Com feira para doação de livros, técnicos-administrativos em greve dialogam com populares na principal praça da cidade

 

Os técnicos-administrativos em educação do Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé realizaram na quinta-feira, 25, ato em defesa da educação na Praça Veríssimo de Melo, no Centro do município. A ação da categoria em greve desde o dia 11 de março, teve por objetivo informar à população os motivos do movimento e apresentar projetos de extensão da universidade voltados para vários segmentos da sociedade local.

Para chamar a atenção do público, o Comando Local de Greve (CLG) organizou uma exposição com livros recolhidos pela comunidade universitária para serem doados durante o ato. A atividade contou com a participação de estudantes, que desde o início colaboraram com a greve dos técnicos-administrativos. O Sintufrj enviou o carro de som e companheiras e companheiros dos campi da UFRJ no Rio de Janeiro viajaram até Macaé em carros da entidade sindical para fortalecer a manifestação.

“Foi um ato muito produtivo: explicamos à população porque estamos em greve e mostramos um pouco dos projetos de pesquisa e de extensão universitária. A UFRJ não é só ensino”, falou a técnica-administrativa Antônia Karina. Ela citou como exemplo o projeto Germinando Amor. “As pessoas, no geral, nos deram atenção”, concluiu.

Outros técnicos-administrativos destacaram na praça mais contrapartidas da maior universidade federal do país para a população. “A UFRJ é muito mais que ensino de graduação e pós-graduação. Em Macaé, a universidade faz pesquisas e projetos, inclusive em parceria com a Prefeitura local. Aqui graduamos em Medicina, Enfermagem, Nutrição, Farmácia, Ciências Biológicas e Química”.

“Tiramos a UFRJ das quatro paredes e mostramos a sua importância para o país e a população de Macaé. Também apresentamos as áreas de atuação dos técnicos-administrativos em educação na instituição. É importante que a sociedade nos valorize e nos apoie nas nossas reivindicações. Há sete anos estamos com nossos salários congelados. Mas o nosso movimento é para muito mais: é pela recomposição orçamentária das universidades”    (fotos: Renan Silva)

Veja a cobertura do RJ Interior do ato em Macaé:

A reunião hibrida do GT Antirracismo do Sintufrj, na quinta-feira, 25 de abril, na sede da entidade, deliberou pela realização de duas atividades festivas: dia 16 de maio, em comemoração ao Dia do Trabalhador e ao Dia da África, e 19 de junho para celebrar o Dia da Criança na África. Local: Espaço Cultural do sindicato, em horários a serem definidos.

Os participantes da reunião debateram texto do livro da escritora, poetisa e ativista estadunidense Maya Angelou “Não trocaria minha jornada por nada”, que discute sobre aprendizado e transformações na vida, e o acordo assinado pela manhã, no auditório do Centro de Tecnologia (CT), de cooperação entre a UFRJ e a Associação de Universidades Africanas (AAU), pela manhã.

Calendário

A comemoração no dia 16 de maio pelo Dia do Trabalhador (comemorado em 1º de Maio) e pelo Dia da África (que é oficialmente celebrado em 25 de maio), terá debate com a participação da Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade da UFRJ, e de dois alunos de doutorado do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (Ippur), Maurício Kaabuink, da Guiné-Bissau, que vai falar a respeito das condições de trabalho dos imigrantes na África, e Constança, de Angola, sobre a saúde da mulher negra no Brasil.

A programação do dia 19 de junho, alusivo ao Dia da Criança na África ainda não está fechada.

 

 

Fasubra e Sinasefe criticaram a exclusão de aposentados e a não equiparação com Legislativo e Judiciário

Na tarde desta quinta-feira(25),  Fasubra, Sinasefe e outras entidades que integram o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) assinaram o Termo de Compromisso que determina o reajuste dos auxílios alimentação, creche e saúde. A vigência é a partir de 1º de maio, com pagamento em junho. Pelo acordo, o auxílio-alimentação desses servidores terá um reajuste de 52%, com pagamento em 1º de junho. Com a medida, o benefício passará de R$ 658 para R$ 1 mil.

O acordo também resulta em reajustes  no auxílio-saúde e no auxílio-creche. No caso do auxílio saúde, o reajuste é de 51% no montante destinado ao valor do per capita da Saúde Suplementar (considerando a faixa de idade e de renda do servidor). O benefício da  assistência pré-escolar vai de R$ 321 para R$ 484,90.

Críticas

A Fasubra, o Sinasefe (que representa os servidores da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), e as entidades do Fonasefe têm como bandeira a equiparação de benefícios com os demais Poderes da União, Legislativo e Judiciário. Mas não descartaram o aceite do reajuste por conta da situação de vulnerabilidade em que se encontram a maioria dos trabalhadores do Executivo, com salários congelados há sete anos e corroídos pela inflação.

A assinatura do Termo de Compromisso foi com a Bancada de Governo, representada pelas Secretarias de Relações de Trabalho e de Gestão de Pessoas, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).

A Fasubra participou de forma crítica, por entender que o reajuste dos benefícios é uma necessidade de parte da categoria, mas que exclui aposentados e pensionistas, e não atende a reivindicação dos servidores do Executivo que é a equiparação com Legislativo e Judiciário.

“Assinamos por entender que é direito dos ativos, apesar de ainda não ser equiparação dos benefícios. Ainda continuamos com os menores benefícios. Então essa desigualdade continua existindo, não é essa assinatura que vai mudar isso. Essa nossa luta que é intensa continua. O pior é a exclusão dos aposentados. Poder levar nosso cartaz de protesto foi muito importante. Essa assinatura não significa que concordamos com essa exclusão e que não tenha equiparação”, anunciou a coordenadora-geral da Fasubra, Ivanilda Reis, na saída do evento.

A dirigente informou que as entidades não tiveram fala durante a assinatura, ressaltando que a posição crítica já havia sido colocada nas mesas de negociação com o governo, criticando a fala do Secretário de Relações de Trabalho, José Lopez Feijóo, de que a assinatura era “um grande avanço”.

“Mais uma vez o secretário de Relações de Trabalho falou ser uma grande conquista termos o reajuste. As entidades não tiveram fala. Mas já colocamos em mesas que esse valor per capita da saúde não garante que os aposentados recebam por ser atrelado a um plano de saúde. E ele colocou ser uma grande vantagem esse per capita. Disse ser um “grande avanço” a assinatura do acordo, parabenizou as entidades por estarem assinando e que irá abrir mesas de negociação até julho e que pretende concluir todas as mesas, inclusive as abertas.”

Ivanilda afirmou que para atender as reivindicações dos servidores as mesas de negociação precisam avançar muito ainda, o reajuste é uma conquista da categoria e que a luta por equiparação e a greve continuam.

“As mesas precisam avançar muito para atender o que reivindicamos. Mas nós aqui destacamos que é importante o reajuste. É uma conquista da categoria. Lutamos por equiparação e que todos tenham direito de se alimentar dignamente. Não é justo os outros servidores terem benefícios muito maiores do que os técnico-administrativos.  É correto termos assinado e colocamos nossos questionamentos e nossa críticas. Estamos numa forte greve e assinar esse acordo sem nosso protesto, sem colocar nossa indignação, apesar de não termos tido o direito a fala, não seria possível. Com nossos cartazes fizemos nosso protesto. Estamos de parabéns, logico com posição contrária a exclusão dos aposentados e por estar muito aquém do que reivindicamos.”

A coordenadora-geral da Fasubra encerrou sua fala ratificando a continuidade da greve.

“Seguimos resistindo e fazendo a luta. Essa realidade tem que mudar. Nós temos que ser valorizado, merecemos e fazemos muita força para isso. É isso que vamos buscar.  Assinar esse acordo não significa nada em relação a nossa greve. Continuamos com nossa greve e dizendo para o governo que não aceitamos 0% em 2024. Esse acordo foi só um passo. Seguimos resistindo.”

 

Retroativo

A vigência é a partir de 1º de maio, isto é, entrará no pagamento de junho sendo retroativo a maio. Confira:

– Reajuste do Auxílio Alimentação, passando de R$ 658,00 para R$ 1.000,00;

– Reajuste de 51% no montante destinado ao valor do per capita da Saúde Suplementar (considerando a faixa de idade e de renda do servidor); e

– Reajuste no valor da Assistência Pré-escolar, de R$ 321,00 para R$ 484,90.

COORDENADORA DA FASUBRA, IVANILDA REIS, na tarde de assinatura do acordo com o governo sobre benefícios

 

 

 

 

 

 

UFRJ mandou relatório ao MEC informando dimensão da crise: orçamento só vai até junho. Reitoria foi à Andifes pedir apoio para repasse integral dos recursos próprios. CLG reivindica ação da UFRJ unida por recomposição orçamentária.

