Os 86 anos do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB – UFRJ), instituição cujo prestígio acadêmico se destaca no estudo dos transtornos mentais, foi celebrado nesta sexta-feira (2) na Praia Vermelha com criatividade: apresentação de teatro, exposição do trabalho de pacientes, música e poesia fizeram parte da comemoração. O grupo Loucos por Teatro encenou a peça “Eu, aprisionado”, uma metáfora sobre as prisões subjetivas que atordoam a existência. O diretor do instituto, Pedro Gabriel Delgado, na sua exposição, fez o relato da trajetória do IPUB e sua contribuição para o ensino, a pesquisa e a extensão, observando que no curso dessas oito décadas o instituto acompanhou a evolução da psiquiatria. Os coordenadores do Sintufrj Laura Gomes e Nivaldo Holmes representaram o sindicato. (Foto: Elisângela Leite)

 EXPRESSÕES CÊNICAS foram programadas para a celebração dos 86 anos do Instituto de Psiquiatria

Live do Sintufrj põe o tema na pauta: “é um debate que precisa sempre estar no nosso olhar durante o ano inteiro”, diz Marta Batista, que mediou o encontro de convidadas especiais

No mês das pretas o Sintufrj promoveu, através dos GTs Mulher e  Antirracismo, a live “Mulheres Negras na Política” na noite de quarta-feira, 31 de julho. A atividade reuniu como debatedoras Cristiane Malung, coordenadora da campanha “Eu voto nas Pretas” e integrante do Fórum de Mulheres Negras do Rio de Janeiro, e Richelle Costa, articuladora política do movimento Mulheres Negras Decidem, tendo como mediadora a coordenadora-geral do Sintufrj, Marta Batista.

“Esse é um tema muito importante. É um debate que precisa sempre estar no nosso olhar durante o ano inteiro. Em época eleitoral essa questão acaba emergindo mais ainda”, sublinhou Marta ao apresentar a live. “Organizar esse debate a respeito das mulheres negras, esse debate principalmente no cotidiano é de uma potência muito grande. Precisamos seguir nessa perspectiva de fazer esses debates e de avançar nas pautas porque as pautas das mulheres negras de forma alguma estão separadas das pautas das mulheres trabalhadoras”, observou a dirigente do Sintufrj durante a live.

As debatedoras fizeram um apanhado das campanhas empreendidas pelo Fórum Estadual de Mulheres Negras e pelo movimento Mulheres Negras Decidem, chamando atenção para a importância da mobilização das mulheres nesse ano em que vão ocorrer as eleições municipais. A live pode ser vista nos canais do Sintufrj no Youtube e Facebook.

 

Voto tem cor e gênero

Cristiane Malung falou da origem e da atuação do fórum que reúne mulheres diversas de todo o estado e as campanhas realizadas desde 2016. Pregou que a ocupação nos espaços no Legislativo, Judiciário e Executivo é possível e ao fim de sua fala destacou que é preciso ter ousadia e certeza da necessidade de destruir as imagens que foram construídas de que as mulheres e pretas só podem ocupar alguns espaços.

“Uma das campanhas que temos feito desde 2016 é a que relaciona a questão política com mulheres negras. Somos protagonistas em uma série de espaços, mas quando chega no campo político a ocupação dos espaços no Legislativo, Judiciário e Executivo vemos uma incidência muito pequena de mulheres negras.”

Em 2016 o fórum começa então uma atividade de dialogar com as candidatas negras que se colocavam na disputa eleitoral. “Era a campanha “Nossa voz, nosso voto, nossa vez” para que essas candidatas tivessem um compromisso político, digo até ancestral, com as agendas e demandas da população negra e do movimento de mulheres.”

Cristiane falou das campanhas de 2018 e 2020 – sob o lema “Vote nas Pretas” que convocava a sociedade para votar em mulheres pretas no sentido de pensar a política de forma universal.

“Não foi uma campanha fácil e nesse contexto houve o assassinato da Marielle e com isso identificamos o quanto era vulnerável a situação das mulheres no campo político, vivenciando a violência na política, principalmente as mulheres negras. Mesmo assim tivemos um fortalecimento”, observou.

Ela conta que a campanha de 2020 que também pregou o voto nas pretas foi num contexto diferente e que marca a diferença na forma de fazer campanha. E mesmo com a pandemia e consequentemente com as plataformas digitais e o avanço da extrema direita e do negacionismo houve avanços.

“Optamos pela campanha do voto em todas as candidatas pretas sem distinções. Na campanha virtual pudemos ouvir mulheres que normalmente não atingíamos em outras campanhas e abrimos leque de participação das mulheres das periferias, de partidos e de municípios diferentes”, narra Cristiane informando que foi possível fazer uma formação política impulsionando a campanha Fora Bolsonaro e possibilitando com isso a indicação de mulheres do próprio Fórum de Mulheres Negras do Rio.

Nos espaços de poder, Cristiane reforça que quando se coloca novas atrizes nesses espaços que são ocupados e pensados majoritariamente por homens, se consegue desmontar a estrutura dominante na nossa sociedade.

