O Diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, infectologista Alberto Chebabo, informa que o HUCFF voltou a registrar na semana passada aumento de pacientes com suspeita ou com a covid-19, embora os números atuais não se comparem ao volume de pacientes em maio.
“Foi a primeira semana em que não houve queda, desde então (maio)”, disse o especialista, lembrando que o repique de casos ocorre exatamente há duas ou três semanas de início do relaxamento do isolamento social. A ressalva é de que os números de apenas uma unidade hospitalar (HUCFF) não servem como indicador de uma tendência mais ampla.
Na avaliação de Chebabo, a flexibilização da pandemia no Rio “não poderia estar ocorrendo da maneira como estão fazendo”. Segundo ele, seria mais importante abrir serviços essenciais do que bares e restaurantes. E, embora exista uma programação da Prefeitura, ele observa que estão adiantando etapas sem a medição (as testagens) correta.
Para o infectologista, não faz sentido o retorno das aulas no dia 15 julho, se estamos no meio da epidemia e com novos casos aparecendo. “Agora não tem mais nada com sentido”, constata com pessimismo. A retomada do calendário escolar precisa, segundo o Chebabo, ser acompanhada de um planejamento que inclua a alternância dos estudantes em aulas para diminuir aglomerações em áreas comuns. O que ele acha difícil que tenha sido planejado.
Chebabo pondera que o fato de haver vagas nos hospitais não significa que se possa expor as pessoas. “A doença continua existindo. Na realidade, não é que não esteja na hora de algum tipo de liberação, só que isso deve ser feito de forma controlada. Não tem porque liberar presença de público em jogo de futebol”, adverte. A Prefeitura do Rio de Janeiro autorizou a volta do público aos estádios de futebol a partir do dia 10 de julho.
Esse tipo de abertura, segundo o infectologista, tem consequências que afetam os demais, porque provocam, por exemplo, o aumento do número de pessoas nos transportes públicos.
Pandemia avança e o Brasil registra das 10% das mortes
“A pandemia está longe de ter terminado.” O alerta é do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, que teme que o pior ainda esteja por vir. No domingo, 28 de junho, o número de infectados ultrapassou 10 milhões e 500 mil morreram, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Adhanom disse que entende que todos queiram continuar com suas vidas, mas a realidade é que “isto (a pandemia) não está nem perto de terminar”. Segundo ele, embora alguns países tenham feito algum progresso, a pandemia está acelerando, a maioria permanece suscetível e o vírus tem muito espaço para se movimentar.
Triste ranking brasileiro
Nestas tristes estatísticas, o Brasil está em segundo lugar com 10% dos óbitos e com um presidente que reclamou de excesso de preocupação de governadores e prefeitos. Na Europa, na semana passada, houve aumento do número de casos e países recuaram na flexibilização do isolamento, como, por exemplo, Portugal em alguns bairros de Lisboa.
No Brasil, onde cerca de 90% dos municípios já foram atingidos pela pandemia, cidades tiveram que retroceder na flexibilização para conter o aumento de casos. Se for um jogo de tentativa e erro, este jogo está custando vidas. Muita gente, infelizmente, não segue as orientações de especialistas.
Antecipando fases
No Rio de Janeiro, já são quase 10 mil mortes e 111.883 casos confirmados até segunda-feira, 29 de junho. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), nas 24 horas anteriores foram registrados 29 novos óbitos e 585 novos casos. Mas, alheio a esses números, o prefeito Marcelo Crivella se reuniu com os donos de escolas particulares para definir se o ano letivo será retomado no dia 15 de julho.
No sábado, 27, a Prefeitura do Rio antecipou a reabertura do comércio de rua na cidade (incluindo salões de barbeiros), previsto para ser incluído somente na terceira fase da flexibilização, no dia 2 de julho, deixando as ruas movimentadas.
Não é hora de voltar
Dezenas de entidades representativas de trabalhadores das áreas de educação e saúde e assistência social, entre elas CUT, Sintufrj, Adufrj e Sindicato dos Médicos, e o movimento estudantil, assinaram o manifesto Defender a vida na pandemia: porque não é hora de voltar, no qual afirmam que tomaram como base orientações da Organização Mundial de Saúde e pareceres da Fiocruz para apresentar um conjunto de condições de segurança essenciais, sem as quais não será possível o retorno às atividades escolares presenciais na educação básica.
O documento cobra o compromisso das prefeituras, do governo do estado e da União de apresentar concretamente o valor dos investimentos que serão feitos para a retomada da educação no pós-pandemia e o atendimento de itens, tais como: fornecimento de produtos de higiene e limpeza, equipamentos de proteção individual e coletiva, desinfecção de materiais didáticos, redução do número de estudantes por turma, reorganização da estrutura física das escolas, com ampliação do número de salas e espaços com ventilação, ambientes seguros para alimentação, condições sanitárias no deslocamento até a escola, retorno das aulas escalonado e testagem permanente do vírus nos estudantes e trabalhadores.
Segundo a pesquisa da Datafolha divulgada semana passada, 76% dos brasileiros acreditam que as escolas deveriam continuar fechadas nos próximos dois meses por causa da pandemia.