Na faixa etária, mais de 10 milhões de jovens abandonaram os estudos, segundo dados da PNAD Contínua 2019, do IBGE

Matéria retirada do site da Carta Capital.

Mais de dez milhões de jovens de 14 a 29 anos não completaram alguma das etapas da educação básica, seja por  abandono da escola, seja por nunca a terem frequentado.

Isso representa 20,2% das 50 milhões de pessoas na faixa etária. Desse total, 71,7% eram pretos ou pardos.

Os dados são da PNAD Contínua 2019, divulgado nesta quarta-feira 15, pelo IBGE. Pela primeira vez, a pesquisa divulga dados sobre abandono escolar.

A pesquisa evidenciou que o abandono escolar se acentua na fase de transição entre o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, situação exposta pelo maior índice de abandono de acordo com a faixa etária relativa às etapas escolares.

Aos 14 anos, o percentual de estudantes fora da escola foi de 8,1%; aos 15 anos, de 14,1%, quase o dobro. O número é ainda maior a partir dos 16 anos, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais.

O estudo ainda identificou as principais razões para a evasão escolar. A necessidade de trabalhar aparece em primeiro lugar, com 39,1%. Depois vem a falta de interesse 29,2%. Entre as mulheres, destaca-se ainda gravidez (23,8%) e afazeres domésticos (11,5%).

O atraso ou abandono escolar atingia 12,5% dos adolescentes de 11 a 14 anos e 28,6% das pessoas de 15 a 17 anos. Entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram os estudos, sendo que 11,0% estavam atrasados e 63,5% não frequentavam escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.

Por outro lado, a taxa de frequência líquida das pessoas de 15 a 17 anos cresceu 2,1 p.p em relação a 2018, com mais de 70% dessa faixa etária na etapa escolar adequada.

Entre as pessoas de 15 a 17 anos de idade, ou seja, em idade escolar obrigatória, 78,8% se dedicavam exclusivamente ao estudo.

No entanto, considerando as 46,9 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade, 22,1% não trabalhavam, não estudavam, nem se qualificavam, sendo que entre as mulheres esse percentual foi de 27,5% e entre pessoas pretas e pardas, 25,3%.

A pesquisa ainda mapeou o número de pessoas com 25 anos ou mais que não concluíram o Ensino Médio no País. Apesar da proporção de pessoas que concluíram a etapa da Educação Básica ter crescido – passando de 45,0% em 2016 para 47,4% em 2018 e 48,8% em 2019 -,  mais de 69 milhões (51,2%) dos adultos não concluíram essa etapa educacional.

No Nordeste, três em cada cinco adultos (60,1%) não completaram o ensino médio. Entre as pessoas de cor branca, 57,0% tinham concluído esse nível no país, enquanto essa proporção foi de 41,8% entre pretos ou pardos.

 

 

 

“A gente não discute racismo numa universidade totalmente branca. Mas, hoje, quando vou à UFRJ dar palestras vejo uma universidade preta. Mesmo por cotas, fico hiper feliz”, disse Vilma Piedade,  professora, escritora e colunista do Canal Pensar Africanamente e do Coletivo Putaria, uma das palestrantes de quinta-feira, 16, da mesa “Dororidade: feminismo, racismo e branquitude”, no terceiro dia do Festival do Conhecimento da UFRJ.

Ex-aluna da instituição, quando entrou em 1974 para cursar Letras — “um privilégio porque era preta, da classe média e filha única” –, ela saudou emocionada o evento: “Estou feliz pelos 100 anos da Universidade Federal do Rio de Janeiro viva e de excelência”, e acrescentou: “Precisamos ocupar a academia, sim, porque ela também é nossa”. Na apresentação da palestrante, Annyelly Nascimento destacou que Vilma é uma “intelectual que abrilhanta a cena literária nacional e internacional”.

Dororidade e Sororidade

“O conceito de dororidade não se contrapõe ao de sororidade, que  apresenta a ideia de irmandade. “Sororidade é um conceito que ancora o feminismo desde o surgimento. Dororidade veio dialogar com sororidade, um conceito não anula outro. Para mim, dororidade nasce da minha inquietude em relação à sororidade para contemplar as mulheres negras. Crio primeiro o vocábulo e queria saber o que é isso. O que acontece com a gente quando 56% da população brasileira é negra, mas a outra parte, 54%, fica com o dobro de oportunidades? Dororidade surge frente a sororidade não dar conta da nossa pretitude. Estou inaugurando o conceito”, constatou Rute Costa, professora do curso de Nutrição da UFRJ – Macaé, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena e vice-coordenadora de Extensão daquele campus, palestrante e mediadora do debate.

Vilma é autora do livro “Dororidade”, publicado em 2018, portanto, foi ela a criadora desse novo conceito feminista, cuja centralidade está na luta antirracista. Segundo Rute, um novo e ampliado olhar para o feminismo a partir desta centralidade. “Dororidade carrega no seu significado a dor provocada em todas as mulheres pelo machismo. Mas nós, mulheres pretas, temos a dor provocada pelo racismo”, completa a escritora.

Dororidade, segundo Vilma, refere-se também a transformar a dor em potência: “é o que estamos fazendo, que é o que você faz na universidade. É isso o que eu faço, o que a juventude está fazendo, o que está acontecendo nesta academia, Nós vencemos. Quando transformamos a dor em potência é porque rompemos com o determinismo histórico que nos colocava na cozinha, por exemplo. Continuamos”.

“Somos silenciadas pela história pelo racismo, pelo sexismo. São 132 anos de abolição entre aspas e a gente luta por equidade. Nessa luta pós-abolição ainda temos os piores índices sociais, culturais e ambientais”, disse Vilma, que citou dados do IBGE de 2019: 13 milhões e meio vivem abaixo da linha de pobreza. Desses, 75% são negros. “Isso não é por acaso”, frisou.

Mais desigualdades

No Brasil, chama atenção Vilma, há outras situações e lugares ruins, como por exemplo, na pirâmide do emprego, em que mulheres negras estão com menores salários. “E ainda se diz que o Brasil não se considera um país racista. Não há racismo, mas nós sofremos racismo a toda hora, no cotidiano. Quando a gente diz vidas negras importam, quando vemos o episódio macabro do George Floyd (afro-americano morto sufocado em maio por policial branco nos Estados Unidos), e em São Paulo uma senhora negra com uma bota no pescoço, a gente tem dificuldade de respirar. Mas temos dificuldade de respirar há muito séculos, só que agora a coisa está mais escancarada”, afirmou, acrescentando que “não basta não ser racista, é necessário fazer a luta antirracista”.

A escrita, disse a escritora, também traz a marca das aberrações que o racismo imprime até hoje. O racismo se expressa também no arcabouço linguístico. No léxico, lembra ela, a palavra preto ainda é descrita como escravo liberto, apontando todo conceito que trazem outras expressões como mercado negro, situação preta. E cita sinônimos de preto como encardido, ladino, infeliz, enquanto ao conceito de branco é associado o de alegre, feliz. “Nossa língua é do colonizador”, constatou.

Ela lembrou autoras negras premiadas para demonstrar que publicar é um ato político e a produção que está surgindo é o que de mais importante há atualmente. “Nunca ocupamos tanto espaço de poder como agora, principalmente na literatura”, citando autores negros importantes no cenário nacional. “Quando somos sujeito da história, deixamos de ser objetos de estudo para ocupar estes espaços (fala se referindo a academia), como professora universitária no mestrado”, observou.

Um compromisso

Para ela, o antirracismo deve ser um compromisso de toda sociedade, lembrando que depois da morte de Floyd, muitos artistas estão abrindo espaço para essa luta. “Porque a branquitude precisa ouvir, se colocar como aliada, a gente tem que ter brancos aliado nessa luta”,  apontando que a educação é da maior importância para a desconstrução do racismo.

