De janeiro a julho o aumento de contratos intermitentes foi de 27,5 mil. Para Dieese, número é alerta de que empresas podem utilizar ainda mais este tipo de contratação precária no pós-pandemia

Matéria retirada do site da CUT.

O contrato de trabalho intermitente foi a forma de contratação preferida pelos empresários durante a pandemia do novo coronavírus. Por essa modalidade, instituída pela reforma Trabalhista do golpista Michel Temer (MDB-SP), os trabalhadores e trabalhadoras são chamados pelo patrão a prestar serviços uma ou duas vezes por semana ou só nos finais de semana e podem ganhar menos de um salário mínimo por mês. Muitos sequer conseguem renda para manter a família, muito menos contribuir com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) todos os meses.

Dados do Ministério da Economia mostram que de janeiro a julho deste ano foram feitas 87,3 mil contratações intermitentes, com carteira assinada, mas menos direitos, e 59,8 mil demissões, deixando um saldo positivo de 27,5 mil.

No entanto, no mercado de trabalho geral foram admitidos no mesmo período pouco mais de 7,8 milhões de trabalhadores e outros 8,9 milhões foram demitidos, o que gera um saldo negativo de 1,1 milhão de empregos perdidos.  Já o índice de desemprego foi de 13,3 %, atingindo 12,8 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar do aumento no número de contratações intermitentes ser aparentemente pequeno, serve de alerta aos trabalhadores, diz Adriana Marcolino, técnica da  subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)  da CUT Nacional.

Segundo ela, com a retomada lenta da economia, com a demanda de consumo instável, as empresas podem utilizar o dispositivo do contrato intermitente e buscar ainda mais trabalhadores que aceitem esta modalidade de contratação por hora, como aconteceu em outros países após a crise financeira mundial de 2008.

“A retomada dos empregos, no pós-pandemia pode ser com bases precárias e isto seria negativo porque desprotege o trabalhador, que está sendo subutilizado com insuficiência de horas, sem jornada e salários completos, ainda mais num país como o Brasil em que  os salários têm um poder de compra muito baixos e o atual governo [Jair Bolsonaro]  não tem um programa claro de proteção aos empregos”, avalia Adriana.

De acordo com informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), analisadas pelo Dieese em entrevista à Rádio Brasil Atual, em janeiro deste ano, dos vínculos existentes nos últimos dois anos, pelo menos 11% deles não tiveram nenhuma atividade, ou seja, esses trabalhadores não receberam nada. Só em dezembro de 2018, por exemplo, 40% dos trabalhadores ativos, fecharam o ano sem atividade.

Trabalho intermitente é prejudicial às contas públicas e à Previdência

Um dos impactos negativos do trabalho intermitente será nas contas públicas porque sem o trabalhador ter condições de consumir o básico, o mercado interno não vai colaborar com a retomada da economia.

“O trabalhador que não conseguir trabalhar horas suficientes para conseguir receber um salário mínimo [R$ 1.045,00] não terá condições de arcar com suas necessidades básicas, muito menos aumentar o consumo para fazer a roda da economia girar”, afirma Adriana Marcolino.

Se o impacto do trabalho intermitente na retomada da economia é ruim, nas aquisições de benefícios e aposentadoria é ainda pior para o trabalhador e para as contas da Previdência, acredita a advogada especialista em Previdência, Cláudia Caroline Nunes Costa, do escritório LBS.

Os prejuízos aos cofres da Previdência serão pela diminuição de contribuições, o que prejudica o modelo solidário em que novos trabalhadores pagam a aposentadoria dos antigos, que também fizeram o mesmo durante os anos que contribuíram para o pagamento da aposentadoria dos trabalhadores antes deles, e assim sucessivamente.

Já o prejuízo para o trabalhador é a possibilidade de perder o direito de ser um segurado e não conseguir complementar ao menos os 15 anos mínimos  necessários de contribuição para se aposentar.

A advogada explica que quando o trabalhador por contrato intermitente faz uma contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) abaixo do salário mínimo e não consegue complementar o valor ele perderá o direito de ser um segurado.

“Se o trabalhador recebeu apenas R$ 500,00 em todos os meses de 2020 ele não tem qualidade de segurado, e esse período todo não conta para carência da aposentadoria. A não ser que ele complemente essas contribuições para chegar ao salário mínimo”, diz.

Uma saída para regularizar a situação, segundo Cláudia Costa é o trabalhador ir a um posto do INSS para somar os 12 meses em que recolheu sobre R$ 500,00 e dividir por seis meses. Desta forma, ele “soma“ os mil reais necessários para contribuir com a Previdência, mas perde seis meses de carência.

“O trabalhador intermitente tem até o final de 2021, nesse exemplo e de outros que tenham recebidos valores abaixo do salário mínimo, para ir ao INSS e gerar uma guia. Assim ele terá ainda a qualidade de segurado para receber futuramente o auxílio-doença, a aposentadoria. Se não fizer a complementação, o pouco que contribui estará perdido. O dinheiro vai para o cofre público, e ele não pode fazer nada” , afirma Cláudia Costa.

O que é o contrato intermitente

O contrato de trabalho intermitente foi instituído pela reforma Trabalhista e está em vigor desde novembro de 2017. Neste tipo de contrato o trabalhador não tem jornada fixa. Pode ser por mês, dia ou hora.

Deve ser especificado o valor da remuneração por hora, que não pode ficar abaixo do equivalente a um salário mínimo mensal ou do que é pago para quem exerce a mesma função.

O trabalhador terá direito a férias e 13º salário proporcionais ao total de horas trabalhadas, um dia de descanso semanal remunerado jornada semanal de, no máximo, 44 horas.

