmar ou o pastor Arilton supostamente cooptavam prefeitos para oferecer privilégios junto a recursos públicos sob a gestão do FNDE”.

Investigação

Além de determinar a abertura da investigação, a ministra Cármen Lúcia aceitou o pedido da PGR para que Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura sejam ouvidos, além de prefeitos que denunciaram os supostos pedidos de propina em troca de verbas.

Em sua decisão, a ministra afirmou que “a gravidade do quadro descrito é inconteste e não poderia deixar de ser objeto de investigação imediata, aprofundada e elucidativa sobre os fatos e suas consequências, incluídas as penais”.

A ministra disse ainda que “as circunstâncias expostas, que evidenciariam ocorrência de práticas delituosas a serem apuradas com o prosseguimento de ação penal pública incondicionada, tornam indispensável, segundo a manifestação do Ministério Público, o aprofundamento da investigação dos noticiados crimes”.

Cármen Lúcia também determinou que o Ministério da Educação e a Controladoria-Geral da União (CGU) enviem esclarecimentos sobre o cronograma e os critérios de distribuição de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

No pedido enviado ao STF, o procurador-geral Augusto Aras justificou que é necessário investigar se os envolvidos cometeram “os delitos de corrupção passiva privilegiada (art. 317, § 2- do Código Penal), prevaricação (art. 319 do Código Penal), advocacia administrativa (art. 321 do Código Penal) e tráfico de influência (art. 332 do Código Penal)”, escreveu o procurador-geral. O PGR, no entanto, não incluiu o presidente Bolsonaro em seu pedido.

Edição: Vivian Virissimo

 

 

A insatisfação do funcionalismo público com o governo Bolsonaro é geral e a expectativa se volta para esta sexta-feira, 1º de abril, data marcada pelo pelo Ministério da Economia para responder sobre abertura de negociações. Os servidores querem reposição salarial emergencial de 19,99%.

A Jornada de Lutas já reúne milhares de servidores públicos federais em Brasília. É o Ocupa Brasília que desde segunda-feira, 28, reúne caravanas de todas as regiões do Brasil, realizando atividades e marchas, fortalecendo uma vigília permanente em frente ao Ministério da Economia instalada desde o dia 17 de março. O prazo dado pelo Ministério da Economia para responder as reivindicações das entidades representativas dos servidores foi para esta sexta-feira, dia 1º de abril. O Sintufrj participa da Jornada de Lutas com uma delegação representando a categoria.

No primeiro dia, 29, houve ato pela manhã em frente ao Ministério da Educação (MEC) junto com estudantes. Neste dia foi cobrada a investigação de Bolsonaro na farra de recursos do MEC. No segundo dia, 30, centenas de servidores ocuparam o canteiro central do espaço do servidor (entre os blocos C e D da Esplanada dos Ministérios), e caminharam até o Ministério da Economia com paradas no Ministério da Saúde e Previdência. Nesta quinta-feira, 31, fizeram ato no Anexo do Senado e depois foram para a vigília em frente ao Ministério da Economia.

As caravanas ocupam a capital federal sinalizando como o maior ato unificado do funcionalismo público em 2022. O objetivo das mobilizações é pressionar o governo a abrir negociações efetivas com o funcionalismo. Há mais de cinco anos os salários dos servidores estão congelados e vêm sendo corroídos pela inflação. Só em três anos de governo Bolsonaro o percentual de perdas é de 19,99%.

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, foi exonerado do cargo para se candidatar a deputado federal por São Paulo. A exoneração saiu no Diário Oficial da União, nesta quinta-feira, dia 31. Se foi mais um preposto de Bolsonaro na sanha de destruir direitos e políticas públicas. Resta saber quem o substituirá.

A Fundação Cultural Palmares foi criada há 31 anos furto da luta do movimento negro para promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos originados da influência negra na formação da sociedade.  Só que Camargo, presidente desde 2019, foi na contramão de tudo isso: militante de direita, nega a existência de racismo, contesta a necessidade de reparação histórica em decorrência da escravidão e critica, inclusive, o Zumbi dos Palmares que dá nome a fundação, um dos grandes nomes da história, líder do maior e mais duradouro quilombo que resistiu, durante quase 20 anos, às investidas dos portugueses.

