Encontro histórico que reuniu mais de 5 mil sindicalistas de todo o país, em 1981, foi realizado na Praia Grande, litoral de SP e representou ‘a semente’ para o nascimento da Central Única dos Trabalhadores
Publicado: 24 Agosto, 2021. Escrito por: Andre Accarini
Há 40 anos, em 1981, na Praia Grande, litoral de São Paulo, mais de cinco mil sindicalistas de todo o país se reuniram para um encontro que tinha como objetivo organizar a classe trabalhadora em torno das lutas comuns à época. A 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat) era a primeira grande reunião intersindical no Brasil desde o golpe de 1964, que instalou a ditadura militar no país.
A Conclat reuniu todas as correntes de pensamento do movimento sindical, que se rearticulava após anos de repressão. Nos dias 21, 22 e 23 de agosto daquele ano, ao todo, 5.036 sindicalistas representando 1.091 entidades de todas as categorias, além de centenas de apoiadores e delegações internacionais de várias partes do mundo debateram questões urgentes da classe trabalhadora.
Os temas prioritários discutidos na Conclat, que remetem aos dias atuais de ataques aos direitos da classe trabalhadora, foram direito ao trabalho, sindicalismo, saúde e previdência social, política salarial, política econômica, política agrária e problemas nacionais.
A primeira grande manifestação nacional convocada pela Comissão Nacional Pró-CUT, também remete aos tempos atuais de disparada da inflação e taxas recordes de desemprego. Em 1º de outubro de 1982, foi entregue ao governo militar, em Brasília, um manifesto que exigia o fim do desemprego e da carestia, entre outras pautas.
Mas, acima de tudo, a Conclat carregava a responsabilidade de lutar pela redemocratização do país, que estava sob o regime militar. A luta contra a repressão aos trabalhadores era um dos pontos de unidade.
Além de aprovar ações como o Dia Nacional de Luta (1° de outubro de 1981), a Conclat também criou a Pró-CUT, o primeiro passo para a criação da Central, dois anos depois.
“A Conclat é nossa história, é o pré-nascimento da Central Única dos Trabalhadores. Ter sido eleito presidente da CUT, em 2019, foi uma grande honra para mim e ganhou um simbolismo especial porque o 13º Congresso foi realizado na Praia Grande, a mesma cidade que sediou a 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, há 40 anos atrás, em agosto de 1981, diz o presidente da CUT, Sérgio Nobre.
Para o dirigente, a Conclat é um marco histórico para o movimento sindical e toda a classe trabalhadora, não somente do Brasil, mas de todo o mundo, já que deu origem à CUT, hoje a maior central do Brasil e a quinta maior do mundo.
“A Conclat foi um ato de resistência e luta pela democraci”
– Sérgio Nobre
Hoje, o Brasil vive um retrocesso sem precedentes em todas as áreas, em consequência do golpe de 2016, contra a presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff. Golpe este que abriu caminho para a eleição de “um governo autoritário, incompetente, que ataca a Constituição, a lei, as instituições, ignora a classe trabalhadora; que defende a ditadura, ataca e suprime as
liberdades e quer destruir o movimento sindical e todas as formas de defesa dos direitos da classe trabalhadora”, diz Sérgio Nobre, se referindo ao governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL).
E a Central Única dos Trabalhadores, que nasceu m 1983, após o 1° Congresso Nacional da Classe Trabalhadora lutando pela democracia, às vésperas de completar 38 anos, defende os trabalhadores dos ataques deste governo autoritário que coloca a democracia tão duramente conquista em risco.
Para Sérgio Nobre, a CONCLAT, como a CUT, segue, no Brasil de hoje, mais atual e importante do que nunca, por seu papel de defesa da democracia e dos trabalhadores, e das vitórias conquistadas com muito esforço e luta.
“Resistiremos e lutaremos, sempre. É o que estamos fazendo agora ao celebrar os 40 anos da Conclat”
– Sérgio Nobre
Na história
Em 1981, o Brasil, governado pelo General João Baptista Figueiredo, passava por uma crise econômica que resultava em uma forte recessão com aumento acelerado do desemprego e inflação. O número de greves – uma onda que havia começado em 1978 – cresceu naquele ano. Aumentou também o nível de organização dos trabalhadores por local de trabalho, por meio das comissões de fábrica.
Era, portanto, um momento de ascensão do movimento sindical e de avanço da luta pela redemocratização do país.
O professor Julio Turra, ex-diretor da CUT, que participou da Conclat em 1981, ressalta a importância do encontro histórico para a classe trabalhadora e traça um paralelo com os dias atuais.
“Em 1981, estávamos em um levante da luta sindical por direitos a partir das greves de ‘78’. Passados 40 anos, o movimento sindical se encontra na defensiva diante de ameaças constantes de um governo autoritário, genocida a antidemocrático. Hoje, lutamos para preservar direitos e evitar mais reformas como já sofremos com a Trabalhista e a previdenciária”, diz Julio.
Nos dias atuais, afirma, a mobilização de trabalhadores é também a única a saída para conseguir derrubar o governo “o mais rápido possível”.
“Estamos hoje diante de um governo que trabalha para o mercado, com um Congresso conservador que aprova as pautas de Bolsonaro e não abre o impeachment porque a maioria é reacionária”, afirma Júlio Turra.
“Esse é um complicador para luta da classe trabalhadora A única saída é continuar mobilizando e ocupando para acabar o governo. Quanto antes, melhor”, complementa.
Nascimento da CUT
A Conclat foi o primeiro passo para a construção da Central Única dos Trabalhadores. Além de ser um marco para o movimento, é uma referência de organização dos trabalhadores.
Em 1º de outubro de 1981, quando foi entregue o manifesto ao governo militar, manifestações foram realizadas em vários estados e cidades. As maiores ocorreram no Rio de Janeiro, no Largo da Carioca, e em São Paulo, na Praça da Sé. Cada uma reuniu em torno de cinco mil pessoas.