Como apontava a agenda definida pela assembleia da categoria realizada ontem, dia 24 de abril, e que aprovou a continuidade da greve, o coordenador da Fasubra e integrante do Comando Local de Greve da UFRJ Francisco de Assis foi ao Conselho Universitário, na manhã desta quinta-feira, dia 25, durante o expediente da sessão, no Auditório do Parque Tecnológico, levar informações ao colegiado sobre a greve da categoria que, na UFRJ, já na sua sétima semana.

Francisco informou que houve a apresentação de uma proposta por parte do governo no dia 19, que, embora tenha sido uma iniciativa importante, ainda não foi suficiente diante das reivindicações da categoria, cujo centro é a reestruturação da Carreira e a recuperação salarial. “Então, a gente está orientando a continuidade da greve, fortalecer a luta”, disse ele, explicando que também não há, por parte do governo, sinalização de atendimento de uma outra questão fundamental na luta, que é a recomposição orçamentária das universidades.

“A gente está vendo que a situação é precária de ponta a ponta do país. E sabe que tem a ver com a limitação orçamentária. E isso (essa pauta) deve unificar todos os três seguimentos. Para que a gente tenha a recuperação do orçamento das universidades, e para que a gente possa, de fato, fazer o que faz de melhor para o país”, disse Francisco propondo que, como vem ocorrendo em outras universidades, a UFRJ poderia realizar uma Assembleia Comunitária dos três segmentos, para apontar no eixo da luta a questão da recomposição do orçamento. “A gente precisa unificar a universidade para a gente fazer esse enfrentamento”, conclamou.

Vigilantes – Francisco informou também a falta de pagamento do dissídio dos vigilantes, também cumprindo deliberação da assembleia de apoiar a luta dos companheiros terceirizados.

Francisco informa sobre a greve no Consuni e propõe a realização de assembleia comunitária. (Vídeo: Regina Rocha)

UFRJ na praça, nas ruas e em Brasília

Caravana com uma centena de trabalhadores saiu da UFRJ rumo à capital federal, entre os dias 16 e 19 de abril, na  luta por Carreira, reajuste salarial, recomposição do orçamento das universidades. (Foto Renan Silva)

A greve nacional dos trabalhadores técnicos-administrativos das universidades, iniciada na UFRJ no dia 11 de março, tem entre seus principais pontos de pauta a recomposição orçamentária da UFRJ. Assim como os servidores, estudantes também vêm realizando uma série de atos denunciando a gravidade da situação, em particular no que toca a infraestrutura e aos atrasos constantes nos salários de terceirizados. Colocaram a campanha SOS UFRJ na rua, esta semana e até fecharam a Ponte do Saber.

Agora, articulam para o início de maio, a atividade conhecida como “UFRJ na Praça”. “É um evento que a gente já realizou. A gente organiza os projetos de extensão, de iniciação científica para, em alguma praça pública bem movimentada, expor banners, cartazes, experimentos, prestação de serviços, enfim, dialogar com a população sobre a importância da universidade e dessa produção científica que impacta a vida de todo mundo”, diz Alexandre Borges, coordenador do DCE Mário Prata, comentando que, embora não seja a única ação que possa resolver a situação, é válida que a gente considera válida, “É uma forma de chamar a atenção para a relevância da universidade e também divulgar pra mídia, chamar a atenção dos governos”, diz o rapaz informando que os detalhes ainda serão definidos e as entidades, convidadas.

Ato dos estudantes no dia 19, com apoio do Sintufrj, contra o sucateamento da UFRJ. (Foto Elisângela Leite)

Limite do orçamento será em junho

De fato, a situação se agrava. Os recursos da UFRJ para custeio estão limitados a R$ 283 milhões, limite que vai ser atingido em junho. “A gente provavelmente vai conseguir realizar os pagamentos até julho, agosto”, explica o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR3), Helios Malebranche (foto abaixo).  Por enquanto, sem perspectiva de mudança desta situação.

O orçamento, como mostra o gráfico abaixo, vem em queda há mais de uma década. Este ano, teve um aumento no orçamento global, mas o custeio, diante do que estava previsto no projeto de lei orçamentária,  caiu cerca de R$10 milhões e está em R$283 milhões. Perdeu, portanto, no que é crítico:  o recurso para o funcionamento.