“Mimimi”

Entre as dezenas de declarações ofensivas, avaliou que o racismo é um mimimi de vagabundos esquerdistas e a escravidão foi “benéfica”. Deixou frases como “orgulho de cabelo é ridículo para negro” e “máquina zero obrigatória para a negrada”.

Segundo a revista Fórum, a exoneração vinha sendo defendida por assessores de Bolsonaro como uma correção de rumo, como manobra para reduzir a diferença nas pesquisas de intenção de voto em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A gota d’água teria sido o ataque a Moïse Kabagambe (imigrante congolês agredido até a morte, em fevereiro, no quiosque Tropicália, na Barra) que, segundo ele, “era um vagabundo morto por outros vagabundos” e que sua vida indigna foi determinante para o assassinato.

“Ele (Camargo) é um parasita que se diz negro. Não é um ser humano. Se fosse, deveria ter um pingo de respeito e dignidade para falar assim sobre uma pessoa que foi brutalmente assassinada. Tem que expulsar esse parasita do cargo que está ocupando”, disse o presidente do grupo Comunidade Congolesa no Brasil, Fernando Mupapa.

Desserviço

“Esse sujeito foi um desserviço para o movimento negro. Ele foi a pessoa que criou a medalha para dizer que não existe racismo no Brasil e homenagear homens brancos, mas retirou a homenagem da Fundação a personalidades como Benedita da Silva e Gilberto Gil. Disse uma série de absurdos. E é essa pessoa que vai sair para concorrer a outro cargo público? A gente tem que denunciar. Nem a família reconhece a relevância dele para qualquer cargo, assim como o movimento negro”, apontou a coordenadora do Sintufrj, Noemi de Andrade.

Em dezembro de 2020, a Fundação Palmares publicou nota excluindo 27 nomes de personalidades de sua lista de homenageados, entre eles, além de Benedita e Gil, a escritora Conceição Evaristo e os cantores Elza Soares e Martinho da Vila.

O seu irmão, o músico Marcos Munrimbau, em entrevista à imprensa, em agosto de 2021, classificou como “perversidade” o posicionamento do irmão, falar em vitimização dos negros no Brasil, que não é um país de oportunidades para os negros”.

. E disse que quer ser lembrado pelo legado do pai e não por ser irmão de Sérgio. Eles são filhos da líder comunitária Florence Nascimento de Camargo e do escritor Oswaldo de Camargo. Grande nome da literatura brasileira, em 2020, Oswaldo de Camargo falou à TV Cultura sobre os posicionamentos do filho. “Essa atitude dele, de fato, me espantou. Eu tenho uma crença absoluta de que é necessário lutar pelo negro. Eu tenho convicção que meu dever, e o dever dos meus filhos, é se interessar pela questão negra porque, em alguns aspectos, eles foram beneficiados pela luta do pai”, disse.

Nesta próxima sexta-feira (01 de abril), a partir das 16h acontece o Ato Público “Ditadura Nunca mais”, na av. Rio Branco – em frente à Estação Carioca, no centro do Rio de Janeiro. O ato é iniciativa de entidades que lutam por memória, verdade, justiça e reparação. O Objetivo da ação é cobrar por justiça, para que todos os torturadores da ditadura militar sejam punidos. Há 58 anos, soldados comandados pelo general Mourão Filho, num ato de traição ao Presidente João Goulart, marcharam em direção ao Rio de Janeiro, iniciando o golpe militar que durou duas décadas no Brasil.

“Ditadura Nunca Mais, por memória, verdade, justiça e reparação. Punição a todos os assassinos e torturadores. Não esqueceremos jamais. Num momento político delicado de nosso país, quando em muitas instâncias de poder, e mesmo em parcelas da nossa sociedade, impera a cultura do ódio, da violência, da intolerância, da exclusão e do medo, as entidades e coletivos comprometidos com a verdade, justiça e reparação voltam às ruas para clamar por ‘Ditadura nunca mais’ e por ‘Reinterpreta Já STF’. Parem de matar a nossa juventude negra nas favelas e fora Bolsonaro”, diz Orlando Guilhon do Coletivo Fernando Santa Cruz. 

