PERFIL/Mariana Capote
Mariana Capote é técnica em enfermagem da Emergência do Hospital Universitário Clementino fraga Filho e tem orgulho do que faz. Desde muito nova, gostava mesmo da área de saúde e diz que tem competência e que nasceu para isso, que é como um dom.
Ela terminou seu curso técnico aos 16 anos e partiu para o primeiro estágio. Hoje, aos 32 anos, pode dizer que já está há bastante tempo na área e, para ela, há uma palavra que define tudo que a atividade exige do ponto de vista humano no trato com o paciente: empatia.
“É preciso se colocar no lugar do outro, como se fosse para você ou para sua família”, diz ela, acrescentando que a maioria dos pacientes comenta que a estrutura do hospital pode estar ruim mas que o corpo técnico é muito bom, seja de Medicina ou da Enfermagem: “A gente faz o melhor que pode”.
Como é a rotina
Ela trabalha em regime de plantão por 12 horas e folga dois dias. Isso quando não faz extra em função do déficit de funcionários. A verba do governo para sustentar o funcionamento do hospital com pessoal durante a pandemia não foi renovada e só a Emergência perdeu pelo menos 30 trabalhadores. “A gente tenta completar (o pessoal) fazendo plantão extra. Ganhamos e ajudamos a Emergência a não ficar com desfalque”, conta.
A técnica explica que não trabalha em outro lugar porque é concursada da UFRJ e o concurso dá segurança por conta da estabilidade e um salário melhor. “Mas aqui dentro também tem técnicos que não ganham nem salário-mínimo, o pessoal extraquadro. Então o piso salarial não é um benefício. A gente quer um padrão estabelecido por lei e isso é o mínimo”, reflete.
Para ela, não se devia conceber nos dias de hoje, uma pessoa de nível técnico, ganhando menos de um salário-mínimo: “Isso é comum em diversas prefeituras que abrem concurso com salário de R$ 800. Um absurdo porque a gente precisa se atualizar, estudar. Estamos lidando com vidas”, diz ela.
Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, 90% dos procedimentos, num hospital, são feitos pela enfermagem. “Então, porque outras categorias têm piso e a gente, não?”, diz ela, ponderando que o baixo salário leva a necessidade de mais empregos: “Como estar estável emocional ou fisicamente para acolher um paciente fazendo uma carga horária excessiva porque o salário não achega a um salário-mínimo?”, questiona a jovem, deixando claro que não é o seu caso, mas de muitos colegas.
Mas, mesmo os salários dos técnicos-administrativos podem ser afetados com a aprovação do piso. “O salário é previsto no edital (definido na Carreira TAE), por isso, o técnico aqui ganha um pouco melhor, e ainda tem as progressões. O piso teria impacto porque o valor que o servidor recebe teria que ser ajustado”, explica.
Pandemia reafirmou importância
Na pandemia, o papel destes profissionais, se evidenciou. “A gente já tinha esta consciência, da importância que a gente tem, a mão na hora da parada cardíaca do paciente grave. Mas com a pandemia isso foi reafirmado. A gente colocou nossa vida em risco. Eram muitos pacientes e muita gente se aposentou, se licenciou por doença. Muita gente contraiu covid trabalhando. Mas a enfermagem foi incrível, sensacional. Com pessoas internadas aqui por 25, 30 dias sem ver a família. A gente fazia chamadas de vídeo, fazia o que podia”.
E as pessoas agradeciam. “Era afeto, empatia o que a gente podia oferecer. A gente fingia não estar com medo para passar segurança para o paciente”, disse ela, que teve que se afastar da família durante a pandemia e perdeu amigos. Mas no HU, não. “Aqui a disposição de paramentação e Equipamentos de proteção Individual foi rigorosa. Mas em outros lugares a gente sabe que não foi assim.”
Por valorização profissional
Ela pede, assim, as pessoas que aplaudiram os profissionais durante a pandemia que estejam ao seu lado agora. “A gente é grato, mas os aplausos apenas não pagam nossas contas, dedicação, conhecimento. Temos que lutar por essa causa para ver se valorizam a categoria”. Para ela, piso não é vantagem, mas um direito.