Medronho manda relatório ao MEC

A PR-3 preparou um relatório sobre a situação da UFRJ, do ponto de vista orçamentário, que foi encaminhado pelo reitor Roberto Medronho esta semana à Secretaria de Educação Superior do MEC (Sesu). Aponta a necessidade de um adicional de R$194 milhões. Com isso, e ainda assim, a UFRJ chegaria ao final do ano com um déficit de R$ 70 milhões que poderiam ser levado para 2025 (como ocorreu do ano passado para este).

O relatório, segundo o pró-reitor, dá ao MEC a noção da gravidade do que está se passando na universidade: “Por exemplo, nesse pedido eu calculei só de água e energia, o consumo de 46% do nosso orçamento, praticamente a metade”.

Cássia recorre a Andifes

O problema se acentuaria por conta da matriz da Andifes que reparte o orçamento entre as universidades federais com base em indicadores comuns. Basicamente, o número de alunos de graduação e pós-graduação stricto sensu. Sem considerar as dimensões superlativas da UFRJ. Mas o pró-reitor acredita que a questão vai além das dimensões da UFRJ. Trata-se também da amplitude das suas ações.  “A UFRJ tem um perfil muito diferenciado em relação à ampla maioria. A gente tem muitas ações que, de alguma forma, o MEC não contempla”, diz ele.

No entanto, ele mesmo acha difícil uma alteração na matriz. E aponta, como alternativa, a possibilidade de aumento das receitas próprias da UFRJ (com aluguéis, projetos da Engenharia e outros serviços, cursos de especialização, por exemplo).

“A universidade tem um potencial muito grande. O MEC diz que não há teto (para retorno dos recursos próprios). Mas quem nos limita é o próprio MEC, porque tem uma operação que é deficitária”, explica Helios, lembrando que, por exemplo, para ampliar o número de institutos federais e universidades como anuncia o governo, precisa de recursos. “Eu acredito que a receita própria poderia dobrar se houvesse um compromisso do MEC de fazer o repasse integral “, pondera.

Segundo a PR-3, em 2023 o orçamento inicial definido pela na Lei Orçamentária Anual (LOA) foi de R$ 59,4 milhões. O final foi de R$ 63 milhões; a receita realizada (arrecadada) foi de R$ 69 milhões. Em 2024, o orçamento inicial definido na LOA é de R$ 64,5 milhões.

Por isso, a vice-reitora Cassia Turci participou, nesta quinta-feira, dia 25, de reunião na Associação Nacional de Dirigentes das Ifes (Andifes) para apresentar esta reivindicação que, lembra o pró-reitor, não afeta a divisão dos recursos com as outras universidades ou com o próprio MEC: é recurso gerado pela UFRJ.

Números do ETU são graves

O reitor também poderá ir à Brasília, defender o que aponta o relatório. Como o documento se refere aos números, o que, por si só, evidencia um grande problema, não registra a gravidade da situação da infraestrutura da UFRJ, por exemplo, o que vem sendo denunciado constantemente.

Mas isso, Helios lembra, está bem apontado no relatório do Escritório Técnico Universitário (ETU) apresentado aos parlamentares da bancada do Rio de Janeiro, na reunião, em fevereiro, em que a Reitoria solicitou apoio.

Na época, Medronho mostrou que a universidade ingressou em 2024 com uma dívida de R$ 176 milhões e ainda precisa de quase R$ 567 milhões para obras urgentíssimas. O que leva a necessidade de mais R$ R$740 milhões para questões emergenciais.

“Os números do ETU são gravíssimos. A gente vive (situações) de desabamento, risco de vida… O ETU tem interditado algumas áreas. Então, é tudo muito complicado”, lembra o pró-reitor. De fato, em levantamento de 2023 que e avaliou 514.816 m² (52%) da área dos espaços edificados de atividades acadêmicas e administrativas, foi constatado que, 219.139 m2 está em estado de conservação muito ruim com necessitando de reabilitação profunda para recuperar condição de segurança e habitabilidade. Isso inclui 18 imóveis, nove dos quais tombados, como o prédio Jorge Machado Moreira e os do Hesfa, IFCS, Direito e Palácio Universitário, entre outros.

Foi estimada a necessidade de investimento no valor de quase R$796 milhões para reabilitação dos 514.816 m². Dos quais, R$567 milhões (71%) seriam para reabilitar anomalias do tipo grave, que representam situações de risco imediato.