De acordo com o levantamento do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada, o Brasil tem recorde de 30% dos desempregados em busca de trabalho há mais de 2 anos. É o maior percentual desde 2012, ano em que a pesquisa iniciou.

Até agora, a desastrada gestão pública de enfrentamento da Covid-19, cercada de deúncias de corrupção e descaso já chegou ao absurdo número de 660 mil vidas perdidas. Hoje, como ontem, o povo reage nas redes, nas ruas, nas instituições! Basta de Genocídio! Vamos juntos firmar nossos direitos! Ditadura nunca mais!”, conclui os organizadores do ato. 

A Ditadura militar aconteceu por 21 anos, teve início em 1964, com um golpe militar que destituiu da presidência o então presidente João Goulart. A ditadura impôs ao povo brasileiro um regime autoritário, baseado na repressão, medo, terror e ódio. Com isso, órgãos como: imprensa, manifestação artística e culturais foram censurados. Lideranças foram mortas e outros ficaram desaparecidos. 

Com o governo Bolsonaro, desde 2018, algumas dessas situações voltaram à tona, como por exemplo, a tentativa de calar a imprensa e as lideranças comunitárias, cerceando a liberdade de expressão no país. Já são inúmeras tentativas de censurar a imprensa e manifestações culturais desde as formas mais sutis, como o corte de verba para determinados setores, como com ações mais violentas. Soma-se a isso o ataque a direitos dos trabalhadores, da ciência e política. 

O governo Bolsonaro, atravessou a pandemia, e se revelou um governo negacionista, contra a ciência. Em agosto de 2020, ano do início da pandemia da covid-19, Jair Bolsonaro, zombou da ciência negando a epidemia que, para ele, se tratava de uma gripezinha. Depois, incentivou o uso do kit para tratamento precoce, contra todas as afirmações de sua eficácia divulgadas por todas as entidades da saúde e culminou em insitir junto a seus apoiadores que a eficácia do uso da máscara é praticamente zero. Na ocasião, o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro e votou pelo  uso obrigatório da máscara e obrigatório em áreas públicas em todo o território nacional.

Antes, logo no início do seu governo, Bolsonaro já dava o tom das perseguições e de suas atitudes de um poklítico de direita, ao enaltecer um torturador. Em 2019, Bolsonaro classificou como herói o coronel Brilhante Ustra, torturador que chefiou o DOI-Codi, divisão de repressão e inteligência da ditadura, entre 1970 e 1974. Ustra foi o primeiro militar condenado por crimes cometidos durante o regime. 

Diversas lideranças políticas e comunitárias estão divulgando o ato desta sexta-feira e convocando a todos e todas para a manifestação, na avenida Rio Branco, em frente ao Largo da Carioca, às 16h, no Centro do Rio de Janeiro.

 

 

 

De acordo com a Pnad Contínua, divulgada nesta quinta-feira, 38 milhões de trabalhadores estão  na informalidade, sem direito sequer ao descanso semanal remunerado

Publicado: 31 Março, 2022 – Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

ROBERTO PARIZOTTI (SAPÃO)

A taxa de desemprego do trimestre móvel de dezembro de 2021 a fevereiro de 2022 ficou em 11,2% e atinge 12 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta quinta-feira (31), pelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de informalidade da população ocupada (95,2 milhões de pessoas) foi de 40,2%. Isso significa que 38,3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras atuam como informais, sem direito ao descanso semanal remunerado, férias, 13º salário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) ou previdência social.

A taxa informalidade é composta por dados relacionados aos trabalhadores sem carteira assinada, os empregadores e trabalhadores por conta própria sem CNPJ e o trabalhador familiar auxiliar.

O número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada no setor privado foi de 34,6 milhões de pessoas.

Já o total de trabalhadores contratados pela iniciativa privada sem carteira assinada foi de 12,3 milhões.

O número de trabalhadores por conta própria é de 25,4 milhões de pessoas.

