Companheiras e companheiros: conforme ocorre todos os anos, lembramos que em dezembro o desconto para o Sintufrj será de 2% (dois por cento). 

São duas prévias salariais: 

O desconto para o Sintufrj vem na primeira prévia salarial e, na segunda, os descontos pertinentes ao 13º, como o INSS e IR. 

Saudações sindicais 

 

Direção do Sintufrj – Gestão Ressignificar 

Na Câmara dos Deputados, PL propõe socorro de R$ 1 mil durante um ano; proposta aguarda votação em comissão

Matéria retirada do Brasil de Fato

As chuvas que caíram no Pantanal nas últimas semanas não foram suficientes para aliviar a tensão de moradores atingidos pelas queimadas que chocaram o país. O período mais crítico do fogo já teria sido superado, mas alguns pontos da região ainda tentam administrar os incêndios, que atingiram 4,1 milhões de hectares do bioma entre janeiro e outubro. Os dados são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pelo menos 28% do Pantanal foram devastados pelo fogo, de acordo com cálculos do Instituto SOS Pantanal.

Como consequência dessa matemática, nesta primeira quinzena de novembro, diversas comunidades ainda contabilizam e lamentam o prejuízo provocado pelas chamas. Os números se materializam em contextos como o dos indígenas guatós, que vivem na região dos municípios de Poconé (MT) e Barão de Melgaço (MT). As duas cidades estão entre as mais de 90 afetadas pelo fogo nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Começou a cair alguma chuva, a encher o rio, mas a água está muito suja, não é potável

No território da comunidade, os moradores cultivavam vegetais como banana, mandioca, abacaxi, batata, cana-de-açúcar, entre outros destinados não só ao sustento das 80 famílias locais, mas também ao comércio, o responsável pela geração de renda dos nativos. Agora, a lavoura virou terra arrasada, tanto no solo quanto no coração de quem dela vivia.

“Isso foi tudo devastado com o fogo. A [questão da] água também. Começou a cair alguma chuva, começou a encher o próprio rio, mas a água está muito suja,  não é uma água potável. Isso já tem causado alguns problemas de dor no estômago, diarreia nas pessoas”, descreve a presidenta da Organização de Mulheres Indígenas de Mato Grosso, Alessandra Guató.

Ela afirma que os moradores estão vivendo de doações de alimento e ainda aguardam outras consequências do alastramento das chamas, que fizeram pelo menos 86 municípios decretarem estado de emergência. “Na hora em que encher todo o campo [de água], os peixes vão morrer, porque tudo queimou por aqui. Os impactos não são só os de agora. Infelizmente, vamos vivenciar isso por muito tempo ainda”, projeta a dirigente, que há 38 anos vive no local e diz jamais ter visto os focos de calor e fogo atingirem esse nível.

Com a questão da seca, das queimadas, houve uma devastação da matéria-prima, e isso impacta diretamente a vida das famílias

Dono de uma pequena propriedade rural em Poconé (MT), o produtor Salvador Soltério de Almeida ajuda a descrever o caos em que se encontram muitos dos seus conhecidos na região. Ele conta que lhe chamou a atenção o estado de uma comunidade local que tem uma pequena produção de farinha de mandioca.

“Hoje a produção deles caiu completamente. Com a questão da seca, das queimadas ao redor, houve uma devastação da matéria-prima, e isso impacta diretamente a vida das famílias. Com isso, diminuiu a renda econômica, num momento em que o país passa por uma série de problemas, com inflação alta, com combustível subindo. Houve um empobrecimento do povo da região”, observa Almeida.

Almeida defende uma forte atuação estatal na região para ajudar a socorrer as comunidades e tirar a economia local do vermelho. “É importante ter linha de crédito também. O sistema crediário ainda é muito burocrático. Neste momento, com a problemática do fogo, o crime ecológico e a devastação, teria que ter incentivo nesse sentido”, advoga o produtor rural, que diz ter sido indiretamente impactado pelas chamas.

Socorro emergencial

Agora, com a piora da crise socioeconômica na região, a população conta com a possibilidade de receber um auxílio emergencial do governo federal. A ideia ganhou corpo na Câmara dos Deputados por meio do Projeto de Lei (PL) 5009/2020, assinado pelos mais de 20 parlamentares da comissão externa que cuida do enfrentamento às queimadas.

Leia também: O que passou na “boiada” de Ricardo Salles durante a pandemia?

Cunhada a partir de audiências públicas que colheram relatos de moradores prejudicados pelo fogo, a proposta prevê a concessão de um socorro de R$ 1 mil a esses trabalhadores. De acordo com o texto, a verba para sustentar o benefício teria a mesma fonte de recursos do auxílio emergencial nacional, o primeiro a ser aprovado, em março deste ano. O recurso faz parte do chamado “orçamento de guerra” autorizado pelo Legislativo para o período da pandemia. “Trata-se de uma despesa que respeita os parâmetros de responsabilidade fiscal”, ressalta o PL.

A ideia é que o benefício seja liberado durante o período de um ano para indígenas, ribeirinhos, integrantes de comunidades remanescentes de quilombos, pescadores artesanais e trabalhadores de outras comunidades tradicionais pantaneiras. Assentados da reforma agrária e demais agricultores familiares também seriam contemplados, em caso de aprovação da proposta.

Em todo o Pantanal, mais de 10 mil minifúndios foram queimados. Na média, 80% [da área] das propriedades queimaram

Estatísticas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostram que 92% das pequenas propriedades do bioma foram atingidas. O percentual significa que são mais de 4.800 pequenas áreas majoritariamente afetadas pelos incêndios.

