Nesta data, as favelas do Rio tiveram o dia com mais casos confirmados de coronavírus em quatro meses, de acordo com levantamento feito pelo jornal Voz das Comunidades. Segundo o painel “Covid-19 nas Favelas”, em 24 horas, foram 325 infectados e duas mortes em comunidades da cidade. Ao todo, o boletim afirma que 10.990 moradores de áreas carentes já tiveram a doença e 1.042 perderam a vida por conta dela. Ainda não houve atualização nesta quarta-feira.

De segunda para terça-feira, as comunidades que mais tiveram casos confirmados da doença foram: Complexo do Alemão (111 casos), São Carlos (39 casos), Complexo da Penha (38 casos), Vila Kennedy (25 casos), Santa Marta (21 casos), Morro da Formiga (18 casos) e Mandela (15 casos). Metade das oito mortes aconteceu na Cidade de Deus e na Vila Kennedy. Os outros quatro óbitos foram registrados no Alemão, Tavares, Vila Vintém e Complexo da Penha.

Os números acendem um alerta, mas, no geral, ainda são considerados baixos, se comparados a demais áreas da cidade ou à expectativa negativa criada por especialistas por conta de todos os problemas já conhecidos em favelas por ausência do poder público. A falta de testagem, por exemplo, já foi um dos fatores usados para explicar tal discrepância. Ao GLOBO, o médico epidemiologista da Secretaria Estadual de Saúde Alexandre Chieppe disse que há indícios de que a população mais pobre possa, sim, ter sido mais afetada pelo coronavírus, ainda que tenha morrido menos.

As comunidades com mais casos e mortes pela Covid-19, segundo o painel “Covid-19 nas Favelas”, são:

  • Maré – 1.400 casos e 154 mortes
  • Complexo do Alemão – 1.283 casos e 78 mortes
  • Rocinha – 1.045 casos 67 mortes
  • Penha – 843 casos e 56 mortes
  • Jacaré – 835 casos e 57 mortes
  • Manguinhos – 665 casos e 57 mortes
  • Cidade de Deus – 600 casos e 99 mortes
  • Gardênia Azul – 488 casos e 60 mortes

 

 

País superou a marca de 9 milhões de infectados com velocidade recorde no crescimento de casos

Matéria retirada do site do Brasil de Fato. 

A segunda semana de vacinação contra a covid-19 no Brasil se encerrou com avanço de casos em tempo recorde e o segundo pior patamar de mortes em sete dias.

Foram 7,5 mil casos entre o domingo (24) e o sábado (30). O país só havia registrado dados mais alarmantes em julho do ano passado, que teve 7.714 óbitos entre os dias 19 e 25.

Enquanto isso, a campanha de vacinação segue lenta, com incertezas sobre a chegada de doses e insumos e sem sinalização de um calendário para a população em geral.

Na terça-feira (26), quando o país registrou mais de 61 mil novos contaminados em 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro mentiu sobre o andamento imunização.

Para uma plateia de investidores estrangeiros, em um evento de um banco internacional, ele disse que o Brasil era o sexto país que mais havia vacinado cidadãos e cidadãs.

Na ocasião, no entanto, nem 0,5% da população havia sido imunizada. Monitoramento da plataforma Our World in Data – mostrava que o país era na verdade o sexto que menos havia aplicado doses.

Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, a médica de família e comunidade Fernanda Americano Freitas Silva, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que a demanda por vacinas é global e todas as nações enfrentam esse desafio. Segundo ela, é preciso investimento na produção nacional.

“É muito importante a gente ressaltar que a maioria dos países depende desses insumos para produção. A gente está diante de uma corrida pelo insumo. Uma corrida mundial que tem alta concorrência”, resslalta.

Segundo Silva, para a campanha de imunização deslanchar no Brasil, o país precisa da produção nacional. “Essa tecnologia de produção já vem com descaso há anos. Enquanto isso, a gente caminha a passos lentos”, afirma.

Dois dias depois das afirmações inverídicas de Bolsonaro, na quinta-feira (28), o país ultrapassava a marca de 9 milhões de infectados pelo coronavírus. O patamar foi alcançado em tempo recorde, apenas vinte dias depois do registro de oito milhões. O Brasil nunca havia registrado tantos casos em tão pouco tempo.

Também na quinta-feira, um estudo divulgado pelo Instituto Lowy, em Sydney, na Austrália, indicava que o Brasil é o pior é o pior país do mundo no combate à pandemia.  Entre 98 nações, o país ficou em último lugar na qualidade da resposta à propagação do coronavírus. Falhou na prevenção, no controle, no monitoramento de casos e na contenção dos óbitos.

A semana terminou com menos de 1% de imunizações. Fernanda ressalta que a situação do Brasil é singular.  “Apesar de a gente ter um bom programa nacional de operacionalização, nós não temos vacina”. No sábado (30), o país chegou a dez dias seguidos de média diária de óbitos superior a mil. O número total de contaminados ultrapassou 1,4 milhão somente em janeiro.

“Temos ainda uma segunda onda que já está sendo pior que a primeira. Nós temos um governo que demorou a manifestar interesse em parcerias com laboratórios que estão na linha de frente da produção da vacina e que além de tudo negou a gravidade do problema. Hoje a gente colhe os frutos dessas decisões.”, completa a médica.

Vacinação contra a covid no Brasil segue a passos lentos. – Mauro Pimentel/ AFP

 

 

“Crise sanitária, política, ética e social sem precedentes no país”. Assim avalia a realidade brasileira atual, o epidemiologista e professor da UFRJ, Roberto Medronho. Ouça o áudio: