Além do prejuizo milionário para o país, plano escolhido pelo governo para descotização das hidrelétricas vai impactar nas contas de luz da população. Indústrias e grandes empresas não serão prejudicadas
Nesta quinta-feira (3), dia em que a Eletrobras tenta se recuperar de mais uma queda de suas ações na Bolsa de Valores por conta da insegurança quanto a venda da empresa, os eletricitários, os primeiros a denunciarem irregularidedes na privatização da estatal, voltam as redes para lutar por uma #EletrobrasPública.
As ações da Eletrobras voltaram a despencar ontem com a publicação de uma reportagem no Valor Econômico escancarando um “erro metodológico identificado nos estudos técnicos” referentes à venda da empresa.
O que eles chamam de erro metodológico foi detalhado pelo PortalCUT em dezembro: Falta de informações sobre a precificação da Eletrobras, das bases de cálculo do valor de contratos e a falta de estudos sobre garantias físicas das hidrelétricas da estatal.
As falhas no processo do modelo econômico financeiro da privatização da Eletrobras, projetam um prejuízo ao erário de R$ 16,2 bilhões ou mais. A sociedade só saberá o valor jogado fora quando o TCU voltar a analisar o tema, até março.
No ano passado, na última sessão do TCU, em 15 de dezembro, o ministro Vital do Rego pediu vistas. Além do preço abaixo do que a empresa vale, o ministro levantou outro pronto: aos custos com energia elétrica.
O relatório do TCU aponta que o plano escolhido pelo governo para a descotização das hidrelétricas vai impactar nas tarifas de consumidores residenciais e não sobre indústrias e grandes empresas.
Vital do Rego pediu vista, após o relator do caso, ministro Aroldo Cedraz, apresentar várias ressalvas à privatização em seu voto, inclusive sobre o valor da outorga, de R$ 23,2 bilhões.
A falha identificada por Vital está relacionada à potência das usinas hidrelétricas da empresa, o que gerou uma subavaliação no valor final da outorga.
O suposto erro elevaria em bilhões de reais o preço de venda.
Policial militar apontado como dono do quiosque Biruta, onde congolês trabalhava, foi intimado a depor
Eduardo Miranda/Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | 3 de Fevereiro de 2022
O Levante Popular da Juventude realizou um protesto no início da manhã desta quinta-feira (3) para pedir justiça por Moïse Kabagambe, de 24 anos, congolês morto no último dia 24 após ser espancado por três homens. A ação ocorreu em frente aos quiosques Biruta e Tropicália, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Com palavras de ordem contra o racismo e contra a precarização de direitos trabalhistas que atinge a população mais jovem no Brasil, cerca de 100 integrantes do movimento popular interditaram por 15 minutos a avenida da praia da Barra da Tijuca e atearam fogo em pneus.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Maíra Marinho, da coordenação nacional do Levante no Rio, lembrou que Moïse foi espancado durante 15 minutos e morto por reivindicar o pagamento de dias trabalhados no quiosque Biruta. O congolês, que vivia no Brasil desde 2011 na condição de refugiado, trabalhava em condições precárias, sem direitos trabalhistas.
“A ação é para denunciar o que aconteceu com Moïse aqui na Barra da Tijuca, onde ele foi brutalmente assassinado por reivindicar seus direitos enquanto trabalhador com salário atrasado. Esse assassinato não é um caso isolado, ele faz parte de uma política mais ampla de extermínio da juventude negra, simbolizada na morte da Ágatha, do João Pedro, da vereadora Marielle Franco e da vida do corpo negro no Brasil”, disse Maíra.
Durante o ato, integrantes do Levante denunciaram o crime como resultado de racismo e xenofobia e disseram que atos de violência e assassinatos passaram a ser mais fomentados no governo do presidente Jair Bolsonaro. Apesar de ser congolês, Moïse era chamado de “angolano” pelos agressores. Ele deixou a República Democrática do Congo em 2011 para fugir da violência naquele país e foi acolhido pelo Brasil como refugiado.
Precarização trabalhista
A Polícia Civil intimou para depor nesta quinta-feira (3) o policial militar Alauir Mattos de Faria. Ele é apontado por dois dos agressores como dono do quiosque Biruta, onde Moïse trabalhou. Segundo Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o policial não estava no local no momento do crime. Além de Alesson, Brendon Alexander Luz da Silva e Fábio Pirineus da Silva foram presos na última segunda-feira (1º)
O procurador da comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), Rodrigo Mondego, que acompanha o caso, afirmou na última terça-feira (2) que existe uma tentativa de justificar a morte de Moïse por ele estar supostamente alcoolizado, segundo os agressores, mas o que deve ser destacado, segundo o advogado, é a relação trabalhista precária do quiosque com o congolês.
O Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) informou que instaurou Inquérito Civil para analisar a relação trabalhista entre as partes. A denúncia aponta para o possível trabalho sem o reconhecimento de direitos trabalhistas, podendo configurar, inclusive, trabalho em condições análogas à de escravo, na modalidade trabalho forçado, de xenofobia e de racismo. O Inquérito Civil corre em paralelo com as investigações criminais pelos demais órgãos competentes.
Investigação
A Polícia Civil investiga se haveria mandantes por trás do crime, que foi registrado por câmeras de vigilância do quiosque Tropicália, que fica ao lado do local onde Moïse trabalhava. O congolês chegou a trabalhar no Tropicália, mas recentemente ele prestou serviço ao Biruta e foi lá o local onde ele esteve para cobrar a dívida.
A polícia informou que o dono do Tropicália não tem nenhuma relação com a morte e colaborou cedendo as imagens de vídeo à investigação.
“Você viu o que aconteceu no Rio de Janeiro? Num quiosque na beira da praia, quando mataram um jovem do Congo com um taco de basebol? Sabe, isso não é normal. Isso não é humano”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele se referia ao assassinato de Moïse Kabagambe, espancado até a morte, na Barra da Tijuca, em 24 de janeiro.
O congolês foi atacado com crueldade após cobrar pelos serviços que havia prestado ao quiosque. O assassinato repecurtiu nas redes sociais, com a hashtag #JustiçaPorMoise. O crime está envolto em uma série de questões estruturais do país, como banalização da violência, exploração e precarização dos direitos trabalhistas; poder das milícias, racismo e xenofobia.
O país e o assassinato
Lula afirma que a morte de Moïse é um espelho do atual momento social e político do Brasil. “Isso é resultado de um país que está sendo governado por um fascista e por muitos milicianos. Uma parte da bandidagem está governando esse país”, sentenciou o ex-presidente.
De acordo com a família do congolês, que foi recebida nesta quarta-feira (2) pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), o quiosque devia R$ 200 a Moïse. O dinheiro era essencial para o jovem, que precisava pagar o aluguel de uma casa simples na zona norte da capital fluminense, onde morava com primos e irmãos.
Movimentos sociais organizam um protesto para sábado (5). O corpo do jovem foi sepultado no último domingo (30) no Cemitério do Irajá. Moïse chegou ao Brasil aos 14 anos, em 2011, com a mãe e irmãos. Eles vieram refugiados de conflitos armados na República Democrática do Congo.
Evento acontece de 9 a 13 de fevereiro nas favelas da Zona Sul de São Paulo
FONTE: Enviado para o Portal Geledés, por Kawê da Silva Veronezi/3/2/2022
O Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada, evento que tem como objetivo valorizar as diferentes manifestações e processos artísticos da população LGBT+ periférica, acontece presencialmente de 9 a 13 de fevereiro. O festival, que está previsto para acontecer de forma itinerante pelas favelas da Zona Sul de São Paulo, vai contar com diferentes ativações artísticas, como apresentações musicais, mostras de curta-metragens e slam. A realização do festival é da Maloka Filmes, uma produtora criativa audiovisual TLGB+ formada por jovens periféricos de São Paulo.
“Quantos festivais de cinema você já viu na favela? Quantos festivais de artes a gente conhece que exaltam a cultura periférica? E como conciliar isso com a cultura LGBTQIA+ e preta, que também são marginalizadas na nossa sociedade? Enquanto pessoas periféricas, trans, pretas e LGBs, estamos tentando mudar a estrutura de eventos de artes no Brasil: queremos transformar desde o topo, alterando as pessoas que tomam decisões, quem trabalha no evento, quais são as corporeidades, as artes e os pensamentos valorizados ou não. E a única forma de fazer isso é construindo nós por nós, a partir das nossas tecnologias e saberes favelados”, relata Rosa Caldeira, diretor e roteirista na produtora de audiovisual comunitário Maloka Filmes.
Ocupar a periferia e produzir novas narrativas por meio de diferentes expressões artísticas quebrando estigmas consolidados nos imaginários sociais é um dos objetivos do Festival Perifericu. “A presença de corpas trans e negres nesses espaços não foi algo concedido, nós de fato rompemos as barreiras para chegar neles. Isso foi primordial pra gente conseguir enxergar o quanto esse universo dos festivais é extremamente branco, hétero, cis e elitista, ou seja, ainda que estivéssemos lá com nosso filme esses espaços não eram seguros e receptivos à nossas existência, pois na maior parte do tempo, sequer compreendiam as questões que nosso próprio filme retratava. Criar um festival é também fazer com que existam espaços seguros para celebração da nossa arte, com os nossos, gente preta, TLGB+, maloqueires. Na quebrada, que é o nosso centro”, conta Well Amorim, cineasta e um dos idealizadores do festival.
A programação do evento inclui formações, mostras de filmes, apresentações musicais, slams e debates, visando democratizar e enaltecer a cultura TLGB+ de quebrada, construindo pontes dentro das comunidades e viabilizando espaços de encontros. O evento vai acontecer de forma itinerante na Associação Bloco do Beco, Espaço Reggae e na Casa de Cultura M’Boi Mirim, esta última possui a capacidade máxima de 600 pessoas, mas por conta da Covid-19 o festival vai trabalhar com a capacidade reduzida para 150 pessoas. Além de ter como regra a apresentação da carteira de vacinação, com as duas doses da vacina e o uso obrigatório de máscara PFF2 ou N95. A presença online do festival vai acontecer por meio da plataforma Todesplay, que irá veicular os filmes on-line de 9 a 15 de fevereiro, dois dias a mais do que o período do evento.
“Nosso desafio não é só o de produzir filmes nas maiores adversidades, mas também de fomentar espaços para que as obras cheguem nas pessoas da quebrada, que elas tenham um espaço para debater e refletir sobre arte e que as outras formas de cultura de quebrada consigam existir nos espaços cinematográficos”, conta Nay Mendl, cineasta e um dos idealizadores do festival.
A iniciativa do festival é da Maloka Filmes com apoio do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais do Município de São Paulo – VAI, Associação Bloco do Beco, SPCine, Casa de Cultura do M’Boi Mirim, Projeto Paradiso e TodesPlay.
SERVIÇO
Festival Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada.
Data: 9 a 13 de fevereiro
Formato: Presencial
Local: Associação Bloco do Beco, Espaço Reggae e Casa de Cultura M’Boi Mirim
Jurades: Pionner Felix Pimenta + Vita Pereira + Prince Puri Candaces
DJ Set Crash Crew: Dj Livea, DJ Alef, DJ Guxtrava + DJ Hiperativo
Categorias: Runway- APT, Joga a Raba- APT, Sex Siren- APT, Vogue Performance- APT, APT- Aberto para todes. Premiação em R$.
Sábado (12/02)
15h – Papo visão sobre fotografia + Caminhada histórico-fotográfica pelo bairro Jardim Ibirapuera
Local: Bloco do Beco + Rua
Participantes: Jennyfher Nascimento + Well Amorim e Nay Mendl – Maloka Filmes
19h – Sessão de Curtas
Local: Bloco do Beco
20h – Ensaio Bloco de Beco
Local: Bloco do Beco
Domingo (13/02)
17h – Sessão Maloka Filmes
Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim
19h – Encerramento: Premiação com apresentação das Irmãs de Pau Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim
20h – Show BADSISTA
Local: Casa de Cultura
21h – Show Irmãs de Pau
Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim
21h – Exibição de fotos da caminhada fotográfica
Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim
SOBRE O FESTIVAL
O Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada tem como objetivo valorizar as diferentes manifestações e processos artísticos da população TLGB+ periférica, que sempre existiu e segue resistindo às marginalizações e estigmas sociais.
SOBRE NAY MENDL
Nay Mendl (@naymendl) é cineasta periférico, transmasculino, graduado em Cinema pela UNILA com intercâmbio pela Universidad Nacional de Colombia, e co-fundador do coletivo Maloka Filmes. É diretor, diretor de fotografia e montador, com seus estudos voltados para as representações de corpos dissidentes e periféricos no cinema contemporâneo e busca com seu trabalho descolonizar narrativas, no corre pelo cinema favelado transvestigenere latino-americano.
SOBRE WELL AMORIM
É produtor, diretor, diretor de fotografia, apresentador, filmmaker, pesquisador e servirologista na arte de comunicar. Em 2018 apresentou três episódios da série “Explorer Investigation” da National Geographic disponível no youtube. Em 2019 fez a produção executiva e a direção de fotografia do curta-metragem premiado “Perifericu” e assinou a direção de fotografia do curta documental “Dub-Magneficente”. Também produziu e dirigiu seu primeiro longa-metragem documental, “Raízes”, que estreou na Mostra de Cinema de Tiradentes de 2020. Em 2021 foi pesquisador e assistente de direção no documentário “Tecnologias da Esperança” do GNT e assistente de direção do documentário “Motriz – Roda de afeto” da Preta Portê Filmes. Faz parte do coletivo criativo Maloka Filmes e está na produção da primeira edição do “Perifericu – Festival de Cinema e Cultura de Quebrada” com foco na valorização de pessoas TLGBs das periferias.
SOBRE ROSA CALDEIRA
Rosa Caldeira (@orosacaldeira) é diretor e roteirista na produtora de audiovisual comunitário Maloka Filmes. Cineasta trans e militante, sempre juntando ideias para atuar com cultura TLGB e periferia. Seu último curta-metragem, Perifericu (@perifericu), recebeu mais de 30 prêmios, incluindo Festival de Tirandestes e Curta-Kinoforum. É formado em sociologia e especializado pela Escuela Internacional de Cine y TV en Cuba. Busca junto aos seus um reolhar sobre a imagem de experiências transviadas faveladas em primeira pessoa.