“Em todo o Pantanal, mais de 10 mil minifúndios foram queimados. Na média, 80% [da área] das propriedades queimaram. Animais morreram, se intoxicaram com a fumaça, plantações de castanha queimaram. As pessoas ficaram sem nada, então, tem a dor emocional e tem a perda material que essas pessoas agora têm que reconstruir. Pra isso, eles precisam desse auxílio pelo menos pro próximo ano”, argumenta a deputada federal Rosa Neide (PT-MT), que mora em Cuiabá (MT), a 60 km do ponto onde iniciaram os incêndios.

Signatária do PL e presidenta da comissão externa, ela antecipa que o colegiado conseguiu agendar uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o próximo dia 19. O objetivo é negociar a colocação do projeto em votação no plenário. “Esperamos que isso seja encaminhado com maior agilidade”, finaliza.

 

A partir dos próximos concursos para professores na UFRJ haverá reserva de vagas para negros, pardos e pessoas com deficiência em todas as unidades acadêmicas. Essa decisão foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni) em outubro ampliando a ação de políticas afirmativas na universidade.

“As modificações dão maior efetividade às cotas”, afirma a professora Cristina Miranda, representante dos Professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Consuni. Segundo ela, porque permitem que as cotas nos concursos docentes atinjam todas as unidades e não apenas aquelas onde havia maior número de vagas para concurso. 

A decisão, acrescenta Cristina, contempla especialmente as unidades onde é menor o percentual de professores negros e negras, e com deficiências. O Colégio de Aplicação (CAp) foi citado por ela como exemplo. A unidade incluiu as cotas em seus editais de acesso de alunos nos últimos anos, mas ainda não havia conseguido aplicar a política de cotas nos concursos docentes. 

Reparação histórica

 “A Resolução do Consuni é um passo bastante importante para a UFRJ na reparação histórica necessária aos negros e negras, e no caminho de uma política efetivamente inclusiva. Sobretudo num momento de governos negacionistas e de ações como a do presidente da Fundação Palmares de apagamento da história”, afirma Cristina.

De acordo com o representante dos estudantes no Consuni e diretor do Diretório Acadêmico Mário Prata, João Pedro Paula, a política de cotas na UFRJ para professores negros era inexistente. “Estava escrito, mas era uma lei para inglês ver. Agora, com essa mudança (Resolução aprovada no colegiado máximo da instituição) temos de fato uma política efetiva, porque serão consideradas todas as vagas do edital para poder fazer o cálculo das cotas, com prioridade para as unidades com menor número de pessoas negras”.

Combate ao racismo 

O líder estudantil fez parte do grupo de trabalho que elaborou as propostas de modificação da política de cotas em vigor na universidade e, com o apoio técnico da Procuradoria Federal, o Consuni aprovou a nova Resolução. 

“Em outros momentos o Consuni já vinha pautando essa questão do racismo devido a um comentário infeliz da Reitoria de que não existia racismo na UFRJ. Eu questionei afirmando que era só olhar para os integrantes daquele colegiado para ver o quanto o racismo estava presente na universidade: o Consuni só possui cinco conselheiros negros, num total de 50 pessoas”, conta 

Censo

Segundo João Pedro, há a intenção se fazer um censo tanto de pessoas negras quanto de pessoas com deficiência na UFRJ. “Hoje não temos nenhum dado a respeito”, observa.

 

Informalidade e pobreza atingem mais mulheres e homens pretos e pardos. 70% dos que estão abaixo da linha de pobreza, vivendo com menos de dois dólares ao dia, são negros ou pardo

Matéria retirada da CUT.

O percentual de pretos ou pardos no mercado informal de trabalho no Brasil chegou a 47,4% em 2019, enquanto entre os trabalhadores brancos foi de 34,5%. Os negros eram maioria em atividades informais do setor agropecuário (62,7%), da construção (65,2%) e dos serviços domésticos (66,6%). Essas atividades em decorrência do desaquecimento do mercado de trabalho foram ampliadas desde 2014, com destaque para transporte, armazenagem e correio, alojamento e alimentação e construção.

Esses e outros dados estão no estudo “Síntese de Indicadores Sociais” (SIS), que teve como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, de 2019, divulgados nesta quinta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo abrange os  trabalhadores informais, que são todos os empregados sem carteira assinada, como trabalhador doméstico, os que atuam por conta própria mas não contribuem para a Previdência Social,  e o trabalhador o empregador que auxilia a família e também não contribui com o INSS.

De acordo com o IBGE, entre as pessoas abaixo da linha de pobreza que ganham US$ 1,90 por dia (R$ 10,31 no câmbio oficial do dia 12/11), segundo a  linha fixada pelo Banco Mundial, 70% eram de cor preta ou parda, enquanto a população que se declarou com essa característica era de 56,3% da população total. A pobreza afetou ainda mais as mulheres pretas ou pardas: eram 28,7% da população, mas 39,8% dos extremamente pobres e 38,1% dos pobres.

O estudo também mostra que os negros são maioria entre os brasileiros que estão nas faixas de pobreza e extrema pobreza e moram com maior frequência em domicílios com algum tipo de inadequação.