“Precisamos repensar e destruir as imagens que foram construídas de nós, imagens em que a gente só pode ocupar alguns espaços. É pensar na cara preta de uma mulher preta dentro de uma gestão pública, pensando política, pensando orçamento”, finalizou.

 

Políticas de enfrentamento

Richelle Costa explica que o Movimento Mulheres Negras Decidem é uma iniciativa social e política de âmbito nacional que busca promover a participação e o protagonismo das mulheres negras na política e nos espaços de poder. O movimento está em todas as regiões do Brasil e reúne mais de 200 mulheres espalhadas pelo país, muitas lideranças em seus territórios, que investem pesado na formação política da mulherada.

Ela conta que o movimento surgiu em 2018 para ampliar as contribuições das mulheres negras que são muito importantes, mas que acabam sendo abafadas e ou apagadas por estatísticas negativas tais como desemprego, violência e vulnerabilidade social no universo da mulher negra.

O movimento quer eleger mulheres negras para cargos públicos e influenciar políticas públicas que atendam as demandas e as necessidades da população negra e em especial das mulheres negras. As mulheres negras são 28,5% da população brasileira o equivalente a 60 milhões.

“Gosto de pensar políticas de enfrentamento para qualificar o debate da sub-representação da mulher negra sobretudo na política institucional. Como podemos construir estratégias para enfrentar essa sub-representação”, revela. “Nosso foco é disputar e fortalecer as lideranças das mulheres nos espaços que elas ocupam e nos espaços que elas desejem ocupar. Fortalecer sua trajetória política porque as mulheres negras são minoria na institucionalidade”, complementa.

O movimento tem a plataforma mulheresdecidem.org que reúne todo um acervo de dados, pesquisas e relatórios que mostram as contribuições das mulheres. Uma dessas pesquisas é a que defende o voto na mulher negra com balanço de mandatos e contribuições, com o recorte da última legislatura 2019-2023. Outra é uma pesquisa inédita “Mulheres negras decidem, para onde vamos?” feita durante a pandemia de forma on line com 245 mulheres que são ativistas em todo o Brasil.

“Essa pesquisa é sobre o futuro que está sendo construído a partir das estratégias e soluções do movimento brasileiro de mulheres negras. As mulheres negras têm um projeto político para o Brasil!”, declara Richelle.

O movimento quer eleger mulheres negras para cargos públicos e influenciar políticas públicas que atendam as demandas e as necessidades da população negra e em especial das mulheres negras. As mulheres negras são 28,5% da população brasileira o equivalente a 60 milhões.

“Somos o maio grupo demográfico desse país. Nós somos uma força eleitoral e política, mas amargamos índices terríveis. Estamos nos lares mais pobres que são chefiados por mulheres negras, somos nós que estamos nos subempregos, somo nós que estamos na ponta de trabalho de cuidados, somos nós mulheres negras que mais sofrem violência política”, atesta Richelle.

Richelle Costa encerra sua fala ressaltando que o foco do movimento não é apenas na política e se liga a um objetivo maior. “Trabalhamos para diminuir a desigualdade como um todo. Eleger mulheres negras passa muito por oferecer melhores condições de vida. A nossa campanha passa por reparação, pelo bem viver, por vida.  Nosso objetivo é colocar um milhão de mulheres negras em Brasília pelo bem viver no ano de 2025.”

 

 

 

Sindicato convoca reunião com o tema para quinta-feira, 22 de agosto

“Mulheres na política” é o tema da reunião aberta do GT Mulher Sintufrj, no dia 22 de agosto, às 14h, no Teatro de Arena do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Essa proposta foi aprovada na reunião híbrida do GT de quinta-feira, 1, com a participação de 11 servidoras presenciais, entre as quais dirigentes da entidade e várias outras on-line.

A intenção é realizar uma conversa informal com as trabalhadoras da UFRJ e convidadas, inclusive parlamentares, sobre o que se espera das mulheres que elegemos para o Legislativo e  Executivo, as dificuldades que elas enfrentam no exercício de seus mandatos, por exemplo, considerando o machismo que prevalece na sociedade brasileira.

Em setembro, o GT pretende realizar uma debate com candidatas a vereadoras do campo progressista, a partir de uma síntese da roda de conversa do dia 22 de agosto.

Informes e debates

A reunião foi iniciada com informes sobre as atividades que celebraram o 25 de julho, data dedicada às mulheres negras latino-americanas e caribenhas, à Teresa de Benguela (líder quilombola) e o Julho das Pretas no Brasil, organizadas pelos coletivos de mulheres negras no Rio de Janeiro com ativa participação do Sintufrj. O sindicato e servidoras da ativa e aposentadas da UFRJ estiveram presentes em todos os eventos.

As integrantes dos grupos temáticos (Saúde, Artístico-Cultural e de Leitura e Estudos propuseram agendas, que resultaram em debate sobre questões relacionadas à formação antirracista, feminismo, sexualidade, como fazer circular informações de conteúdo e do interesse de todas as mulheres, sobre questões em  pauta nos meios de comunicação, entre outros assuntos relevantes. (foto: Elisângela Leite)