Dor e potência

“A gente tem que resistir e transformar a dor em potência, se virar e dizer: conseguimos! Você está dentro da universidade! Este Festival do Conhecimento da UFRJ é uma honra para mim. Eu consegui e me orgulho de ter estado na federal, de transformar. Não quero que seja só um privilégio, que as cotas ampliem e seja para essa juventude toda. A gente tem que resistir no transformar dor em potência!”, concluiu.

Vilma apresentou o vídeoclip com o Rap “Dororidade” (no Youtube https://youtu.be/fmJAWeXIhDUdo) do projeto #AfroGrafiteiras, da rede NAMI (rede de mulheres que usa artes para promover direitos), de formação em arte urbana com foco na expressão e promoção do protagonismo de mulheres afro-brasileiras. Mostrou Também imagens do lançamento do Mural Dororidade, da artista Panmela Castro, exposto na Rua do Lavradio, quando a Lei Maria da Penha completou oito anos.

A música e vídeo são uma homenagem a todas às mulheres brasileiras e onde a dor do racismo e machismo é transformada em luta e força. “Somos irmãs por dores, por perdas, somos irmãs de ideais, somos AfroGrafiteiras”, diz o verso. O painel com o mesmo nome (seu lançamento está no documentário Somos um só, exibido na Netflix), mostra a imagem de duas mulheres unidas pelos cabelos, ou seja, pelas ideias. A composição, explicou Vilma, não fala só sobre a dor, mas como esta se transforma em potência.

 

 

A necessidade de o trabalho remoto no serviço público ser regulamentado para que não haja perda de direitos deu o tom do debate que marcou o início da participação do Sintufrj no Festival do Conhecimento na UFRJ.

O assunto também foi abordado  numa perspectiva estratégica como nova engenharia capitalista de apropriação e precarização da força de trabalho.

A questão está na ordem do dia das preocupações dos trabalhadores da universidade na qual servidores, técnico-administrativos e docentes, enfrentaram batalha recente para neutralizar instrução normativa do governo Bolsonaro que subtrai direitos e benefícios.

A mesa reuniu a coordenadora-geral do Sindicato, Neuza Luzia, a técnica em assuntos educacionais Ana Maria Ribeiro e o ex-pró-reitor de Pessoal, Roberto Gambine (os dois já foram dirigentes do sindicato).

Joana de Angelis, coordenadora de Educação do Sintufrj, apresentou o tema “Trabalho Remoto: balanço e perspectiva” e mediou o debate que ofereceu um aprofundamento incomum sobre as variáveis que envolvem o exercício de atividades nesta nova forma que foi acelerada com a crise sanitária.

Protagonismo

“A gente precisa envolver a categoria nessa discussão”, disse Neuza Luzia. “O trabalho remoto já é desenvolvido em muitas empresas e está regulamentado no setor privado como opcional”, informou Ana Maria Ribeiro. “Eu proponho uma reflexão profunda: quais são os limites do trabalho remoto, do uso pelo trabalhador do seu próprio equipamento, a relação com as chefias”, disse Roberto Gambine.

O Sintufrj, garantiu Neuza Luzia, está colocando a discussão do trabalho remoto na ordem do dia. “A categoria precisa acordar e se juntar  com essa perspectiva. Eu já estou aqui e isso não vai me atingir é uma visão errada. Tudo é novo e pela diversidade do fazer da categoria, se faz necessário que os técnico-administrativos se informem, se organizem e construam suas propostas de forma unitária, sem abandonar os fundamentos da carreira. Devemos ser protagonistas desse processo e cabe a nós, sindicalistas, associar essa discussão ao movimento sindical, fazer um link”, afirmou a coordenadora.

Questionamentos

Roberto Gambine que é atualmente um dos representantes da categoria no Conselho Universitário, expôs vários questionamentos sobre a imposição do trabalho remoto para os técnicos-administrativos pelo menos durante o período da crise sanitária no país.

“Precisamos começar a tratar destas questões relacionadas aos direitos trabalhistas e aos limites do trabalho remoto, já. Tem que ser objeto de preocupação imediata dos docentes e dos técnicos-administrativos. Em que dimensão se dará o trabalho remoto? Em que limite? Poderemos combinar trabalho presencial com trabalho remoto? Teremos a mesma jornada em trabalho remoto que temos presencialmente?”, questionou Gambine.