“A informalidade para pretos ou pardos é uma característica histórica, que percebemos em todos os anos da série da Pnad Contínua, que se inicia em 2012 e vai até 2019. É um grupo que requer atenção, é um grupo mais vulnerável, que não vai poder ter aposentadoria por tempo de serviço, que não tem direito a licenças remuneradas por afastamento por motivo de saúde ou licença gestante, então são mais vulneráveis em termos de pessoal ocupado”, explica o coordenador da SIS, João Hallak.

Mercado de trabalho dos informais por Região

A população preta ou parda (47,4%) estava mais inserida em ocupações informais em todas as unidades da Federação, quando comparada à população branca (34,5%).

Em 2019, a proporção de trabalhadores em ocupações informais alcançou 61,6% na Região Norte e 56,9% no Nordeste. Por outro lado, as regiões Sudeste e Sul, apresentaram proporções de, respectivamente, 34,9% e 29,1%.

Força de trabalho

Entre 2018 e 2019, a taxa de desocupação caiu de 12% para 11,7%. A pesquisa mostra, porém, que a proporção dos desocupados há pelo menos dois anos subiu de 23,5% em 2017 para 27,5% em 2019.

A taxa de desocupação da população preta ou parda (13,6%) era maior do que a da população branca (9,2%), ainda que tivessem o mesmo nível escolar: Entre aqueles com ensino fundamental completo ou médio incompleto, essa taxa era de 13,7% para brancos e de 18,4% para pretos e pardos.

Em 2019, a população ocupada por cor ou raça branca ganhava, em média, 69,3% mais do que a preta ou parda, e o rendimento dos homens era 12,7% maior que o das mulheres, considerando-se o mesmo número de horas trabalhadas.

No ano passado, a população subocupada alcançou a maior proporção na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, chegando a 7,6% da população ocupada. Entre as pessoas ocupadas, aquelas que trabalham menos que 40 horas semanais, querem e estão disponíveis para trabalhar mais horas são denominadas subocupadas por insuficiência de hora.

Trabalho intermitente

A reforma trabalhista regulamentada pela Lei n. 13.467 de 2017 introduziu a modalidade de contratação intermitente, formalizando um tipo de ocupação em que o trabalhador é contratado com carteira assinada, mas sem a garantia de um mínimo de horas de trabalho, sendo chamado para o desempenho da atividade laboral de acordo com a necessidade do empregador.

Em 2018, mais de 71 mil contratações ocorreram pela forma intermitente no país, representando 0,5% das admissões com carteira assinada. Em 2019, foram mais de 155 mil contratações, ou 1% das admissões com carteira.

“Em todas as grandes regiões, houve aumento no número de admissões por contrato intermitente nesse período. Assim, apesar de representarem números relativamente pequenos sobre o total das admissões, o crescimento apresentado em apenas um ano é digno de atenção e monitoramento”, diz o IBGE.

Desigualdade de renda

O índice de Gini (0,543) caiu em relação a 2018 (0,545), mas ficou superior a 2015, ano que teve o indicador mais baixo da série, com 0,524. O país é o nono mais desigual do mundo segundo o Banco Mundial. O índice é usado para medir a desigualdade social , em que zero corresponde a uma completa igualdade na renda e 1 corresponde a uma completa desigualdade.

A Região Sul é a que tem a menor desigualdade de renda, com 0,467. O Nordeste teve a maior desigualdade, com 0,559, e aumentou em relação a 2018, enquanto as outras regiões tiveram queda em comparação ao ano anterior.

Em 2019, a parcela de 10% de pessoas com menores rendimentos domiciliares per capita recebia 0,8% do total da renda do país. À metade da população brasileira correspondiam 15,6% dos rendimentos observados, cabendo aos 10% com maiores rendimentos 42,9% do total da renda.

Os 10% com maiores rendimentos são compostos por 70,6% da população branca. Os 10% com menores rendimentos são compostos por 77% da população preta ou parda.

Entre os 10% com menores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio em 2019 foi de R$ 112. Entre os 10% com maiores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio no ano passado foi de R$ 3.443.

Pobreza

De 2018 para 2019, a pobreza (rendimento domiciliar per capita até R$ 436) caiu de 25,3% para 24,7% das pessoas. Já a extrema pobreza (rendimento domiciliar per capita até R$ 151) se manteve em 6,5% da população, em 2018 e em 2019, afetando mais da metade dos nordestinos e 39,8% das mulheres pretas ou pardas. Entre 2012 e 2019, houve aumento de 13,5% na extrema pobreza.

Segundo a analista do IBGE, Barbara Soares, o país tem bolsões de extrema pobreza que não conseguem acessar as instituições para solicitar benefícios sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A Síntese mostra que a extrema pobreza no país cresceu 13,5%, passando de 5,8% da população, em 2012, para 6,5%, em 2019, segundo a linha internacional fixada pelo Banco Mundial em US$ 1,90 por dia em termos de paridade de poder de compra (PPC). Já pela linha de US$ 5,50 PPC (pobreza), houve redução na proporção de pobres da ordem de 6,6%, caindo de 26,5% para 24,7% da população, nesse período. Entre os que se declararam brancos, 3,4% eram extremamente pobres e 14,7% eram pobres, mas essas incidências mais que dobravam entre pretos e pardos.

“A população de cor ou raça preta ou parda está mais presente na informalidade, possui menos anos de estudo, está em atividades que remuneram menos, então tudo isso contribui para que a renda do trabalho seja menor. Certamente, todos esses elementos tanto do mercado de trabalho quanto de fora do mercado de trabalho fazem com que tenham um rendimento domiciliar per capita inferior e se insiram relativamente mais nessas categorias de pobreza e extrema pobreza”, analisa Hallak.

