Uma frase circula nos últimos meses na UFRJ e em universidades de todo país: se é grave, é greve. Pois bem, todo dia aparece um problema. Nesta manhã, teve falta de luz nos prédios da Reitoria e Letras; há dois dias, problemas numa subestação do CT e por aí vai. De um modo ou de outro, a asfixia financeira vai deixando seu rastro. A tal ponto que EBA e de alguns outros cursos já deram a largada na greve estudantil.
A Escola de Belas Artes, assim como todos os cursos que ficam entre a Reitoria e Letras começaram o dia de hore, 4 de junho com um apagão de pelo menos uma hora. E isso já se repetiu nas semanas anteriores. Só que dessa vez, com um agravante: a falta de energia que durou mais ou menos uma hora, das 7h30 às 8h30, paralisou, claro os elevadores da Reitoria. Lá dentro, uma jovem terceirizada, presa, à espera de socorro, passou mal devido a claustrofobia e, segundo estudantes que presenciaram, os bombeiros acudiram mas a moça foi encontrada desmaiada.
No fim da manhã, um carro da Light foi visto em frente à Letras trabalhando num reparo. “Foi bem tenso e ficou todo mundo comovido”, comentou Henderson Ramon, diretor do Centro Acadêmico da EBA e do DCE Mário Prata, sobre a situação da moça. Ele explica que tem havido queda da energia com uma certa frequência. Ele conta que há um vídeo circulando essa semana que mostra , por irônica coincidência, falta de luz em meio a uma aula do curso de Gestão Pública sobre a situação orçamentária.
O comentário era de que a falta de recursos fez com que a conta de luz não fosse paga. Mas, segundo o prefeito Marcos Maldonado, não foi isso. É problema com fornecimento pela Light e a Prefeitura, conta ele, tem protocolado pedidos de solução de forma insistente.WhatsApp Unknown 2024-06-04 at 18.41.21
Estudantes já deram a largada para a greve
Mais um entre tantos motivos que têm levado os estudantes de alguns cursos a dar a largada na construção da greve antes mesmo do dia 11, data aprovada para deflagração da greve na UFRJ pela assembleia estudantil realizada semana passada com centenas de jovens.
Não à toa, depois de tantos problemas ( como o fechamento do Ateliê Pamplonão por infiltrações graves no teto, janelas e ventiladores caindo) um calendário anuncia, no perfil do Centro Acadêmico da EBA no Instagram, o início da greve de ocupação na Escola de Belas Artes no dia 3, pela recomposição orçamentária, com uma série de atividades.
”Ocuparemos nosso espaço com Luta e Arte. Por isso, todas nossas atividades acontecem no nosso prédio, ou no hall dos elevadores ou no mezanino”, diz a chamada, apontando a realização de oficinas, rodas de conversa, debates.
Porque no dia 3
“Por causa, justamente, da necessidade de crescimento da mobilização para fortalecer a deflagração (geral da greve estudantil) no dia 11. Queremos que toda universidade pare. A EBA inteira parou ontem e hoje estamos com atividades nas entradas. A maioria dos estudantes está aderindo. Na EBA são 3.550 estudantes, mas apareceram cerca de 30”, diz Henderson.
O diretor explica que, além da EBA, já estão em greve estudantes de cursos como Dança, Educação Física, História, Filosofia, Ciências Sociais e Serviço Social. Cursos de Macaé também estão em estado de greve para entrar a qualquer momento.
No dia 11, m haverá nova assembleia do DCE para deflagração da greve. Local e horário serão divulgados em breve.
Falta de luz e restrição de serviços
“De fato a falta de luz está sendo constante”, comenta o prefeito explicando que a Ilha do Governador também tem passado por situação similar. “Mandamos carta hoje para a Light cobrando. Porque a UFRJ faz parte das grandes contas. Mas todo dia tem problema. Uma equipe nossa fica direto avaliando as subestações. Mas é um problema externo, não tem nada a ver com a UFRJ ou com pagamento de conta”, diz Maldonado.
Ontem, 3, aconteceu outro, desta vez no CT: no subsolo do bloco H, a umidade afetou o funcionamento de uma subestação. A Prefeitura colocou refletores com lâmpadas fortes para retirar a umidade e ontem mesmo, por volta das 17h, já voltou a funcionar.
Pepinos e abacaxis
Maldonado, assim como fez quando assumiu o cargo, há quase cinco anos, no Consuni, comparou a atividade da Prefeitura a um hortifruti: tem muito pepino e abacaxi: “Não tem descanso”, conta ponderando que não é que a situação tenha piorado, é que o problema de hoje é originado no passado. Um exemplo: a tubulação de água, no Fundão, é antiga. Quando um morador na Ilha do Governador reclama da pouca quantidade junto a Águas do Rio, a empresa aumenta a vazão e isso acaba por estourar a tubulação antiga na UFRJ.
Mas o prefeito faz questão de relacionar aquilo que tem conseguido realizar, mesmo com as restrições orçamentárias. A iluminação da rua está toda pronta, com lâmpadas de LED, e a Prefeitura vem trabalhando na manutenção do entorno do prédio JMM (Reitoria).
A grandiloquente UFRJ
“Temos 80 mil alunos. Circulam diariamente aqui (no Fundão) 120 mil pessoas (trabalhadores, estudantes, usuários dos hospitais etc.). O perímetro da Cidade Universitária e de 5 milhões 236 mil metros quadrados. Temos a estrutura de uma cidade. Entre 6h e 11h, passam por aqui 2 mil 660 carros por minuto. Cerca de 1500 saem pela ponte do saber. Mil ficam aqui dentro nos estacionamentos. Temos uma reserva – o Parque do Catalão – que estamos buscando alternativas para reabrir ao público. Estamos trabalhando no projeto para construção do Parque da Orla. A universidade cresceu e a gente tem uma estrutura que requer investimento”, diz Maldonado.
Fora os outros campi, como Macaé, Duque de Caxias e Praia Vermelha e as unidades isoladas, como IFCS-IH, Valongo, Museu Nacional, Faculdade de Direito, de Enfermagem, Hesfa, Instituto de Ginecologia, Maternidade Escola, Escola de Música. O Hospital Clementino Fraga Filho e o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira ambos no Fundão, entre outros também compõem um enorme complexo que agrega nove unidades de saúde.
Maldonado tem expectativa de que na reunião que está prevista da Associação Nacional de Reitores com Lula, prevista para na próxima semana (para discutir a greve e orçamento), haja recursos para as universidades, em particular para a UFRJ e suas proporções grandiloquentes.
A maior universidade federal do país hoje vive no malabarismo de cortar aqui e ali para continuar funcionando. Por exemplo no transporte (menos ônibus significam horários mais esparsos), ou na limpeza urbana (a coleta tem sido menos frequente, inclusive no entorno do HU. “Não é como queríamos que fosse feito”, lamenta Maldonado), relacionando ainda outros serviços ligados ao cuidado com a área urbana, como capina e roçado, tudo vem sendo reduzidos.
O prefeito criou um grupo de WhatsApp que é acionado quando há problemas na infraestrutura. Não têm sido poucas as vezes. Mais um reflexo da asfixia financeira.