Sindicatos em Taubaté e em Camaçari buscam ajuda dos governos estaduais e municipais para tentar reverter o fechamento da empresa. A medida vai impactar mais de 72 mil pessoas, diretamente e indiretamente
Matéria retirada do site da CUT.
Depois do anúncio da Ford Brasil de fechar as três plantas da empresa no país ainda na madrugada desta terça-feira (12), trabalhadores e trabalhadoras da Ford em Camaçari, na Bahia, e em Taubaté, interior de São Paulo, iniciaram os protestos em defesa dos empregos.
As duas empresas foram fechadas imediatamente após o anúncio da multinacional de fechar as três plantas no país – apenas o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas e sua sede regional, ambos em São Paulo, permanecerão funcionando. A planta da Troller, em Horizonte (CE), será desativada no último trimestre de 2021.
Mesmo não podendo entrar mais na empresa, a categoria na Bahia e em Taubaté foi até a porta das fábricas para as assembleias, coordenadas pelos sindicatos dos metalúrgicos de cada região, e decidir os próximos passos da luta.
Tanto em Camaçari, quanto em Taubaté, os trabalhadores decidiram manter o protesto permanente para tentar reverter a situação e preservar os empregos. Só na Bahia, mais de 60 mil pessoas podem ser impactadas pela decisão da empresa e em Taubaté quase 12 mil, direta e indiretamente.
O engenheiro de produção da Ford em Camaçari, Alan Yukio, disse que esta terça foi um dia muito triste, muito pesado e um clima horroroso com milhares de pais de família que perderam seus empregos de um dia para o outro. Segundo ele, em torno de 3 mil pessoas participaram da assembleia chamada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari e depois participaram da carreata, que acabou com outro protesto em frente a governadoria do estado.
“A gente quer ser ouvido pelo governador do estado, Rui Costa, para que possamos discutir saídas para o que está acontecendo. A Ford está irredutível para qualquer negociação e os diretores do sindicato nos falaram que nem abrindo mão de direitos importantes os representantes da empresa não avançaram para um acordo, alegando falta de estabilidade econômica e política no país. Então, o melhor que se faz agora é pedir ajuda para os governos estaduais para ver se conseguem reverter esta situação”, afirmou Alan, que também é dirigente do Sindicato dos Engenheiros da Bahia. Outra mobilização já está agendada para esta quarta-feira (13)
Os trabalhadores e as trabalhadoras da Ford em Camaçari vão permanecer acampados em frente à empresa para não deixar entrar e sair nada do capital produtivo. Além disso, o sindicato já teve o comprometimento de alguns parlamentares do município e do estado para seguir na luta. “Segundo o sindicato, vamos apertar de todos os lados”, disse Alan.
Em Taubaté não foi muito diferente. O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (Sindmetau) realizou uma assembleia para a manhã desta terça, no qual foi aprovada uma agenda de mobilização, entre elas uma vigília permanente dos trabalhadores na fábrica, assembleia na Câmara Municipal de Taubaté, nesta quarta (13) às 8h para buscar apoio do poder público em defesa dos empregos, além de plenárias virtuais com os trabalhadores para manter a mobilização e acionar o governo federal, já que a Ford foi beneficiada por uma série de empréstimos do BNDES e incentivos fiscais federais.
“O Sindicato vai fazer toda luta necessária para tentar reverter essa situação”, disse o presidente do Sindmetau, Claudio Batista, o Claudião, em matéria publicada no site da entidade, logo após o anúncio da empresa.
Para uma reportagem da Folha de São Paulo, Claudião disse que “é uma irresponsabilidade pelo momento que vivemos. O governo federal não tem política voltada ao setor e trabalhadores deveriam ter estabilidade até 2021″.
Metalúrgicos têm acordo com Ford de estabilidade
Segundo o Sindmetau, os 830 trabalhadores da fábrica têm estabilidade no emprego até dezembro de 2021, resultado dos acordos de redução de jornada e salários firmados durante a pandemia do novo coronavírus ,e que que foi ignorado. Em Camaçari, a categoria também estava dentro da estabilidade garantida pelo acordo entre empresa, sindicato e governo Federal, mas a Ford também não tocou no assunto.
“O encerramento pegou todos de surpresa. Após quase duas décadas lucrando em Camaçari, a Ford fecha as portas sem nenhuma negociação, numa situação lamentável e de completo desrespeito com os milhares de trabalhadores”, disse o presidente do sindicato na Bahia, Júlio Bonfim, para uma reportagem publicada no site da entidade.
A CUT e as demais centrais sindicais reunidas desde a manhã desta terça para contribuir com a mobilização e luta em defesa do emprego juntamente com o Sindmetau e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC se pronunciaram em nota.
Até quando não se sabe
Alan que trabalha no Centro de Desenvolvimento de Produto, em Camaçari, e disse que o emprego dele também não está garantido. Segundo ele, não se sabe até quando os trabalhos do setor continuam.
“A gente acha que nossa engenharia só fica no Brasil até o fechamento da Troller no Ceará e como a gente não teve acesso a informação e fomos pegos de surpresa pela medida da Ford, amanhã pode ser a gente que vai acordar e não ter mais um emprego”, disse.
Solidariedade
A categoria em todo país contou com a solidariedade da classe trabalhadora. Em Camaçari e em São Paulo, além dos metalúrgicos e metalúrgicas de outras bases, diversas categorias também estão mobilizados para defender empregos.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Feira de Santana e Região e da CUT Bahia, Josenilton Ferreira Pereira, o Cebola, disse que a categoria está em peso com os trabalhadores da Ford. A presença dos metalúrgicos de Feira de Santana no ato desta quarta na Assembleia Legislativa na Bahia já está confirmada.
“Nos solidarizamos com os trabalhadores e estaremos juntos na luta por empregos, já passamos por isso e sabemos da importância de estarmos unidos para a vitória”, disse.
O Conselho Reginal de Engenharia e Agronomia na Bahia (Crea-BA) soltou uma nota dizendo que o fechamento da fábrica da Ford trará aumento de desemprego para o Brasil, e agravará a situação da Bahia, onde a montadora possui fábrica na cidade de Camaçari. A entidade também ressalta que a multinacional recebeu cerca de 20 bilhões de dólares no Brasil em incentivos fiscais desde 1999. “Pediu isenção fiscal e prometeu gerar empregos. A crise chega e simplesmente avisa o fechamento, sem compromisso com o país, com a Bahia”.
O Sindicato dos Engenheiros da Bahia repudiou a atitude da empresa e exige que os governos de Camaçari, Bahia e do Brasil encontre caminhos que possibilite a permanência das fabricas e dos empregos em solo nacional. “Os incentivos fiscais que a FORD recebeu foram financiados pelo povo desta terra. Caso a empresa feche suas fabricas, devem ser devolvidos aos brasileiros. Bem assim a empresa deve implantar um programa de apoio econômico, de qualificação profissional aos empregados diretos e indiretos do complexo Ford”, afirma a entidade em nota.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC soltou uma nota sobre o assunto. A entidade disse que não é surpresa total o fechamento de todas as plantas da Ford no Brasil . Segundo o documento, é surpresa o fechamento da fábrica de Camaçari, mas se analisar o que a Ford disse quando fechou a planta de São Bernardo, de que o foco dela seria a produção de picapes e SUVs, não é estranho que abdicasse também da planta de Camaçari. Já a planta de Taubaté para eles era uma incógnita muito forte.
“A Ford vem tratando trabalhadores e sindicatos da mesma forma como agiu no ABC, com surpresa, rapidez e celeridade divulgação das suas decisões, o que deixa na mão milhares de trabalhadores diretos e indiretos. Se a Ford abriu mão de produzir no Brasil, ela tem que entender que o mercado brasileiro também pode abrir mão da Ford”, diz trecho da nota.