“Ao fazer um pacto de funcionamento, quais serão as contrapartidas trabalhistas de servidores docentes e técnico-administrativos para que possam realizar suas atividades em suas residências ou afastados de seu local de trabalho? Quais os limites das relações com os dirigentes para não haver um processo incontrolável de subordinação ao trabalho remoto?”, concluiu ele a lista de perguntas ainda sem respostas.

Quantidade x qualidade

Ana Maria, que já foi coordenadora do Sintufrj e atualmente faz doutorado em Ciência da Informação, alertou que é preciso estar atento com a forma com que o governo estabelecerá a normatização do trabalho remoto, já que este tem como política a imposição às universidades de instruções normativas e comunicados, ignorando e passando por cima das leis existentes.

“Está se planejando uma instrução normativa para determinar como será o trabalho remoto no serviço público. O Ministério da Economia está se espelhando numa prática já realizada pela Controladoria Geral da União (CGU)”, disse.

Ela ilustrou sua participação no debate apresentando parte do estudo que está realizando no doutorado sobre o trabalho informacional. O objetivo foi facilitar o entendimento das pessoas sobre os problemas que acompanham o trabalho remoto para quem utilizar seu próprio equipamento ou manipular dados sigilosos fora do ambiente universitário. “Meu computador pode ser objeto de auditoria”, exemplificou.

“O trabalho remoto traz outro tipo de visão. É a produtividade quantificada em detrimento da qualificada. O que vai importar é a quantidade”, acredita.

Segundo Ana Maria, não há acúmulo no serviço público sobre a mudança do papel do trabalhador e a precarização do trabalho, o que reforça a necessidade de a categoria ser convocada e estimulada a mergulhar nesse debate.

“Há uma mudança no papel do trabalhador e que está levando à precarização. Hoje é uma das discussões mais importantes da sociedade em nível internacional. O mundo todo está vivendo essa pressão, que é levar a população ao subemprego. À precarização completa. E essa discussão não tem acúmulo no serviço público. E a gente precisa responder a isso”, finalizou.

Mesas do Sintufrj

O Sintufrj organizou mais três mesas de debates para o Festival do Conhecimento.  Confira:

▪️”Novos atores na cena universitária” – dia 17 (sexta-feira), das 11h30 às 13h30.

▪️”Saúde mental do trabalhador(a) na pandemia” – dia 22 (quarta-feira), das 17h às 19h.

▪️”Recortes raciais da sociedade em debate” – dia 24 (sexta-feira), das 17h às 19h.

Aplausos

A iniciativa e o trabalho em equipe da pró-reitoria de Extensão na proposta e organização do evento, que está sendo um sucesso de público ouvinte e de participações, foi muito elogiada pelos três debatedores da mesa do Sintufrj, como também a atuação eficiente dos tradutores de libra Laisa e Marcos, e o profissional do Departamento de Comunicação Sindical do Sintufrj (Decos), Jamil Malafaia, que colaborou para a transmissão do debate nas redes sociais.

 

Sindicato faz alerta

Durante a transmissão do debate, alguns técnicos-administrativos se  manifestaram informando ao Sintufrj que após a divulgação do  calendário de início das aulas remotas, chefias de algumas unidades estariam pressionando para que retornassem ao trabalho presencial. A orientação da direção sindical é a seguinte: Quem estiver sofrendo qualquer tipo de pressão deve informar imediatamente ao Sindicato, e também deve procurar a entidade para esclarecer dúvidas. 

“Estamos nos orientando pela resolução do Conselho Universitário e pelo GT Covid da UFRJ, que determina que não é para realizar trabalho presencial na universidade. Vamos fazer todas as movimentações necessárias para mostrar que precisamos ser coerentes. O que a UFRJ diz para a sociedade deve aplicar aqui dentro também”, explicou Neuza Luzia, coordenadora-geral do Sintufrj.