A chamada para o serviço precisa ser feita com pelo menos três dias de antecedência e o trabalhador precisa responder até um dia (útil) antes. Em caso de descumprimento, a lei prevê multa equivalente a 50% do valor da remuneração combinada.

O contrato de trabalho intermitente, além de ser celebrado por escrito, é registrado na carteira de trabalho.

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Encontro com convidados e apresentação de trabalhos por servidores acontecerá nos dias 1º, 2 e 3 de setembro

Falta pouco menos de uma semana para o 1º Fórum Técnico-Administrativo em Educação do Sintufrj. As inscrições para apresentação de trabalhos foram encerradas na segunda-feira  24, mas para participação como ouvintes continuarão abertas até segunda-feira, 31 de agosto. FAÇA SUA INSCRIÇÃO AQUI.

O tema do fórum “Uberização” do Serviço Público trata de formas recentes de exploração do trabalho por meio de plataformas digitais e que, no caso dos servidores, se apresentam por meio do trabalho remoto – expandido durante este período de crise sanitária.

Os impactos do trabalho remoto, do teletrabalho, do home office ou de qualquer outra denominação que identifique esse novo modo de exercer a atividade profissional e suas diferenças inspiram as preocupações que levaram o Sintufrj a propor o evento.

Ele será virtual por teleconferência, vai durar três dias, 1º, 2 e 3 de setembro, e trará especialistas convidados para enriquecer nossa reflexão. Os técnicos-administrativos serão protagonistas na apresentação de trabalho, sistematizando suas experiências na UFRJ, ou participando como ouvintes dos debates, painéis e oficinas.

O momento para o debate é propício, pois o tema central tem tudo a ver com o teletrabalho, a forma não presencial que o governo quer instituir no serviço público federal sem garantia de pagamento de direitos e benefícios. Participe, se informe e discuta sobre a precarização do trabalho e o futuro do serviço público!

Abertura

A mesa de abertura, dia 1º de setembro, às 9h30, reunirá quatro convidados que são expressões nas suas áreas de atuação e que poderão nos oferecer abordagens diversas do tema do debate.

 

Margarida Salomão – Ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e deputada federal (PT-MG). Margarida Salomão tem uma lista de serviços prestados à sociedade como acadêmica, gestora pública (já foi secretária de Educação) e militante política. É professora emérita da UFJF e, na Câmara, preside a Frente Parlamentar em Defesa das Universidades. Nessa condição, tem sido porta-voz da resistência aos ataques do governo da ultradireita às Instituições Federais de Ensino Superior e aos seus trabalhadores.

 

 

 

 

Ricardo Antunes – Sociólogo e professor titular de Sociologia do Trabalho da Unicamp. Em “O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital”, lançado pela Boitempo Editorial, o autor de “Adeus ao trabalho”, obra clássica do gênero com mais de uma dezena de edições e tradução para vários idiomas, trata, agora, do mais recente fenômeno de apropriação do trabalho nas relações capitalistas. O livro mais recente de Ricardo Antunes, um dos mais respeitados entre os estudiosos brasileiros sobre o mundo do trabalho, aborda o que define como “uberização” do trabalho.

 

 

 

 

Gisele Ricobom – Professora da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Doutora em Direitos Humanos e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, organização que tem se destacado na resistência ao autoritarismo. Em artigos e entrevistas no auge da pandemia do coronavírus no Brasil, a professora Gisele acusou Bolsonaro de cometer reiteradamente crime contra a saúde pública, por expor e incentivar a população a desacreditar nas consequências do vírus. Gisele foi coautora de artigo na edição brasileira do Le Monde Diplomatique cujo título indaga: “Seria o Capitalismo uma doença?”

 

 

 

Rafael Ghrohmann – Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS). Ghrohmann é editor da publicação Digilabour, newsletter que traz como conteúdo um olhar na exploração da força de trabalho por meio de plataformas digitais. Pautas que investigam esse novo mundo do trabalho, sua diversidade, o impacto que produz na vida dos trabalhadores e a conexão com as práticas convencionais nas relações de trabalho são recorrentes em artigos e notícias da Digilabour.

 

Em pauta

Este fórum será rico para o debate e troca de experiências. Além do tema central há quatro eixos que serão a base dos trabalhos que serão apresentados. São eles:

Política de Pessoal – Trabalhos que tratem de ações e atividades sobre a área de pessoal: capacitação, qualificação, uso das TICs no trabalho, ambiente organizacional, dimensionamento, desvio de função, formação.

Gestão Universitária – Trabalhos que tratem de ações e atividades sobre a área de gestão: financeira, patrimônio, compras, infraestrutura, manutenção.

Políticas Acadêmicas – Trabalhos que tratem de ações e atividades sobre a área acadêmica – ensino, pesquisa, extensão, seja administrativa, seja no apoio ao ensino, sejam na execução de atividades de pesquisa e extensão.

Políticas Afirmativas – Trabalhos que tratem de ações e atividades relacionadas as políticas de inclusão social, combate ao racismo e a homofobia, as questões de gênero, acessibilidade, liberdade religiosa.

Informação e Comunicação – Trabalhos que tratem de ações e atividades relacionados a informação (sistemas, organização, transparência), bibliotecas, arquivos, museus, comunicação social (jornalismo, publicidade, editoração, radicalismo), artes, linguagem.

Premiações e Publicação

O Sintufrj vai premiar os três melhores trabalhos apresentados no fórum com notebooks. Além disso, todos os trabalhos escritos e vídeos selecionados serão reunidos numa revista eletrônica com o conteúdo do fórum a ser publicada pelo Sintufrj.