 

 

Michel Temer prometeu que, ao tirar centenas de direitos dos trabalhadores, o país geraria mais de 6 milhões de empregos. O que gerou foi trabalho precário, desemprego e informalidade

Matéria retirada do site da CUT

A reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017) do ilegítimo Michel Temer (MDB), que acabou com 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho CLT), completa três anos nesta quarta-feira (11) sem gerar os 6 milhões de empregos prometidos e com um exército cada vez maior de trabalhadores e trabalhadoras informais e sem direitos.

Em novembro de 2017, quando a reforma entrou em vigor, o Brasil tinha 12,6 milhões de desempregados, em agosto deste ano, o número subiu para 13,8 milhões, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Os totais de subsutilizados (33,3 milhões de pessoas) e de informais (31 milhões) também vêm batendo recordes consecutivos desde o golpe de 2016.

“Se teve uma economia com a reforma Trabalhista, quem embolsou foram os empregadores que precarizaram o trabalho”, afirma a técnica da subseção do Dieese da CUT, Adriana Marcolino.

“Não teve impacto na geração de empregos, que se manteve em patamares bastante elevados, nem na redução da informalidade, como o governo dizia na época que ia acontecer. A maior parte das ocupações geradas desde que a reforma entrou em vigor foi informal, por conta própria e sem carteira assinada”, complementa.

Adriana diz que espera que a retomada da economia em 2021, se vier, seja acompanhada pela geração de empregos formais, protegidos com contratos por prazo indeterminado, o contrato padrão. “Porque se a retomada da economia vier baseada nesses contratos precários, muito possivelmente a gente vai arrastar a crise econômica e social por um tempo bastante longo”.

Em editorial intitulado “Nunca foi reforma, sempre foi ataque aos trabalhadores”, publicado no site do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), a direção do sindicato diz que a reforma representa “O maior desmanche de uma legislação conquistada e defendida por gerações de trabalhadores e lideranças sindicais. O desmonte de princípios fundamentais de proteção ao emprego e ao trabalho, inscritos na CLT desde a década de 1940”.

Em artigo publicado no mesmo site, os advogados do departamento Jurídico dizem que a reforma “foi apenas um pretexto do governo Temer e dos empresários para impor uma forte redução dos direitos dos trabalhadores”.

Confira a lista dos quatro exemplos mais extremos das graves consequências da reforma, feitos pelo Jurídico do SMABC:

1) Criou o contrato de trabalho intermitente, pelo qual o trabalhador é admitido pela empresa, mas não tem nenhuma garantia de que terá trabalho e salário.

2) Ampliação da jornada de trabalho de 12×36 para todas as categorias. Aumenta o risco de acidentes de trabalho. Os empresários acham que o trabalhador é uma máquina, que não necessita de descanso e de alimentação.

3) O empresário poderá transformar o salário fixo do trabalhador em algo variável, basta atribuir o nome de abono ou prêmio. Nestes casos, os ganhos poderão ser reduzidos a qualquer momento, bastando a vontade do empregador.

4) A terceirização ampla, geral e irrestrita, inclusive das atividades fins da empresa tomadora, garantida apenas a responsabilidade subsidiária da empresa principal.

 

 

 

Rodízio energético não é cumprido e provoca onda de indignação na população que vai às ruas protestar. Sindicato dos eletricitários move ação contra empresa responsável pelo apagão

Matéria retirada do site da CUT.

As noites no Amapá têm sido de revoltas e protestos da população que vem sofrendo as consequências do apagão energético que completa nove dias nesta quarta-feira (11). Os relatos de falta de água, combustíveis, perda de alimentos e aumento nos preços têm sido constantes.

Um das principais queixas é o não cumprimento dos horários de rodízio. As autoridades do estado prometeram que o racionamento de energia seria igualitário, a cada seis horas, mas o que se vê são bairros inteiros ainda sem luz e a energia sendo restabelecida por apenas duas horas. Outras localidades mais distantes da capital, Macapá, o racionamento nem chegou e elas continuam às escuras.

Cansada de esperar pela solução e revoltada, a população tem saído às ruas para protestar provocando incêndios em vias e rodovias da capital Macapá e cidades próximas.

Indignada com o descaso das autoridades, a secretária de Comunicação da CUT/AP, Maria Neuziana, relata seu desespero com a falta de energia. Com a filha com Covid-19, é ela que está cuidando dos netos pequenos de três e cinco anos. Segundo ela, as crianças e idosos são os que mais sofrem com o apagão.

“O rodízio não está funcionando. É pura enrolação e enganação. Tem bairro em que a energia durou apenas duas horas. Onde moro, ontem [10] era para ter voltado às seis da tarde, mas só chegou às nove da noite”, diz.

Ao relatar seu sofrimento e o da população amapaense, Neuziana chora e diz que o estado está abandonado pelas autoridades do país, especialmente pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).

“Apelo que busquem fazer algo por nós porque estamos abandonados pelo governo federal, pelo governador e pelo prefeito que só fazem campanha enquanto o povo sofre. Eu não durmo desde a terça-feira passada, pareço um zumbi, preocupada com meus netos, minha filha, minha família e os meus amigos. Estamos passando por uma segunda onda de Covid e não temos para onde correr. Estou com um grito de desespero preso na garganta”, relata a dirigente indignada.