Fonte: ETU

 

Portugal foi principal destino de militantes que estavam na Argentina após golpe de 1973 no Chile

Leandro Melito
Brasil de Fato | São Paulo (SP
Nas primeiras horas do dia 25 de abril de 1974 forças armadas progressistas derrubaram a ditadura salazarista que governou Portugal por mais de quatro décadas. O movimento conhecido como Revolução dos Cravos não apenas instituiu a democracia no país, mas também levou à independência de ex-colônias na África – cujas lutas de independência foram cruciais para que ela ocorresse – e deu esperança para povos que ainda ansiavam por liberdade, como o nosso.
No dia 25 de abril de 1974, quando os militares portugueses derrubaram a ditadura fascista em Portugal, que deu início à instauração da democracia no país, o Brasil havia completado dez anos sob ditadura militar (1964-1985), que entrava no período mais duro da repressão.
Parte significativa da militância de esquerda brasileira, assim como artistas e intelectuais perseguidos pelo regime, haviam se exilado no Chile, sob o governo socialista de Salvador Allende. Após o golpe de 11 de setembro de 1973, que terminou com a morte de Allende e o início da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), os exilados buscaram refúgio em embaixadas estrangeiras, e encontraram abrigo nos espaços diplomáticos da Argentina e da França.
“Com o golpe, os que não foram presos obrigaram-se a fugir do país ou se refugiar em embaixadas, lá ficando até órgão internacionais conseguirem acordar com o governo ditatorial chileno a saída segura desses estrangeiros. Estes então vão para Argentina, mas com a condição de deixarem o país o quanto antes”, explica o historiador Rodrigo Pezzonia, pesquisador da Unicamp e autor do livro Guarda um cravo para mim (Alameda, 2019).

Depois de certa desconfiança dos militantes brasileiros que estavam na Argentina “por não crerem que seria possível uma revolução à esquerda vinda de militares”, o historiador aponta que Portugal acaba se tornando o destino dos exilados brasileiros naquele momento, uma “porta de entrada” para a esquerda na Europa. “A maioria acaba por não permanecer e vão para os outros países europeus, mas os que ficam se aliam fortemente ao movimento das Forças Armadas e vão trabalhar junto aos revolucionários na concretização da Revolução nos mais diversos campos.”

Uma vez em Portugal, as organizações de esquerda brasileira logo se alinham às suas “irmãs” portuguesas: Partido Comunista Português (PCP) e Partido Comunista Brasileiro (PCB); Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e União Democrática Popular(UDP); e outros ex-adeptos da esquerda armada brasileira ligados a organizações como Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), VAR-Palmares (VPR) e Aliança de Libertação Nacional (ALN), “que, após um longo processo de autocrítica, vão se alinhar ao Partido Socialista de Mário Soares”, explica Pezzonia.

“Este último grupo talvez tenha sido o que mais influiu na política brasileira a partir de Portugal após a Anistia e a reestruturação partidária. Foi a partir deste grupo e seu alinhamento com a social-democracia europeia, sobretudo após a chegada de Brizola em terras lusas, que a reestruturação do trabalhismo foi culminando na criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista), bem como na introdução da social-democracia no Brasil.”

Colunista do Brasil de Fato, professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e militante da Resistência/Psol, Valerio Arcary foi um dos brasileiros que se exilaram em Portugal, em 1966. Ele permaneceu no país europeu até 1978. “A imensa maioria dos trotskistas da minha geração aprenderam que a luta pela revolução socialista era possível lendo livros sobre a revolução de outubro, e as que vieram depois. Eu tinha aprendido vivendo a revolução nos meses intensos do ‘verão quente’ de 1974 em Lisboa”, relatou em sua coluna sobre o retorno do exílio.

Guerras de independência e movimento negro no Brasil

Além de terem um papel central para o desgaste da ditadura fascista e influenciarem diretamente o golpe militar que deu início à Revolução dos Cravos, as guerras de independência nas colônias portuguesas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde também influenciaram as lutas da esquerda no Brasil, em particular do movimento negro, aponta a historiadora Patrícia Teixeira Santos, docente na Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora de Estudos Africanos na Universidade de Bordeaux na França e do Departamento de Estudos Africanos da Universidade de Dehli (Índia).

“São movimentos altamente inspiradores que vão dar força para a manutenção da luta antirracista e um reforço extremamente importante da ideia de um poder negro que ascende, de um governo negro que se estabelece com a vitória contra a exploração colonial, contra uma ditadura. Para o movimento negro no Brasil, as lutas de libertação nacional são um alento no meio da ditadura militar e o incentivo para a continuação dessa militância, mesmo na clandestinidade, de protestos e de uma série de ações.”