Renda média é a menor para o trimestre

O rendimento médio real do trabalhador brasileiro,  estimado em R$ 2.511, ficou estável em relação ao trimestre anterior (R$ 2.504) mas, embora tenha parado de encolher, foi a menor renda média do trabalho já registrada em um trimestre encerrado em fevereiro desde o início da série histórica da pesquisa, em 2012.

Outros números:

. Brasil tem 4,7 milhões de trabalhadores desalentados (pessoas que desistiram de procurar trabalho depois de muito tentar e não conseguir;

. a população subutilizada foi estimada em 27,3 milhões de pessoas;

. o total de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas somou 6,6 milhões de pessoas;

 

 

MP do governo abre brecha para fim do benefício fiscal do Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT) às empresas que produzem e fornecem refeições em seus próprios refeitórios, prejudicando os trabalhadores

Publicado: 31 Março, 2022 – Escrito por: Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz

NALU VACCARIN / MGIORA

Se o Congresso Nacional aprovar a Medida Provisória (MP) nº 1.108/22 do governo de Jair Bolsonaro (PL), trabalhadoras e trabalhadores de empresas que fornecem refeições podem perder esse benefício.

A MP muda as regras para o uso dos tíquetes, ou vales, refeição e alimentação com o aparente objetivo de evitar que sejam destinados a outras formas de consumo que não seja a alimentação. Mas, o que deveria ser apenas um controle maior no uso desse benefício, na verdade, embute uma nova perda de direitos ao trabalhador.

Entenda por quê

O governo incluiu um dispositivo na Lei nº 6.321/76 que abre uma brecha para o fim do benefício fiscal do Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT) às empresas que produzem e fornecem refeições em seus próprios refeitórios, deixando o trabalhador na mão, caso esse benefício não esteja incluído no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).

“A empresa não é obrigada a oferecer refeição, nem os vales, se não estiver no ACT, mas na hora de renovação este será um item que terá de ser negociado novamente”, explica o secretário de Assuntos Jurídicos da CUT Nacional, Valeir Ertle.

O dirigente acredita que até os empresários são contra o fim das refeições nos locais de trabalho por pelo menos duas razões. “A primeira é que muitas empresas ficam longe dos centros urbanos e o trabalhador utiliza sua hora de almoço entre a refeição e um breve descanso antes de voltar à sua atividade“.

“A segunda razão é que este benefício é importante porque a empresa reduz integralmente o valor gasto com refeição aos trabalhadores no Imposto de Renda. Se tirar esse benefício fiscal, as empresas vão cortar do trabalhador”, ressalta Valeir.

Segundo o dirigente, a CUT vai “brigar” na próxima reunião do Conselho Nacional do Trabalho (CNT)  para que o governo faça emendas que retirem o risco de perda do benefício. Ainda não há uma data para a reunião, mas ela deve ocorrer até maio.

“Vamos ter que clarear essa questão, pois antes nós tínhamos o controle dos gastos das empresas com este benefício quando havia o Conselho do PAT, do qual a CUT também fazia parte, que Bolsonaro encerrou quando assumiu o governo em 2019”, conclui Valeir.

O que diz a MP sobre o uso dos vales alimentação e refeição

Analisando o texto da MP, os advogados do Escritório LBS, que atendem a CUT Nacional, explicam que a norma estabelece que o auxílio-alimentação apenas deve ser gasto com refeições em restaurantes e estabelecimentos similares ou para aquisição de gêneros alimentícios em estabelecimentos comerciais como supermercados, por exemplo.

Na hipótese de utilização equivocada do auxílio-alimentação, é cabível aplicação de multa aos empregadores ou empresas emissoras dos tíquetes/cartões alimentação.

Há ainda a possibilidade de multa, inclusive se houver credenciamento de estabelecimento que comercializa produtos não relacionados à alimentação do trabalhador.

Além da previsão de multas, as empresas poderão ter cancelada a inscrição de pessoa jurídica beneficiária ou do registro das empresas vinculadas aos programas de alimentação do trabalhador no Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) e a perda do incentivo fiscal.

A MP tem validade por 60 dias e pode ser prorrogada por mais 60 dias. Caso não seja votada por deputados e senadores, dentro do prazo ela caduca.