Audiência Pública pouco contribuiu para o debate cedendo espaços generosos aos defensores da adesão à empresa

Um mistério ronda o tema Ebserh. Nas recentes reuniões com a comunidade universitária (Conselho de Centro do CCS e Audiência Pública no Quinhentão)  os negociadores da UFRJ com a empresa não apresentaram o teor do contrato que está sendo negociado para que a Ebserh venha assumir os hospitais de ponta da universidade.

O mistério sobre o contrato permanece mesmo quando esses negociadores são cobrados com insistência, inclusive por um ex-reitor, como aconteceu na audiência pública da manhã desta quarta-feira (1º) no Quinhentão.

Carlos Frederico Leão Rocha – que substituiu Denise Pires à frente da UFRJ, foi enfático: “Este é o momento que temos que discutir o contrato. Acho que o contrato tem que ser disponibilizado. É uma questão fundamental”.

A ausência de transparência também alcança um outro documento que desperta a curiosidade da comunidade universitária: o relatório da comissão designada pela própria Reitoria para avaliar a performance da empresa nos hospitais universitários que comanda. São informações vitais para subsidiar o debate sobre a conveniência da Ebserh.

A tal audiência pública em vários aspectos foi uma reedição da sessão no Conselho de Centro do CCS na segunda-feira (30). Foi mais uma peça de propaganda favorável à adesão à Ebserh, tema que em breve deverá ir à apreciação no Conselho Universitário. Ela foi organizada e conduzida pelo diretor do Complexo Hospitalar Leôncio Feitosa.

Na plateia, representantes das entidades que atuam na comunidade universitária. Além do Sintufrj, Andes, Fasubra, DCE Mário Prata. O reitor Roberto Medronho e seu estafe (vice-reitora e alguns pró-reitores) também estavam presentes num ambiente rarefeito de mais pessoas em véspera de feriado.

Roberto Gambine, representante do Sintufrj na comissão que investigou os 10 anos da Ebserh em 41 hospitais, criticou o fato de a comissão não ter sido convidada a participar da audiência para expor o resultado do trabalho.

“É central que todos venhamos a conhecer os termos que se pretende contratar com a Ebserh. Conhecer o contrato é essencial para que a gente possa saber em que condições se pode avançar. Já foi explicitado que apenas três hospitais serão contratados. E os demais? Se é uma solução tão boa e necessária porque não envolve todos os hospitais?”, indagou.

Gambine lembrou a importância do contrato para responder questões como quantos concursos serão oferecidos, qual vai ser o investimento em infraestrutura, qual o prazo, quando a Ebserh vai assumir o custeio.

“Se isso não for colocado estaremos na verdade entregando os hospitais às escuras sem nenhum compromisso claro da empresa”, pontuou.

Drama no HUCFF

Dois coordenadores-gerais do Sintufrj estavam presentes na audiência pública. Laura Gomes conhece bem a realidade do HUCFF. Ela chamou atenção para “o drama dos extraquadros”, mais uma vez destacando “a situação grave daqueles que lutaram lado a lado dos demais trabalhadores durante a pandemia, salvando vidas”.

De acordo com a dirigente, muitos desses servidores são  trabalhadores do hospital há décadas, mas que hoje, se houver a adesão à Ebserh, ou passam no concurso, ou passarão fome. Ela questiona se é justo que sejam jogados na rua.

Também coordenador-geral do Sintufrj, Esteban Crescente disse que, embora não tenha se dado nas melhores condições, é bom que haja debate (acerda da Ebserh).

“Não podemos achar que de forma açodada vamos votar isso no Consuni. Temos que retomar a discussão na universidade, que pode ser a oportunidade de unificarmos e avançarmos na melhora das condições de trabalho no Complexo Hospitalar”, disse.

Ele voltou a reivindicar audiências públicas e debate aprofundado nos conselhos, apontando que é necessário que os colegiados ouçam as argumentações críticas que serão bem fundamentadas no relatório que será apresentado pela comissão designada para avaliar a Ebserh.

GAMBINE. Cobrança do contrato e do relatório da comissão designada para avaliar a empresa

 

 

 

Universidade lança campanha UFRJ Antirracista organizada pela Superintendência de Ações Afirmativas. Dirigente do Sintufrj reconhece avanços na pauta racial, mas observa que passos terão que ser dados nessa caminhada

Pela segunda vez a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, mas desta vez para a abrir as atividades do Novembro Negro na UFRJ e prestigiar o lançamento da campanha “UFRJ Antirracista – Nem um passo atrás: a Universidade está mudando”.

O evento foi organizado pela Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) – que tem à frente Denise Góes – na sexta-feira 27 de outubro, no Salão Pedro Calmon, Praia Vermelha.