O presidente do Sindicato dos Eletricitários do Amapá (STIU-AP), Jedilson Santa Bárbara de Oliveira, entende que o rodízio anunciado pelas autoridades locais não tem sido justo e há moradores de bairros sofrendo ainda mais do que outros e, que diante desta situação, o STIU-AP fez um apelo à direção da Isolux para que reveja o modelo de racionamento.

“Os bairros mais próximos aos hospitais, maternidades e pronto-socorro têm ficado mais tempo com energia até porque a saúde é a prioridade da usina de Coroacy Nunes, responsável por cerca de 30% da energia. Mas bairros, como o da Universidade Federal, continuam às escuras e a população vem protestando”.

STIU-AP entra com ação contra Isolux  

A assessoria jurídica do STIU-AP está movendo uma ação civil contra a Isolux por danos à população, até porque é a equipe técnica da Eletronorte que está fazendo o trabalho de restabelecer a energia, conta o presidente do sindicato, Jedilson Santa Bárbara de Oliveira.

“Não temos observado nenhum posicionamento pedido pelo ministério das Minas e Energia  e da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] junto à Isolux. Isto mostra o reflexo do que acontecerá se o governo Bolsonaro privatizar a Eletrobras’, complementa.

O que acontece com o Amapá, amanhã pode acontecer no resto do país

– Jedilson Santa Bárbara de Oliveira

Para o dirigente é importante que o Congresso Nacional  se coloque em defesa das estatais porque na hora que as empresas privadas têm erros operacionais, por falta de manutenção, são as empresas públicas que socorrem a população.

Segundo ele, quem se apressa para devolver à normalidade a vida no Amapá são os trabalhadores e trabalhadoras da Eletronorte e Eletrobras tanto do estado como od de Roraima, Pará e Maranhão, que ajudam nos reparos da subestação que pegou fogo na noite de terça-feira (3).

“A empresa responsável pelo abastecimento do estado, a espanhola Isolux,  não tem competência técnica e pessoal capacitado para resolver o problema, por isso a ajuda dos trabalhadores das estatais são imprescindíveis”.

O dirigente diz ainda que existe a possibilidade de ser contratada energia térmica para entrar no sistema. Com isso será possível dar um pouco mais de carga de energia na capital. Macapá precisa em média de 280 megawatts para atender a população local.

“Já começou a ser desmontado em Laranjal do Jari, sul do estado, um gerador que deve chegar nos próximos dias. Enquanto isso nós também aguardamos uma equipe restabelecer as  turbinas a gás que contribuiriam com 54 megawatts e com mais 75 megawatts das hidrelétricas, vai dar um alívio para a população”, acredita Jedilson.

Apesar do apagão, eleições municipais estão confirmadas

Com a proximidade das eleições municipais que ocorrem neste domingo (15), a preocupação é que as zonas eleitorais tenham condições de receber a votação. Os candidatos à prefeitura de Macapá, professor Marcos Roberto (PT) e Antônio Furlan (Cidadania ) foram os únicos a pedir ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá, que adiasse as eleições, mas o pedido foi negado.

Diante do caos, o presidente da CUT/Amapá, Errolflyn Paixão diz , em artigo, que só resta a população comparecer às urnas e votar em quem defende o serviço público, e seja contrário ao desmonte da Eletronorte e da Eletrobras, cujos trabalhadores estão fazendo os reparos necessários para que a energia volte em todo o estado.

Leia a íntegra do artigo do presidente da CUT/AP, Errolflyn Paixão.

Há menos de duas semanas antes das eleições municipais, o Estado do Amapá é atingido por um apagão energético jamais mais visto em sua história. Ainda assim, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) insiste em manter a votação no próximo dia 15, não acatando o pedido de dois candidatos, do PT e do Cidadania, à prefeitura da capital  Macapá, de adiamento do pleito.

O desrespeito com o povo amapaense vem acontecendo há muito tempo pelas mesmas autoridades que comandam o Estado e a nossa capital. Os  candidatos que lideram as “pesquisas” são os de sempre, apoiados pelo senador e presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o governador do estado, Antônio Waldez Góes da Silva (PDT), e especialmente pelos aliados de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que ainda  jogam a responsabilidade do apagão para um e outro.

A responsabilidade da empresa privada e o socorro que veio dos técnicos da Eletronorte e Eletrobras mostram que as privatizações das estatais atendem apenas aos interesses de alguns maus políticos e empresários.

Todo processo de privatização passa pelo Congresso Nacional, por isso o  senador Davi conhece esses problemas. Ele sabe que a subestação que pegou fogo, tem um dono chamado Isolux, empresa espanhola, enquanto a Companhia Energética do Amapá (CEA), a Eletronorte e a Eletrobras vêm sofrendo um processo de desmonte e ataques privatistas de todas as formas.

E ao contrário das fake news, as notícias falsas, as estatais não têm nenhuma responsabilidade por esse apagão. Toda responsabilidade é da Isolux, proprietária da subestação e das linhas de transmissão.

Para piorar a situação, o sistema de geração do paredão e da Usina Termogás está conectado no barramento da subestação da Isolux. Ou seja, a energia gerada por esse sistema é privada. Mas, os detentores do poder do estado não falam nada para a população, numa atitude irresponsável com o povo amapaense.

O sistema elétrico é previsível, pois a engenharia elétrica consegue prever num empreendimento com antecedência o  tempo de vida de cada componente, de isoladores, chaves, para-raios, como se faz um aterramento, o uso adequado do óleo elétrico. Então, não cabe o discurso de que o apagão foi um acidente. Na verdade, foi a falta de manutenção do sistema que provocou essa tragédia na vida da população. Agora jogam a responsabilidade sobre o sistema público para que resolver o problema.

Diante deste caos e do descaso das autoridades que estão há anos no poder, responsáveis pela administração do estado, é preciso que o povo reflita antes de depositar seu voto nessas eleições.

Vamos defender as empresas públicas. Vamos defender a Eletronorte e a Eletrobras. Não à privatização!.

 

 

Apesar dos avanços terapêuticos, pelo menos 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Cerca de 20% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, embora haja um declínio importante nas últimas décadas em decorrência, principalmente, de políticas para o diagnóstico precoce e maior conscientização da população masculina.

Por isso a importância da campanha Novembro Azul, aponta Luiz Carlos Miranda, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFRJ, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e membro da SBU. Ele alerta que o câncer de próstata tem uma prevalência muito alta em relação a outros tumores: fora o de pele, que é muito frequente, o tumor da próstata é o mais comum. Mais do que o de pulmão ou de intestino, explica. “Então, tem uma importância epidemiológica muito grande, principalmente porque, quando se consegue um diagnóstico precoce, há uma chance maior de cura”, garante.

Segundo a SBU, homens a partir de 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, devem procurar um profissional especializado para avaliação, tendo como objetivo o diagnóstico precoce da doença. Aqueles que integram o grupo de risco (raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata) devem fazer diagnóstico mais cedo: a partir dos 45 anos.

Recomendações

O médico insiste: “O Novembro Azul alerta para a necessidade de o homem perder o preconceito e procurar um atendimento”. E acrescenta dizendo que o médico não precisa ser necessariamente um urologista: “[A pessoa] Pode procurar um atendimento clínico para fazer alguns exames. Há um exame de sangue chamado PSA (antígenos específicos da próstata que detectam precocemente casos de câncer e outras alterações), há o exame de ultrassonografia, que também ajuda, e o exame clínico, que é muito importante, chamado de exame digital retal da próstata, o famoso toque retal”. Segundo o especialista, é um exame barato que identifica o tumor na fase inicial. “O que a Sociedade recomenda é que homens acima de 50 anos devem iniciar algum tipo de observação da próstata uma vez por ano, com a seguinte ordem de prioridade: exame digital retal da próstata e PSA”, informa.

“O câncer quando dá sintoma já está muito avançado. Se tiver câncer, deve descobrir a doença na prevenção. [O paciente] Não deve achar que vai ter algum sintoma para então investigar”, alerta o médico. 

As pessoas, segundo Miranda, não devem se descuidar da prevenção nem mesmo na pandemia. No Serviço de Urologia do HUCFF, a presença dos pacientes diminuiu muito. Mas o setor fez busca ativa dos matriculados, e todos foram sendo remarcados. 

É preciso vencer o medo da pandemia e o preconceito. O médico reconhece que o toque retal sofre estigma, mas explica que é um exame simples, realizado em segundos, indolor. Com esse exame é possível rapidamente avaliar se há algo suspeito ou não. E isso pode salvar uma vida.

Treinamento 

Há alguns anos, Miranda treinou quatro médicas que atendiam em um posto de saúde que a UFRJ mantinha na Vila do João, no Complexo da Maré, para que realizassem o exame digital retal na população local, e a iniciativa teve bom resultado. Segundo ele, muitos homens venceram o preconceito, e, quando um caso era identificado, a pessoa era encaminhada a um hospital. O urologista tem esperança de que esse treinamento possa ser repetido. 

Embora os alunos que passam pelo Serviço de Urologia do HUCFF – cerca de 80 por semestre – aprendam a executar o exame, há dez anos Miranda tem esperança de poder voltar a treinar profissionais que atuam na atenção básica, para dar continuidade à prevenção contra o câncer de próstata na Maré. A falta de recursos financeiros do Hospital Universitário é o principal empecilho para a montagem de um centro de formação, com uma sala-anfiteatro para transmitir imagens do centro cirúrgico e manequins para treinamento do exame digital retal. “Se isso ocorresse, o ganho social seria enorme”, afirma.  

 

 

Nesta quinta-feira, 12 de novembro, a vã do Sintufrj faz plantão no Centro de Tecnologia (CT), das 10h às 16h. O Sintufrj vai até você é mais uma prestação de serviço aos técnicos-administrativos em educação oferecido pela direção sindical. 

Aproveite, companheira e companheiro para dialogar sobre assuntos do seu interesse com os coordenadores da entidade que estarão à sua disposição; obter informações sobre processos com os advogados de plantão; esclarecer dúvidas sobre convênios e tratar a respeito de outras demandas. 

 

Visita ao quilombo liderado por Zumbi e Dandara permite experiência única e conexão com a resistência e luta

“Se Palmares não vive mais faremos Palmares de novo”, é uma frase do poeta José Carlos Limeira que virou grito do movimento negro “Vamos fazer Palmares de novo”, como um chamado para se aquilombar, resistir. Foi isso que um grupo de 15 pessoas fez em novembro de 2019 ao subir a Serra da Barriga e acessar as terras lideradas por Zumbi e Dandara, que foi o primeiro quilombo das Américas e simbolizou uma das maiores resistências ao período de escravização do Brasil colonial.