A deputada federal Benedita da Silva – que foi convidada por Anielle – entrou de braços dados com a ministra que celebrou o crescimento de mulheres negras em espaços de poder.

A ministra citou como exemplo desse novo quadro a presença de Denise Góes à frente da criação da Sgaada e da maior presença de outras mulheres em cargos de visibilidade.

Ela citou a sua própria experiência. “A Maré produziu vereadora, ministra, deputada, como muitas outras favelas. Mas continuamos sendo tratadas como se não fôssemos merecedoras. Mas a política não vai nos mudar!”, disse.

Anielle saudou o lançamento da campanha da UFRJ antirracista e lembrou que as ações não sejam apenas parte de um discurso, mas se transformem em práticas efetivas.

Emoção no evento

Houve momento de consternação no evento por causa do falecimento da professora da Faculdade de Educação e participante do Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ, Marinalva Oliveira, que veio a falecer naquela sexta-feira. Foi lembrada e homenageada.

“Difícil estar aqui, mas também é um momento de honrar a memória da nossa companheira, uma professora negra tão comprometida com a defesa de uma universidade publica gratuita, de qualidade comprometida com a luta das pessoas com deficiência, e com a pauta da educação de um modo geral”, disse emocionada a coordenadora-geral do Sintufrj, Marta Batista, em sua fala no evento.

Em seguida, abordou o avanço da pauta racial na UFRJ já observando que a superintendente da Sgaada, Denise Góes, é uma técnica administrativa, ex-dirigente do Sintufrj e militante.

“Na UFRJ essa superintendência é um passo importante, mas ainda temos muito a caminhar, pois temos na história de nosso país uma democracia recente e uma ausência de democracia racial”, afirmou.

Marta destacou ainda o corte racial dos servidores na UFRJ. “Na nossa universidade temos menos de 13% de docentes autodeclarados negros e cerca de 35% de técnicos. Achamos importante trazer esses dados porque eles expressam que tivemos sim avanços muito importantes, que precisamos continuar lutando em relação a política de cotas, mas que esses avanços precisam caminhar mais”.

Ela finalizou sua fala ratificando a luta geral do movimento.

“Uma universidade antirracista é uma universidade também com recomposição orçamentária, uma universidade com uma efetiva política de permanência dos estudantes, do combate a todo tipo de assédio e violência, uma universidade financiada pelo orçamento público.”

Revolução silenciosa

A superintendente da Sgaada, Denise Góes, militante do movimento negro, identificou conquistas na luta antirracista.

“Após mais de um século de existência, este ano a universidade avançou para a institucionalização de pautas outrora silenciadas e negligenciadas. Ao movimento negro se deve a mudança de perspectivas com as pautas raciais e hoje chegam a espaços como esse”, disse.

Denise enfatizou que a política de cotas na UFRJ permitiu o aumento de 71% do número de estudantes negros promovendo uma “revolução silenciosa” e modificando o perfil étnico-racial.

“Podemos afirmar sem medo de errar que a política de cotas tem promovido uma revolução silenciosa na composição dos espaços de produção de conhecimento. O perfil étnico-racial da maior universidade federal da América Latina mudou, e a existência do Ministério da Igualdade Racial demonstra que a atenção que a agenda do governo federal tem para este tema”, observou.

O reitor da UFRJ, Roberto Medronho, anunciou que a Universidade precisa deixar evidente que não há mais espaço para o racismo. Segundo ele, ações como a criação da Sgaada e a campanha UFRJ Antirracista são passos para garantir espaços mais plurais. “Não haverá democracia neste país enquanto houver racismo”, afirmou.

DENISE GÓES, ANIELLE FRANCO E MARTA BATISTA no evento que lançou a campanha UFRJ Antirracista na Praia Vermelha
NO AUDITÓRIO PEDRO CALMON, NO PALÁCIO UNIVERSITÁRIO , a ministra da Igualdade Racial defende os espaços de poder para mulheres negras em cargos de visibilidade

 

ATIVIDADES

TERÇA-FEIRA (7)
•10H / IFCS – Mesa unificada debate Orçamento Público para a Educação e para o reajuste dos servidores
Convidados: Frederico Leão Rocha (ex-reitor da UFRJ), Taís Raquel (dirigente da UNE) e Paulo Lindesay (diretor da Assibge-SN)
Evento organizado pela Adufrj, Sintufrj, DCE, APG, Attufrj

•19h – pelos canais digitais do Sintufrj
Live: O que está acontecendo na Palestina

QUARTA-FEIRA (8)
•10h – Bloco A do CCS (em frente ao HU)
Manifestação por verbas para a UFRJ

•16h, no Buraco do Lume: Ato unificado dos
servidores federais

INSCRIÇÃO DE INTERESSADOS NA CARAVANA A BRASÍLIA PRESENCIALMENTE DURANTE AS ATIVIDADES