O Parque Nacional Quilombo dos Palmares fica a cerca de 80 quilômetros de Maceió. É possível ir de van a partir da capital alagoana em um bate-e-volta. Vale a pena contratar um guia e não há muito o que fazer em dois dias que justifique dormir por lá. A Serra da Barriga abrigou quilombos por cerca de 100 anos, onde mais de 30 mil pessoas viveram livres no século XVII. A imensidão que se vê a partir do Parque Memorial, onde ficava o quartel general dá a noção da grandeza do que foi. Afinal, a Serra da Barriga possui cerca de 28 mil quilômetros quadrados, que eram ocupados por vários quilombos.

Estar em Palmares é mais do que foto bonita no Instagram, é sentir-se parte da história de luta. O lugar fala de vários jeitos, incluindo a energia que emana, bastante forte, mas não pesada. A história narrada no parque lembra de elementos que marcaram o quilombo, como a capoeira, o candomblé e também os indígenas que por ali viviam 1,2 mil anos antes do lugar abrigar um centro de resistência negra. As urnas funerárias e histórias dos indígenas também são contadas, assim como as técnicas de guerra reproduzidas pelos palmarianos e os saberes ancestrais e de ligações religiosas que foram repassadas pela xamã Acotirene (afroindigena), que foi líder espiritual na época de Zumbi.

Por lá, um Iroco, o orixá do tempo, é representado por uma árvore plantada ao lado de um lago, onde foram encontradas várias cabeças decapitadas na época da invasão do quilombo. É nesse lugar que o grupo de visitantes se reúne em roda para falar das sensações, chorar e dançar em círculo cantando: “Eu sou de lá, de África. Se eu não sou de lá, meus pais são de lá, de África. Eu sou de lá, de África, se eu não sou de lá, meus avós são de lá, de África. Eu sou de lá, de África… Se eu não de lá meus ancestrais são de lá, de África”. A árvore que representa o orixá do tempo está oca há anos, mas continua firme e forte. Esse é um dos lugares para sentir a conexão com o passado, ouvir os silêncios, os barulhos da natureza e dos voduns.

Experiência

A viagem para Palmares não é apenas um turismo de lazer, mas de reconhecimento, de história e de sentimentos. “É muito importante fazer esse caminho, refazê-lo. Há uma vibração e uma emoção em subir a Serra da Barriga. É uma das nossas referências. Lembrar das condições que o nosso povo lutou, para estarmos aqui hoje, falar para os nossos terem orgulho do processo de resistência do povo negro, que nos custou muito, mas retrata a nossa grandeza”, afirma a socióloga e ativista Vilma Reis.

Uma das participantes do grupo que subiu a Serra da Barriga foi a jornalista e militante da Marcha das Mulheres Negras Juliana Gonçalves, que conta ter ficado bastante empolgada já no trajeto. “Fui prestando atenção na paisagem, nas histórias que tinha ouvido. Era uma busca pela liberdade que levava as pessoas àquele lugar. Um tudo ou nada. Havia um comando, pautado pelo bem coletivo, por isso funcionou por tanto tempo”, lembra.

Ao chegar no parque, os visitantes são convidados a tirar o sapato, para pisar no local que é considerado um solo sagrado. “Foi uma experiência única, que me fez renovar os votos com a luta pela liberdade e deu sensação do pássaro africano sankofa: de olhar para o passado, com os pés voltados para o futuro. A base organizativa do quilombo era ter o que o que comer e saber se defender. Precisamos rever nossas estratégias de luta hoje e ver o que é prioridade a partir disso. Renovou meus votos como militante, com um olhar mais fresco para a conjuntura atual”, define Juliana Gonçalves.

A ligação com a ancestralidade, segundo ela, é inevitável. “Senti uma conexão direta com Dandara, que deu o sangue por um processo de liberdade. Ela teria se jogado para não se entregar. Me senti conectada em um processo de luta e sobrevivência que persiste até hoje. Lembro da minha avó e de tantas outras mulheres negras que mesmo não sendo militantes tiveram que adotar táticas de sobrevivência. É assim que vamos existindo”, diz a integrante da Marcha das Mulheres Negras.

As famosas palmeiras que deram nome ao lugar ainda estão pelo terreno. As cinzas do jornalista e militante do movimento negro Abdias do Nascimento foram espalhadas no entorno de uma árvore baobá que ainda ganha forma. Há algumas casas dentro do parque. São pessoas que passaram a ocupar a região e que disputam para estar na área considerada protegida pela União e sagrada para muitos movimentos. No dia 20 de novembro, as religiões de matriz africana organizam um grande cortejo e realizam cerimônias no local. O dia 6 de fevereiro, quando o quilombo foi invadido, e o 21 de março, Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, também são datas especiais, marcadas por atividades.

É o tipo de viagem que não acaba, quando você vai embora. A energia que o quilombo emana continua morando de alguma forma em cada um que o visita. Palmares é um lugar que dá a importância de resistir para existir. Em que se reforça a certeza de que valeu e vale a pena lutar e de que cada pessoa negra carrega essa herança, essa ancestralidade e tem a missão de mantê-la viva. Por isso, a importância de sermos sabedores de nossa história e podermos revisitá-la sempre: vamos fazer palmares de novo?!

* Guilherme Soares Doas- 28/1/2020/ CartaCapital O repórter viajou a convite da Black Bird Viagem, Brafrika e Diaspora.Black.

 

 

 

A Coordenadora da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ e militante do Movimento Negro Unificado (MNU) Denise Góes afirma que é preciso criar políticas internas de valorização dos técnico-administrativos negros da UFRJ. “Nós precisamos sair da invisibilidade. Romper a cortina do racismo institucional”. Nesta entrevista, Denise discorre sobre ações afirmativas, racismo e o pouco espaço ocupado pelo servidor negro na universidade. Confira os trechos principais.

 Chegamos a mais um mês da Consciência Negra. Qual a reflexão que você faz na conjuntura atual diante de um governo de extrema direita e racista?

Mais um 20 de Novembro e a reflexão é cada vez mais preocupante diante dessa conjuntura com a pandemia matando milhares de pessoas e entre elas a população negra. 

Não há o que se esperar no campo das políticas públicas que venham desse governo racista, homofóbico e misógino. Nós estamos diante do genocídio da população negra, nós estamos diante do feminicídio, nós estamos diante de uma fundação que é a Palmares comandada por um negro equivocado, que quer apagar nossa história dentro da fundação. 

 O quadro é caótico, mais no meio desse caos a nossa tarefa é lutar pela manutenção do que foi conquistado até aqui. As políticas públicas para a população negra se fortalecem, as cidades se mostram mais diversas e plurais. Então precisamos estar organizados para lutar para proteger os direitos até aqui conquistados.

O que se avançou e o que necessita ainda se conquistar no direito e no espaço da população negra na universidade?

Existe um avanço objetivo com as cotas raciais que abrangem as universidades públicas federais. Nós precisamos agora definir a resolução em relação às fraudes para que possamos ter um quadro mais límpido. É uma contradição você ter um processo onde existe uma heteroidentificação que consegue barrar as pessoas que não possui os critérios fenotípicos para a vaga da reserva de cotas e, por outro lado, você não ter uma sanção, não ter uma atitude para os que fraudaram no passado. E a universidade precisa resolver essa questão que traz uma ebulição muito grande dentro do meio acadêmico, principalmente entre os estudantes.

Precisamos criar políticas internas de valorização dos técnico-administrativos negros na universidade. Nós precisamos sair dessa invisibilidade, romper a cortina do racismo institucional. Estamos sempre fora dos cargos de chefia. Quantos diretores negros temos nos centros universitários? Então precisamos ter uma política objetiva nesse sentido para tirar esses técnicos que estão qualificados e vem se qualificando nos últimos anos da invisibilidade.

Na UFRJ há preconceito racial? Como ele se manifesta? 

Apesar de a universidade ter uma postura politicamente correta em relação a aplicabilidade da Lei 12.711 e da Lei 12.990 quando tivemos dois grandes concursos públicos e que pudemos aplicar a lei de cotas de 20% para vagas, ainda não podemos dizer que erradicamos o racismo na universidade que sofre os reflexos do racismo estrutural que está presente na construção da sociedade.

Internamente é só observar o que produz o racismo institucional através do número de docentes que temos. Agora com a recente votação no Conselho Universitário da reserva de vagas de 20% (para docentes) teremos uma maior representatividade, mas atualmente é infinitamente e lamentavelmente inexpressiva.

Claro que existe racismo na universidade. Onde nós estamos lotados dentro da esfera de decisão na universidade? Da esfera do poder? Dos cargos ditos de confiança? Não estou me referindo a questão monetária, estou falando de reconhecimento institucional, de valorização da capacidade profissional.

Se traçarmos hoje um retrato da universidade nós não temos essa representatividade. Se pegarmos a universidade há dois anos veremos que todas as pró-reitorias eram brancas e masculinas. Avançamos para uma reitora mulher, tivemos no passado uma pró-reitora negra, mas que não tinha essa identidade demarcada, e temos atualmente uma pró-reitora que tem essa identidade racial demarcada. No entanto é pouco. 

 Existe alguma política na universidade para combater o preconceito?

A universidade tem tomado algumas posturas interessantes em conjunto com os coletivos negros e a Câmara de Políticas Raciais. E isso é salutar. Quando a gente tem uma Administração Central que discute essas questões com as organizações e os coletivos e mais uma organização como a Câmara de Políticas Raciais, estamos dando passos largos para o combate ao racismo que não se dá por si só. Ele é fruto de uma luta que deve ser implementada e levada ao longo e dentro da UFRJ.

Qual ou quais os desafios a serem enfrentados?

Os desafios são muitos porque a UFRJ é uma universidade branca, elitista, excludente na sua formação. E a transformação disso, numa universidade plural, pluriétnica e diversa não se dá da noite para o dia.

Se não vemos muitos negros no poder é porque o racismo institucional é muito forte e tem mecanismos para nos afastar de ocupar esses cargos de poder. E o racismo estrutural da sociedade brasileira vem corroborar com aqueles lugares pré-determinados onde acham que os negros deveriam estar, mas eles não querem mais estar a reboque.

Então os desafios são imensos e eu como uma militante organizada do Movimento Negro Unificado (MNU) não vejo alternativa que não seja a organização dos negros em torno de entidades fortes como o MNU para que a gente possa combater sistematicamente o racismo. Foi assim nos EUA com os Panteras Negras e será aqui no Brasil com uma entidade forte onde possamos estar unificadamente nessa luta dessa pauta racial, compreendendo o racismo como um entrave para nossas vidas. 

Só a organização nos levará a vitória. Não adianta a indignação individual dos casos de racismo. A gente precisa se colocar e discutir política porque o racismo é uma política implementada para dizimar uma parcela da população. Por isso conclamo os servidores da universidade a nos organizarmos em torno da Câmara de Políticas Raciais para que a gente possa discutir todas as questões pertinentes ao racismo institucional que ainda existe na UFRJ.